A ênfase dada ao novo papel do Brasil no contexto internacional tendo em vista essas circunstâncias encontra, porém, do nosso lado, graves carências estruturais como conseqüência de políticas de destruição da estrutura do Estado nacional. Delas resultou a eliminação dos poucos instrumentos de que dispúnhamos para atuação no mercado externo.
Assim, foi fechado a Interbrás, com elevado poder de barganha internacional como principal compradora individual de petróleo no mundo, o Instituto do Açúcar e do Álcool - IAA, que atuava nas exportações de açúcar e álcool, e o Instituto Brasileiro do Café - IBC, na área do café. Nem nas áreas dos principais produtos de exportação dispomos mais de instrumentos para promover o comércio externo.
Para poder levar avante com sucesso esse ambicioso programa de alianças externas é crucial consolidar a situação interna com a ampliação do mercado consumidor, eliminando a miséria existente, as odiosas desigualdades e criando vários milhões de novos postos de trabalho.
Isto será possível, inicialmente, com a implementação de um projeto para a substituição dos combustíveis fósseis importados - petróleo, gás de petróleo e carvão mineral -, por energéticos renováveis e limpos de origem vegetal locais. Isso permitirá construir, com meios próprios, as infra-estruturas necessárias à produção e distribuição de produtos energéticos de exportação tornados possíveis por essas alianças.
Elas promoverão também o esvaziamento das megalópoles brasileiras, devido à criação de um grande número de postos de trabalho no campo e, de modo evidente, representa uma real contribuição para reduzir as questões de falta de segurança que tanto afligem os habitantes das grandes cidades, constituindo-se em um dos mais graves problemas da atualidade.
A maior alteração interna, porém, relacionam-se com a mudança do modelo econômico dependente de pacotes tecnológicos que nos colonizou nos últimos cinqüenta anos ao nos retirar as opções de valorização comparativa de nossos fatores de produção. Com esse modelo, as decisões são tomadas fora do país, no contexto desses pacotes tecnológicos, de acordo com seus interesses de origem.
Esse modelo suicida reduz nossa capacidade de competir e não beneficia nossa economia com a vantagem resultante da escolha de formas energéticas nacionais abundantes e outros aspectos favoráveis a nossos interesses. São exemplos, a soberania e o poder nacional, a saúde das populações nas grandes cidades pela redução dos poluidores fósseis, o domínio tecnológico interno em setor estratégico, entre muitos outros.
O potencial brasileiro de biomassa não se limita a uma ampliação do Programa Nacional do Álcool - Pró-Álcool, mas a amplo espectro de ações, como:
- enorme potencial de substituição do óleo diesel de petróleo por grande variedade de óleos vegetais. Somente na região amazônica existem condições para produzir cerca de oito milhões de barris por dia de óleo de dendê – digamos que seja metade, já seria uma realização de peso mundial -, envolvendo milhões de novos postos de trabalho, uma verdadeira “marcha para o Norte”. Isto equivale a níveis de produção permanentes próximos do atual de petróleo da Arábia Saudita.
- a alta produtividade das florestas tropicais plantadas - acima de 50 estéreos por hectare-ano - além da produção de celulose, permite a geração de energia elétrica por meio de termelétricas a lenha, carvão vegetal ou gás de madeira, com elevado rendimento e baixo custo. Isto abre enorme possibilidade para “fazendeiros florestais” produzirem de modo descentralizado, enorme geração de energia elétrica. As áreas florestais devastadas seriam objeto de reflorestamento com altíssimas recompensas econômicas e ambientais. Oitenta por cento do Estado do Paraná tiveram suas florestas devastadas.
Trinta por cento do Estado de Minas Gerais pode gerar em torno de 68 mil megawatts, o que equivale à atual geração brasileira. Também os rejeitos agrícolas abrem elevados potenciais.
O bagaço de produtores de açúcar e álcool no Estado de São Paulo permitiria gerar o equivalente a 50% da potência de Itaipu - 100% com turbinas de alta eficiência -, sem necessidade das onerosas linhas de transmissão ou gasodutos, como o do gás da Bolívia.
