Devemos relembrar algumas
experiências negativas nos PAC 1 e 2 que deixaram como legado, violações de
direitos, graves impactos socioambientais, violação de consulta prévia, livre e
informada, subsídios gigantescos, em geral, para favorecer os combustíveis
fósseis, a mineração e o agronegócio.
Para o Ministério de Minas e
Energia (MME) serão alocados recursos públicos e privados da ordem de R$ 600
bilhões, em mais de 165 projetos. Para a geração nucleoelétrica, foram
destinados R$ 1,9 bilhão para a chamada “modernização” da usina de Angra I,
prestes a completar 40 anos em atividade. Já para a continuidade das obras de
Angra III, e sua finalização, não foram destinados recursos específicos, apenas
o comprometimento de realizar estudos técnicos e socioeconômicos, e assim,
segundo o governo federal, verificar a viabilidade de concluir a obra.
A posição do governo federal em relação a sua política nuclear, a meu ver, não mudou em relação aos governos Lula 1 e 2 e Dilma. As forças pró-nuclear, poderosas defensoras da nuclearização do país, com mais instalações de usinas nucleares e mais mineração de urânio, continuam majoritárias no núcleo decisório do atual governo; além dos interesses militares que não devemos descartar.
Lamentamos o fato que não são argumentos técnicos e socioambientais que prevalecem na decisão pela energia nuclear, e sim aspectos econômicos, lucros propiciados por um “negócio”, que utiliza uma tecnologia decadente e rejeitada, em um mundo que clama por sustentabilidade.
O “lobby” nuclear mundial
prevê que o Brasil seja ponta de lança na América Latina de uma tecnologia, que
além de questionada, está sendo renegada e abandonada.
Interesses econômicos, estão
presentes neste movimento de soerguer a tecnologia nuclear para produção
elétrica, mesmo diante do alto custo da energia gerada, de 4 a 6 vezes mais
cara que as fontes renováveis (Sol, Vento, Biomassa e Água). Sem contar com o
risco de acidentes nucleares desastrosos na própria usina (Three Mile Island,
Tchernobyl, Fukushima) com vazamento de material radioativo para o meio
ambiente. Ou mesmo de material radioativo desviado, e mesmo roubado, utilizado para
fins ilícitos, como o terrorismo nuclear.
Outro aspecto que merece
destaque para rejeitar usinas nucleares é que países que operam ou que operaram
tais usinas não encontraram locais seguros e definitivos para armazenar os
rejeitos produzidos após o uso do combustível nuclear. Atualmente o lixo
nuclear (ou lixo atômico) produzido é armazenado em locais provisórios, pois o
armazenamento permanente é uma questão não resolvida. Restando assim uma
herança maldita para as gerações futuras.
Diante da diversidade de recursos energéticos renováveis disponíveis no país, é uma insanidade defender a instalação de mais usinas nucleares no território nacional.
A medida tomada em não considerar no Novo PAC, a continuidade das obras de Angra III, mas sim em realizar estudos sobre a viabilidade econômica e socioambiental do projeto, visa atender às pressões de grupos que não representam os interesses da população brasileira. O que se esperava era o abandono completo de uma obra iniciada no século passado, e que tem sérias restrições de segurança em um projeto técnico defasado e obsoleto.
Deixar suspenso o destino de
Angra III é dar uma sobrevida a um projeto que há muito já deveria ter sido
abandonado. O próprio Ministério de Meio Ambiente e Mudança Climática é um
grande opositor desta tecnologia, ao lado de grande parte da sociedade
brasileira.
Com relação ao que foi
chamado modernização de Angra I, primeira usina nuclear brasileira que entrou
em operação comercial em 1985, a responsável pelo empreendimento,
Eletronuclear, propôs a extensão da vida útil da usina para mais 20 anos. O
licenciamento, na época, acordou um período de operação de 40 anos, que será
completado em 2024. Assim, caso se concretize este “alongamento” da vida útil
da usina, como um novo licenciamento, ela continuará operando até 2044.
Este procedimento de
“alongamento” da vida útil de usinas nucleares é contestado, em particular pelo
fato do desgaste, da fadiga dos materiais empregados nos equipamentos, assim
aumentando a probabilidade de ocorrência de desastres. Usinas mais antigas, que
chegaram a funcionar até sua vida útil, por prudência devem ser
descomissionadas.
A decisão sobre a nuclearização do país, com o aumento das atividades de mineração do urânio, e com a implantação de novas usinas nucleoelétricas, gerando mais e mais rejeitos, aumentando assim a possibilidade de desastres, não deve ficar restrita a um pequeno grupo de interessados e interesseiros em simplesmente fazer negócios. Deve, sim, estar embasada nos interesses maiores da população.
PAC 3 reacende debate sobre produção de energia nuclear em Angra 3.
A União Europeia debate a
qualificação da energia nuclear como um “investimento verde”, mas ainda há
divergências. Agora, chega ao Brasil.
É inconcebível que em um país
democrático, cujo atual presidente afirma a importância da participação popular
nas grandes decisões nacionais, nos destinos do país, somente um pequeno (mas
poderoso) grupo de lobistas, os “nucleopatas”, imponham a nação uma tecnologia cara,
suja e perigosa. (ecodebate)
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