sábado, 30 de novembro de 2013

Petróleo, aquecimento global e doença holandesasal

Petróleo, aquecimento global e doença holandesa: os riscos de pré-sal
O petróleo é um combustível fóssil que foi fundamental para o crescimento econômico e populacional do mundo, nos últimos 200 anos. Porém, não é uma fonte energética renovável e vai acabar algum dia. As reservas mais lucrativas e mais fáceis de serem obtidas já foram exploradas e agora se busca campos em águas profundas, mas de alto custo de extração. Isto coloca um grande risco na operação de exploração, pois algumas fontes podem não ser lucrativas, além de apresentarem alto risco de danos para o meio ambiente.
No dia 21 de outubro de 2013, aconteceu o leilão do Campo de Libra, na Bacia de Campos, sendo o primeiro do pré-sal no Brasil. Houve apenas uma proposta, a do consórcio formado entre a Petrobras (40%), a anglo-holandesa Shell e a francesa Total (20 % cada) e as chinesas CNPC e CNOOC (10 % cada). As reservas de petróleo deste campo estão localizados na Bacia de Santos, no Oceano Atlântico, a 7.000 metros de profundidade sob a chamada camada pré-sal. Esta é a primeira área do pré-sal de petróleo e gás leiloada pelo governo brasileiro e a primeira exploração de hidrocarbonetos a ser realizada nessas profundidades e com as dificuldades geológicas.
Enquanto as Centrais Sindicais protestavam contra a “privatização” e a “desnacionalização” do petróleo, o governo comemorou os investimentos que devem entrar no país e que podem, na visão oficial, ajudar a equilibrar as finanças da semi-estatal Petrobras e, ainda, financiar a educação e a saúde. No entanto, um olhar mais atento revela diversos problemas de rentabilidade econômica e de ameaças ambientais.
Enquanto os nacionalistas reclamam, analistas consideram que grandes companhias petroleiras não participaram do leilão por causa de uma série de fatores de risco, entre os quais a dificuldade de mineração e dos riscos geológicos e ecológicos. Esta é uma experiência completamente nova de exploração de petróleo a tais profundidades que levam a uma série de incertezas e desafios jamais enfrentados. Há necessidade de aperfeiçoamento dos processos de perfuração, de canalização do fluxo de óleo e gás, aperfeiçoamento da estrutura das plataformas, assim como problemas logísticos e de estrutura produtiva de suporte. Se o custo de produção for muito alto, a lucratividade do país será baixa ou nula.
Segundo análise do Greenpeace, o modelo de partilha foi planejado para fortalecer a Petrobras, mas desde a descoberta do pré-sal, em 2007, parece que o inverso tem acontecido. A estatal petroleira se endividou ainda mais – um salto de R$ 49 bi para R$ 176 – e seu valor de mercado despencou 34%. Além disso, os cofres da Petrobras vem sendo penalizados com o congelamento dos preços da gasolina para controlar a inflação no país e para incentivar o crescimento da frota automotiva. Também o etanol já teve sua produção impactada nos últimos anos e tem se tornado progressivamente menos competitivo nos postos de abastecimento em relação a gasolina. Para Ricardo Baitelo: “Estamos hipotecando 70% de todo o nosso investimento na área de energia em um único nicho que, se malograr, prejudicará toda a capacidade produtiva do país, com graves consequências”.
Além disto, há precedentes perigosos como o acidente da Deepwater Horizon, da empresa britânica BP, que operava a 2.000 metros de profundidade no Golfo do México, mas explodiu e causou despejo de centenas de milhares de barris de petróleo que causam a maior poluição na história americana, embora antes do acidente, tudo parecia sob controle e a exploração confiável.
Todos estes dados mostram que a exploração do pré-sal não é uma operação com retornos garantidos. O fracasso da empresa OGX do ex-bilionário Eike Batista (que foi considerado o homem mais rico do Brasil e o sétimo na lista mundial de bilionários da revista Forbes) assustou os investidores internacionais e indignou os acionistas brasileiros. A dívida acumulada da OGX foi estimada em mais de 5 bilhões de dólares e o valor das ações da empresa caiu para a bagatela de sete centavos. Além da má gestão, pesou o fato de a extração dos depósitos terem sido demasiado otimistas e as dificuldades técnicas de extração terem sido subestimadas. A bancarrota da OGX de Eike Batista deveria servir de alerta para a Petrobras e o Brasil.
Há outros fatores complexos. O prêmio Nobel e ex-presidente dos EUA, Al Gore, tem alertado sobre as dificuldades de exploração dos combustíveis fósseis “não convencionais” e sobre a bolha especulativa que se forma em torno exageradas previsões de rendimentos do gás de xisto e do petróleo de águas profundas. O processo de superestimar o volume de reservas de hidrocarbonetos não convencionais decorre da necessidade dos investidores e especuladores financeiros para encontrar empresas onde investir seus capitais, o que pode repetir a situação da crise hipotecária americana, causada pela bolha imobiliária de 2007.
Mesmo que a exploração do pré-sal dê certo, o Brasil se torne um dos maiores exportadores do mundo de óleo bruto (atrás somente de Arábia Saudita, Rússia e Irã) e o país possa transformar o atual déficit energético em superávit, aumenta o risco da chamada “doença holandesa” ou a “maldição dos recursos naturais”. O Brasil pode voltar aos tempos da República Velha (1891-1930) com o seu modelo primário-exportador, mas em vez de depender do café, o país será fornecedor de soja, algodão, minério de ferro e petróleo, enquanto vai importar produtos manufaturados da China e dos Tigres Asiáticos. O pré-sal, portanto, pode levar a uma maior concentração da pauta de exportação do país em commodities, sem ser capaz de influenciar a base produtiva da indústria nacional e sem promover o avanço das ocupações mais qualificadas.
A situação econômica brasileira não é boa. Estudo do Wells Fargo Securities, de 2013, aponta o Brasil como o quinto país em desenvolvimento, entre 28 economias pesquisadas, mais vulnerável a uma crise financeira, estando na frente deste ranking somente da Colômbia, Argentina, Indonésia e Turquia. Pelo sistema da Wells Fargo, cinco variáveis econômicas estão associadas com crises financeiras: o nível de reservas internacionais na sua comparação com o Produto Interno Bruto (PIB) nominal; a valorização da taxa real de câmbio; o crescimento do crédito ao setor privado em sua porcentagem do PIB; o avanço do PIB propriamente dito; e o nível do déficit em transações correntes.
Segundo o estudo, o Brasil é vulnerável por ter registrado, nos últimos anos, crescimento rápido do crédito ao setor privado (geralmente vem acompanhado de relaxamento dos parâmetros prudenciais de empréstimos), além do aumento do déficit das contas externas. A redução do ritmo de crescimento da economia internacional e a mudança na política monetária dos EUA pode agravar a situação financeira brasileira e não há rendimento do pré-sal capaz de reverter esta situação.
Em vez de investir em energia eólica e solar e desenvolver a base produtiva nacional, os investimentos no pré-sal para explorar 80 bilhões de barris de petróleo vão gerar – pela queima de todo o óleo – cerca de 35 bilhões de toneladas de CO2 durante um prazo de 40 anos, mantendo o Brasil entre os dez maiores emissores mundiais, agravando o processo de aquecimento global e contribuindo para fenômenos extremos como o supertufão Haiyan, que devastou as Filipinas. Como disse o Greenpeace, “Para que o país consiga cumprir suas metas nacionais da Política Nacional de Mudanças Climáticas (PNMC) e os objetivos de mitigação das mudanças climáticas, o petróleo do pré-sal deveria permanecer intocado”. (ecodebate)

