Este
é provavelmente um dos termos mais importantes quando falamos de energia aqui
no Brasil mesmo que se ouça falar pouco dele. Seu significado é simples de ser
compreendido. Eficiência Energética quer dizer: a habilidade de se realizar o
mesmo ou até mais com uma quantidade menor de recursos energéticos.
Existem
inúmeros exemplos que poderíamos dar aqui (inclusive usando lâmpadas, que é o
que todo mundo faz), mas vamos simplificar ainda mais, de um jeito que todo
mundo deve conhecer: 1 pãozinho da padaria.
Vamos
imaginar um cenário em que existam 2 padarias. A do Sr. Padeiro e a da Sra.
Padeira. Vamos dizer que hoje o Sr. Padeiro gasta duas unidades de energia (não
importa qual seja) para produzir uma unidade de pãozinho que você vai comprar
essa tarde. Já a Sra. Padeira que tinha conhecimento sobre eficiência
energética e decidiu por equipamentos mais eficientes na hora de comprar seu
maquinário consegue fazer o mesmo pãozinho gastando apenas 1 unidade de
energia, a metade do Sr. Padeiro. Esse é um exemplo que parece bem bobo, mas
pode ser a realidade de milhares de padarias no Brasil. O importante é que no
final da tarde, ambas as padarias fizeram o mesmo pãozinho, idêntico podemos
dizer, mas a Sra. Padeira gastou menos recursos para chegar lá. Ela foi mais
eficiente energeticamente do que o Sr. Padeiro.
Se
sentássemos aqui para tentar listar exemplos que aparecem nas nossas vidas
cotidianas, pode ter certeza que iríamos morrer antes de terminar. Desde
elementos dentro de residências como as geladeiras, TVs e máquinas de lavar. No
comércio, com a iluminação, freezers, fornos e servidores. E na indústria com
motores, compressores, bombas e etc. Todo tipo de produto ou processo está
sujeito a essa avaliação, de quão eficiente energeticamente ele é.
Agora
que ficou claro o conceito, vamos falar da Importância da Eficiência
Energética.
O
Brasil não tem uma boa fama no quesito eficiência energética. Isso acontece por
vários motivos, um dos mais fortes e simples é que levar em conta a eficiência
não é algo muito enraizado em nossa cultura e educação porque nunca precisamos.
Lembra quando você escutou aquele (a) professor (a) no colégio dizendo: “O
Brasil é um país rico em recursos naturais”? Pois é, essa riqueza muito
abundante faz com nossa preocupação com o desperdício seja menor do que em
países que não possuem tantos recursos. Em junho de 2018 o American Council for
an Energy-Efficient Economy (ACEEE) lançou o international scorecard, um
relatório bianual que avalia as políticas em eficiência energética e
performances entre os 25 países que mais consomem energia globalmente. Ficamos
na 22ª posição. A mentalidade de recursos facilmente disponíveis dificulta um
pouco a sensibilização de pessoas e empresas quando o tema é eficiência
energética, mesmo que os impactos desse desconhecimento sejam enormes.
Em
2017, a ABESCO (Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação
de Energia) publicou um documento indicando o tamanho do potencial de economia
estimado de 2008 até 2016. Se você ficou curioso, estimaram que só em 2016
deixamos de economizar algo em torno de R$ 20 bilhões. É muita energia, esses
47 GWh estimados de economia representam 10% do consumo do país inteiro.
E
quanto que é tudo isso?
A
gente sabe que para quem não lida com energia esse número não quer dizer
absolutamente nada e por isso é comum fazer comparações com algo que traga mais
peso para a conversa, por exemplo:
Esse
potencial de economia anual seria então o bastante para fechar as comportas de
nossa querida usina de Itaipu por metade de um ano. A usina binacional em 2016
foi responsável por 22,5% da energia consumida no país. Ela é muito grande,
detendo vários recordes de usina que mais produz energia no planeta.
Se
você não entende de energia, mas entende de dinheiro, então o valor que poderia
ter sido economizado nos últimos 3 anos do estudo (2014,15 e 16), na casa de
uns R$ 60 bilhões, é maior que o PIB dos 12 estados com os menores PIBs do
Brasil.
Pensando
bem, é muita coisa sendo desperdiçada e existem diversos impactos que estão
relacionados a esses desperdícios. Coisas que acontecem ou deixam de acontecer
exatamente por conta dessa nossa má gestão/uso dos recursos energéticos.
