Sob pressão, companhias aéreas dos EUA investem em
biocombustíveis
Em breve, um voo da United Airlines vai decolar do Aeroporto
Internacional de Los Angeles com destino a San Francisco usando combustível
gerado a partir de resíduos agrícolas e óleos derivados de gordura animal.
Os passageiros não sentirão muita diferença – os
motores ainda vão troar e os assentos na classe econômica continuarão lotados
–, mas, para as companhias aéreas e a indústria de biocombustíveis, o voo
representará um marco: pela primeira vez, uma companhia aérea americana vai
operar voos usando combustível alternativo.
Há anos, os biocombustíveis são considerados parte
importante da solução para reduzir as emissões de gases do efeito estufa.
A United diz que pretende investir US$ 30 milhões
em uma das maiores produtoras de biocombustíveis para aviação, a Fulcrum
BioEnergy, o maior investimento em combustíveis alternativos já feito por uma
companhia aérea americana. O valor, no entanto, representa uma gota do gasto da
empresa com combustíveis. Em 2014, a frota da United gastou 14,8 bilhões de
litros de combustível, ao custo de US$ 11,6 bilhões.
Cada vez mais, as companhias aéreas são
pressionadas a reduzir as emissões de carbono. O governo Obama propôs no mês
passado que sejam definidos novos limites para as emissões da aviação, e a
Organização Internacional de Aviação Civil, órgão da ONU, deverá concluir
negociações sobre a limitação da poluição por carbono em fevereiro de 2016.
“Os biocombustíveis devem cumprir um papel
importante no setor de aviação, por reduzirem as emissões de carbono”, disse
Debbie Hammel, especialista em recursos no Conselho de Defesa dos Recursos
Naturais, que se concentra nos biocombustíveis.
As companhias aéreas dizem que têm motivos para se
adaptar, não apenas para reduzir as emissões, mas também para cortar o que
costuma ser seu principal custo, o combustível dos jatos.
A Fulcrum, sediada na Califórnia, desenvolveu uma
tecnologia que transforma os resíduos residenciais em combustível sustentável
para aviação, um tipo que pode ser misturado diretamente aos combustíveis
tradicionais para jatos. Ela está construindo uma refinaria de biocombustíveis
em Nevada, a ser inaugurada em 2017, e tem planos para mais cinco fábricas. A
Fulcrum disse que sua tecnologia pode reduzir em 80% as emissões de carbono de
uma companhia aérea.
O acordo da United com a Fulcrum é um dos muitos
feitos pelas companhias aéreas nos últimos anos. A Alaska Airlines pretende
usar biocombustível em pelo menos um de seus aeroportos até 2020. A Southwest
Airlines anunciou no ano passado que adquiriria cerca de 11 milhões de litros
por ano de combustível feito de resíduos de madeira pela Red Rock Biofuels.
No ano passado, a British Airways se uniu à Solena
Fuels para construir uma refinaria de combustível perto do Aeroporto de
Heathrow em Londres, que ficará pronta em 2017.
O acordo da United foi o segundo grande passo da
empresa em direção aos combustíveis alternativos. Em 2013, a companhia
concordou em comprar cerca de 57 milhões de litros de biocombustível em três
anos de uma produtora da Califórnia chamada AltAir Fuels, que fabrica
biocombustível a partir de óleos naturais não comestíveis e resíduos agrícolas.
A United espera que os primeiros 19 milhões de
litros da AltAir sejam entregues até setembro.
Nas duas primeiras semanas, quatro a cinco voos por
dia vão utilizar uma mistura de 30% de biocombustível com 70% de combustível
tradicional para jatos. Depois disso, o combustível será misturado ao estoque
geral, segundo a United. “O projeto da AltAir serve como catalisador destinado
a abrir caminho para a indústria”, disse Angela Foster-Rice, diretora da United
para assuntos ambientais e sustentabilidade.
Ao queimar produtos de biocombustíveis como
resíduos agrícolas, que já absorveram carbono durante sua vida útil, os motores
a jato evitam lançar na atmosfera mais carbono de combustíveis fósseis, disse
Foster-Rice.
As companhias aéreas não parecem ter muita opção.
Elas não podem recorrer a alternativas como a eletrificação, disse Hammei, do
Conselho de Defesa dos Recursos Naturais. Daí a importância de que os
combustíveis sejam produzidos de forma sustentável.
Apesar do interesse das companhias aéreas, ainda há
obstáculos para o desenvolvimento de biocombustíveis em larga escala - com
custo racional e suprimentos confiáveis.
E. James Macias, executivo-chefe da Fulcrum, disse
que a empresa poderá produzir seu biocombustível por “muito menos” de US$ 0,26
por litro. (A United comprou seu combustível para jatos por cerca de US$ 0,55 o
litro, em média, no primeiro trimestre, e disse que seu acordo com a Fulcrum é
competitivo em relação ao preço do combustível tradicional.)
Em 2050, a indústria de aviação pretende cortar
suas emissões de gases do efeito estufa pela metade em relação aos níveis de
2005, segundo a Associação Internacional de Transportes Aéreos.
Mas não será fácil chegar lá. “Por isso é muito
importante investir e se dispor a assumir parte do risco”, disse Foster-Rice,
“e incentivar as companhias a se concentrarem no combustível para jatos a um
preço competitivo.” (biodieselbr)
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