Cerca de 30% do território brasileiro é constituído por terras impróprias para a agricultura, mas aptas à exploração florestal. A utilização de metade dessa área, ou seja, 120 milhões de hectares com florestas energéticas permitiriam a formação sustentada do equivalente a cerca de cinco bilhões de barris de petróleo por ano, mais de duas vezes a produção atual da Arábia Saudita.
Com a produtividade média de 6 mil litros por hectare-ano de álcool etílico, chega-se à produção de 50 bilhões de litros por ano, ou seja, de 880 mil barris por dia, com apenas 1% de nosso território.
Extrapolando-se os exemplos concretos tirados da nossa realidade para um contexto internacional, pode-se afirmar que se utilizando tecnologia atual, ou de desenvolvimento de fácil previsão, florestas e culturas energéticas do mundo tropical no continente brasileiro poderiam suprir, praticamente, todas as necessidades mundiais de combustíveis sólidos, líquidos e gasosos, bem como de eletricidade, por um período praticamente ilimitado.
Até 1946, toda a produção de ferro gusa e aço no Brasil estavam baseados em carvão vegetal. Após esse ano, o desenvolvimento do parque siderúrgico nacional teve por base, principalmente, tecnologia japonesa, com a utilização do carvão mineral importado, altamente poluidor. Criou-se assim uma dupla dependência externa, em relação à tecnologia e ao insumo energético.
O esforço de desenvolvimento tecnológico do setor siderúrgico a carvão vegetal teve no Brasil resultados significativos. Para produzir-se um milhão de toneladas de aço era necessário carvão vegetal retirado de 370 mil hectares de florestas. Com o aperfeiçoamento alcançado bastam apenas 130 mil ha. e já se prevê apenas 70 mil ha. para o futuro. Um aumento de coeficiente por um fator cinco! Ou seja, uma área de 2,2% num raio de 100 km.
O mesocarpo do babaçu, carbono puro de alta resistência mecânica, é excepcional como combustível e redutor na grande siderurgia e metalurgia em geral. Contrapõe-se ao carvão mineral importado, altamente poluidor, imposto pelos pacotes tecnológicos de origem externa.
O modelo dependente de crescimento econômico brasileiro tenta reproduzir equações industriais referidos a outras realidades por meio de pacotes estrangeiros, que impõem fatores de produção estranhos aos nossos. É por isso inadequado, pois exige a mobilização de recursos financeiros, tecnológicos e industriais não disponíveis, enquanto ignora nossos fatores abundantes que fortalece nosso poder competitivo.
É exemplo disso o modelo siderúrgico japonês base das siderúrgicas brasileiras. Ele exige grandes siderúrgicas localizadas nas proximidades de grandes portos, pois tudo no Japão é importado, o carvão mineral altamente poluidor e o minério de ferro. No Brasil, devido à abundância e distribuição de minério de ferro e de carvão vegetal, o modelo deveria fundamentar um grande número de pequenas e médias siderúrgicas, limpas do ponto de vista ecológico e distribuídas conforme a proximidade do mercado, em vez dos poluidores monstrengos atuais que são justificados nas circunstâncias japonesas, mas não no nosso caso.
Os recursos básicos mobilizados por um programa energético de biomassa (ou seja, o “investimento inicial”) são terra, água e mão-de-obra, abundantes e subutilizadas no Brasil. Seu uso extensivo significa abrir oportunidades para sua valorização e promoção crescentes.
A biomassa, mais que uma alternativa energética constitui a base para um modelo de desenvolvimento tecnológico e industrial autônomo e auto-sustentado, baseado em dados concretos da realidade nacional e na integração do Homem a um ambiente econômico em harmonia com o meio ambiente. Sua natureza espacialmente dispersa ocupando todo o território nacional levará à reversão do efeito centralizador do atual modelo e torna viável uma distribuição mais uniforme da população no território, permitindo melhor organização econômica, social e política do País. Ademais, permite a ocupação de perigosos vácuos populacionais em grandes extensões de nosso território.