Mas
conta aí então, quais impactos estamos falando?
A
lista é grande, mas alguns valem ser comentados:
No bolso. Esse é simples e todo mundo conhece! A dor no bolso. Energia é
algo que pagamos bastante para ter acesso e os preços têm subido constantemente
acima da inflação nos últimos 5 anos. Se você faz parte do nosso mailing, já
deve estar até cansado de ler aquela seção de aumento de tarifas. É tão comum
que praticamente virou um elemento obrigatório em toda newsletter que
escrevemos. Normalmente quando a dor no bolso aumenta é que passamos a nos
preocupar mais com a maneira que consumimos (tanto dentro de casa como dentro
do comércio e indústria).
Recursos
Ações
de eficiência energética são ótimas na economia de recursos. Muitas empresas
consideram energia um custo fixo em seus processos produtivos, mas sabemos
muito bem que não deveria ser assim. Cada produtinho criado tem sua lista de
materiais certo? Lembra daquele pãozinho da padaria lá em cima? Além de
fermento, farinha, etc, a energia é um elemento que deve aparecer na hora de se
pensar nos insumos de produção. Quanto mais uma empresa produz, mais energia
ela deve consumir. Conhecemos algumas empresas no Brasil que têm trabalhado
para conseguir desagregar o custo de energia em cada um de seus produtos, especialmente
nos setores de plásticos e alimentícios. Exatamente igual o exemplo do
pãozinho, você acha que a empresa mais preparada do mercado de alimentos é uma
indústria que sabe exatamente quantas unidades de energia são necessárias para
fabricar um único pacote de cada salgadinho ou a outra que não faz ideia e só
paga suas contas e pronto? A que monitora o consumo energético além de poder
precificar seus produtos perfeitamente, consegue também acompanhar indicadores
e buscar sempre maior eficiência. É comum a CUBi atender clientes deste tipo,
para ajudar nessa desagregação inteligente.
Infraestrutura
Toda
vez que a matriz energética do país precisa ser expandida é necessário dinheiro
e pode ter certeza que ele vai sair do bolso de todo mundo que acessa a rede
elétrica. Um sistema mais eficiente energeticamente significa menores
necessidades de expansão e, portanto, menores investimentos pagos pelos nossos
bolsinhos.
Meio
Ambiente
Na
mesma linha do anterior, menores necessidades de expansão da matriz são sempre
menos agressivas ao meio ambiente. Todo tipo de geração de energia tem seu
impacto. As queridas renováveis também, cada qual no seu elemento, então no
final do dia, o melhor mesmo é não precisar criar tantos ativos de geração quanto
precisaríamos caso a eficiência energética não fosse algo existente.
Estou
convencido! Como ser mais eficiente?
Tive
um professor de políticas energéticas nos EUA que adorava ficar perguntando
para as pessoas: “Qual é a fonte mais barata de energia” e ficava se divertindo
enquanto todos quebravam a cabeça discutindo se a energia solar era mais
barata, a dos ventos, a geotérmica, a nuclear e por aí vai. A resposta dele era
sempre: “A mais barata é aquela economizada”. Talvez seja meio estranho de pensar
assim, mas ele tem razão, se a energia já foi gerada e vai ser desperdiçada,
então se o seu esforço fizer com que não haja desperdício e que você então
possa usá-la de outra maneira, maravilhoso! Lógico que em alguns casos, é
necessário investir recursos para conseguir ser mais eficiente, mas mesmo
assim, podemos calcular se realmente vale a pena ou não investir esses
recursos.
Só
para termos uma ideia, várias empresas empregam números diferentes, mas hoje
podemos considerar que a energia economizada é importante e que é possível
atribuir um preço para ela. Esse preço basicamente indica o custo necessário
para conseguir economizar uma parcela de energia que teria outro preço caso
fosse gerada. Se ficou confuso, vai um exemplo: a mesma ABESCO dali de cima,
calcula que no quesito eficiência são necessários US$ 31 para economizar 1 MWh,
enquanto para gerar esse mesmo MWh seria necessário quase 4 vezes esse valor. A
matemática por trás dessas estimativas pode variar bastante, mas uma coisa
podemos dizer com propriedade, tanto na indústria como nos comércios, muito se
pode melhorar no quesito eficiência e de desperdícios e que não requer
investimentos financeiros em máquinas novas ou coisas super complexas.
