sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Fracassado programa de descontaminação de Fukushima

O fracasso do programa de descontaminação de Fukushima
A política de retorno forçado à província de Fukushima, no Japão, expõe moradores a risco de contaminação radioativa.
Greenpeace Japão documenta trabalho de descontaminação radioativa no distrito de Iitate, no Japão. A área está contaminada desde março de 2011 quando o reator nuclear da usina de Fukushima explodiu.
A contaminação radioativa nas florestas e terras da província de Iitate, em Fukushima, é tão vasta e tão intensa que será praticamente impossível que antigos moradores retornem em segurança para seus lares, revelou uma investigação conduzida pelo Greenpeace Japão.
Os resultados da investigação foram revelados dias depois de o Governo de Shinzo Abe, primeiro-ministro japonês, anunciar que a ordem de evacuação da região será suspensa em março de 2017, e que encerrará as indenizações aos moradores em 2018, o que, na prática, forçará as vitimas a retornar a uma região altamente contaminada.
A província Iitate, que ocupa mais de 200 quilômetros quadrados, está localizada entre 28-47 km a noroeste de Usina Nuclear de Fukushima-Daiichi, e foi uma das áreas mais atingidas após a catástrofe de Março de 2011. Desde 2014, dez mil trabalhadores buscam reduzir os níveis radioativos de algumas áreas do município de Fukushima, incluindo a região de Iitate, mas com poucos resultados práticos.
“O Primeiro-Ministro Abe adoraria que as pessoas do Japão acreditassem que o governo está descontaminando a enorme área de Fukushima e fazendo com que a área tenha níveis de radiação seguros o bastante para que pessoas possam viver lá. A verdade é que esta medida está fadada ao fracasso. As florestas da região de Iitate são, agora, grandes armazéns de radioatividade, trarão enormes riscos de contaminação direta e também serão fontes de recontaminação por milhares de anos. É impossível descontaminar a região”, disse Jan Vande Putte, especialista em radiação do Greenpeace Bélgica.
“O Governo japonês condenou as populações de Iitate a viverem em um ambiente que oferece riscos inaceitáveis à saúde. Retirando das vítimas sua já insuficiente compensação, o governo os estará forçando a retornarem a regiões perigosas e altamente radioativas por motivos financeiros. Sejamos claros: esta é uma decisão do Governo de Abe, sem respaldo científico, sem dados, ou preocupação com saúde pública,” disse ele.
O Greenpeace conduziu um estudo sobre radiação, retirando amostras em Iitate, incluindo suas florestas. Uma das principais descobertas foi que a maior parte da região de Iitate nunca será descontaminada, sendo que a maioria da radiação está depositada nas florestas e montanhas da região.
Mesmo as áreas que teriam sido descontaminadas, próximas às casas, terrenos e estradas, possuem níveis de contaminação incrivelmente altos e inaceitáveis. Os resultados mostram que o atual programa de descontaminação não está obtendo sucesso na redução efetiva dos níveis de radiação, que se mantêm altos e inseguros para a presença humana.
Os níveis de radiação encontrados em regiões tidas como “descontaminadas” é dez vezes mais potente do que a dose máxima permitida ao público em geral. Nas florestas, a radiação tem níveis altíssimos que se manterão assim por muitos anos.
Apoiando o governo japonês em sua manobra para forçar o retorno das pessoas às áreas contaminadas, está a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que auxiliou a promover o retorno prematuro de cidadãos de Fukushima a áreas que haviam sido evacuadas. Não só os preceitos da AIEA em relação aos riscos radioativos estão baseados em conclusões científicas questionáveis, como também há certa ignorância em relação aos reais efeitos da radioatividade. A AIEA deturpou as medições e a efetividade do programa de descontaminação, inclusive em litate.
“Mesmo após quase trinta anos, os 30 Km ao redor de Chernobyl permanecem como área de exclusão. É alarmante a cumplicidade entre a AIEA e o Governo Abe, o que revela o quanto eles estão desesperados para transmitir a ilusão de que o retorno ‘à normalidade’ é possível, mesmo após um acidente nuclear desta magnitude. A posição deles é indefensável, e o planejamento para um retorno forçado deve ser impedido”, disse Mamoru Sekiguchi, da campanha de Energia do Greenpeace Japão. (greenpeace)

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