A mais importante entidade ambiental, a norte-americana WorldWatch Institute, propugnou, no documento A Situação do Mundo, de 1997, a criação de organização de cúpula mundial a ser formada pelos principais países relacionados com essas questões. Seria o grupo “E-9” (“E” de environment), mais poderoso que o atual G-8, que atua na área econômica-financeira.
O E-9 seria composto por três superpotências ambientais: os EUA, a maior potência industrial-militar e o maior poluidor; a China, segundo maior poluidor, com possibilidade de passar a ser rapidamente o principal, com um quinto da população do planeta, e o Brasil, continente tropical, único não-predador do conjunto. Os outros seis países são: Alemanha, Japão, Indonésia, Grã-Bretanha, Índia e Rússia.
Note-se que os países que compõem o E-9 são aqueles que têm cruciais problemas energéticos, ambientais e de matérias-primas em convergência complementar com o Brasil. Excetuam-se dessa condição os EUA e a Grã-Bretanha, por motivos óbvios de liderarem o sistema financeiro internacional, do qual nos queremos livrar, e a Indonésia, enorme arquipélago do oceano Pacífico, sem grande relação econômica e cultural com o Brasil.
No Brasil, 60% de nossa energia vem de fontes renováveis, enquanto nos demais países pretendem chegar a 12% em 2010. Atualmente 85% da energia que movimenta o mundo é ainda de origem fóssil e 80% dessa energia tem seu uso concentrado em cerca de dez países.
A contribuição do Brasil na emissão de gás carbônico é de 0,41%, enquanto as dos EUA, China, Alemanha, Rússia e Japão somam 65%.
Este complexo quadro de alianças não tem o critério geográfico ou cultural como princípio unificador, mas, sim, razões concretas, essenciais, ligadas à evolução e até à sobrevivência dos países envolvidos. Sua característica principal é oposta àquela radical que orienta o chamado “choque de civilizações”, que confina os povos no redil de suas culturas originais e limita de modo indevido, um amplo potencial de cooperação em questões vitais. Os resultados dessas alianças representam o oposto daqueles pretendidos com o “choque de civilizações”, que leva à guerra.
A conotação bélica, destruidora, que caracteriza esse “choque de civilizações”, conforme defendem intelectuais do “império” ficam superados na fundamentada proposta de alianças aqui apresentada e pelo papel pacificador desempenhado pelo continente tropical brasileiro, ao procurar resolver problemas cruciais de países de grande peso e importância no presente e no futuro do mundo.
A redução das tensões que o surgimento de formas de energia extensivas, permanentes e limpas – em condições de substituir plenamente os combustíveis fósseis – poderá representar, sem dúvida, razão prática para alcançar a paz no mundo. Os combustíveis de origem vegetal dos trópicos representam o contraponto ao estopim de conflitos provocados pelo ocaso do petróleo e pelo declínio dos demais fósseis.
Brasil: um grande reator
Todas as formas energéticas utilizadas pelo homem, com exceção da energia das marés, da geotermia e da energia nuclear, vêm do Sol, o eterno e imenso reator a fusão nuclear natural. O Brasil é o único país do mundo em condições de usufruir em grande extensão desse reator. Sonho inalcançável para os demais países, muito especialmente os situados nas regiões temperadas e frias do planeta.
A energia solar acumulada nos hidratos de carbono das plantas e de animais microscópicos necessita centenas de milhões de anos para transformar-se em combustíveis fósseis. Assim, o uso direto pelo homem da energia armazenada nos hidratos de carbono das plantas encurta em eras geológicas o uso da energia solar concentrada nos fósseis.
Os hidrocarbonetos, cujas misturas formam o que denominamos petróleo, derivam dos hidratos de carbono das plantas pela perda de oxigênio em processo de fossilização, levam para isso centenas de milhões de anos.