A encruzilhada fóssil do século 21

Mais uma vez e ainda que o assunto possa parecer maçante, vamos tratar do petróleo, ouro negro que move o mundo e cria economias e devasta sociedades. Afinal, o petróleo sempre esteve aqui durante não milhares, mas sim milhões de anos, apenas não sabíamos ou não tínhamos utilidade prática para ele. Já foi uma importante arma de guerra chamada Fogo Grego, mas era colhido na superfície da terra e assim mesmo era misturado com outros componentes químicos pelos extraordinários alquimistas da antiguidade.
A verdade de tudo isto é que o petróleo é essencial para a sobrevivência da humanidade nos dias atuais, assim como uma droga que é já que somos dela dependentes, nos vicia no seu uso indiscriminado. Se remontarmos ao inicio do Séc. XX, poderemos observar alguns aspectos curiosos do desenvolvimento humano através dos tempos. Alguns filmes interessantes sobre como essas alterações mudaram fronteiras, países e sociedades são “Laurence da Arábia” e “O Príncipe do Deserto”, este último mais recente, mas mostra de forma muito clara a transição do mundo tradicional árabe para o ocidental econômico.
A grosso modo, podemos dizer que os árabes na sua maioria viviam da areia do deserto, extremamente pobres por não terem meios mais efetivos de subsistência devido ás condições geográficas e climáticas onde se encontram. Na maior parte destes países reinava a miséria absoluta até que as grandes companhias de petróleo, mais precisamente a TEXACO (Texas Company), descobriram que ali existia o ouro negro de alta qualidade, quase tão refinado que não precisaria ser destilado. Isso fez e faz com que aquelas economias prosperassem a olhos vistos, e alguns países atentaram para investir em tecnologia e turismo como a Arábia Saudita, Kwait, Omã e outros. Dubai é um excelente exemplo de investimento no setor de turismo. Alguns se tornaram mais belicistas, Irã, Iraque, Jordânia, etc…
Neste caso, estas nações são obrigadas a viver do petróleo até que criem alternativas sustentáveis, por não terem outras riquezas que possam explorar. Aqueles que durante os períodos de exploração não tiverem a visão de que precisam criar novos segmentos de exploração quando o ouro negro acabar estarão fadados ao fracasso, á fome, guerras e tudo o mais que a miséria atrai.
Faço um comparativo com a localidade onde moro para chegar ao cerne da questão que aqui coloco para debate que é o seguinte: existem vários comércios ao meu redor, num primeiro momento todos vendem basicamente as mesmas coisas e possuem os mesmos fornecedores variando uma ou outra coisa não muito significativa. Ainda que todos tenham os mesmos produtos e façam um equilibro de forças quanto aos preços, procuro dividir a minha renda entre eles, ou seja, compro água num, gás em outro, pão num terceiro, ração num quarto e assim por diante. Desta forma procuro manter o comercio ativo e competitivo, não gerando um desequilíbrio comercial que leve este ou outro à falência do seu negócio.
Na indústria do petróleo é a mesma coisa, existe o bloco da OPEP que são os países produtores de petróleo dos quais na América do Sul apenas a Venezuela e o Equador fazem parte de um total de 13 membros. E existem os demais países que produzem petróleo, alguns de alta qualidade e outros de tão baixa qualidade que muitas vezes nem compensa extrai-lo. O Brasil ficou muito tempo nesta última posição com um petróleo pesado e extremamente caro para minerar, sendo forçado a comprar compulsivamente petróleo no exterior, ainda que tivesse reservas consideráveis. Hoje somos autossuficientes nesse produto, mas nem por isso temos os derivados de petróleo mais baratos em função dessa autonomia, pelo contrário pagamos senão o mais caro preço pelo produto o valor mais aproximado.
Com isso chegamos numa encruzilhada econômica. Dubai cidade do emirado com o mesmo nome e que constrói verdadeiras maravilhas turísticas com o dinheiro do petróleo (estima-se que 25% de toda a mão de obra da construção civil estão concentradas lá) tem picos de desenvolvimento da seguinte forma: Quando o barril de petróleo está num patamar favorável, com preço atraente, o país investe em infraestrutura e cresce no sentido de fazer do turismo uma nova fonte econômica, porém quando o valor do barril não é favorecedor, em baixa, todas as obras param por tempo indeterminado, ficando assim á mercê do mercado flutuante do valor do barril de petróleo.
Como em qualquer equação econômica, estes países são regidos pela lei da oferta e da procura e contam com isso para o seu desenvolvimento. Quando escasseamos um produto essencial do mercado, os valores tendem a subir e se tornar até inalcançáveis. O mesmo acontece quando injetamos uma grande quantidade de produtos do mesmo segmento nesse mesmo mercado, o valor fica tão baixo por conta da excessiva demanda, que muitas vezes chega a perder o valor financeiro. O petróleo também é assim, se houver uma demanda excessiva da produção a nível mundial, estaremos condenando algumas nações à pobreza, talvez algumas à pobreza extrema, por estarmos reduzindo seus principais produtos a pó, se é que podemos chamar assim. Ninguém em sã consciência quer uma maior discórdia futura no mundo árabe além da já existente.
O mundo em que vivemos é muito volátil e de difícil equilíbrio, é preciso termos cuidado com o que desejamos e com aquilo que podemos e temos capacidade de fazer. A exploração indiscriminada de qualquer tipo de riqueza ou reservas naturais traz o caos e desequilibra a aparente paz mundial. Mesmo com tanta riqueza que os países produtores de petróleo possuem, ainda assim a pobreza e a miséria persistem ficando evidente que não é a solução para todos os males. Talvez nem esteja perto!
Volto a comentar que: independente das riquezas naturais que possuímos precisamos de alternativas a elas. Se tivermos petróleo para mais 200 anos não pode significar que precisamos ficar presos ás tecnologias inerentes a esse produto. Se precisarmos travar infinitas guerras para desta forma podermos desenvolver novos medicamentos e similares, acabaremos por nos extinguirmos na tentativa de achar as soluções. A solução sempre estará no Plano B, antes que o Plano A chegue ao fim! (ecodebate)

