sexta-feira, 14 de maio de 2010

BP quer se tornar gigante em etanol

Empresa, que já é sócia de uma usina no Brasil, quer chegar a 2020 com processamento de 100 milhões de toneladas de cana.
A BP Biofuels, braço de biocombustíveis da petroleira britânica BP, pretende ser uma das principais empresas do setor sucroalcooleiro do Brasil até 2020, processando 100 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. O presidente mundial da BP Biofuels, Philip New, diz que o crescimento se dará de forma gradual, por meio de joint ventures com empresas já existentes e também da construção de novas usinas, em projetos greenfield.
Na estratégia de realizar joint ventures com produtores locais, o controle será compartilhado, ou seja, a BP Biofuels não pretende ter mais de 50% de participação em um projeto. "Isso nos permite aprender e entender outra cultura. Ter o controle total é perigoso, pois cria a tentação de querer mandar, e não de aprender", afirmou New. A empresa espera que, nessas parcerias, o player local entre com o produto e a expertise na área. A BP vai contribuir com tecnologia e estrutura de penetração global.
Atualmente, a BP já é responsável pela distribuição de 10% do etanol produzido no mundo. Para o executivo, a consolidação do setor sucroalcooleiro brasileiro continuará acontecendo nos próximos anos de forma a criar grandes conglomerados, que terão uma capacidade de moagem em torno de 100 milhões de toneladas de cana cada. "Definitivamente, estaremos nesse grupo."
New explica que a BP Biofuels não tem pressa. Embora tenha sido a primeira empresa petroleira a entrar no ramo de etanol no Brasil e no mundo, a prioridade, segundo ele, é aprender e não fazer investimentos de forma acelerada. "Mas não se espante se em breve anunciarmos algum novo projeto. Estamos atentos às oportunidades de mercado."
Tropical. O executivo diz que a experiência pioneira da BP em etanol a partir de cana na Tropical Bioenergia, usina localizada em Edeia (GO), tem sido positiva. A primeira safra processada pela usina foi de 2,4 milhões de toneladas, com a colheita 100% mecanizada. A BP quer ampliar o processamento da usina para 4,8 milhões de toneladas no médio prazo, além de construir outra nas proximidades, a Tropical 2, com a mesma capacidade de processamento. Os investimentos previstos chegam a US$ 1 bilhão.
Na Tropical, a BP aplicou sua estratégia de controle compartilhado e detém 50% de participação. Os outros 50% são divididos igualmente entre o grupo Maeda e o Louis Dreyfus Commodities (que absorveu a Santelisa Vale). O Grupo Maeda e a LDC colocaram, contudo, sua participação na usina à venda e a BP deve contar, em breve, com novos parceiros na empreitada.
A BP Biofuels tem trabalhado intensamente na criação de um mercado internacional de etanol por meio de ações nos Estados Unidos e Europa. "A BP se posicionou publicamente, por exemplo, a favor do etanol de cana do Brasil perante o governo da Califórnia e também em Washington e Bruxelas, nos processos que culminaram no reconhecimento do etanol de cana como combustível com menor emissão de gases de efeito estufa no mercado americano e europeu."
Segundo New, este posicionamento público da BP mostra a importância que os biocombustíveis e o Brasil têm dentro da estratégia de longo prazo da empresa. A importância do Brasil para a empresa também pode ser medida, de acordo com ele, pelo fato de a BP ter paralisado todos os demais projetos com cana existentes na África e no Sudoeste Asiático para concentrar os investimentos apenas no Brasil.
Outras apostas. Porém, na estratégia da BP Biofuels, outras duas vertentes de biocombustíveis estão sendo exploradas. Uma delas é a produção de etanol de celulose. Em uma joint com a Verenium, na qual cada empresa tem 50% de participação, a BP Biofuels vai começar a produção comercial de etanol de celulose a partir de 2013. Localizada na Flórida, nos Estados Unidos, a empresa já produz etanol celulósico experimentalmente.
Mas o produto em que a BP Biofuels mais aposta suas fichas no médio prazo é o biobutanol, que está sendo produzido em caráter experimental em Hull, na Inglaterra, pela Butamax, uma joint venture, também de controle compartilhado, entre a BP e a DuPont. "Esperamos produzir o biobutanol também no Brasil a partir de 2013", afirma New.
O biobutanol é um etanol que pode ser produzido através da cana-de-açúcar mas também por meio de outras biomassas. "É um produto que pode ter uma penetração mais fácil que o etanol de cana em mercados mais fechados como os EUA e Europa", explica. Isso porque o biobutanol não precisa ter uma bomba exclusiva nos postos de combustíveis, podendo compartilhar bombas de outros combustíveis.
O grupo BP passa por um momento delicado, envolvido em um acidente com uma plataforma que vem derramando milhões de litros de petróleo no Golfo do México. Philip New disse, porém, que não poderia falar sobre esse assunto, por não ser sua área.
Produção
100 milhões de toneladas de cana-de-açúcar devem ser processadas pela BP Biofuels no Brasil até 2020.
10% do etanol produzido no mundo é distribuído pela petroleira britânica BP.
2,4 milhões de toneladas de cana foram processadas na primeira safra da usina Tropical Bioenergia, em Goiás.
Empresa descarta soja e pinhão manso na produção de etanol
A BP Biofuels abandonou seus projetos de produzir biodiesel de pinhão manso, matéria-prima que está sendo vista com bons olhos por vários empreendedores brasileiros
A BP Biofuels abandonou seus projetos de produzir biodiesel de pinhão manso, matéria-prima que está sendo vista com bons olhos por vários empreendedores brasileiros.
O executivo explica que as estratégias da BP procuram atender quatro fatores: sustentabilidade, baixa emissão de carbono, baixo custo e escala.
No pinhão manso, não há escala de produção para atender a demanda, então abortamos o projeto, disse Philip New, presidente mundial da BP Biofuels.
A BP deve continuar outros projetos de biodiesel, mas não com a soja, a commodity mais usada no Brasil.
Queremos entrar em nichos em que nossa tecnologia possa fazer diferença. (Estadão)

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