Tecnologia combina processos
biológicos e químicos para tratar dejetos suínos.
Sistrates vem sendo
desenvolvido há dez anos e retira carbono, nitrogênio e fósforo dos efluentes.
Água no fim do processo é tão
boa que pode ser reutilizada na granja.
Processo ainda gera fósforo
fertilizante e energia elétrica.
Solução reduz impactos
ambientais de grandes produções.
O Sistrates é destinado ao
tratamento dos dejetos suínos em grandes sistemas de produção.
Um sistema de tratamento de
dejetos suínos inova ao combinar processos biológicos e químicos para remover
conjuntamente carbono, nitrogênio e fósforo, gerando água que pode ser
reutilizada, energia elétrica e fósforo fertilizante. Instalado na Granja
Master (SC), o Sistema de Tratamento de Efluentes da Suinocultura (Sistrates) é
o resultado de pesquisas iniciadas em 2010 pela Embrapa Suínos e Aves (SC).
Outro diferencial é que o
processo pode ser aplicado de maneira modular e adicional, de acordo com as
necessidades de tratamento e as condições da propriedade. “Esse projeto tem
como foco o tratamento dos dejetos suínos para utilização em grandes sistemas
de produção. E funciona a partir de um conjunto de sistemas modulares
resultando em um efluente final de excelente qualidade”, explica o pesquisador
da Embrapa Airton Kunz, líder do projeto.
Os efluentes da suinocultura,
resultantes de uma produção intensiva, são um grande desafio para as
propriedades, especialmente porque muitas não possuem área agrícola para
utilizá-los como biofertilizante. Ao serem descartados, os resíduos apresentam
um elevado potencial poluidor para o meio ambiente.
Os financiadores
O Sistema de Tratamento de
Efluentes da Suinocultura, o Sistrates, é um projeto financiado pelo Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), tendo a Embrapa como
instituição tecnológica, a Master Agroindustrial como instituição interveniente
e a Fundação de Apoio à Pesquisa e ao Desenvolvimento (Faped) como instituição
de apoio.
A tecnologia tem sido
aperfeiçoada por meio de projetos de pesquisa da Embrapa como o Processo
biotecnológico em sistemas de tratamento de efluentes na suinocultura –
SISTRATES e o projeto Avaliação nutricional do fosfato extraído de efluentes da
suinocultura.
A tecnologia desenvolvida
permite obter um alto nível de tratabilidade das águas residuárias, ou seja, a
qualidade da água permite que ela seja reutilizada na própria granja ou, se
tiver área agrícola próxima, pode ser usada na irrigação. “Esse efluente
resultante atende aos padrões exigidos pela resolução 430 do Conselho Nacional
do Meio Ambiente (Conama), que dispõe sobre as condições e padrões de
lançamento de efluentes em corpo d´água”, informa o cientista da Embrapa.
O mercado potencial do
Sistrates são granjas de produção intensiva, de grande porte, com limitação de
área agrícola para a aplicação de dejetos ou efluentes ou ainda com necessidade
de reuso de água. Unidades centralizadas de tratamento em bacias hidrográficas
ou usinas centrais de biogás para cogeração de energia elétrica ou térmica
também estão entre os potenciais usuários.
A Granja Master São Roque,
que em que o sistema está implementado, tem capacidade para alojar 9,5 mil
matrizes e uma produção anual de 256 mil suínos. De acordo com o
diretor-superintendente da granja, Mario Faccin, o Sistrates foi ao encontro do
que eles precisavam para resolver o problema dos resíduos da produção e
melhorar processos, como o uso da água.
“A região onde a granja está
instalada tem poucas áreas de lavoura para a aplicação dos resíduos como adubo,
o que se tornou um desafio para a produção. Também tínhamos um consumo de água muito
alto e precisávamos de alternativas para operar com mais sustentabilidade. Hoje
produzimos 256 mil suínos ao ano e estamos operando com metade do volume de
água que usávamos há sete anos, quando a produção era de 241 mil animais
anuais”, comemora. Outro ponto destacado pelo diretor é a preocupação com a
sustentabilidade. “A Master sempre teve um grande compromisso com a
sustentabilidade da sua atividade e esse projeto nos coloca na vanguarda da
questão ambiental com a criação de um sistema de aproveitamento de alta
eficiência, cuja tecnologia foi completamente desenvolvida em uma de nossas
unidades”, ressalta.
Como
funciona
O Sistrates é formado por
três módulos distintos: Bio, N e P. O primeiro é formado por biodigestores, o N
é responsável pela remoção de nitrogênio e o P remove o fósforo. A primeira
fase do processo é a de recebimento de resíduos, na qual os dejetos chegam aos
reservatórios e passam por um sistema de separação de sólidos grosseiros, por
meio de uma peneira com escovas rotativas. “Os sólidos separados são destinados
a um biodigestor de alta taxa e o efluente líquido segue, por gravidade, para
os biodigestores de lagoa coberta. Esses dois biodigestores formam o primeiro
módulo, o Bio”, detalha o pesquisador.
Nesse módulo ocorre a geração
de biogás para a produção de energia elétrica. De acordo com o analista da
Embrapa Ricardo Steinmetz, o mais importante desse módulo é a obtenção do
biogás. “Podemos recuperar o biogás, conduzi-lo a grupos geradores (motores que
geram energia elétrica), condicionar o gás e produzir energia. Assim, nesse
módulo temos a remoção de matéria orgânica e a geração de energia”, explica
ele.
O efluente dos biodigestores
de lagoa coberta possui elevada concentração de nitrogênio porque o processo de
digestão anaeróbia não é capaz de remover o nitrogênio amoniacal. Para essa
tarefa, no segundo módulo do Sistrates, N, ocorre a remoção de nitrogênio por
meio de processo biológico de nitrificação, seguido de desnitrificação,
produzindo gás nitrogênio. Ao fim do processo, o efluente atinge padrões de
lançamentos, apresentando concentração de nitrogênio amoniacal inferior a 20
mg/L.
No último módulo do Sistrates
é realizada a remoção do fósforo, por meio do processo químico de precipitação.
O fósforo é convertido a fosfato de cálcio sólido. Para a reação de
precipitação é usada uma suspensão de hidróxido de cálcio, ou cal hidratada, a
10%. O fósforo recuperado ao fim do processo pode ser usado como fertilizante
de acordo com a analista da Embrapa Fabiane Goldschmidt Antes.
Resultados: energia elétrica,
fertilizante e água de reuso.
O resultado de todo o
processo do Sistrates está na possibilidade de reuso de água, o que é permitido
devido à boa qualidade do efluente tratado. O produtor ainda obtém fósforo que
pode ser aplicado na lavoura como fertilizante e energia elétrica gerada por
biogás.
Kunz destaca ainda que, além
da validação a campo em escala real, na Granja Master, o objetivo é formar uma
rede de Unidades de Referência Tecnológica (URT) nas principais regiões
produtoras de suínos para apoiar a transferência da tecnologia, a capacitação
continuada de técnicos e viabilizar aperfeiçoamento contínuo do sistema.
Assista ao vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=RdpIKVI0S2s&feature=emb_logo
Sistema de Tratamento de
Efluentes da Suinocultura – Sistrates. (ecodebate)
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