quarta-feira, 20 de março de 2013

Integração de energia solar fotovoltaica

Integração de energia solar fotovoltaica em larga escala
Há mais de 10 anos, a Alemanha lançou um audacioso plano de apoio à expansão da produção e integração das energias renováveis em sua matriz energética, no qual a eletricidade de origem solar fotovoltaica recebeu atenção especial. Recentemente, “vítima de seu sucesso” – bastante oneroso, e sofrendo os impactos da crise econômica mundial e europeia, o país está revendo sua política energética.
No momento em que o Brasil aguarda a definição dos critérios para a conexão da micro e minigeração distribuída às redes de distribuição, o caso alemão de integração de larga escala de energias renováveis merece ser analisado com atenção sobretudo por duas razões: o êxito da rápida expansão e integração das fontes renováveis e os problemas que decorreram da falta de limites do programa. É importante lembrar que a Alemanha possui importante nível de atividade industrial forte consumidora de eletricidade, e que é o país que melhor tem enfrentado a crise europeia, apesar de ter os preços de sua eletricidade elevados.
Em 2000, Alemanha implementou o German Renewable Energy Sources Act, conhecido como EEG. O plano se baseia na remuneração da eletricidade gerada a partir de fontes renováveis através do sistema feed-in tariff com venda garantida durante vinte anos. O nível das tarifas é ajustado para baixo anualmente e revisto a cada três ou quatro anos para incentivar a competitividade com outras fontes de geração a longo termo.
Na época em que foi lançado, os custos dos sistemas fotovoltaicos eram extremamente elevados e por isso o apoio do programa foi fundamental para viabilizar o desenvolvimento da indústria e a integração da fonte. Ao mesmo tempo, os custos elevados do apoio ao solar fotovoltaico já representavam um peso importante para o programa. Os custos do EEG são financiados por uma taxa cobrada nas tarifas de todos os consumidores de eletricidade, com exceção de algumas categorias, como os grandes consumidores industriais.
Nos últimos anos, o programa de compra garantida passou a representar custos mais elevados do que o previsto e a sobretaxa cobrada para seu financiamento teve que ser aumentada. Em realidade, a Alemanha não esperava que fosse haver uma adesão tão expressiva da população. O país ultrapassou constantemente suas metas de expansão da capacidade instalada de geração solar fotovoltaica. Diante das altas tarifas remunerando essa fonte de geração, e face a uma redução radical dos custos dos sistemas fotovoltaicos, milhares de cidadãos resolveram se tornar produtores de eletricidade e assim aumentar sua renda, afinal o EEG garantia por lei que a eletricidade seria comprada. O sucesso foi tamanho que em 2010, o país respondia por 44% da capacidade instalada global (Grau, 2012). O gráfico abaixo ilustra o rápido avanço do solar fotovoltaico no mundo e a liderança alemã, superada somente em 2011 pela China.
A fim de reduzir o impacto financeiro sobre o EEG, o governo começou a prever uma série de ajustes a partir de 2009. Houve redução do nível da tarifa e aumento do grau de reajuste negativo do preço da tarifa. Os esforços, entretanto não foram suficientes, pois a velocidade da queda dos custos dos sistemas fotovoltaicos foi ainda mais expressiva. Nos últimos cinco anos a queda foi de 57% (Grau, 2012), como mostra o gráfico abaixo. O número de microgeradores continuou a aumentar.
Em dezembro de 2011, foi registrado um novo recorde de instalações de sistemas solares fotovoltaicos totalizando um acréscimo de 7,5 GW somente em 2011 – a EPE (2012) estima que o Brasil possui 20 MW. Em janeiro deste ano, o governo adotou medidas mais radicais para frear a expansão da geração de eletricidade de origem solar fotovoltaica: uma redução da tarifa oferecida, reduções mensais progressivas a uma taxa fixa e um modelo de integração de mercado. O modelo proposto ainda se encontra em discussão no parlamento.
Diekmann, Kemfert e Neuhoff (2012), assim como Grau (2012), se preocupam com a severidade das medidas que o governo pretende adotar. Em 2010, o governo previa uma expansão da capacidade de geração fotovoltaica de 52 GW para 2020. Se a revisão pretendida for adotada com sucesso, a meta prevista cai para 33 GW, um terço a menos do que o esperado há menos de 2 anos.
Os autores acreditam que o corte na tarifa é muito elevado e acrescentam que adotar um sistema de redução da remuneração a taxas fixas é contra a dinâmica do mercado. Afinal, não se pode saber de antemão a que ritmo a tecnologia continuará a ter seus custos reduzidos ou se tornar efetivamente competitiva com outras fontes de geração. Ora, os problemas que o governo enfrenta atualmente são justamente dessa natureza, afinal ele não foi capaz de prever o ritmo de redução dos custos e ajustar de forma adequada a remuneração ofertada. As reduções devem portanto seguir a dinâmica de preços do mercado.
Dessa forma, o desafio do governo é encontrar um sistema em que haja uma penetração de solar fotovoltaico a um ritmo mais lento, que limite os custos do programa e consequentemente o impacto sobre a tarifa de eletricidade (Diekmann, Kemfert e Neuhoff, 2012).
Se a preocupação em limitar os custos do EEG é legítima, o governo deve tomar cuidado para não provocar um brusco desinteresse pela fonte e afetar negativamente toda a cadeia de produção e implementação que existe atualmente. Além do reajuste dinâmico de preços, seguindo a queda dos preços da instalação dos sistemas fotovoltaicos, existem outros instrumento de incitativos desenvolvidos para que as pessoas não busquem produzir eletricidade além de suas necessidades de consumo. Uma delas é justamente o sistema de net metering onde o microgerador que produzir eletricidade excedente é remunerado “fisicamente”, em KWh, e não financeiramente. Não há interesse em se produzir além do que se pode consumir. Esse é o modelo previsto pela Resolução Normativa n° 482, de 17 de abril de 2012, da ANEEL que rege o acesso de micro e minigeração distribuída aos sistemas de distribuição de energia elétrica.
É interessante notar que apesar de todo esse esforço e do avanço da indústria solar fotovoltaica na Alemanha, o país ainda não atingiu a paridade tarifária (discutida no post anterior sobre o solar fotovoltaico no Brasil). A Alemanha ainda precisa de subsídios que viabilizem a integração da fonte na sua matriz.
No caso brasileiro a micro e a minigeração solar fotovoltaica distribuída já são competitivas em diversas regiões e nesse momento o mais importante em termos de regulamentação é evitar barreiras artificiais que impeçam as pessoas de gerarem sua própria eletricidade e se integrarem à rede distribuição. (ambienteenergia)

Nenhum comentário: