Descontaminação de Fukushima caminha a passos lentos
Sacos com solo contaminado
em Fukushima
Tanques com
estoques de água contaminada em Fukushima.
É possível ver o azul
dos sacos de um metro cúbico utilizados nas operações de descontaminação por
todo o departamento de Fukushima, no Japão, atingido pela catástrofe nuclear do
dia 11 de março de 2011: nas quadras esportivas das escolas, nos jardins das
casas, nos arrozais…
A princípio, essas
lixeiras cheias de terra e galhos contaminados deveriam ser transportadas até
locais de armazenamento. “O problema é que ninguém quer essas instalações em
sua vizinhança”, admite Hitoshi Aoki, do ministério do Meio Ambiente. Os sacos,
então, muitas vezes permanecem sem monitoramento, cobertos por uma simples
lona.
No início do ano, o
jornal “Asahi” revelou que certos trabalhadores chegaram a jogar galhos
provenientes da descontaminação nos rios. Em outros lugares, a água utilizada
para limpar as casas estaria escoando para a natureza. Tanto que, no local de
descontaminação, há quem fale hoje de “transferência de contaminação”.
É o suficiente para
preocupar os centenas de milhares de habitantes afetados por esse imenso
trabalho pós-Fukushima. Todos se fazem a mesma pergunta: quando a meta de
reduzir a exposição a 1 milissievert por ano (1 mSv/ano), dose máxima
admissível para a população, será atingida?
As operações de
descontaminação, dotadas de um orçamento que deverá chegar a 1,45 trilhão de
ienes (R$ 30 bilhões) até julho de 2014, atraíram os gigantes japoneses da
construção.
A Shimizu e a
Takenaka conseguiram grandes contratos junto às administrações locais e ao
governo. Milhares de trabalhadores estão retirando alguns centímetros de terra
e podando árvores. Além disso, deverão limpar mais de 600 mil casas e prédios e
quase 120 mil hectares de terras agrícolas. Segundo números oficiais, 29
milhões de metros cúbicos de resíduos radioativos deverão, por fim, ser
armazenados em um local ainda a ser determinado.
Até hoje, pouco mais
de 15% do trabalho foi realizado. E persistem as dúvidas quanto à eficácia da
operação, uma vez que o vento e a chuva podem transferir as poeiras radioativas
para as florestas da região. Em janeiro de 2013, os reatores 1, 2 e 3 da usina
ainda lançavam na atmosfera césio 134 e 137 à razão de 10 milhões de becqueréis
por hora, um nível “significativo”, segundo um especialista.
Permanecem outras
dúvidas, sobretudo quanto à pertinência das empresas escolhidas. Os grupos
japoneses selecionados incontestavelmente se beneficiaram da proximidade com o
poder público. O governo havia procurado grupos estrangeiros conhecidos na
área, mas não escolheu nenhum por acreditar que “o que funciona em outros
países pode não funcionar no Japão, pois o solo é diferente”.
Os trabalhos também
estão atrasados pela falta de mão de obra. “Os trabalhadores recebem entre
8.000 e 9.000 ienes [R$ 166 a R$ 186] por dia”, afirma Ryo Ijichi, da ONG On
the Road.
“Eles preferem
reconstruir as regiões vizinhas, onde recebem 13 mil ienes (R$ 270), com menos
riscos à saúde.” Para compensar esse déficit, o grupo Takenaka “tem enviado
regularmente os trabalhadores da usina para a descontaminação”. “É menos
difícil para eles e isso traz mão de obra”, diz Takeshi Suwabe, executivo da
empresa na cidade de Minamisoma (departamento de Fukushima).
Em certos municípios
menos afetados, como Tamura, as empresas estão recrutando mulheres. De qualquer
forma, a descontaminação nas zonas mais contaminadas continua sendo mais bem
paga, “até 10 mil ienes (R$ 206) a mais por dia”, confirma Suwabe.
Na usina acidentada,
a operadora Companhia de Eletricidade de Tokyo (Tepco), também teme uma falta
de funcionários. Três mil operários, alguns deles enviados pela máfia japonesa
(Yakuza), estão trabalhando direto no local até que sejam contaminados com até
100 milissieverts, dose limite máxima para pessoas que trabalham dentro da
usina nuclear. Segundo um ex-funcionário da usina, “a empresa está fazendo de
tudo para minimizar os números para que fiquem lá o maior período de tempo
possível”.
A contaminação não se
limita à terra. A empresa Tepco já armazenou em tonéis 260 mil toneladas de
água altamente contaminada. Mas, de acordo com diferentes fontes, ela estaria
considerando soltar no Oceano Pacífico aquilo que –segundo ela– não
apresentasse risco, com alguns milhares de becqueréis por litro. (EcoDebate)
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