Diferentes
linhas de ação em eficiência energética para uma empresa
Existem
algumas maneiras diferentes de atacar os problemas de eficiência energética,
mas note que daqui para frente as coisas vão começar a se misturar, tanto a
eficiência energética quanto a redução do consumo também. Existe certa
discussão de onde se acaba um e onde começa o outro, mas aqui na CUBi nós
gostamos de juntar tudo e colocar no bolo de potencial de eficiência
energética. Existem 3 linhas principais que podem gerar aumento da eficiência
energética nas empresas.
Tecnologias: essa é menina dos olhos que vemos por aí, o mercado em
geral busca elementos nessa categoria, mesmo que muitas vezes não seja o que
precisam. Dos 3 itens talvez seja o mais palpável, por isso as pessoas gostam
tanto de se apoiar nessa linha. A categoria é para produtos ou serviços que
tragam maior eficiência a um processo. Exemplos: no escritório, a escolha de um
ar condicionado com selo do PROCEL. O produto com nota A será mais
energeticamente mais eficiente que uma nota C. Na indústria existem casos
bastante corriqueiros em que a decisão tomada nem sempre é a melhor. Existem
motores elétricos, por exemplo, que irão trabalhar 24 horas por dia nas
indústrias que serão instalados. Alguns destes irão ter um custo de energia nos
primeiros meses até maior do que o próprio custo da aquisição do motor, ou
seja, o preço pago na hora de comprar o motor pouco vai importar no custo final
do ativo quando considerado toda a sua vida útil. Mesmo que situações assim
sejam corriqueiras, muitos compram motores elétricos apenas considerando o seu
custo inicial. Tecnologias mais eficientes podem trazer altos ganhos/economias,
tudo depende de um estudo prévio para uma melhor tomada de decisão.
Controle:
as ações de controle são muitas vezes deixadas de lado, por vários motivos dentre
as empresas. Elas podem incluir desde ações muito simples sem sofisticação
alguma até tecnologias mais avançadas (que acabam se mesclando com o item de
tecnologias anterior), estão incluídos aqui os softwares de gestão de energia.
O importante é que exista controle e acompanhamento do consumo da empresa e
seus ativos. Primeiro porque energia é um custo variável e muita vezes
representativo (alguns comércios e indústrias chegam a possuir energia elétrica
como seu segundo maior gasto na estrutura de custos). Segundo porque a frase é
válida: só conseguimos gerenciar o que medimos. Ter o conhecimento de quanto se
consome, onde se consome e quando se consome pode ser um poderoso recurso que
vamos falar no tópico a seguir. Conseguir fazer um acompanhamento fino de
consumo também cria a possibilidade de criar e acompanhar indicadores,
melhorias, problemas e muito mais. Conhecimento e controle energético de um
processo produtivo têm o potencial de derivar muitas outras ações para várias
áreas.
Podemos dar um exemplo interessante que temos aqui na CUBi. Uma vez
fomos contratados por uma empresa que não possuía controle algum sobre seu
consumo energético, apenas acompanhava as faturas de energia. Fomos chamados
para avaliar seus principais consumos, com a suspeita de que o ar condicionado
era o pior deles. A preocupação era tanta que há poucos anos todo o maquinário
de condicionamento de ar tinha sido substituído por um mais eficiente, mas como
as contas de energia ainda estavam altas, resolveram investigar. Depois de um tempo de monitoramento,
descobrimos o contrário do esperado, que o ar condicionado era responsável por
menos de 5% do consumo de toda a empresa. A descoberta não só foi o contrário
do que a empresa esperava, mas também trouxe questões complicadas sobre a troca
passada do equipamento que havia sido caro. O payback que haviam desenhado
“esperando” que o ar condicionado compusesse de 40% a 50% da conta fazia
sentido. Com o consumo real na casa de 5%, o projeto se mostraria inviável
financeiramente. Infelizmente, a empresa só descobriu isso anos depois de ter
feito esse mau investimento.
Comportamento:
Outro item muito pouco valorizado em geral por empresas, mas que pode trazer
resultados muito mais altos do que o esperado, são as mudanças de processo ou
comportamentais. Um ponto bastante positivo e que gostamos de explorar aqui na
CUBi é o fato de que através de novos processos e mudanças no comportamento, as
empresas podem obter ótimos resultados com investimentos ínfimos se em comparação
com a implementação de novas tecnologias, por exemplo. As ações comportamentais
muitas vezes ocorrem quando as empresas passam a utilizar sistemas de controle
como os indicados acima e faz sentido que passem a ver oportunidades ao
entender melhor seu consumo dentro do processo. Os exemplos que temos aqui na
CUBi são variados também, mas por exemplo, não é incomum encontrarmos linhas
industriais onde o consumo “fora do horário produtivo” chega na casa do 40%.
