A
emenda de Kataguiri foi incluída na medida provisória, apresentada ao Congresso
pelo governo federal, que autoriza a venda direta de etanol por produtores ou
importadores aos postos, sem o intermédio obrigatório de uma distribuidora.
Atualmente,
o comércio de veículos a diesel no território brasileiro é permitido apenas
para utilitários, como caminhões e ônibus, além de modelos com tração 4x4 e
reduzida ou primeira marcha encurtada. Kataguiri, por outro lado, alega que a
proibição do diesel em automóveis "não mais se justifica".
"Diversos
países usam o diesel para veículos de passeio, inclusive por conta de questões
ambientais. Ademais, a autorização para o uso do diesel pode tornar o
combustível mais barato, aliviando a presente crise inflacionária".
Contudo,
de acordo com especialistas ouvidos por UOL Carros, além da própria ANFAVEA, a
associação das montadoras, o que o deputado propõe já não faz sentido algum no
momento em que os motores a diesel estão sendo gradualmente descontinuadas na
Europa, por conta das elevadas emissões de poluentes.
"A
ANFAVEA entende que esta discussão sobre a liberação de automóveis a diesel no
Brasil está totalmente fora da realidade dos tempos atuais. Enquanto o mundo
discute a descarbonização dos transportes, através da aplicação de
biocombustíveis, hidrogênio ou eletrificação, qualquer proposta de aumentar a
participação de combustíveis fósseis na matriz energética brasileira é um
enorme retrocesso", critica a associação.
Renato
Romio, professor do Instituto Mauá de Tecnologia, explica que na década de 1970
o petróleo brasileiro não era adequado para a produção de óleo diesel - dessa
forma, o combustível de origem fóssil precisava ser importado. Assim, se o
diesel fosse liberado para modelos de passeio, poderia faltar para o transporte
de mercadorias e encarecê-las.
"Se chegarmos a uma situação de equilíbrio a ponto de ser viável liberar diesel para automóveis, esse combustível teria de ter a mesma taxação da gasolina e do etanol. O cenário ficaria parecido com o da Europa, onde diesel e gasolina têm valores semelhantes", analisa Romio. Seguindo esse entendimento, a afirmação de Kim Kataguiri sobre o diesel ser um combustível mais barato não faria mais sentido.
Por que o motor a diesel está morrendo na Europa?
Em
2011, os motores a diesel chegaram a representar 60% das vendas de carros na
Europa, mas esse número vem caindo ano após ano. Romio explica que, desde o
escândalo do Dieselgate envolvendo a Volkswagen, que utilizou um software para
ocultar as reais emissões do veículo, esse tipo de carro ficou mal visto pelos
consumidores.
Sobretudo
após o escândalo vir à tona, em 2015, as montadoras têm deixado de investir
nesses motores em solo europeu, pressionadas pelos limites cada vez mais
estritos em relação a poluentes.
"É
preciso refletir se vale a pena aceitar esses carros aqui, uma vez que estarão
defasados, sem investimento. Eles só serão autorizados na Europa por
aproximadamente mais 15 anos. É realmente o momento de discutir isso para o
Brasil? Seria uma forma de dar sobrevida às fábricas europeias de motores a
diesel, mas elas também terão de ser adaptadas para a fabricação de carros
elétricos", avalia o professor da Escola Politécnica da USP Marcelo
Augusto Leal Alves.
Leal
Alves aponta como uma opção interessante para o Brasil, quando o assunto é
redução de emissões, baratear o etanol.
"Aqui, temos um biocombustível que é muito vantajoso em relação às emissões, que é o etanol. Todo carbono emitido na queima do álcool é recapturado no plantio da cana-de-açúcar. Isso sim seria uma alternativa interessante aos carros elétricos", analisa.
Em quanto tempo o motor diesel se paga?
Outro
argumento comum entre os defensores dos carros de passeio a diesel é que os
modelos movidos a esse combustível proporcionam menor consumo e maior
autonomia. De acordo com Marcelo Augusto Leal Alves, a informação está correta,
mas é preciso fazer uma análise.
"O
carro a diesel é mais caro, porém tem uma vida útil mais longa e um motor mais
econômico. No entanto, a pessoa teria de ficar muito tempo com esse veículo
para a diferença se pagar."
Fizemos
a conta, considerando o Jeep Renegade a diesel, autorizado a usar esse
combustível por ser um jipe com tração 4x4.
O valor da versão Longitude Flex é de R$ 126.590, enquanto a mesma configuração a diesel e com tração nas quatro rodas sai por R$ 164.590 - uma diferença de R$ 38 mil. A versão Flex percorre 12 km com um litro de combustível na estrada, enquanto o a diesel faz 13,6 km/l.
Considerando o preço médio da gasolina a R$ 6,07 e do diesel a R$ 4,70 (dados da Agência Nacional do Petróleo), uma pessoa que roda 1.000 km por mês economizaria R$ 139,68 a cada 30 dias. Seriam necessários 272 meses, ou 22 anos, para zerar a conta. (biodieselbr)
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