Motor bicombustível
está em sua quarta geração; desafio é torná-lo mais eficiente.
O carro flex, com tecnologia que permite abastecer o tanque
de combustível com etanol ou gasolina, completa dez anos este mês com o desafio
de tornar-se mais eficiente em consumo e de vencer a atual resistência do
consumidor em optar pelo álcool para contribuir com a redução de emissões de
poluentes, especialmente CO2. Em 2012, enquanto o consumo de etanol
caiu 9,6% em relação a 2011, o de gasolina aumentou 11,9%.
Entre as fabricantes de sistemas há uma corrida para ver
quem lançará primeiro a nova geração de motores com sistema de injeção direta
de combustível. A tecnologia permitirá uma economia de cerca de 5% a 10% em
relação ao consumo atual. Outro benefício será a maior eficiência do uso do
etanol, o que aumentará o tempo para reabastecer o tanque.
Há uma década, a disputa foi pela paternidade do carro flex.
O primeiro automóvel a ser vendido no País com motor bicombustível, em março de
2003, foi um Volkswagen Gol, com tecnologia da Magneti Marelli. A Bosch havia
apresentado um modelo flexível nove anos antes, mas sua tecnologia só foi
inserida no mercado depois da concorrente.
Atualmente, 87% dos carros novos vendidos no Brasil são
flex. Todos os automóveis e comerciais leves fabricados localmente têm essa
tecnologia, mas os importados também estão aderindo. Pelo menos 17 modelos
trazidos da Argentina, México, China, Coreia do Sul e Tailândia receberam
motores flexíveis especialmente para atender o mercado brasileiro. A lista
ganhará dois reforços com o Honda CR-V, em maio, e o Hyundai Elantra no segundo
semestre.
Neste ano, uma gama maior de carros flex começa a ser
vendida sem o tanquinho de gasolina, até então necessário para dar a partida.
"A eliminação possibilita maior conforto ao usuário", diz Eduardo
Campos, gerente comercial e de engenharia da Marelli. "O sistema passa a
gerenciar melhor a partida a frio, o que também reduzirá emissões".
Nesse quesito, a Bosch saiu na frente e já tem seu sistema
sem tanquinho à venda em alguns carros top de linha, como Peugeot 308, Citroën
C3, Honda Civic e Volkswagen Polo. A Delphi desenvolveu o Injetor Aquecido, que
também elimina o tanquinho. O sistema já está no importado chinês JAC J3 Sport.
"Com o Injetor Aquecido, a combustão ocorre de maneira
mais completa, resultando em funcionamento mais eficiente, além de minimizar as
emissões, podendo chegar a até 30% de redução em alguns casos", diz o
diretor de engenharia da divisão Powertrain da Delphi, Roberto Stein.
"Já estamos na quarta geração do motor flex", diz
Henry Joseph Jr., presidente da Comissão de Assuntos de Energia e Meio Ambiente
da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Para
ele, após o lançamento, o primeiro avanço foi a melhora significativa nas taxas
de compressão que favoreceu o uso do etanol. Por volta de 2006 e 2007 vieram os
sistemas eletrônicos de controle de gerenciamento. "Agora estamos jogando
fora o tanquinho de combustível".
O próximo salto é esperado para daqui a quatro anos, com a
chegada da injeção direta de combustível. O sistema injetará o combustível
diretamente na câmara de combustão, onde será queimado. O atual, de injeção
indireta, aplica o combustível no cabeçote do motor, o que gera perda no
percurso.
Consumo. Segundo Campos, a nova tecnologia - que tem
movimentado a corrida entre empresas para ver quem sairá na frente com produção
em larga escala -, deverá resultar num consumo entre 5% a 10% inferior ao
atual, tanto se o motor for abastecido com etanol quanto gasolina.
A vantagem para o etanol será um melhor aproveitamento da
energia disponível, "que vai tornar menos frequente a necessidade de
abastecimento", diz Martin Marcelo Leder, chefe de engenharia de sistema
da Bosch. Hoje, são necessários 30% mais de álcool em relação à gasolina para
gerar a mesma energia, por isso a necessidade de parar mais vezes no posto
quando o tanque está com esse combustível.
Parte do avanço na eficiência também virá das ações que as
montadoras terão de adotar para atender exigência do Inovar-Auto, programa
governamental que estabelece metas de consumo para carros novos. Até 2017, os
automóveis que rodam pelo País terão de reduzir o consumo em geral em 12% na
comparação com os níveis atuais.
Para Leder, uma melhora na relação de consumo também
ocorrerá com a introdução do etanol de segunda geração, feito a partir do
bagaço da cana e de outras celuloses. Para o longo prazo, analistas veem o flex
como parceiro do motor elétrico nos carros híbridos e, mais à frente, o etanol
como agente gerador do hidrogênio para carros movidos a célula de combustível.
(OESP)
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