domingo, 30 de maio de 2010

Conversão da Energia Térmica Oceânica

Conversão de Energia Térmica Oceânica: Empresas começam a explorar a energia dos oceanos.

Diagrama do ciclo OTEC. Imagem Wikipedia
O processo de gerar energia renovável a partir das águas do oceano por meio da Conversão de Energia Térmica Oceânica (Ocean Thermal Energy Conversion), conhecida como OTEC (na sigla em inglês), vem sendo estudado a quase um século mas, embora várias usinas-piloto tenham sido construídas para provar que a tecnologia funciona, ela nunca foi colocada em operação comercial. Agora, entretanto, apesar dos altos custos envolvidos, várias companhias estão trabalhando para desenvolver projetos comerciais.
A OTEC gera energia explorando o diferencial de temperatura entre a água quente da superfície e a água fria das profundezas do oceano. A água da superfície é bombeada através de um trocador de calor, onde atinge um fluido com ponto de ebulição muito baixo, como a amônia, que se expande ao evaporar. O gás vaporizado move as turbinas que produzem eletricidade, antes de ser bombeado para um condensador, onde é resfriado pela água fria dos oceanos, fazendo com que retorne ao seu estado líquido. O líquido é então bombeado de volta para o trocador de calor com água quente para repetir o ciclo.
Para funcionar eficientemente, a tecnologia exige uma temperatura diferencial de pelo menos 20 graus Celsius. Ela pode ser encontrada em grandes extensões dos mares tropicais. “Cada grau adicional ajudará a produzir 15% mais energia”, diz Philippe Dubau, gerente geral da Pacific Otec, subsidiária da Pacific Petroleum, uma distribuidora de derivados de petróleo na Polinésia Francesa, Nova Caledônia e Vanuatu que vem entrando na setor da energia renovável.
De acordo com Kevin Joyce, consultor de energias renováveis da Black & Veatch, em Overland Park, Kansas, uma das características mais interessantes dessa tecnologia é que, diferentemente da maioria das fontes de energia, ela pode garantir um nível mínimo de fornecimento estável e confiável.
“Isso geraria eletricidade 24 horas por dia de uma forma previsível e confiável”, diz Joyce. “Outras tecnologias renováveis com esse tipo de recurso potencial, como a energia eólica ou solar, são intermitentes, o que significa que elas precisam da energia convencional para cobrir as falhas no fornecimento.”
Às vezes, diz ele, isso significa ter de construir mais usinas elétricas convencionais de resposta rápida para fornecer energia ao sistema quando as fontes renováveis falham. A OTEC, por outro lado, “pode evitar essa necessidade e até mesmo substituir algumas de nossas usinas de fornecimento constante”.
“Isso significa que há mais potencial para a redução de CO2 do que muitas outras tecnologias renováveis”, diz Joyce. E também existem outras vantagens. “A tecnologia é compacta em comparação à que é necessária para energia eólica ou solar”, diz ele, acrescentando que a usina ficará “no meio do oceano e longe da vista.”
A Pacific Otec está trabalhando com a DCNS, uma companhia de arquitetura naval e construção militar do governo francês, e a Xenesys, uma companhia japonesa especializada em dessalinização e na tecnologia de conversão de energia térmica, num estudo de viabilidade para uma usina comercial de OTEC no Taiti. O apoio financeiro para o projeto é fornecido pelos governos da França e da Polinésia Francesa, que estão pagando 50% e 18%, respectivamente, do custo do estudo de viabilidade.
O projeto tem como objetivo construir uma plataforma oceânica de OTEC, com uma capacidade de geração de 10 megawatts-hora, que será conectada à rede elétrica do Taiti e poderá produzir eletricidade suficiente para suprir 10% da demanda das ilhas”, disse Dubau.
“Estamos na mesma situação que as pessoas que construíram o primeiro motor a vapor”, diz ele. “Ainda há um caminho muito longo e difícil à frente, mas se conseguirmos, poderemos fazer algo interessante e relevante em termos de fornecimento de energia e água para as comunidades, então vale a pena tentar.”
O projeto do Taiti colocará uma usina OTEC de 25 metros de altura e submersa a 25 metros abaixo da superfície para evitar as ondas altas e correntezas fortes.
“Abaixo do nível do mar é muito mais estável”, disse Dubau. “O estudo de viabilidade não é para a tecnologia; nós sabemos que ela funciona. Também sabemos que o projeto da usina está correto. Mas o que precisamos fazer agora é projetar o melhor sistema energético considerando os dados do ambiente local; projetar a integração do processo no tipo de plataforma escolhida; e, é claro, estudar a viabilidade econômica do projeto inteiro.”
O trabalho de design e engenharia do estudo que durará um ano será supervisionado pela DCNS, e a Xenesys fornecerá a tecnologia do sistema de geração. Depois da fase da viabilidade, a DCNS deverá assumir um contrato para construir uma usina comercial, diz ele.
A ciência por trás da conversão de energia térmica foi explorada pela primeira vez na França no final do século 19 e uma usina experimental de OTEC foi construída e brevemente operada por um engenheiro francês, Georges Claude, em Cuba em 1930. Nos anos 70, durante a primeira crise do petróleo, vários países começaram a olhar mais seriamente para a tecnologia. Uma usina de teste foi construída com financiamento do governo norte-americano em Keahole Point no Havaí, e outra pela Tokyo Electric Power do Japão, na ilha de Nauru.
Nos anos 80, entretanto, os preços do petróleo caíram, e a atenção se desvaneceu.
“Não fazia sentido na época desenvolver a tecnologia”, disse Dubau. “Ela ainda é extraordinariamente cara porque exige muita inovação, não só no processo propriamente dito mas também na tubulação.”
Como a tecnologia usa um volume muito grande de água fria das profundezas do oceano, ela exige uma tubulação extremamente longa e de calibre largo. “São necessários materiais especiais para construir tubulações com três a cinco metros de diâmetro, o que é extraordinariamente grande, e os canos precisam ir até cerca de mil metros de profundidade, para pegar a água fria”, diz Dubau.
Michinaga Takeda, engenheiro da Xenesys para o projeto do Taiti, disse que sua companhia também havia feito alguns estudos preliminares para uma usina OTEC em terra em Cuba que utilizaria o calor dispensado por uma indústria de energia térmica para aumentar a temperatura da água da superfície do mar. Ele disse que a combinação da construção em terra e o uso do calor reciclado poderia resultar em custos menores e maior eficiência; mas o projeto foi interrompido por causa da dificuldade do governo cubano de encontrar fontes externas de financiamento.
Nos Estados Unidos, uma equipe de desenvolvimento de energias alternativas da Lockheed Martin está trabalhando atualmente no projeto de uma usina piloto, com uma capacidade de geração de energia de 5 a 10 megawatts, que poderá funcionar no Havaí em 2014. Mas embora o sistema tenha o mesmo tamanho do estudo de viabilidade da Pacific Otec no Taiti, o protótipo da Lockheed Martin servirá para validar tecnologias para usinas de OTEC muito maiores, com capacidade de gerar mais de 100 megawatts.
Usinas de OTEC maiores poderão se beneficiar com as lições aprendidas na construção e operação da usina piloto, antecipando melhorias como estratégias de manutenção, melhor monitoramento e controle do ciclo termodinâmico, diz Ted Johnson, diretor de desenvolvimento de energia alternativa da Lockheed Martin. A usina piloto também ajudaria a determinar o custo e os riscos técnicos de construir usinas bem maiores, com capacidade para 100 megawatts ou mais.“Acho que nossa abordagem é diferente da deles”, disse Dubau. “Os EUA querem usar essas usinas para gerar eletricidade para sua base militar em Guam e Diego Garcia, por exemplo. Nós estamos querendo uma usina bem menor que atenderá às necessidades da pequena comunidade das ilhas.” (EcoDebate)

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Biocombustível, o equívoco suicida

Nossos assuntos em defesa do meio ambiente geralmente versam sobre a Terra, o todo, o planeta. Hoje, o foco de nossa conversa vai ser a terra, fração daquela mesma Terra, substância que em grande parte cobre a superfície dos continentes. É muito comum e conhecida de quase todos. Talvez por isso não se lhe dão a importante atenção que merece. Merece porque é o sustentáculo do habitat, no qual reina direta ou indiretamente, de toda a vida que conhecemos.
Partimos do princípio de que não existe milagre. Tudo que existe é efeito de alguma causa. Pois bem, façamos um exercício mental. Imaginemos que em um terreno de 1 m² plantamos um grão de milho. Após, ocorrem alguns fatos notáveis, verdadeiros milagres da Natureza. A planta ali nascida suga do solo parte dos elementos químicos de que necessita para manter a vida. Do ar, retira outros que, em combinação com a energia solar, lhe dão condições de transformá-los em tecido ou estrutura preparatória para a reprodução, objetivo de sua existência. Produzidas suas espigas, são elas arrancadas e comidas por um homem, sobrando naturalmente toda a estrutura esquelética.
O normal seria esse cadáver vegetal ser mantido no local e, após, revertido aos elementos químico primários pela ação dos agentes microbianos, o que devolveria ao solo grande parte do que foi dali retirado. Mas, usualmente, em função dos interesses econômicos, ele é queimado, ou usado como ração de bovinos, ou tem outra destinação imprópria, o que é compreensível sob a concepção das estratégias econômicas, pois “tempo é dinheiro” e o local tem que ficar limpo para novo plantio.
Situação daquele terreno: ficou desfalcado em sais minerais correspondentes a um pé de milho, compreendida toda a sua estrutura e o produto final, as sementes – seus filhos. Nosso homem da labuta rural conhece bem esse fenômeno, mas apenas na sua conseqüência, quando diz: “esse terreno está cansado”, que traduzimos para “esse terreno está esgotado, desfalcado de elementos básicos, pobre, deficiente, imprestável, causado pela atividade agrícola intensiva, ambiciosa, desordenada e inconseqüente”.
De outro lado, o homem que se alimentou das espigas absorveu parte dos elementos de que tratamos e mandou para o esgoto o restante. Essa borra final foi levada pelos rios para a foz, onde se acumulou no leito subaquático. Resumo da história: com suas ações, o homem retira uma parte dos elementos químicos da terra e a acumula no oceano. Isso se chama transformar uma estrutura produtiva em outra estéril.
Esse é um exemplo de apenas um pé de milho. Imagine-se a realidade, que se assenta em cultivo de bilhões de plantas alimentícias temporárias. No conjunto, com muita gente, chuva em terra nua e máquinas como personagens, transformamos grande quantidade de elementos químicos, contidos na terra, em alimentos orgânicos. Eles nos são úteis porque nos mantêm vivos, mas que afinal são parte poluidora do ar e parte descartada no mar, num processo de irracional desperdício da matéria prima posta à nossa disposição pela Natureza. Esses elementos da terra são vida, sustentam a humanidade; não são energia para locomoção, finalidade contrária aos planos naturais.
O que é terra? É a rocha decomposta. Um conjunto de rochas leva aproximadamente 200 anos para se transformar, por desgaste, em uma camada de apenas 10 cm de terra. É um processo lento face à rapidez com que é convertida e esbanjada pela cobiça do sistema econômico.
Transformar os recursos naturais da terra em alimento tem a sua justificativa, não obstante a agricultura moderna empregar ações imediatistas inteiramente irracionais. Mas transformar alimento em combustível (energia locomotora) é o paroxismo da irracionalidade. Àqueles que seguem os ensinamentos religiosos, esses objetivos se constituem em verdadeiro pecado. Deixa Deus saber disso!
Enquanto temos, segundo as últimas estatísticas, 1,5 milhões de pessoas passando fome, estamos preocupados com o deslocamento desnecessário de bens e pessoas, isto é, com o conforto que fermenta o individualismo e gera lucro ao sistema econômico.
Alega-se que o petróleo é esgotável e o biocombustível, não. Como procuramos arrazoar acima, o simples cultivo de plantas alimentícias já é, em si, sumamente esgotável; agora para a produção de biocombustível o é mais ainda. E muito mais destrutível, pois pede áreas imensas de terra para cultivo, provocando rápido esgotamento e maior desnudamento desses espaços. Tudo em nome dos objetivos do ganha - ganha do sistema econômico da atual civilização.
Pois que se esgotem os recursos petrolíferos que são subterrâneos e desnecessários à vida, mas se preservem os recursos naturais dos seres vivos, postos em função da necessidade básica de sobrevivência. Todos os povos primitivos cultuavam a terra como a uma deusa, reconhecendo-a como a doadora de vida. Que profunda sabedoria! Nós, os homens modernos inteligentes e donos das verdades, a tratamos com desprezo e degradação, deixando-a sem a pele protetora (desmate), com chagas deformantes (mineração) e esterilidade irreversível (desertificação). É o mesmo que desprezar a vida na sua expressão universal.
Nesse quadro de loucuras e desgoverno do planeta, enxergamos o momento em que teremos motoristas sentindo imensa fome, mas alegres e satisfeitos por estarem dirigindo em alta velocidade – rumo ao suicídio – um último modelo de automóvel movido pelo que lhe falta no estômago. (EcoDebate)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Energia: De que adianta nossa experiência?