O óleo de girassol, excepcional substituto do óleo diesel do petróleo – limpo e renovável - chega a fazer 40 quilômetros por litro em motores Elsbett de ciclo diesel – leva apenas três semanas para se formar.
Assim, em vez de usar-se o capital da energia solar que exige centenas de milhões de anos para se constituir, usemos os dividendos dessa energia, renovados de modo permanente.
Os combustíveis derivados da biomassa – hidratos de carbono vegetal – para serem vantajosos exigem formação acelerada na natureza, o que ocorre somente com muito sol e água. Isto é possível nas regiões tropicais brasileiras. Nosso continente detém de 22 a 24% da água doce do planeta Terra. Somente a região amazônica tem 18% desse montante, com o Canadá em segundo lugar, com 14%, embora nele a água seja gelo em grande parte do ano.
Finalmente, ser o principal supridor mundial de energia renovável e limpa ou de produtos de elevado conteúdo energético exige dimensões continentais localizadas nos trópicos com água abundante e imensas áreas desocupadas. Assim, oferece-se ao Brasil a grande oportunidade econômica que jamais algum país teve na história da Humanidade, ou seja, cabe-nos um papel importante no mundo, neste começo do século 21.
É grave equívoco contemporizar com um sistema financeiro internacional irremediavelmente falido, o qual somente intensificará os atuais conflitos entre nações. A situação é muito mais grave do que foi em 1929, pois não havia então as atuais previsões de colapso dos combustíveis fósseis e do Efeito Estufa.
O que estamos presenciando é o resultado do desmoronamento da política tirânica do dinheiro digital na tentativa de dar uma sobrevida a um sistema financeiro condenado de modo irremediável pelo abismo que se abre entre ele e a economia que tem por base o mundo físico, o mundo concreto.
O que se busca é um pacto entre um conjunto de países de elevado peso mundial tendo por base uma questão crucial para todos, seja qual for a energética. Ele objetiva iniciar movimento internacional de modo a frear a atual oligarquia financeira que está levando importantes países à ruína e o mundo à guerra. Visa principalmente a abrir uma discussão acerca da reformulação do atual sistema financeiro internacional que desmorona, tendo em vista contribuir para retirar a humanidade da perigosíssima situação para a qual caminhamos cegamente.
Assim, foi fechado a Interbrás, com elevado poder de barganha internacional como principal compradora individual de petróleo no mundo, o Instituto do Açúcar e do Álcool - IAA, que atuava nas exportações de açúcar e álcool, e o Instituto Brasileiro do Café - IBC, na área do café. Nem nas áreas dos principais produtos de exportação dispomos mais de instrumentos para promover o comércio externo.
Para poder levar avante com sucesso esse ambicioso programa de alianças externas é crucial consolidar a situação interna com a ampliação do mercado consumidor, eliminando a miséria existente, as odiosas desigualdades e criando vários milhões de novos postos de trabalho.
Isto será possível, inicialmente, com a implementação de um projeto para a substituição dos combustíveis fósseis importados - petróleo, gás de petróleo e carvão mineral -, por energéticos renováveis e limpos de origem vegetal locais. Isso permitirá construir, com meios próprios, as infra-estruturas necessárias à produção e distribuição de produtos energéticos de exportação tornados possíveis por essas alianças.
Elas promoverão também o esvaziamento das megalópoles brasileiras, devido à criação de um grande número de postos de trabalho no campo e, de modo evidente, representa uma real contribuição para reduzir as questões de falta de segurança que tanto afligem os habitantes das grandes cidades, constituindo-se em um dos mais graves problemas da atualidade.
A maior alteração interna, porém, relacionam-se com a mudança do modelo econômico dependente de pacotes tecnológicos que nos colonizou nos últimos cinqüenta anos ao nos retirar as opções de valorização comparativa de nossos fatores de produção. Com esse modelo, as decisões são tomadas fora do país, no contexto desses pacotes tecnológicos, de acordo com seus interesses de origem.
