OMS constata aumento de risco de câncer na região de Fukushima
Moradores das áreas
mais afetadas teriam risco adicional de 4% a 7% de contrair doença, segundo
último relatório da organização. Especialistas criticam estimativas e dizem que
alerta é exagerado.
Os moradores das
áreas mais afetada pelo acidente na usina nuclear de Fukushima, dois anos
atrás, têm um risco maior de desenvolver certos tipos de câncer, afirmou a
Organização Mundial da Saúde (OMS) em relatório divulgado nesta quinta-feira
(28/02).
O terremoto seguido
de tsunami, que devastou a instalação nuclear de Fukushima em 11 de março de
2011, provocou a morte de aproximadamente 19 mil pessoas e fez com que
aproximadamente 160 mil deixassem as suas casas.
"A principal
preocupação identificada neste relatório está relacionada aos riscos
específicos de câncer, ligados a locações particulares e fatores
demográficos", afirmou a diretora de Saúde Pública e Meio Ambiente na OMS,
Maria Neira. "Uma seleção de dados por idade, sexo e proximidade com as
instalações mostra realmente um maior risco de câncer para aqueles que estavam
localizados nas partes mais contaminadas."
Terremoto seguido de
tsunami causou destruição de reatores
Perigo para crianças
A OMS disse ainda
que o risco futuro de desenvolver câncer de mama entre as crianças do sexo
feminino expostas, bem como o risco de desenvolver leucemia entre as crianças
do sexo masculino, também parece ter aumentado, embora em menor escala. De
forma geral, as pessoas vivendo na região mais afetada tiveram um risco
adicional de 4% a 7% de desenvolver qualquer tipo de câncer.
No Japão, o risco de
adquirir câncer para os homens é de cerca de 41%, enquanto esse risco para as
mulheres é de 29%, no decorrer das vidas. Para aqueles mais afetados pela
radiação após Fukushima, a possibilidade de contrair câncer aumentaria em um
ponto percentual, informou a OMS.
"Trata-se de
aumentos proporcionais bem pequenos", disse Richard Wakeford, da
Universidade de Manchester, um dos autores do relatório. No entanto, os
especialistas estão bastante preocupados com um aumento dos casos de câncer de
tireoide, especialmente em crianças.
Câncer de Tireoide
Após o desastre de
Tchernobil, em 1986, por volta de 6 mil crianças expostas à radiação
desenvolveram câncer de tireoide, porque muitas beberam leite contaminado. No
Japão, no entanto, isso foi monitorado de perto e, de qualquer forma, leite não
está entre as preferências alimentares das crianças japonesas.
De qualquer forma,
nas áreas mais contaminadas, a OMS estimou que, entre crianças do sexo
feminino, há um risco 70% maior de desenvolver câncer da tireoide ao longo da
vida. A tireoide é o órgão mais exposto à concentração de iodo radioativo, e as
crianças são consideradas especialmente vulneráveis.
Em seu relatório de
166 páginas, a OMS diz esperar que, num raio de 20 quilômetros das instalações
nucleares, as taxas de câncer de tireoide entre as meninas expostas à radiação
devam ser de até 1,25%. Segundo a OMS, o risco normal de câncer de tireoide no
decorrer da vida de uma pessoa do sexo feminino que vive na região é de 0,75%.
Dezenas de milhares
de pessoas tiveram de deixar suas casas
Críticas de
especialidades
Alguns especialistas
afirmam, no entanto, que prever um aumento do risco de câncer na região de
Fukushima é algo surpreendente e dizem acreditar que a baixa dose de radiação
recebida pelos afetados não foi suficiente para comprovar um aumento dos riscos
de contrair a doença.
"Com base na
dose de radiação recebida pelas pessoas, não há razão para pensar que possa
haver um aumento dos casos de câncer nos próximos 50 anos", disse Wade
Allison, professor emérito de física da Universidade de Oxford, que não esteve
ligado ao relatório da OMS.
Gerry Thomas,
professora de patologia molecular no London Imperial College, uma das
universidades de ciências mais renomadas do mundo, acusou a OMS de exaltar o
risco de câncer.
"É
compreensível que a OMS queira errar para o lado da cautela, mas relatar aos
japoneses sobre um risco pessoal insignificante não é de grande ajuda",
afirmou. A professora disse que o relatório usou estimativas de doses de
radiação inflacionadas, já que não levou em conta a rápida evacuação das
pessoas em Fukushima.
A OMS concluiu em
seu estudo que, para a população japonesa em geral, os riscos de saúde
previstos são muito baixos. Também fora do Japão, segundo o texto, não há
previsão de aumento de risco de saúde devido à catástrofe. (dw.de)
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