Há poucos dias (maio/2010) morreu em Israel, onde morava, o físico José Júlio de Rosenthal, a quem o Brasil e, principalmente, Goiás muito devem, embora raramente disso se fale. Mas num domingo, no final de setembro de 1987, Rosenthal, que estava no Rio de Janeiro, foi convocado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) para ir a Goiânia, pois havia notícia de um acidente, ali, com uma bomba de césio 137.
Rosenthal convocou auxiliares e com eles combinou de se encontrarem no final da noite no aeroporto da capital goiana. De lá, com a roupa do corpo, seguiram para uma tapera numa área cedida para a construção de um centro de convenções, mas embargada pela Justiça a pedido de um instituto de radioterapia que ali funcionara. À luz de isqueiros, os técnicos da CNEN só encontraram lá um bando de mendigos que dormia, como disse Rosenthal a uma comissão de inquérito da Assembleia Legislativa goiana. A bomba de césio, desativada pelo instituto e furtada, fora rompida a machadadas por um catador de lixo, em outro local (imagine-se o que seria dos técnicos se estivesse ali, rompida).
Embora contivesse pouco mais de cem gramas de césio, a bomba rompida provocou mortes e milhares de contaminações entre as mais de 100 mil pessoas que passaram por exames nos dias posteriores. Aterrorizadas, como toda a população da cidade, pelo noticiário das televisões, que mostrava pássaros e gatos entrando livremente e saindo da área interditada onde fora rompida a cápsula – diante da impotência dos técnicos da CNEN, a essa altura já usando macacões providenciados pelo governo do Estado, mas sem saber o que fazer com os milhares de toneladas de resíduos da casa demolida do catador de lixo e de outros locais contaminados. A lei federal mandava que fossem para um depósito federal inexistente e que nenhum Estado aceitava. O governo goiano, sem outra solução, mandou-os para um antigo lixão a uns 20 km de Goiânia – onde a CNEN faria depois o depósito definitivo, embora para isso não fosse adequado (o depósito teve de ser implantado acima do solo, dada a presença de um lençol freático quase superficial).
Uma bomba com pouco mais de cem gramas de césio, perto do combustível ou dos resíduos de uma usina nuclear, é quase brincadeira de criança. Mas o governo brasileiro, que até hoje não tem solução para os resíduos altamente radiativos das Usinas Angra 1 e 2 – mantidos dentro de piscinas no interior das próprias usinas -, já tomou a firme decisão de construir algumas outras unidades. Não que haja alguma solução à vista para o mais perigoso dos lixos – ninguém ainda a encontrou, no mundo todo: o projeto norte-americano de um depósito 300 metros abaixo da Serra Nevada (a maior esperança) continua embargado pela Justiça, por falta de garantias. Mas, ainda assim, programam-se usinas para o Nordeste e para o Sudeste. E Angra 3, com custo previsto de muitos bilhões de reais, já tem a primeira licença, embora o conceituado físico brasileiro Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e coordenador do científico do Programa Brasileiro de Mudanças Climáticas, tenha dito que se deve encarar “com muita cautela” um projeto de usina nuclear à beira-mar, tendo em vista o processo de elevação do nível das águas dos oceanos (inclusive no litoral brasileiro), já em curso, e as previsões de novas elevações.
É mais um capítulo desse inacreditável processo decisório na área energética do Brasil, em que se vai avançando e programando a ampliação da oferta de energia, baseada em estimativas do crescimento da demanda altamente discutíveis – como já se escreveu aqui -, tendo em vista estudos que mostram outras possibilidades mais baratas e seguras: reduzir o consumo em até 30% com programas de eficiência e conservação de energia (como em 2001), aos quais se somariam 10% de ganhos na perdulária rede de transmissão (que desperdiça em torno de 15% do total transportado) e outros 10% repotenciando, a custos muito menores que na nova geração, antigos reatores de baixa produção. Tudo isso está em estudos da Unicamp, do WWF e outras instituições, diante dos quais os mandatários do setor se fazem de surdos, empenhados em grandes obras.
Tudo faz lembrar episódio do final da década de 80, quando a Eletrobrás contratou consultor muito renomado do Banco Mundial, Howard Geller, para analisar o plano de expansão previsto para uma década, que partia da “necessidade” de duplicar a oferta de energia, a um custo brutal. Geller deu parecer dizendo que o consumo de energia seria muitas vezes inferior ao projetado; mesmo que fosse maior, não haveria recursos disponíveis para a expansão planejada. Esqueceu-se o parecer e deu-se início a um plano logo abortado. E o tempo encarregou-se de mostrar que Geller tinha absoluta razão.
Agora, com base num crescimento projetado de 5,1% ao ano no consumo nacional de energia – mas sem discutir a matriz -, prevê o governo federal investimentos de R$ 951 bilhões na área de energia entre 2010 e 2019, dos quais 71% para petróleo e gás e 22,5% (R$ 214 bilhões) para energia elétrica, o que exigirá que novas fontes, inclusive 39 hidrelétricas previstas, gerem tanta energia quanto a Usina de Belo Monte (Estado, 5/5). E com baixíssima prioridade para fontes como energia solar, eólica e outras. A alegação é sempre a mesma – a energia eólica é “muito mais cara” que a hidrelétrica -, esquecendo, como lembra o professor Ildo Sauer (ex-diretor da Petrobrás, 2003-2007), que hoje o custo da energia elétrica é de R$ 110 por MW, como se alega na comparação com as energias alternativas, mas o preço final cobrado aos usuários nas tarifas é de R$ 450 – a não ser para os privilegiados consumidores do setor de eletrointensivos (alumínio, ferro-gusa e outros), que chegam a ter subsídios acima de 50% (e por isso os outros consumidores têm de pagar mais em suas contas).
É assim que se explicam usinas nucleares, Belo Monte e quejandos. (EcoDebate)

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Um sopro de energia renovável VII

Outros potenciais de redução do consumo estão nas seguintes áreas:
Motores industriais
Estimativas apontam que a evolução da eficiência energética, de 2000 a 2020, será em média de 20% para os motores industriais. Além da troca de motores, a opção de utilizar controladores de velocidade resulta em importantes economias de eletricidade. Podem ser utilizados em bombas, ventiladores e compressores, com uma economia que pode alcançar de 15 a 40%, e para compressores, aproximadamente, 5%.
Iluminação
Cerca de 20% do consumo total de energia elétrica está associado a produção de luz, incluindo a iluminação pública. As tecnologias de iluminação têm avançado significativamente nas últimas décadas. Há ainda um grande potencial de troca de lâmpadas incandescentes por lâmpadas de descarga. Existe um enorme espaço para redução de consumo, através de avanços na tecnologia LED e na sua utilização em projetos arquitetônicos e luminotécnicos, além da maior utilização de sensores de presença, que devem ser previstos nos códigos de obras.
Equipamentos eletrodomésticos e de refrigeração
Equipamentos usados para refrigeração e condicionamento ambiental (ar-condicionado) têm um potencial significativo de redução de consumo que tem sido buscado através do PROCEL. A introdução de equipamentos com níveis de consumo como aqueles disponíveis no mercado internacional possibilitariam a imediata redução em até 40%, comparados com os níveis atuais de consumo desses equipamentos no Brasil. A Lei de Eficiência Energética é peça fundamental para garantir um contínuo aperfeiçoamento tecnológico dos equipamentos.
No Brasil é crescente a utilização de equipamentos que possuem o modo stand-by e é possível assumir que cerca de 10% do consumo dos setores residencial e comercial são consumidos por esses equipamentos. Para reduzir esse desperdício, é preciso implementar um padrão mandatório limitando a 1 W a potência em stand-by dos equipamentos.
Aquecimento de água residencial
Os chuveiros e os aquecedores elétricos de acumulação consomem cerca de 8% de toda a eletricidade produzida no país e respondem por entre 18% a 25% do pico de demanda do sistema elétrico, tornando sua substituição por sistemas mais eficientes uma prioridade a ser considerada no planejamento energético.
Como os custos incorridos com a implementação das medidas de eficiência e uso racional de energia custam menos que os valores necessários para produzir e distribuir a nova geração de eletricidade considera-se que essas economias poderiam ser utilizadas para financiar maior uso de fontes renováveis, maior uso de cogeração e geração distribuída.
Três motivos centrais são apontados que fazem com que o Brasil esteja perdendo a oportunidade de se tornar uma liderança em energias renováveis, com grandes probabilidades de sujar sua matriz energética:
Ampliação de termelétricas que utilizam combustíveis fósseis, fundamentada na segurança energética. O Ministério de Minas e Energia escolheu expandir essa fonte para garantir por um menor custo da energia e afastar o risco de apagão.
Forte aposta na exploração da camada pré-sal, mostrando que o Brasil ruma contrário ao movimento internacional de migração para uma economia menos carbono intensiva;
Ausência de investimento governamental diretamente em energias renováveis. Recursos são aplicados em ações pontuais que integram diversos programas, como por exemplo, a pesquisa e o incentivo de leilões de energia, como o que está previsto para a energia eólica. Porém, como não há um orçamento específico para as renováveis, também não é possível mensurar quanto o país destina para esse fim de uma maneira credível.
O que a sociedade brasileira condena e não aceita mais é a falta de transparência sobre as escolha das opções energéticas. O debate energético atual se baseia em um modelo “ofertista” com recursos fósseis, com mega-hidroelétricas e com usinas nucleares. Ele precisa e deve ser substituído por um projeto diferente, contemporâneo dos desafios e possibilidades do século XXI, para que tenhamos segurança energética em longo prazo, com a diversificação e a complementaridade da matriz energética nacional, e com fontes renováveis de energia, levando assim em conta, um modelo de desenvolvimento sustentável.
Logo, o desafio consiste em uma mudança de paradigma, em construir um novo modelo econômico e social a serviço de um novo modelo democrático que traga toda a humanidade a um padrão de vida digno, com acesso à alimentação adequada, a saúde, a educação e oportunidades de trabalho. Visto que, para continuar o crescimento da produção e do consumo atuais, como é proposto pelo modelo vigente, precisaríamos de mais de um planeta Terra, pois hoje já são consumidos recursos naturais a uma taxa 30% maior do que a Terra tem condições de repor. Aqui reside o limite do atual modelo de desenvolvimento econômico adotado: o limite da Terra. (EcoDebate)

Um sopro de energia renovável VI

Os maiores potenciais de redução da demanda no lado da oferta são:
Repotenciação de usinas hidroelétricas
No PDEE, não há menção à repotenciação das centrais geradoras existentes, mesmo que estudos reconhecidos já tenham sido desenvolvidos pelo IEE (Instituto de Eletrotécnica e Energia) da USP, UNICAMP e pelo WWF indicando possibilidades de repotenciação e de novos conceitos para realização de despachos de usinas que poderiam aproveitar melhor o sistema de reservatórios de bacias hidrográficas em coordenação com a operação de termoelétricas existentes.
Um estudo da UNICAMP calculou que a repotenciação (recuperar equipamentos desgastados de usinas com mais de 20 anos: turbinas, gerador, rotor) acrescentaria mais de 11 mil MW de potência, quase tudo o que o PAC planeja acrescentar até o final de 2010, e praticamente o dobro das duas usinas do Madeira, que terão uma potência de 6.500 MWh, em torno de 4.000 MW médios de energia firme. O custo por MW da repotenciação é de 1/3 a 1/5 do custo do MW de uma usina nova. Segundo cálculos realizados o custo total de repotenciação das 67 usinas seria R$ 5,4 bilhões para 8 mil MW. O custo inicial das usinas do Rio Madeira seria R$ 25,72 bilhões, além do custo adicional estimado entre R$ 10 e R$ 15 bilhões para as linhas de transmissão. A repotenciação não implica em nova obra civil, pois não há nenhuma modificação no ponto de vista ambiental e social.
Essas melhorias poderiam acrescentar até 10% do total de energia gerada com a mesma capacidade instalada de geração hidrelétrica.
Os maiores obstáculos para um avanço do mercado da repotenciação são de ordem normativa e cultural. No primeiro caso, as geradoras são penalizadas caso não assegurem a energia firme proposta nos contratos, uma vez que a modernização dos equipamentos implica em indisponibilidade na faixa entre três e quatro meses. O outro ponto é o político, pois a reforma de uma usina não tem a mesma visibilidade que pode ser obtida por meio de uma obra nova. A modernização das usinas não elimina a necessidade de novas plantas, porém abre espaço para uma redução em escala da busca de novos projetos, de forma incisiva.
Redução de perdas no sistema de transmissão e distribuição
As perdas na transmissão e distribuição de eletricidade são consideráveis no país devido às longas linhas de transmissão e dificuldades de correto dimensionamento e manutenção da rede básica e dos transformadores, em grande parte, das empresas de eletricidade. O Tribunal de Contas da União afirma que o Brasil perde pelo menos entre 16% a 17% da energia que gera, principalmente na cadeia de transmissão e distribuição, quando um índice de perdas de 8% em 2020 poderá ser conseguido, por exemplo, através dos investimentos em P&D das concessionárias e do próprio CTEnerg.
Sistemas de co-geração e geração distribuída
A crescente preocupação com qualidade de energia e segurança e confiabilidade de suprimento tem estimulado o desenvolvimento e comercialização de tecnologias que possibilitam a geração e distribuição descentralizada de eletricidade e assim a redução de custos com a transmissão e, consequentemente, os impactos ambientais associados a esses empreendimentos. A produção combinada de calor e eletricidade, com enorme potencial, é sub-explorada no país. A contribuição da co-geração e geração descentralizada poderia atingir 10 a 15% da capacidade instalada em 2010. Estima-se também que em 2020, 26% da geração de energia ocorrerão através de sistemas de cogeração e geração distribuída, sendo 22% a partir de fontes renováveis e o restante com sistemas a gás natural.
Melhoria de eficiência de termelétricas
A maior parte das termelétricas construídas no país são usinas de ciclo aberto, o que significa uma eficiência de cerca de 35%, em lugar de usinas de ciclo combinado que podem chegar a 60-65% de eficiência.
Florestas energéticas
Só no Nordeste do Brasil, poderiam vir a ser produzidos mais de 22.500 MW médios, segundo estudos realizados por técnicos e engenheiros da CHESF, com a plantação de florestas energéticas.
Potenciais de redução da demanda no lado do consumo:
Como já foi dito, não se pode considerar metas de redução de consumo de energia elétrica sem uma revisão da política industrial que beneficia a ampliação de setores eletrointensivos produtores de bens de baixo valor agregado para exportação. As indústrias que compõem o setor eletrointensivo consomem cerca de 30% da energia do país, geram pouco emprego e causam grandes danos sociais e ambientais. Enquanto isso existe no Brasil cinco milhões de domicílios sem energia elétrica, cuja demanda, para ser atendida, necessitaria da produção de 800 MW de energia, o equivalente a soma do consumo de apenas três indústrias de alumínio no Brasil. (EcoDebate)

sábado, 22 de maio de 2010

Um sopro de energia renovável V

Sustentabilidade energética
A atual política energética e ambiental adotada, lamentavelmente tem levado o Brasil a caminhar na contramão do que vem sendo implementado em várias partes do mundo, a opção pelo uso de fontes renováveis de energia. Não só na geração de energia elétrica, mas também no aquecimento de água solar que evita o consumo de eletricidade nos chuveiros.
Na atual política de expansão da oferta de energia para o país, fica evidente o tratamento especial dado para a construção de mega-hidrelétricas na região Amazônica, de termoelétricas a carvão mineral e óleo combustível e a instalação de usinas nucleares.
Esse gigantismo para mega-obras, típico de mentes tecnocráticas e autoritárias, beira a insensatez, pois, dada a crise ambiental global, todos recomendam obras menores, que valorizam matrizes energéticas com fontes de energia renováveis, que menos agridem o meio ambiente.
Se há um país no mundo que goza das melhores oportunidades ecológicas e geopolíticas para ajudar a formular um outro mundo necessário para toda a humanidade, este país é o nosso. Ele é a potência das águas, possui a maior biodiversidade do planeta, as maiores florestas tropicais, a possibilidade de uma matriz energética menos agressiva ao meio ambiente – à base da água, do vento, do sol, das marés, das ondas do mar e da biomassa. Entretanto, ainda não acordamos para isso. E tudo isso nós temos em abundância. Nos fóruns mundiais vive em permanente estado de letargia política, inconsciente, “deitado eternamente em berço esplêndido”. Não despertou para as suas possibilidades e para a sua responsabilidade face à preservação da Terra e da vida.
O que se constata em nosso país são as várias alternativas existentes para aumentar a oferta de energia sem a construção de novas centrais, através da eficiência energética e do uso de fontes renováveis de energia para a diversificação e complementação de nossa matriz energética. Simplesmente essas vantagens comparativas não são levadas em conta. Ainda a tempo de frear a construção destas monstruosidades que são as mega-hidrelétricas na Amazônia, as térmicas a combustíveis fósseis, e as usinas nucleares, porque há alternativas melhores.
A seguir reproduzimos as opções apresentadas pelos estudiosos da UNICAMP, USP, CHESF, que levam em conta as possibilidades de redução da energia na demanda tanto do lado da oferta, como do lado do consumo. (EcoDebate)

Um sopro de energia renovável IV

Fontes renováveis
O mundo está diante do desafio de alterar as fontes atuais de energia que movem a economia do planeta. Petróleo e gás natural ainda respondem por mais de 50% da matriz energética mundial, enquanto apenas 13% das fontes de energia do mundo provêm de fontes renováveis como hidroeletricidade, biomassa, energia eólica e solar.
Hoje no Brasil, as energias renováveis respondem por 46% da matriz de energia elétrica do país, o que faz do Brasil modelo para o mundo, cuja média mundial é de 12% a 13%. Nos países desenvolvidos, as energias renováveis equivalem a apenas 7% da matriz elétrica.
Em eficiência energética e em economia de energia o PROCEL (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica) – investiu R$ 971 milhões e obteve uma economia de energia de 24.598 GWh/ano, o equivalente à geração de uma usina com capacidade para 6.612 MW. Daí pode-se verificar o enorme potencial dos programas de conservação de energia.
O aproveitamento das energias renováveis é relegado nos Planos Decenais, enquanto deveriam ser encaradas como a grande solução para a questão energética. Apesar de a Europa planejar que 20% de sua matriz energética seja composta por novas fontes renováveis até 2020, o Brasil segue desconsiderando essa tendência internacional apesar de possuir potencial para suprir totalmente a demanda nacional atual e também para fornecer eletricidade a locais remotos que não a possuem ou que utilizam outras fontes como a geração a diesel ou a gás. Essas fontes poderiam também resolver problemas atuais do setor como o pico de consumo nas regiões Sul e Sudeste causado por chuveiros elétricos e que pode ser reduzido por energia solar térmica, beneficiando a todos, inclusive às concessionárias. Assim a demanda poderia ser mais balanceada e o fator de carga elevado.
As energias renováveis somente foram abordadas no PDEE através do PROINFA (Programa de Incentivo as Fontes Alternativas de Energia), que é um programa que limita a quantidade de energia que deverá ser gerada, ao invés de adotar estas fontes de forma contínua e definitiva. A limitação temporal acaba inclusive por dificultar investimentos privados no setor, pela ausência de perspectiva quantitativa maior e de longo prazo. Nem a energia solar térmica nem a solar fotovoltaica são consideradas, apesar do imenso potencial que o país possui e das iniciativas de suporte já existentes por parte da sociedade civil (por ex. do Instituto Vitae Civilis) e em focos governamentais locais (por ex. projeto de lei de energia solar térmica para a cidade de São Paulo). O Plano não analisa nem propõe soluções aos problemas que já ocorrem no planejamento e na implementação do PROINFA.
O custo total previsto pela Eletrobrás para o PROINFA será de R$ 1,816 bilhão em 2010, segundo Plano Anual (PAP), orçamento aprovado pela diretoria da ANEEL. Do total, as distribuidoras pagarão R$ 1,640 bilhão, as transmissoras, R$ 174,046 milhões, e as permissionárias cooperativas, R$ 1,960 milhão. O número de empreendimentos previstos para operar em 2010 dentro do PROINFA, segundo a Eletrobrás, representam um total de 3.137 MW de potência instalada e uma geração prevista de 10.601.823,59 MWh.
A gravidade da situação climática no mundo exige que governantes (e os candidatos) se posicionem quanto à nossa matriz energética. Não faz sentido continuar destinando às usinas termoelétricas, altamente poluidoras, boa parte dos leilões de energia. É preciso dar muito mais força à energia eólica e solar, além de biocombustíveis produzidos adequadamente. Não é faz sentido ignorar os estudos científicos que indicam ser possível ganhar até 30% no consumo de energia com políticas eficazes de eficiência e conservação, mais 10% com redução de perdas em linhas de transmissão, outro tanto com repotenciação de geradores defasados. Esses caminhos custariam algumas vezes menos que o da implantação de novas mega-usinas e ainda evitariam conflitos sociais e ambientais.
Projetos faraônicos propostos pelo governo federal encobrem questões estruturais cuja solução é sempre adiada. A História mostra que a cultura predominantemente aventureira, nômade e exploratória resultou, com raríssimas exceções, apenas em atraso, desigualdades socioeconômicas e falta de melhores perspectivas para o futuro. Por outro lado, as culturas em que predominam os valores do trabalho, da construção e da permanência levaram ao florescimento das mais prósperas sociedades que conhecemos.
Infelizmente, nosso País tem sido objeto da primeira modalidade ao longo dos últimos cinco séculos. Das entradas e bandeiras às atuais derrubadas e queimadas de árvores da Amazônia, o que se constata é o enriquecimento de uns poucos em detrimento de uma multidão de pessoas atoladas no lamaçal da pobreza e da miséria.
O desafio de gerar energia com baixa emissão de carbono tem um longo caminho pela frente e cada vez mais é urgente a implementação de políticas públicas de incentivo a energias renováveis e limpas, e a eficiência energética.
Nesse sentido, boas notícias parecem mostrar avanços: dados que constam no documento Tendências Mundiais dos Investimentos em Energia Sustentável 2009, divulgado pelo PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) em agosto de 2009, apontam que o ano de 2008 foi o primeiro em que houve mais investimentos em fontes energéticas renováveis do que na energia nuclear e na que exige alto uso de carvão. Foram alocados US$ 155 bilhões em empresas e projetos de energias limpas, principalmente na eólica e solar.
Diversos países vêm fazendo o dever de casa e planejando seus investimentos em fontes alternativas de energia. No entanto, o Brasil parece seguir uma estratégia de desenvolvimento que vai na contramão dessa realidade. O país que possui 46% da energia produzida proveniente de fontes renováveis é o mesmo que apresenta uma série de contradições em relação à questão energética, como por exemplo, o incentivo à ampliação de termelétricas e elevados investimentos para exploração de petróleo, com a descoberta da camada de pré-sal. O Plano Decenal de Energia tem sido duramente criticado por ambientalistas e alguns especialistas do setor energético, pelas opções adotadas. (EcoDebate)

Um sopro de energia renovável III

Tarifas mais caras do mundo
Tradicionalmente, as tarifas de energia elétrica no Brasil ficavam muito abaixo das vigentes nos países ricos, que são fortemente dependentes de petróleo importado. No Brasil, as hidrelétricas respondem por 2/3 da energia elétrica produzida no País com custo praticamente zero para o combustível, que é a água.
O sistema brasileiro prevê um “custo para a água” basicamente para cobrir despesas de compensação ambiental aos governos estaduais e municipais. Nos Estados Unidos e na Europa, a energia elétrica é gerada a partir de combustíveis fósseis, especialmente o carvão e derivados de petróleo. A grande exceção é a França, onde 75% da energia provêm de centrais nucleares.
A inversão ocorreu nos últimos dez anos, com os fortes reajustes para as tarifas do setor elétrico. Entre dezembro de 1995 e o final de 2005 a ANEEL reajustou as tarifas residenciais em 386,2%, quase o dobro do reajuste da inflação aferida pelo IPCA no mesmo período, que acumulou variação de 210,15%.
Os reajustes para as residências, porém, ficaram abaixo dos registrados para o setor industrial nesse mesmo período. No período de dez anos, a agência reguladora reajustou as tarifas pagas pela indústria em 476,44%.
Os reajustes mais acelerados para a indústria foram maiores no governo Lula, que inverteu a tendência registrada no governo anterior. Na gestão de Fernando Henrique Cardoso, os aumentos foram maiores para os consumidores residenciais e mais baixos para as indústrias, embora também muito acima do aumento da inflação no mesmo período.
As tarifas residenciais de energia elétrica no Brasil estão entre as mais elevadas do mundo e custam cerca de 65% acima dos preços pagos pelos consumidores residenciais norte-americanos. Os preços pagos no Brasil estão acima até dos vigentes em alguns países europeus, como Espanha e França, embora fiquem abaixo dos registrados na Irlanda, Portugal e Inglaterra. Conforme dados da ANEEL a tarifa média das 65 distribuidoras de energia no País está em torno de R$ 327,21 por MWh, o que corresponde a cerca de US$ 172 (câmbio de R$ 1,90 por dólar).
Nos Estados Unidos, pelos dados da EIA (Energy Information Administration), agência do governo americano, a tarifa média residencial está em torno de US$ 104 por MWh. Na França o MWh estava em torno de US$ 144, enquanto na Espanha a tarifa média oscilava em torno de US$ 165.
Já em Portugal, Inglaterra e Irlanda os preços estavam acima dos praticados no Brasil, com tarifas de US$ 184 por MWh, US$ 186 e US$ 258 por MWh, respectivamente. No México, a tarifa média estava em US$ 101 por MWh. Os dados referentes aos países europeus e ao México foram extraídos da IEA (International Energy Agency), formada pelos principais países consumidores de energia do mundo.
Sem dúvida para essa exorbitante tarifa contribui a descoberta feita pelo TCU, o Tribunal de Contas da União, de algo que há muito se suspeitava que os próprios contratos de concessão contem gravíssimas falhas no mecanismo de reajuste tarifário, fazendo com que a população, desde o fim da década de 90, venha sistematicamente pagando aumentos de tarifa superiores aos preconizados, porque a fórmula usada no contrato está contra a lei. O que significa uma transferência de mais de 1 bilhão de reais por ano pagos indevidamente pela população. (EcoDebate)

Um sopro de energia renovável II

A expansão de energia
Essas contas de energia são sempre bastante controversas. Existe um planejamento que avalia sempre uma demanda futura e, portanto, tenta suprir essa necessidade com a construção imediata de hidrelétricas e usinas com outras fontes de energia. Nós vimos que, no ano passado, em função da desaceleração econômica, o Brasil não consumiu tanta energia quanto se esperava.
São questionáveis as informações técnicas relacionadas à construção dos cenários utilizados para alimentar a modelagem sobre as projeções de consumo energético. Historicamente, o Setor Elétrico tem feito projeções com base na premissa do crescimento da economia baseado em taxas acima das atuais e que geram “previsões” irreais do consumo energético. Por exemplo, em 1987, a projeção para 2005 foi 54% acima do consumo verificado. As projeções com horizontes mais curtos também sempre foram superestimadas. Por exemplo, em 1999, o consumo projetado para 2005 foi 14% maior que o ocorrido.
A correlação do aumento de consumo de eletricidade com o PIB não se comprova e, portanto não pode ser usada como norteadora do planejamento. Jamais o consumo de eletricidade vai crescer 5%, 10% ao ano e até mais, como foi durante os anos 1940 a 1990, quando o país estava ainda se eletrificando. Hoje, o país está praticamente eletrificado, de um modo ou de outro, embora a eletrificação por meio da rede rural ainda prossiga, e embora o Luz para Todos seja um investimento necessário e considerável na ampliação dos mercados para geração e distribuição.
O fato de o consumo de energia no Brasil ter sido sempre superestimado criou e cria expectativas de projetos de obras de grande porte que nunca precisariam ser construídos, e distorções que impossibilitaram, ao longo do tempo, o planejamento racional sustentável do futuro energético do país.
As projeções feitas pela EPE da demanda de energia elétrica para os próximos anos indicam um forte crescimento do consumo a partir de 2010, justificadas na análise otimista das boas perspectivas para a economia brasileira no mesmo período. Em função dessa visão da economia brasileira, as projeções de demanda de energia elétrica para o período 2009-2018 partiram de uma trajetória esperada de crescimento do PIB de 0,5% em 2009, 6% em 2010 e, daí em diante, 5% ao ano, em média, entre 2011 e 2018.
Estas análises estão contidas no Plano Decenal de Expansão de Energia (PDEE), produzido pela EPE para orientar as ações e decisões relacionadas à expansão da produção de energia nos próximos dez anos.
Embora o Brasil, seja um dos países com maior possibilidade de ter uma matriz energética relativamente limpa e renovável, “recorre à energia suja” em seu Plano Decenal de Expansão de Energia. Dos 55 mil MW de nova potência previstos nesse documento, nada menos que 20,8 mil MW (quase 40%) virão de fontes térmicas, aí incluídas as usinas a gás, carvão, diesel, óleo combustível ou biomassa, além das nucleares; até 2017 serão 68 novas unidades movidas a combustíveis fósseis, com 15,44 mil MW; e as emissões na área passarão de 14,43 milhões de toneladas anuais para 39,3 milhões de toneladas – na hora em que o mundo, assustado com as mudanças climáticas, procura reduzir as emissões.
Essas evidências desnudam que a política energética do Brasil não está baseada nos interesses reais e maiores de um desenvolvimento sustentável, a curto, médio e longo prazo. O foco é de interesses político partidários a serviço de interesses econômicos de grandes grupos multinacionais.
O PDEE prevê uma grande expansão nas usinas termelétricas, consideradas hoje uma das fontes mais poluentes de geração de energia e um grande vilão no combate às mudanças climáticas. O plano prevê a criação de 82 usinas termelétricas nos próximos dez anos, 74 delas de fontes fósseis. Hoje, existem no Brasil 77 térmicas instaladas, e se todas as usinas previstas no PDE forem concretizadas, as emissões de gases de efeito estufa provenientes de termelétricas no país subirão 172%. Uma completa contradição, com o Plano de Mudanças Climáticas lançado recentemente pelo Governo Federal, se comprometendo em reduzir a emissão de gases de efeito estufa.
Quadro preocupante é o que mostra o Plano Decenal: enquanto as usinas eólicas passarão de 0,3 para 0,9% da potência instalada no país, as biomassas (bioeletricidade) passarão a responder por 2,7% (hoje, 1%), as usinas térmicas aumentarão sua participação de 0,95 para 5,7% (mais de 500%). A expansão pífia prevista para a energia eólica contrasta com a as informações do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que afirma que os ventos poderiam atender a pelo menos 60% de todo o consumo nacional de energia, já que em mais de 71 mil km2 do território nacional a velocidade dos ventos é adequada. Não por acaso, que Europa, Ásia e Estados Unidos estão investindo pesadamente nessa área e na energia solar.
Logo o que se constata é que os atuais Planos de Energia Elétrica não refletem uma visão de sustentabilidade. O Governo Federal tem priorizado obras de grande porte e alto impacto negativo para a sociedade e o ambiente, além de privilegiar tecnologias caras e ultrapassadas. Desta forma, reproduz um modelo energético arcaico, não traz avanços para o setor e agrava os problemas já existentes. O Brasil pode e deve promover um modelo energético sustentável nacional e regional e assumir uma posição de destaque internacional ao desenvolver seu enorme potencial em eficiência energética e energias renováveis.
O que a sociedade brasileira vem condenando e não aceita mais é a falta de transparência sobre as escolha das opções energéticas, impedindo que ela tenha informações, e se manifeste, sobre como e onde seu dinheiro está sendo investido. Os custos econômicos, ambientais e sociais de usinas nucleares no Nordeste do Brasil, assim como de hidroelétricas na Amazônia, são altíssimos, e nada pode explicar tamanha insistência com projetos tão desnecessários para o país e tão ineficazes em termos de geração de energia elétrica. (EcoDebate)

Um sopro de energia renovável I

Os gestores da política econômica têm a convicção de que crescimento econômico é uma panacéia para todos os males do país.
Pobreza? Basta fazer a economia crescer, ou seja, incrementar a produção (consumo de energia) de bens e serviços e estimular os gastos dos consumidores, e a riqueza se espalhará de cima para baixo na sociedade. Contra o desemprego é só intensificar a demanda por bens e serviços, ofertando crédito e estimulando investimentos. Excesso de população? Basta fomentar o crescimento econômico e esperar que a transição demográfica resultante reduza as taxas de natalidade. Ora, as coisas não funcionam bem assim.
No pensamento hegemônico que vivemos nos últimos anos, o das idéias neoliberais e privatistas, cabe aos governos criar e preservar certas condições que permitam ao mercado operar. É o capitalismo financeiro que determina os fluxos de dinheiro, os lucros obtidos, as escolhas energéticas, mas também os problemas econômicos, as crises nos países. A chamada globalização financeira leva a situação em que o mercado decide, o mercado determina.
As consequências decorrentes dessa política neoliberal adotada levaram o mundo a produzir menores taxas de crescimento, maior desigualdade social e crises recorrentes, e que culminaram com os graves problemas enfrentados na atualidade como: a recessão-depressão econômica, a insegurança energética e alimentar e o aquecimento global. E agora, uma conjuntura de desemprego e ampliação da miséria. A OIT (Organização Internacional do Trabalho) indica novos 50 milhões de desempregados em 2009, principalmente mulheres e crianças, o que eleva o número de desempregados para até 340 milhões de pessoas no mundo.
Devemos nos lembrar sempre que a economia é parte da biosfera finita, que suporta o planeta Terra. E que a expansão da economia, afetando excessivamente o ecossistema circundante, começa a sacrificar o capital natural (como peixes, animais, vegetais, minerais e petróleo), que valem mais do que o capital criado pelo homem (estradas, fábricas, computadores e eletrodomésticos). Teremos, então, o que se pode denominar de um crescimento que produza “males” mais rapidamente do que bens – tornando-nos mais pobres, e não mais ricos. Podendo, em caso extremo, até colocar em risco a própria sobrevivência da humanidade.
No que chamamos de desenvolvimento sustentável a energia como “mola propulsora” da economia, tem um papel fundamental no combate ao aquecimento global e as mudanças climáticas recorrentes. E ai recai a importância das escolhas energéticas, que devem priorizar a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEEs) e, assim, mitigar os impactos do aquecimento global. Tarefa urgente para ser cumprida, pois as evidências confirmadas cientificamente pelos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, sigla em inglês) da ONU, mostram o papel do homem na degradação ambiental principalmente devido ao uso e a produção de energia.
O tema ganhou manchetes de jornais em todo o mundo e reforçou a pressão para que governos alterem políticas econômicas, de desenvolvimento e industriais, de modo a causar menos danos ao meio ambiente. Organizações não-governamentais de todo o mundo lançaram-se numa nova onda de pesquisas que, no limite, sugerem a necessidade de se mudar o padrão de consumo adotado no mundo rico e desenvolvido. A pesquisa mais recente divulgada é da ONG internacional WWF, segundo a qual o investimento em eficiência energética deveria ser a ação mais imediata dos governos, enquanto as energias alternativas renováveis vão sendo desenvolvidas e consolidadas.
Constata-se que nosso país tem avançado em um modelo de desenvolvimento econômico e social que privilegia o uso intensivo de recursos naturais e o apoio a grandes empresas que são historicamente contrárias a ter limites no uso dos recursos. É este atual modelo econômico predatório que está sendo questionado, e que contribui pela desestabilização do planeta como um todo.
O Brasil alcançou em 2009 uma capacidade instalada de 106.301 MW com 2.180 usinas em operação, segundo dados do relatório de fiscalização da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica). A participação atual na matriz energética nacional das hidrelétricas é de 71% da capacidade de geração do país, seguidas pelas termoelétricas que, segundo a ANEEL, são responsáveis por 23,6% do parque gerador.
O relatório da ANEEL mostra que os empreendimentos que entraram em operação comercial ao longo de 2008 geraram uma potência de 3.565,11 MW. Deste montante, 610,86 MW foram hidrelétricas, 463,32 MW pequenas centrais hidrelétricas, 266,93 MW eólicas e 2.224 MW de térmicas. O consumo de energia elétrica no Brasil somou 376.900 GWh em 2007, uma expansão de 5,4% em relação a 2006. Este é o maior índice de crescimento desde o fim do racionamento, segundo dados da EPE (Empresa de Pesquisa Energética).
Em 2008 o consumo atingiu 392.688 GWh, o equivalente a uma expansão de 4% sobre 2007, sendo que o aumento da demanda foi impulsionado pelo comércio. O consumo deste setor teve alta de 6,6% entre 2006 e 2007, superando a marca de 6% das residências e de 5% das indústrias.
No acumulado de 2009, o consumo totalizou 388.204 GWh, abaixo dos 392.688 GWh de 2008. O resultado no ano foi devido principalmente pela queda de 6% no uso de energia pelas indústrias no país, enquanto os segmentos residenciais e comerciais apresentaram altas de cerca de 6% cada, segundo a EPE. Verificou-se que ao longo de 2009, o mercado brasileiro de energia elétrica sofreu impacto da crise financeira internacional, porém seus efeitos se concentraram na classe industrial, como conseqüência da retração da atividade deste segmento.
O Ministério de Minas e Energia afirma que o consumo per capita no País aumentará 45% até 2017. E para atendê-lo em boa parte, será com “energia suja”, como mostraram vários depoimentos na recente audiência pública promovida pelo Ministério Público Federal para debater do Plano Decenal.
Para o ano de 2010, o consumo total de eletricidade no Brasil é estimado pela EPE em 455,2 mil GWh, o que equivale a um crescimento de 9,4% em relação a 2009. Segundo os cenários oficiais estima-se que entre 2010 e 2018 o consumo total de eletricidade no Brasil cresça a uma taxa média de 5,2% a.a., chegando a 681,7 mil GWh em 2018.
O que se pode afirmar é que grande parte da expansão, principalmente com as hidrelétricas amazônicas, será para atender ao consumo das empresas exportadoras eletrointensivas de alumínio, ferro gusa e celulose. Este setor já responde por cerca de 30% de todo o consumo de energia no País, com altos subsídios, pagos pela sociedade. Portanto, o interesse de outros países (EUA, China, Rússia,…) nessas indústrias é decorrente da possibilidade de beneficiarem-se do custo irrisório da energia publicamente subsidiada na Amazônia às custas de impactos ambientais, culturais e sociais, fruto de uma política sem debate público.
Para atender aos cenários traçados, o plano do governo para geração de energia elétrica nos próximos dez anos prevê, além do aumento de usinas termelétricas – as mais poluentes -, impactos socioambientais envolvendo a construção de usinas hidrelétricas na região Amazônica, e a reativação do polêmico plano de construção de novas usinas nucleares no país, inclusive duas delas no Nordeste brasileiro. Por tudo isso e muito mais, não faz sentido que os Planos Decenais e de Expansão da Oferta de Energia sejam levados adiante pelo governo federal nos ternos em que estão. A sociedade e o saber técnico precisam ser respeitados. (EcoDebate)

