sábado, 22 de maio de 2010

Um sopro de energia renovável IV

Fontes renováveis
O mundo está diante do desafio de alterar as fontes atuais de energia que movem a economia do planeta. Petróleo e gás natural ainda respondem por mais de 50% da matriz energética mundial, enquanto apenas 13% das fontes de energia do mundo provêm de fontes renováveis como hidroeletricidade, biomassa, energia eólica e solar.
Hoje no Brasil, as energias renováveis respondem por 46% da matriz de energia elétrica do país, o que faz do Brasil modelo para o mundo, cuja média mundial é de 12% a 13%. Nos países desenvolvidos, as energias renováveis equivalem a apenas 7% da matriz elétrica.
Em eficiência energética e em economia de energia o PROCEL (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica) – investiu R$ 971 milhões e obteve uma economia de energia de 24.598 GWh/ano, o equivalente à geração de uma usina com capacidade para 6.612 MW. Daí pode-se verificar o enorme potencial dos programas de conservação de energia.
O aproveitamento das energias renováveis é relegado nos Planos Decenais, enquanto deveriam ser encaradas como a grande solução para a questão energética. Apesar de a Europa planejar que 20% de sua matriz energética seja composta por novas fontes renováveis até 2020, o Brasil segue desconsiderando essa tendência internacional apesar de possuir potencial para suprir totalmente a demanda nacional atual e também para fornecer eletricidade a locais remotos que não a possuem ou que utilizam outras fontes como a geração a diesel ou a gás. Essas fontes poderiam também resolver problemas atuais do setor como o pico de consumo nas regiões Sul e Sudeste causado por chuveiros elétricos e que pode ser reduzido por energia solar térmica, beneficiando a todos, inclusive às concessionárias. Assim a demanda poderia ser mais balanceada e o fator de carga elevado.
As energias renováveis somente foram abordadas no PDEE através do PROINFA (Programa de Incentivo as Fontes Alternativas de Energia), que é um programa que limita a quantidade de energia que deverá ser gerada, ao invés de adotar estas fontes de forma contínua e definitiva. A limitação temporal acaba inclusive por dificultar investimentos privados no setor, pela ausência de perspectiva quantitativa maior e de longo prazo. Nem a energia solar térmica nem a solar fotovoltaica são consideradas, apesar do imenso potencial que o país possui e das iniciativas de suporte já existentes por parte da sociedade civil (por ex. do Instituto Vitae Civilis) e em focos governamentais locais (por ex. projeto de lei de energia solar térmica para a cidade de São Paulo). O Plano não analisa nem propõe soluções aos problemas que já ocorrem no planejamento e na implementação do PROINFA.
O custo total previsto pela Eletrobrás para o PROINFA será de R$ 1,816 bilhão em 2010, segundo Plano Anual (PAP), orçamento aprovado pela diretoria da ANEEL. Do total, as distribuidoras pagarão R$ 1,640 bilhão, as transmissoras, R$ 174,046 milhões, e as permissionárias cooperativas, R$ 1,960 milhão. O número de empreendimentos previstos para operar em 2010 dentro do PROINFA, segundo a Eletrobrás, representam um total de 3.137 MW de potência instalada e uma geração prevista de 10.601.823,59 MWh.
A gravidade da situação climática no mundo exige que governantes (e os candidatos) se posicionem quanto à nossa matriz energética. Não faz sentido continuar destinando às usinas termoelétricas, altamente poluidoras, boa parte dos leilões de energia. É preciso dar muito mais força à energia eólica e solar, além de biocombustíveis produzidos adequadamente. Não é faz sentido ignorar os estudos científicos que indicam ser possível ganhar até 30% no consumo de energia com políticas eficazes de eficiência e conservação, mais 10% com redução de perdas em linhas de transmissão, outro tanto com repotenciação de geradores defasados. Esses caminhos custariam algumas vezes menos que o da implantação de novas mega-usinas e ainda evitariam conflitos sociais e ambientais.
Projetos faraônicos propostos pelo governo federal encobrem questões estruturais cuja solução é sempre adiada. A História mostra que a cultura predominantemente aventureira, nômade e exploratória resultou, com raríssimas exceções, apenas em atraso, desigualdades socioeconômicas e falta de melhores perspectivas para o futuro. Por outro lado, as culturas em que predominam os valores do trabalho, da construção e da permanência levaram ao florescimento das mais prósperas sociedades que conhecemos.
Infelizmente, nosso País tem sido objeto da primeira modalidade ao longo dos últimos cinco séculos. Das entradas e bandeiras às atuais derrubadas e queimadas de árvores da Amazônia, o que se constata é o enriquecimento de uns poucos em detrimento de uma multidão de pessoas atoladas no lamaçal da pobreza e da miséria.
O desafio de gerar energia com baixa emissão de carbono tem um longo caminho pela frente e cada vez mais é urgente a implementação de políticas públicas de incentivo a energias renováveis e limpas, e a eficiência energética.
Nesse sentido, boas notícias parecem mostrar avanços: dados que constam no documento Tendências Mundiais dos Investimentos em Energia Sustentável 2009, divulgado pelo PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) em agosto de 2009, apontam que o ano de 2008 foi o primeiro em que houve mais investimentos em fontes energéticas renováveis do que na energia nuclear e na que exige alto uso de carvão. Foram alocados US$ 155 bilhões em empresas e projetos de energias limpas, principalmente na eólica e solar.
Diversos países vêm fazendo o dever de casa e planejando seus investimentos em fontes alternativas de energia. No entanto, o Brasil parece seguir uma estratégia de desenvolvimento que vai na contramão dessa realidade. O país que possui 46% da energia produzida proveniente de fontes renováveis é o mesmo que apresenta uma série de contradições em relação à questão energética, como por exemplo, o incentivo à ampliação de termelétricas e elevados investimentos para exploração de petróleo, com a descoberta da camada de pré-sal. O Plano Decenal de Energia tem sido duramente criticado por ambientalistas e alguns especialistas do setor energético, pelas opções adotadas. (EcoDebate)

Nenhum comentário: