Louvado por uns e contestado
por outros, o engenheiro João Augusto Conrado do Amaral Gurgel jamais causou
indiferença com os automóveis que produziu em Rio Claro (SP). Apesar da notoriedade
dos fora de estrada Xavante e X-12, ele também é lembrado por desbravar os
caminhos da sustentabilidade.
Primeiro elétrico produzido
em série na América Latina, o Itaipu E-400 foi desenvolvido pela Gurgel para
atender um desafio proposto pela Eletrobras para renovação de sua frota: os
interessados deveriam criar um veículo capaz de transportar 250 kg, ter
autonomia mínima de 65 km e velocidade máxima entre 50 e 60 km/h.
Apresentado em 1981, o E-400 mantinha a proposta do protótipo Itaipu avaliado por QUATRO RODAS em julho de 1974: era silencioso, limpo e eficiente, com linhas futuristas e três tipos de carroceria: picape cabine simples, picape cabine dupla e furgão de carga.
Para-brisa dianteiro era do VW Brasilia.
Sua elevada eficiência
energética resultava em um custo operacional muito inferior quando comparado a
utilitários com motores a combustão: seu consumo oscilava entre 0,27 e 0,35
kWh/km. O nome E-400 fazia referência à capacidade de carga de 400 kg e sua
autonomia era de 80 km.
O rendimento impressionou o
presidente da República João Figueiredo e gestores governamentais, que
encomendaram vários Itaipu E-400 para frotas estatais de companhias de energia
elétrica e de telefonia. Entre os clientes privados estavam o Banco Itaú, a Companhia
de Cigarros Souza Cruz e o empresário Nicolau Scarpa Jr.
Avaliado pelo jornalista
Claudio Carsughi na edição 251 (junho de 1981), o E-400 era impulsionado por um
motor Villares acoplado a um câmbio VW de quatro marchas. Ao contrário do
Itaipu dos anos 1970, o E-400 apresenta comandos convencionais nos pedais do
freio e na embreagem.
O pedal do acelerador comandava cinco cames para dosar a voltagem das oito baterias do tipo chumbo-ácido fornecidas pela C&D, variando de 30 volts no primeiro estágio até 96 volts no último, sempre alternando a amperagem ao colocar as baterias em paralelo ou em série. O motor de corrente contínua tinha potência nominal de 10 kW a 3.000 rpm.
Baterias ficavam entre os eixos.
Cada bateria pesava cerca de
80 kg, o que significava mais de 1/3 da massa total do E-400. Pesando sempre
acima de 1,5 toneladas, o sistema de freios era sobrecarregado com freqüência,
situação agravada pela falta de assistência. Os pneus radiais 175/70 SR 13 eram
um paliativo frente à arcaica suspensão dianteira da Kombi.
Para acionar o sistema é
preciso mover uma chave geral entre os bancos dianteiros. A única habilidade
exigida do condutor era um intervalo de tempo maior entre as trocas de marcha,
para evitar trancos na transmissão. O carregador das baterias era fornecido
pela Thornton Eletrônica e levava cerca de oito horas para atingir sua carga
total.
“O Itaipu E-400 só era entregue aos consumidores após um treinamento operacional, no qual demonstrávamos a autonomia mínima de 80 km e os cuidados com a manutenção”, conta Nilson Roberto Chaves, ex-funcionário da Gurgel. “Para receber o carro, era necessário atingir um nível de aproveitamento de no mínimo 50%”.
Além do velocímetro, o painel recebia um amperímetro e dois voltímetros.
Apesar da eficiência e do baixo custo operacional, o E-400 não conseguiu superar o eterno ponto fraco dos automóveis elétricos: as baterias caras, limitadas e com vida útil muito curta. “Iniciamos os estudos com baterias do tipo tetrapolar, mais leves, duráveis e potentes, mas já não havia mais interesse do mercado”, conta Chaves.
Foram produzidas 76 unidades
do Itaipu E-400 e 11 unidades do seu irmão maior E-500, sendo conhecido o
paradeiro de 25 delas. “Muitos foram registrados nos órgãos de trânsito com o
nome do fabricante ou de outros modelos da Gurgel. A maioria teve o motor
Villares trocado por um Volkswagen, dificultando a localização de unidades
remanescentes”, relata o antigo mobilista Tiago Songa.
A produção do E-400 foi encerrada
em 1982. O E-500 teve sua produção encerrada no ano seguinte, mas sua
carroceria acabou dando origem ao utilitário G-800, com pequenas alterações no
estilo e com a adoção de motores Volkswagen movidos a gasolina ou etanol.
Ficha Técnica – Gurgel Itaipu
E-400 1982
- Motor: elétrico de 96
volts; alimentação, 8 baterias de 12 volts, tipo chumbo-ácido; potência, 10 kW
a 3.000 rpm.
- Câmbio: manual de 4
marchas, tração traseira.
- Dimensões: comprimento, 382
cm; largura, 163 cm; altura, 164 cm; entre-eixos, 196 cm; peso, 1.570 kg.
- Pneus: radiais 175/70 SR 13
(Dimensões: comprimento, 382 cm; largura, 163 cm; altura, 164 cm; entre-eixos,
196 cm; peso, 1.570 kg.
Pneus: radiais 175/70 SR 13.
Gurgel Itaipu foi o primeiro carro elétrico nacional, mas morreu por problemas que existem até hoje.
O Itaipu E150 pesava 460 kg, sendo 320 kg apenas das baterias de 3,2 kW que entregavam o equivalente a 4,2 cv. Peso, autonomia e recarga foram barreiras para o pequenino. (quatrorodas.abril)
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