quinta-feira, 20 de maio de 2010

A ‘corrida do ouro’ da energia renovável

A chamada Terceira Revolução Industrial ou Revolução Pós-industrial ou Revolução Científica e Tecnológica já começou.
Três marcos fundamentais são:
1) as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC);
2) A biotecnologia e o genoma;
3) A nonotecnologia.
Contudo, não haverá Revolução de fato sem a mudança da matriz energética do mundo. A energia fóssil, além de ser poluidora e grande responsável pelo aquecimento global, é finita e tem os seus dias (ou décadas) contados para esgotamento das reservas. O pico da produção do petróleo e gás está chegando ao seu limite máximo, enquanto a demanda por eletricidade deve continuar a crescer na medida em que cresce a população mundial e os países emergentes assumem um papel cada vez mais ativo na produção global.
O recente desastre provocado pela explosão de uma plataforma de petróleo da British Petroleum (BP) no dia 21 de abril de 2010, no Golfo do México, tem provocado prejuizos ambientais incalculáveis, enquanto a mancha de petróleo se espalha pelo oceano e atinge o litoral dos estados de Lousiana, Alabama, Flórida e Mississipi, nos EUA. Talvez este desastre sirva, também, de alerta para a exploracão do óleo do pré-sal brasileiro.
A Segunda Revolução Industrial foi marcada por uma economia do alto carbono e da alta poluição. Somente com Revolução Científica e Tecnológica será possível superar a era da poluição do petróleo e caminhar para uma economia do baixo carbono.Assim, as novas necessidades da sociedade Pós-industrial, a subida do preço do petróleo em 2008, os crescentes danos ambientais e o agravamento das mudanças climáticas desencaderam uma “corrida do ouro” pela energia renovável.
Segundo o projeto “Energia limpa 2030” da Google.org, o custo para adotar uma matriz energética verde nos Estados Unidos até 2030 é de cerca de US$ 3,86 trilhões. Para o resto do mundo, pode-se multiplicar este custo por pelo menos 5 vezes, ou seja, cerca de US$ 20 trilhões. O que não é muito, considerando que o PIB mundial está, atualmente, em torno de 60 trilhões de dólares.
Porém, os investimentos necessários para incrementar a energia renovável do mundo terão um enorme efeito multiplicador sobre as economias nacionais, possibilitando a geração de empregos verdes e a melhoria da qualidade de vida humana e ambiental. Os países que saírem na frente desta “corrida do ouro” terão ganhos adicionais, não só em termos ambientais, mas também econômicos e em termos de competitividade internacional.
Segundo o Programa de Meio Ambiente da ONU (Unep, na sigla em inglês), o investimento mundial em energia renovável (chamado de “corrida do ouro verde”), aumentou cerca de 60 por cento, em 2007. O investimento em energia solar cresceu 254%. O investimento em energia limpa, de fontes como vento, sol e biocombustíveis cresceu no ano passado três vezes mais rápido do que o previsto pelo Unep. Por outro lado, uma subida no preço do petróleo, levará a um aumento nos investimentos em energia renovável e limpa.
Na corrida entre os países, a China ultrapassou os Estados Unidos, em 2009, e se tornou o maior investidor em tecnologia de energias renováveis, segundo a BBC. Os pesquisadores do instituto americano Pew calculam que a China investiu US$ 34 bilhões em energia limpa, em 2009, quase o dobro do investimento realizado nos Estados Unidos. A China está não só investindo na mudança da sua matriz energética – que é uma das mais poluidoras do Planeta – mas também criando uma industria de equipamentos de energia verde que vai transformar o país no maior exportador do mundo nesta área e líder da Revolução Científica e Tecnológica.
O Brasil, graças aos investimentos em biocombustíveis, ficou em quinto lugar na lista entre os países do G20, tendo investido aproximadamente R$ 13,2 bilhões, atrás de China, EUA, Grã-Bretanha e Espanha. Porém, o Brasil tem problemas ecológicos com seu programa de biocombustíveis e tem investido pouco quando se trata de energia eólica e, principalmente, energia solar concentrada e fotovoltaica.
O fato é que a “corrida do ouro” da energia renovável já começou e o país que quiser garantir qualidade de vida para sua população, respeitando o meio ambiente, terá participar desta maratona que pode garantir bem-estar geral e contribuir para salvar o Planeta. (EcoDebate)

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Etanol é visto como solução ambiental

Etanol brasileiro é visto como solução ambiental pela EU (União Europeia).
União Europeia (UE) terá de importar etanol do Brasil se quiser atingir a meta de ter 5,6% de sua frota de veículos movida por biocombustíveis até 2020. A conclusão é da Comissão Europeia, que, em seu mais completo estudo sobre o tema, concluiu que a Europa não tem como produzir etanol suficiente para atingir a meta.
Além disso, se a UE tentar a autossuficiência, o impacto ambiental será grave. A estimativa dos europeus é que, até 2020, a produção de etanol no Brasil dará um salto de quase 140%. Não se trata de uma decisão para começar a importar imediatamente. Mas observadores apontam que o documento é o aval que faltava para se avançar na abertura do mercado europeu ao etanol brasileiro. Segundo o estudo, a melhor opção que a UE tem hoje para se abastecer é abrir seu mercado para o Brasil.
A decisão da UE de apostar no Brasil como fornecedor resultaria num incremento de 4 milhões de toneladas para a produção brasileira até 2020, equivalente a 15%. E, se a liberação das tarifas de importação europeias for adotada, a produção brasileira terá um aumento de 5,8 milhões de toneladas (20%). Em 2008, os 27 países do bloco chegaram a um acordo para garantir que, em 2020, 10% do combustível seja renovável na Europa. Desse total, 5,6% viria do etanol. Isso significa que a Europa terá de consumir 17,8 milhões de toneladas a mais de etanol em dez anos. A proposta foi imediatamente atacada por ambientalistas, que acusaram Bruxelas de estar estimulando a degradação ambiental e o aumento nos preços dos alimentos. Por isso, a UE decidiu fazer um levantamento.
A conclusão é que um consumo europeu acima da taxa de 5,6% em 2020 de fato afetaria o equilíbrio ecológico no mundo. Mas não haveria risco para um volume até o teto de 5,6%. O estudo técnico da União Europeia também conclui que a abertura de seu mercado será a melhor forma de lidar com o aumento da demanda. Com a concorrência estrangeira, principalmente brasileira, a produção europeia de etanol cairia 20% em dez anos.
O impacto da liberação para os Estados Unidos seria mais limitado. Não provocaria alta nas vendas acima de 2,1% e poderiam até perder espaço para o etanol brasileiro. Entre 2008 e 2020, a produção de etanol nos EUA crescerá 128%, segundo estimativas. O biodiesel americano terá um aumento de 193%. No Brasil, a expansão do etanol será de 139%. Mas, na UE, há ainda quem alegue que uma abertura seria negativa para países em desenvolvimento, gerando desmatamento na Indonésia e Malásia, por causa do óleo de palma usado para produzir biodiesel. O próprio laudo da UE admite que o impacto ambiental para o Brasil não seria positivo.
O principal problema será o aumento do desmatamento no Brasil. Mas Bruxelas estima que isso pode ser compensado com maior eficiência na emissão de CO2. A área ocupada pela cana no Brasil aumentaria entre 0,5% e 0,7%. Mesmo assim, a expansão do etanol de cana seria a forma menos negativa entre todos os produtos hoje usados no mundo, inclusive o milho nos Estados Unidos. A soja para o biodiesel no País também teria um impacto profundamente negativo.