Esse modelo suicida reduz nossa capacidade de competir e não beneficia nossa economia com a vantagem resultante da escolha de formas energéticas nacionais abundantes e outros aspectos favoráveis a nossos interesses. São exemplos, a soberania e o poder nacional, a saúde das populações nas grandes cidades pela redução dos poluidores fósseis, o domínio tecnológico interno em setor estratégico, entre muitos outros.
O potencial brasileiro de biomassa não se limita a uma ampliação do Programa Nacional do Álcool - Pró-Álcool, mas a amplo espectro de ações, como:
- enorme potencial de substituição do óleo diesel de petróleo por grande variedade de óleos vegetais. Somente na região amazônica existem condições para produzir cerca de oito milhões de barris por dia de óleo de dendê – digamos que seja metade, já seria uma realização de peso mundial -, envolvendo milhões de novos postos de trabalho, uma verdadeira “marcha para o Norte”. Isto equivale a níveis de produção permanentes próximos do atual de petróleo da Arábia Saudita.
- a alta produtividade das florestas tropicais plantadas - acima de 50 estéreos por hectare-ano - além da produção de celulose, permite a geração de energia elétrica por meio de termelétricas a lenha, carvão vegetal ou gás de madeira, com elevado rendimento e baixo custo. Isto abre enorme possibilidade para “fazendeiros florestais” produzirem de modo descentralizado, enorme geração de energia elétrica. As áreas florestais devastadas seriam objeto de reflorestamento com altíssimas recompensas econômicas e ambientais. Oitenta por cento do Estado do Paraná tiveram suas florestas devastadas.
Trinta por cento do Estado de Minas Gerais pode gerar em torno de 68 mil megawatts, o que equivale à atual geração brasileira. Também os rejeitos agrícolas abrem elevados potenciais.
O bagaço de produtores de açúcar e álcool no Estado de São Paulo permitiria gerar o equivalente a 50% da potência de Itaipu - 100% com turbinas de alta eficiência -, sem necessidade das onerosas linhas de transmissão ou gasodutos, como o do gás da Bolívia.
Cerca de 30% do território brasileiro é constituído por terras impróprias para a agricultura, mas aptas à exploração florestal. A utilização de metade dessa área, ou seja, 120 milhões de hectares com florestas energéticas permitiriam a formação sustentada do equivalente a cerca de cinco bilhões de barris de petróleo por ano, mais de duas vezes a produção atual da Arábia Saudita.
Com a produtividade média de 6 mil litros por hectare-ano de álcool etílico, chega-se à produção de 50 bilhões de litros por ano, ou seja, de 880 mil barris por dia, com apenas 1% de nosso território.
Extrapolando-se os exemplos concretos tirados da nossa realidade para um contexto internacional, pode-se afirmar que se utilizando tecnologia atual, ou de desenvolvimento de fácil previsão, florestas e culturas energéticas do mundo tropical no continente brasileiro poderiam suprir, praticamente, todas as necessidades mundiais de combustíveis sólidos, líquidos e gasosos, bem como de eletricidade, por um período praticamente ilimitado.
Até 1946, toda a produção de ferro gusa e aço no Brasil estavam baseados em carvão vegetal. Após esse ano, o desenvolvimento do parque siderúrgico nacional teve por base, principalmente, tecnologia japonesa, com a utilização do carvão mineral importado, altamente poluidor. Criou-se assim uma dupla dependência externa, em relação à tecnologia e ao insumo energético.
O esforço de desenvolvimento tecnológico do setor siderúrgico a carvão vegetal teve no Brasil resultados significativos. Para produzir-se um milhão de toneladas de aço era necessário carvão vegetal retirado de 370 mil hectares de florestas. Com o aperfeiçoamento alcançado bastam apenas 130 mil ha. e já se prevê apenas 70 mil ha. para o futuro. Um aumento de coeficiente por um fator cinco! Ou seja, uma área de 2,2% num raio de 100 km.
O mesocarpo do babaçu, carbono puro de alta resistência mecânica, é excepcional como combustível e redutor na grande siderurgia e metalurgia em geral. Contrapõe-se ao carvão mineral importado, altamente poluidor, imposto pelos pacotes tecnológicos de origem externa.