Isso significa que 40% do consumo de uma linha produtiva ocorre em momentos que
a empresa não está gerando valor, portanto, pode ser considerado desperdício.
Muitos desses casos ocorrem porque os operadores foram almoçar e deixaram
máquinas ligadas, ou no final de turno, esqueceram de colocar as máquinas em
hibernação, ou algumas já precisam sofrer manutenção, e por aí vai. São ações
simples, que o operador já sabe fazer, mas o processo não estressa que o façam
sempre, e por isso, ocorre o desperdício. Esse desperdício vai refletir na
eficiência do sistema como um todo e a empresa vai pagar por cada kWh
desperdiçado.
Essas
foram só algumas linhas de ações que podem ser tomadas dentro das empresas e
explicadas de maneira didática. Muitas vezes para encontrar e depois aproveitar
melhorias em eficiência energética, as empresas fazem um combinado de várias
linhas. O ideal é sempre tentar colocar números reais na ponta do lápis, para
que seja possível avaliar quanto vai custar para economizar aquele kWh (ou MWh
ou o que seja). O caminho mais natural usualmente é:
Entender
o processo produtivo e conhecer bem os seus usos de energia;
Iniciar
ações simples e caseiras de controle com faturas de energia, planilhas de
excel, documentação de máquinas, etc. Aprender os termos básicos sobre energia
e sua gestão. Logo ao engatinhar nessas ações, as dificuldades vão naturalmente
aparecer.
Com
as necessidades e dificuldades melhor compreendidas, iniciar a busca por um
sistema mais robusto de gestão de energia que atenda os pontos de interesse e
que o sistema caseiro não consiga atuar. Aqui é possível encontrar desde
sistemas simples e antigos até sistemas mais avançados que automatizam o
trabalho de processamento de dados, esse é o caso da CUBi, à partir daqui é
onde atuamos com nossos clientes.
Com
um sistema de controle implementado, indicadores podem ser criados para
acompanhar processos e principalmente tornar visíveis as oportunidades de
melhoria em eficiência energética. Cria-se o potencial de saber exatamente
quanto cada mudança ou melhoria pode retornar de benefício financeiro antes
mesmo de fazê-la (para não cair em problemas como o caso do ar condicionado que
comentei acima).
Com
essas informações reais sendo processadas rapidamente e oportunidades sendo
geradas, chega a hora de se iniciar as melhorias. As comportamentais costumam
vir primeiro, pois são mais baratas e trazem resultados rápidos. As melhorias
em tecnologia costumam seguir e usualmente necessitam de investimentos mais
altos. Desde que haja um estudo antes para demonstrar que a troca de tecnologia
irá trazer benefícios reais, a chance de valer a pena é muito grande. Se o
problema são os recursos financeiros para fazer as trocas, vale procurar uma
ESCO, empresas que têm dinheiro e capacidade para implementar os projetos.
Quando esse é o caso com nossos clientes, nós mesmos trazemos parceiros
especializados para auxiliar.
Com
todas essas ações rolando, nada é mais importante do que seguir firme com seu
sistema de controle/gestão de energia, porque é nele que serão identificadas e
monitoradas as melhorias sendo implementadas. O controle se torna mais
importante do que nunca porque agora é a hora de mostrar que o esforço
investido em um sistema de gestão de energia, mudanças comportamentais e novas
tecnologias está trazendo benefícios palpáveis para as pessoas, áreas e a
empresa como um todo.
Caso haja problemas com algumas dos sistemas implementados, a equipe de
gestão de energia deverá estar mais do que apta para avaliar os indicadores
negativos e buscar a causa raiz do problema. Melhorias em comportamento, por
exemplo, trazem resultados rápidos, mas necessitam de um trabalho contínuo,
senão as melhorias vão sendo perdidas.
Por
último, ter certeza que o sistema de gestão será continuamente usado pela
empresa, gerar cases de sucesso (para servir de embasamento na hora de pensar
em novos projetos) e compartilhar com os resultados com o mercado e
stakeholders. Afinal, sem dúvida foi um esforço grande para trazer a empresa a
um patamar de eficiência, então é justo que o mercado a reconheça como tal.
(cubienergia)