BP quer se tornar gigante em etanol

Empresa, que já é sócia de uma usina no Brasil, quer chegar a 2020 com processamento de 100 milhões de toneladas de cana.
A BP Biofuels, braço de biocombustíveis da petroleira britânica BP, pretende ser uma das principais empresas do setor sucroalcooleiro do Brasil até 2020, processando 100 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. O presidente mundial da BP Biofuels, Philip New, diz que o crescimento se dará de forma gradual, por meio de joint ventures com empresas já existentes e também da construção de novas usinas, em projetos greenfield.
Na estratégia de realizar joint ventures com produtores locais, o controle será compartilhado, ou seja, a BP Biofuels não pretende ter mais de 50% de participação em um projeto. "Isso nos permite aprender e entender outra cultura. Ter o controle total é perigoso, pois cria a tentação de querer mandar, e não de aprender", afirmou New. A empresa espera que, nessas parcerias, o player local entre com o produto e a expertise na área. A BP vai contribuir com tecnologia e estrutura de penetração global.
Atualmente, a BP já é responsável pela distribuição de 10% do etanol produzido no mundo. Para o executivo, a consolidação do setor sucroalcooleiro brasileiro continuará acontecendo nos próximos anos de forma a criar grandes conglomerados, que terão uma capacidade de moagem em torno de 100 milhões de toneladas de cana cada. "Definitivamente, estaremos nesse grupo."
New explica que a BP Biofuels não tem pressa. Embora tenha sido a primeira empresa petroleira a entrar no ramo de etanol no Brasil e no mundo, a prioridade, segundo ele, é aprender e não fazer investimentos de forma acelerada. "Mas não se espante se em breve anunciarmos algum novo projeto. Estamos atentos às oportunidades de mercado."
Tropical. O executivo diz que a experiência pioneira da BP em etanol a partir de cana na Tropical Bioenergia, usina localizada em Edeia (GO), tem sido positiva. A primeira safra processada pela usina foi de 2,4 milhões de toneladas, com a colheita 100% mecanizada. A BP quer ampliar o processamento da usina para 4,8 milhões de toneladas no médio prazo, além de construir outra nas proximidades, a Tropical 2, com a mesma capacidade de processamento. Os investimentos previstos chegam a US$ 1 bilhão.
Na Tropical, a BP aplicou sua estratégia de controle compartilhado e detém 50% de participação. Os outros 50% são divididos igualmente entre o grupo Maeda e o Louis Dreyfus Commodities (que absorveu a Santelisa Vale). O Grupo Maeda e a LDC colocaram, contudo, sua participação na usina à venda e a BP deve contar, em breve, com novos parceiros na empreitada.
A BP Biofuels tem trabalhado intensamente na criação de um mercado internacional de etanol por meio de ações nos Estados Unidos e Europa. "A BP se posicionou publicamente, por exemplo, a favor do etanol de cana do Brasil perante o governo da Califórnia e também em Washington e Bruxelas, nos processos que culminaram no reconhecimento do etanol de cana como combustível com menor emissão de gases de efeito estufa no mercado americano e europeu."
Segundo New, este posicionamento público da BP mostra a importância que os biocombustíveis e o Brasil têm dentro da estratégia de longo prazo da empresa. A importância do Brasil para a empresa também pode ser medida, de acordo com ele, pelo fato de a BP ter paralisado todos os demais projetos com cana existentes na África e no Sudoeste Asiático para concentrar os investimentos apenas no Brasil.
Outras apostas. Porém, na estratégia da BP Biofuels, outras duas vertentes de biocombustíveis estão sendo exploradas. Uma delas é a produção de etanol de celulose. Em uma joint com a Verenium, na qual cada empresa tem 50% de participação, a BP Biofuels vai começar a produção comercial de etanol de celulose a partir de 2013. Localizada na Flórida, nos Estados Unidos, a empresa já produz etanol celulósico experimentalmente.
Mas o produto em que a BP Biofuels mais aposta suas fichas no médio prazo é o biobutanol, que está sendo produzido em caráter experimental em Hull, na Inglaterra, pela Butamax, uma joint venture, também de controle compartilhado, entre a BP e a DuPont. "Esperamos produzir o biobutanol também no Brasil a partir de 2013", afirma New.
O biobutanol é um etanol que pode ser produzido através da cana-de-açúcar mas também por meio de outras biomassas. "É um produto que pode ter uma penetração mais fácil que o etanol de cana em mercados mais fechados como os EUA e Europa", explica. Isso porque o biobutanol não precisa ter uma bomba exclusiva nos postos de combustíveis, podendo compartilhar bombas de outros combustíveis.
O grupo BP passa por um momento delicado, envolvido em um acidente com uma plataforma que vem derramando milhões de litros de petróleo no Golfo do México. Philip New disse, porém, que não poderia falar sobre esse assunto, por não ser sua área.
Produção
100 milhões de toneladas de cana-de-açúcar devem ser processadas pela BP Biofuels no Brasil até 2020.
10% do etanol produzido no mundo é distribuído pela petroleira britânica BP.
2,4 milhões de toneladas de cana foram processadas na primeira safra da usina Tropical Bioenergia, em Goiás.
Empresa descarta soja e pinhão manso na produção de etanol
A BP Biofuels abandonou seus projetos de produzir biodiesel de pinhão manso, matéria-prima que está sendo vista com bons olhos por vários empreendedores brasileiros
A BP Biofuels abandonou seus projetos de produzir biodiesel de pinhão manso, matéria-prima que está sendo vista com bons olhos por vários empreendedores brasileiros.
O executivo explica que as estratégias da BP procuram atender quatro fatores: sustentabilidade, baixa emissão de carbono, baixo custo e escala.
No pinhão manso, não há escala de produção para atender a demanda, então abortamos o projeto, disse Philip New, presidente mundial da BP Biofuels.
A BP deve continuar outros projetos de biodiesel, mas não com a soja, a commodity mais usada no Brasil.
Queremos entrar em nichos em que nossa tecnologia possa fazer diferença. (Estadão)

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Programa Nacional de Óleo de Palma

Biodiesel: Governo lança Programa Nacional de Óleo de Palma
* Ministra do Meio Ambiente diz que aumento de área plantada não será feito com desmatamento, mas aproveitando áreas já degradadas *
O Programa Nacional de Óleo de Palma, lançado em 06/05/2010 em Tomé Açú, no Pará, quer tornar o país o maior produtor mundial desse vegetal nos próximos anos, garantindo o suprimento de combustível renovável.
O programa prevê a ampliação da área destinada à plantação do vegetal para a produção de combustíveis a partir de energias renováveis. O óleo de Palma também é conhecido como dendê. O projeto, que visa aumentar a produção para 130 mil hectares até 2014, vai ser aplicado em 44 municípios das regiões Norte e Nordeste.
Atualmente, o Pará lidera a produção de palmas no país, com 80 mil hectares plantados na região dos rios Capim, Guamá e Tocantins. A transformação do óleo de dendê em biodiesel é feita pela Petrobras, que está construindo três indústrias na região, para somar às nove já existentes no estado. O Programa Nacional de Óleo de Palma prevê a participação imediata de 900 parceiros na agricultura familiar, e de 300 médios e grandes produtores.
No dia 5/5, o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, afirmou, em entrevista ao programa Bom Dia Ministro, que a palma produz dez vezes mais óleo do que a soja na mesma área, sendo possível produzir cinco toneladas de óleo por hectare a cada ano. Com isso, um produtor que plante 10 hectares de palma, pode obter uma renda média de R$ 2 mil por mês aos preços atuais.
Segundo Wagner Rossi, somente dois países, a Tailândia e a Indonésia, concentram 90% da produção mundial de óleo de palma. Ele fala que com o programa, a participação brasileira nesse mercado vai aumentar.
“Vai disponibilizar a possibilidade da multiplicação da cultura numa área muito grande no Brasil. Nós temos pelo menos, no momento, 29 milhões de hectares disponíveis, onde a palma poderia ser usada com eficiência. Isso inclui uma parte grande do Nordeste brasileiro e todos os estados do Norte.”
O aumento de área plantada não será feito com desmatamento, mas aproveitando áreas já degradadas, segundo a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.
“O programa nasce com orientações claras do ponto de vista de que áreas podem ser aproveitadas para a expansão dessa cultura. É um programa construído em bases para proibir o desmatamento em áreas de florestas nativas para a expansão da fronteira agrícola associada à palma de óleo.”
Ambientalistas concordam que gerar combustível renovável é importante para a região. Mas, segundo o coordenador do Instituto do Homem e Meio Ambienta da Amazônia (Imazon), Paulo Amaral, se o projeto vai envolver pequenos produtores, é preciso alguns cuidados.
“Um sistema de monitoramento muito forte, para que não provoque pressão sobre as áreas ainda com cobertura florestal, deve observar a recomposição dessas áreas já abertas. E tem que se considerar assistência técnica e uma garantia da compra dessa produção para que um pequeno produtor possa se sentir seguro para entrar num programa desses.” (EcoDebate)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Bicicletas feitas de bambu é uma opção ecológica