O modelo dependente de crescimento econômico brasileiro tenta reproduzir equações industriais referidos a outras realidades por meio de pacotes estrangeiros, que impõem fatores de produção estranhos aos nossos. É por isso inadequado, pois exige a mobilização de recursos financeiros, tecnológicos e industriais não disponíveis, enquanto ignora nossos fatores abundantes que fortalece nosso poder competitivo.
É exemplo disso o modelo siderúrgico japonês base das siderúrgicas brasileiras. Ele exige grandes siderúrgicas localizadas nas proximidades de grandes portos, pois tudo no Japão é importado, o carvão mineral altamente poluidor e o minério de ferro. No Brasil, devido à abundância e distribuição de minério de ferro e de carvão vegetal, o modelo deveria fundamentar um grande número de pequenas e médias siderúrgicas, limpas do ponto de vista ecológico e distribuídas conforme a proximidade do mercado, em vez dos poluidores monstrengos atuais que são justificados nas circunstâncias japonesas, mas não no nosso caso.
Os recursos básicos mobilizados por um programa energético de biomassa (ou seja, o “investimento inicial”) são terra, água e mão-de-obra, abundantes e subutilizadas no Brasil. Seu uso extensivo significa abrir oportunidades para sua valorização e promoção crescentes.
A biomassa, mais que uma alternativa energética constitui a base para um modelo de desenvolvimento tecnológico e industrial autônomo e auto-sustentado, baseado em dados concretos da realidade nacional e na integração do Homem a um ambiente econômico em harmonia com o meio ambiente. Sua natureza espacialmente dispersa ocupando todo o território nacional levará à reversão do efeito centralizador do atual modelo e torna viável uma distribuição mais uniforme da população no território, permitindo melhor organização econômica, social e política do País. Ademais, permite a ocupação de perigosos vácuos populacionais em grandes extensões de nosso território.
A mais importante entidade ambiental, a norte-americana WorldWatch Institute, propugnou, no documento A Situação do Mundo, de 1997, a criação de organização de cúpula mundial a ser formada pelos principais países relacionados com essas questões. Seria o grupo “E-9” (“E” de environment), mais poderoso que o atual G-8, que atua na área econômica-financeira.
O E-9 seria composto por três superpotências ambientais: os EUA, a maior potência industrial-militar e o maior poluidor; a China, segundo maior poluidor, com possibilidade de passar a ser rapidamente o principal, com um quinto da população do planeta, e o Brasil, continente tropical, único não-predador do conjunto. Os outros seis países são: Alemanha, Japão, Indonésia, Grã-Bretanha, Índia e Rússia.
Note-se que os países que compõem o E-9 são aqueles que têm cruciais problemas energéticos, ambientais e de matérias-primas em convergência complementar com o Brasil. Excetuam-se dessa condição os EUA e a Grã-Bretanha, por motivos óbvios de liderarem o sistema financeiro internacional, do qual nos queremos livrar, e a Indonésia, enorme arquipélago do oceano Pacífico, sem grande relação econômica e cultural com o Brasil.
No Brasil, 60% de nossa energia vem de fontes renováveis, enquanto nos demais países pretendem chegar a 12% em 2010. Atualmente 85% da energia que movimenta o mundo é ainda de origem fóssil e 80% dessa energia tem seu uso concentrado em cerca de dez países.
A contribuição do Brasil na emissão de gás carbônico é de 0,41%, enquanto as dos EUA, China, Alemanha, Rússia e Japão somam 65%.
Este complexo quadro de alianças não tem o critério geográfico ou cultural como princípio unificador, mas, sim, razões concretas, essenciais, ligadas à evolução e até à sobrevivência dos países envolvidos. Sua característica principal é oposta àquela radical que orienta o chamado “choque de civilizações”, que confina os povos no redil de suas culturas originais e limita de modo indevido, um amplo potencial de cooperação em questões vitais. Os resultados dessas alianças representam o oposto daqueles pretendidos com o “choque de civilizações”, que leva à guerra.