Bicicletas feitas de bambu é a última palavra em opção ecológica.
Fabricada em Gana esta bicicleta feita de bambu é exemplo das usadas nos países em desenvolvimento, segundo a Calfee Design.
Bicicletas mais ecológicas são feitas de bambu e fibra de maconha.
Fibra de carbono e alumínio são coisas do passado. A bicicleta do momento é feita de bambu e fibra de maconha. Uma nova geração de fabricantes estão apresentando o meio de transporte mais ecológico do momento. Além de serem mais leves, fortes e confortáveis, essas bicicletas também deixam uma pegada de carbono muito menor
Craig Calfree é conhecido como o mestre zen dos fabricantes de bicicletas de bambu. Em sua oficina na costa da Califórnia, a apenas alguns metros das agitadas ondas do oceano Pacífico, o designer de quadros de bicicleta constrói bicicletas de tirar o fôlego feitas dessa planta que cresce tão rápido, o maior membro da família da gramíneas.
No entanto, o americano, que ficou conhecido por fazer bicicletas a partir de material vegetal, tem alguns concorrentes. O número de especialistas que fazem bicicletas a partir de matérias-primas recicláveis está crescendo. Brano Meres, um engenheiro eslovaco, e o ciclista profissional californiano Nick Frey estão entre eles. O engenheiro alemão Nicolas Meyer também está trabalhando nessa linha, mas não com bambu. Ao invés de usar esse material, ele construiu uma bicicleta para triatlo feita de fibra de maconha.
Mas Calfee é o mais experiente entre todos da nova geração. Antes de começar essa nova empreitada, ele já era conhecido há muito tempo por construir bicicletas de elite, foi um dos pioneiros no uso da fibra de carbono e fez modelos especiais para ciclistas como Greg LeMond, tricampeão da Volta da França. Em meados dos anos 1990, começou a procurar uma ideia que atraísse a atenção dos visitantes de uma feira de bicicletas. Mas ele queria algo mais do que apenas uma boa ideia. Ele queria alguma coisa que fizesse o público vir a seu estande e ficar hipnotizado.
Na verdade, foi seu cachorro quem lhe deu a ideia. O cão, fruto do cruzamento de pitbull e labrador, pegou um pedaço de bambu enquanto brincava. Quando o cão o soltou, Calfee pegou o bambu e percebeu que ele estava praticamente intacto. Um material incrível. Ele achou a ideia empolgante. Havia encontrado o que procurava: a bicicleta que estava construindo para a feira teria um quadro feito de bambu.
As bicicletas de bambu são muito mais macias
O bambu nasce em todos os continentes do planeta, incluindo a América do Norte, e assim Calfee utilizou um bambu californiano para o novo protótipo. O quadro era um pouco flexível demais mas cumpriu sua missão principal: chamar muita atenção.
Após a feira, Calfee voltou para sua oficina e começou a fazer experiências de verdade com o material. Por mais ecológico e resistente que seja, ele também tem suas falhas. Uma das maiores desvantagens era que ele rachava no meio com facilidade. Para resolver o problema, Calfee defumou o bambu e o temperou com calor. (Hoje em dia, a planta passa por um processo que dura quatro meses antes que possa ser utilizado.) Ele também envolveu as fibras de maconha e de bambu com resina epóxi e as utilizou para unir os tubos de bambu.
Cerca de cem quadros mais tarde, Calfee finalmente havia construído uma bicicleta em que confiava. Seu veredicto: o quadro feito de bambu absorve as vibrações muito melhor do que o de fibra de carbono. “As bicicletas de bambu proporcionam um pedalar mais suave”, afirma. Ele também descobriu que a bicicleta tem uma incrível resistência a impactos, é mais forte que a de fibra de carbono e menos sujeita a quebras. Esses resultados foram confirmados depois que os quadros foram testados no laboratório de testes de bicicletas EFBe na Alemanha. Mas toda essa resistência tem um preço – um quadro de mountain bike feito de bambu custa certa de US$ 2.700 (R$ 4.700).
Enquanto isso, Calfee também ganhou vários prêmios com suas bicicletas de bambu. “Best Road Bike”, “Best Off-Road Bike” e o prêmio do público da Feira Americana de Bicicletas Artesanais estão entre eles. Ele mesmo diz em seu site que se houvesse um prêmio para a bicicleta com a menor pegada de carbono, uma de suas criações o ganharia “sem as mãos”.
Em direção às nações em desenvolvimento
Mas você se engana se pensa que tais meios de transporte são exclusivos dos endinheirados californianos com consciência ambiental. Calfee achou uma área de atuação completamente nova para as suas bicicletas de bambu: a África.
“Em países em desenvolvimento, as bicicletas são muito importantes para o transporte de bens e para ir à escola ou ao mercado”, ele diz. E a maior vantagem das bicicletas de bambu sobre as de aço é que a matéria-prima cresce bem ali.
Calfee fundou a Bomboosera, uma iniciativa apoiada, entre outros, pelo Instituto da Terra da Universidade de Columbia, que apoia o desenvolvimento sustentável em benefício dos pobres de todo o mundo. O projeto quer ensinar os habitantes de países em desenvolvimento a fazer suas próprias bicicletas com o objetivo final de talvez abrir um negócio próprio.
Em fevereiro de 2008, Calfee ensinou o básico sobre a construção de quadros de bicicleta a três grupos em Gana. Agora há vários projetos em andamento no país. E outros estão sendo planejados, de Uganda e Libéria às Filipinas e Nova Zelândia.
E seus projetos mais recentes são ainda mais ambiciosos: um ônibus escolar em forma de bicicleta. A ideia é que as bicicletas tenham um adulto na direção e seis ou sete crianças a bordo – e todo mundo precisa pedalar.
A nova geração de fabricantes
De volta aos Estados Unidos, Calfee tem Nick Frey, um engenheiro formado em Princenton e campeão de ciclismo, como concorrente. Durante seus estudos, Frey passou dois anos desenvolvendo seus próprios quadros de bambu e montou uma empresa junto com quatro colegas de engenharia, a Boo Bicycles no Colorado, também especializada em fabricar bicicletas de bambu.
Outros países também estão começando a entrar em ação. A empresa dinamarquesa de design Biomega, que exibe uma “cultura corporativa responsável”, faz lindas bicicletas de bambu e tem um projeto em andamento na Universidade Técnica de Berlim para desenvolver bicicletas similares chamadas Berlin Bamboo Bikes. O projeto do engenheiro Nicolas Meyer está sediado em Osnabruck, no estado alemão da Baixa Saxônia. Meyer deu um passo adiante e criou uma das primeira bicicletas feitas de canabis. Em 2008, ele fundou sua companhia, a Onyx Composites, especializada em pequenos projetos de construção e no uso de matérias-primas sustentável. Mas como parte de seu trabalho mais criativo – e sua necessidade de ter novas bicicletas de triatlo – Meyer criou o protótipo de uma bicicleta feita principalmente de canabis e bambu. Isso, e seus outros trabalhos, o fizeram ganhar o prêmio de “Melhor Novo Negócio de 2009″ em Osnabruck em agosto do ano passado.
Protótipos de canabis com bambu da floricultura
A mistura de matérias-primas que Meyer faz é particularmente interessante. Ele consegue a canabis em uma loja de maconha e o bambu vem da floricultura. “60% de maconha, 15% de bambu e o resto é carbono e alumínio”, ele explica. Para fazer a bicicleta, Meyer mergulha as fibras de canabis em uma resina térmica de epóxi e depois as enrola em torno de um quadro feito de poliestireno extrudido. E esses materiais explicam a aparência um pouco estranha do quadro. “Se você quiser entender o quadro, imagine uma série de tiras da maconha”, diz Meyer. As tiras suportam muito peso. Mas se curvam sob pressão. Para garantir que o suporte do selim, que é feito com dois tubos, não curve e perca a forma, há uma tira branca de três centímetros ao redor dos tubos.
E como os tubos que formam a bicicleta medem entre 3,5 e 10 centímetros de diâmetro, essa bicicleta é muito mais resistente do que qualquer modelo de fibra de carbono e até de bambu. Quanto maiores os tubos, mais rígida a bicicleta. Mas isso não torna o quadro da bicicleta mais pesado. Ele ainda pesa cerca de 1,4 kg, aproximadamente o mesmo que um bom quadro de alumínio.
“Uma bicicleta de triatlo nunca é confortável”, admite Meyer – mesmo que a bicicleta de maconha pareça muito mais confortável e alivie as vibrações muito melhor do que seu antigo quadro. Mas isso não parece um feito muito difícil de alcançar – sua antiga bicicleta tinha 30 anos e era feita de aço.

Veículos que poluem menos terão IPI menor

Os automóveis com motor flex, que são movidos a álcool e a gasolina, e aqueles movidos exclusivamente a álcool continuarão a pagar menos imposto. O governo estendeu, até o final de março, a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos do tipo, de modo a estimular a produção de veículos que poluem menos. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou há pouco a medida.
Para os carros flex e a álcool de até 1 mil cilindradas, a alíquota será mantida em 3% até 31 de março. O governo desistiu de seguir a escala de recomposição, que previa o retorno da alíquota a 7% em janeiro. Os automóveis de até 2 mil cilindradas continuarão a pagar 7,5% de IPI também até março, em vez de voltar a pagar 13% em janeiro.
O governo manteve o cronograma de recomposição das alíquotas para os carros a gasolina, tanto de mil como de até 2 mil cilindradas, que voltarão a pagar as alíquotas originais em janeiro.
Em relação aos caminhões, o governo prorrogou a isenção de IPI até junho de 2010. Segundo Mantega, o objetivo é estimular a renovação da frota, que tem idade média de 18 anos. O ministro da Fazenda informou que a extensão das desonerações terá impacto de R$ 1,3 bilhão nos cofres públicos.
De acordo com Mantega, a desoneração não tem como objetivo aumentar as vendas de veículos, mas estimular a inovação e o desenvolvimento tecnológico do setor, recompensando os veículos que poluem menos e rendem mais.
“Essas ações pretendem estimular um menor consumo de energia para preservar o meio ambiente. É importante lembrar que o Brasil está indo para Copenhague com propostas bastante fortes na redução das emissões de gás carbônico”, afirmou, referindo-se à reunião, dos países das Nações Unidas, que discutirá a questão climática em dezembro. Mantega acrescentou que propostas ambientais semelhantes na compra de carros também foram adotadas pela Alemanha.
O presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA), Jackson Schneider, afirmou que a medida levará a indústria automobilística brasileira a um novo nível tecnológico. “O Brasil é o quinto maior mercado do mundo e detém centros de engenharia de renome mundial. O país tem condições de oferecer alternativas ambientalmente amigáveis no modo que foi feito com os motores flex”, declarou.
Por causa da crise econômica mundial, que provocou escassez de crédito, o governo reduziu, em dezembro do ano passado, o IPI para veículos de até 2 mil cilindradas com o objetivo de manter o nível das vendas. Os carros de até mil cilindradas ficaram isentos do imposto e os automóveis entre mil e 2 mil cilindradas tiveram a alíquota reduzida à metade, por dez meses. No mês passado, as alíquotas começaram a ser recompostas e vão estar no patamar normal em janeiro.
A desoneração para os automóveis ambientalmente corretos segue a linha das reduções de impostos para eletrodomésticos anunciada no final de outubro pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Máquinas de lavar, fogões, geladeiras e tanquinhos com selos de classe A e B, que consomem menos energia, tiveram a redução de IPI prorrogada até o final de janeiro.

Fiat apresentou FCC

Fiat apresentou FCC, conceito aventureiro de 167 cavalos.
Quem esperava para o Salão de São Paulo em 2008, uma prévia do que seria o novo Palio pode esquecer. Além da recém-lançada Idea Adventure, uma das grandes atrações da Fiat no salão é o FCC Adventure (Fiat Concept Car), concebido totalmente por engenheiros brasileiros. “O veículo tem características que marcam a linha Adventure, mas com design futurista”, afirma Lélio Ramos, diretor comercial da Fiat.
Os designers do Centro Estilo Fiat do Brasil fizeram um exercício de estilo e criatividade e decidiram compartilhá-lo com o público. Nas laterais destacam-se linhas fluídas típicas de um cupê.
Capô e traseira curtos, faróis elevados e pára-lamas salientes, que comportam rodas exclusivas de 18 polegadas, conferem esportividade ao modelo, que traz estepe na tampa traseira. Para garantir o alto desempenho, o FCC Adventure é equipado com motor 2.4, 20 v de 167 cv (cavalos), tração dianteira com diferencial autoblocante, suspensão independente nas rodas dianteiras, multilink na traseira com amortecedores reguláveis.

Fiat mostra FCC II, 500

A Fiat antecipou o protótipo com o nome de Bugster, mistura de buggy e roadster, como era conhecido pela equipe de desenvolvimento. No Salão, entretanto, foi apresentado como FCC II, ou Fiat Concept Car número dois. Trata-se do segundo carro conceito desenvolvido pela marca no Brasil. O primeiro, FCC I, foi apresentado no Salão de 2006 e inspirou o desenho de modelos da família Palio.

O FCC II usa materiais reutilizáveis e fibras naturais
O FCC II da FIAT, criado no centro de desenvolvimento em Betim (MG), com design esportivo, utiliza fibras naturais na carroceria. O protótipo foi concebido com base em materiais alternativos, recicláveis e não-poluentes. É um carro ecologicamente correto, concebido com materiais alternativos, reusáveis e não poluentes. Usa nanoargila em partes da carroceria, plástico reciclado com fibras naturais e peças com revestimento organometálico isenta de metais pesados. Seu motor é elétrico e desenvolve 59 kw (80,2 cv) de potência, com torque máximo de 22,9 kgfm. A alimentação é feita por 93 baterias de íons de lítio, que dão ao FCC II uma autonomia de 100 quilômetros. Para recarregá-lo, basta usar uma tomada de 220 volts.

O Fiat 500 deve chegar ao Brasil ainda este ano.
Sucesso na Europa, onde já teve 260 mil unidades vendidas, o 500 surge no Salão de São Paulo para que a sua aceitação junto ao público seja medida. O 500 chega como uma releitura do clássico lançado 50 anos atrás. Suas linhas têm forte inspiração no compacto do século passado, porém é recheado de tecnologia atual. Entre os equipamentos, freios ABS (antitravamento) com distribuição eletrônica (EBD), controles de estabilidade (ESP) e tração (ASR), além de seis airbags.
Para a mostra, a Fiat trouxe o 500 na versão Sport, com motor 1.4, 16V de 100 cv (cavalos) e 13,4 kgfm de torque. Segundo a montadora, acelera de 0 a 100 km/h em 10,5 segundos e atinge 182 km/h de velocidade máxima.