A conotação bélica, destruidora, que caracteriza esse “choque de civilizações”, conforme defendem intelectuais do “império” ficam superados na fundamentada proposta de alianças aqui apresentada e pelo papel pacificador desempenhado pelo continente tropical brasileiro, ao procurar resolver problemas cruciais de países de grande peso e importância no presente e no futuro do mundo.
A redução das tensões que o surgimento de formas de energia extensivas, permanentes e limpas – em condições de substituir plenamente os combustíveis fósseis – poderá representar, sem dúvida, razão prática para alcançar a paz no mundo. Os combustíveis de origem vegetal dos trópicos representam o contraponto ao estopim de conflitos provocados pelo ocaso do petróleo e pelo declínio dos demais fósseis.
Brasil: um grande reator
Todas as formas energéticas utilizadas pelo homem, com exceção da energia das marés, da geotermia e da energia nuclear, vêm do Sol, o eterno e imenso reator a fusão nuclear natural. O Brasil é o único país do mundo em condições de usufruir em grande extensão desse reator. Sonho inalcançável para os demais países, muito especialmente os situados nas regiões temperadas e frias do planeta.
A energia solar acumulada nos hidratos de carbono das plantas e de animais microscópicos necessita centenas de milhões de anos para transformar-se em combustíveis fósseis. Assim, o uso direto pelo homem da energia armazenada nos hidratos de carbono das plantas encurta em eras geológicas o uso da energia solar concentrada nos fósseis.
Os hidrocarbonetos, cujas misturas formam o que denominamos petróleo, derivam dos hidratos de carbono das plantas pela perda de oxigênio em processo de fossilização, levam para isso centenas de milhões de anos.
O óleo de girassol, excepcional substituto do óleo diesel do petróleo – limpo e renovável - chega a fazer 40 quilômetros por litro em motores Elsbett de ciclo diesel – leva apenas três semanas para se formar.
Assim, em vez de usar-se o capital da energia solar que exige centenas de milhões de anos para se constituir, usemos os dividendos dessa energia, renovados de modo permanente.
Os combustíveis derivados da biomassa – hidratos de carbono vegetal – para serem vantajosos exigem formação acelerada na natureza, o que ocorre somente com muito sol e água. Isto é possível nas regiões tropicais brasileiras. Nosso continente detém de 22 a 24% da água doce do planeta Terra. Somente a região amazônica tem 18% desse montante, com o Canadá em segundo lugar, com 14%, embora nele a água seja gelo em grande parte do ano.
Finalmente, ser o principal supridor mundial de energia renovável e limpa ou de produtos de elevado conteúdo energético exige dimensões continentais localizadas nos trópicos com água abundante e imensas áreas desocupadas. Assim, oferece-se ao Brasil a grande oportunidade econômica que jamais algum país teve na história da Humanidade, ou seja, cabe-nos um papel importante no mundo, neste começo do século 21.
É grave equívoco contemporizar com um sistema financeiro internacional irremediavelmente falido, o qual somente intensificará os atuais conflitos entre nações. A situação é muito mais grave do que foi em 1929, pois não havia então as atuais previsões de colapso dos combustíveis fósseis e do Efeito Estufa.
O que estamos presenciando é o resultado do desmoronamento da política tirânica do dinheiro digital na tentativa de dar uma sobrevida a um sistema financeiro condenado de modo irremediável pelo abismo que se abre entre ele e a economia que tem por base o mundo físico, o mundo concreto.
O que se busca é um pacto entre um conjunto de países de elevado peso mundial tendo por base uma questão crucial para todos, seja qual for a energética. Ele objetiva iniciar movimento internacional de modo a frear a atual oligarquia financeira que está levando importantes países à ruína e o mundo à guerra. Visa principalmente a abrir uma discussão acerca da reformulação do atual sistema financeiro internacional que desmorona, tendo em vista contribuir para retirar a humanidade da perigosíssima situação para a qual caminhamos cegamente.
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