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Smart grid vale a pena onde há altas perdas

Investir em smart grid vale a pena onde há perdas elevadas
Levantamento da Abradee aporta que, na média, aportes em redes inteligentes no Brasil traria VPL negativo para as concessionárias de distribuição.
O atual cenário de redes inteligentes no Brasil não passar de projetos pilotos é um reflexo do atual modelo regulatório que foca na modicidade tarifária e esquece a qualidade da energia. Um estudo feito pela Associação Brasileira de Distribuidoras de Energia Elétrica apontou que atualmente, na média, não vale a pena o investimento em smart grid para as distribuidoras.
O presidente da Abradee, Nelson Fonseca Leite, disse que falta um arcabouço regulatório ao Brasil que inclua um plano nacional de redes inteligentes, assim como os Estados Unidos fizeram. Segundo as contas da entidade em uma simulação em três cenários diferentes de nível de investimentos totais no país - de R$ 46 bilhões, R$ 65 bilhões e R$ 91 bilhões - o valor presente líquido (VPL) desse projeto no Brasil levaria a um resultado negativo para as concessionárias, ou seja, as empresas teriam prejuízo com a adoção do smart grid com as regras atuais.
"Se o Brasil fosse uma distribuidora única e tivesse que fazer a conta vemos que o VPL é negativo", definiu o executivo. Contudo, afirma que cada concessionária deve fazer as contas para sua realidade.
"Não podemos generalizar, há locais onde se pode ter ganhos com o smart grid. Somente onde há perdas elevadas é que os ganhos com a redução dessas perdas podem compensar os investimentos realizados. Portanto, cada empresa tem que fazer a sua conta para se certificar de que vale a pena investir", afirmou o executivo após sua apresentação no Smart Grid Forum, evento realizado em São Paulo em 26/11/13.
Esse levantamento considerou um projeto por um período de tempo de 15 anos de depreciação, já descontando o tempo de implantação da rede. Apesar desse resultado, o presidente da Abradee destacou que esse não se trata apenas de um problema econômico apenas, depende ainda de ajustes regulatórios e tecnológicos. Mas, no final há um incremento tarifário que resulta desses aportes.
O principal fator, no entanto, reconhece ele, está na parte que cabe ao regulador. Algumas iniciativas que poderiam reverter o cenário e incentivar o crescimento dos projetos de redes inteligentes estão no reconhecimento dos investimentos em smart grid e na definição do prazo adequado para a captura desses investimentos. Outro ponto a ser alterado é a depreciação dos equipamentos que deve ser mais acelerada do que o considerado para fios, postes e outros ativos.
Outro ponto nevrálgico está na remuneração dos investimentos que não poderiam ser a cada cinco anos no caso de concessões renovadas. Deveria haver a possibilidade da recuperação desses recursos em um período entre as revisões tarifárias.
Em sua análise, já que a o governo privilegia a modicidade tarifária, a adoção de políticas públicas para o incentivo em redes inteligentes por meio da desoneração dos investimentos poderiam ser uma alternativa viável para minimizar o impacto sobre as tarifas. Ele lembrou ainda que metade do valor da conta de energia ainda é composto por impostos e tributos. (canalenergia)

terça-feira, 26 de novembro de 2013

26 casos de câncer em Fukushima

Detectados 26 casos de câncer em crianças de Fukushima
Exames médicos detectaram 26 casos de crianças com câncer de tireoide na cidade de Fukushima.
Equipe durante inspeção na central nuclear de Fukushima: ainda é cedo para saber se casos estão relacionados com a crise nuclear.
Os últimos exames médicos detectaram 26 casos de crianças com câncer de tireoide na cidade de Fukushima, embora seja cedo para saber se estão relacionados com a crise nuclear.
O comitê encarregado de realizar os testes regulares em Fukushima analisou desde outubro de 2011 até o momento cerca de 226 mil moradores na região, segundo informou em 14/11/13 o jornal "Japan Times".
Além dos casos de câncer de tireoide já diagnosticados, outros 32 menores de idade da cidade apresentaram sintomas da doença.
O número é superior ao apresentado em agosto, quando o estudo detectou até 18 casos de crianças diagnosticadas com a doença e outros 25 suspeitos de padecê-la.
Um grupo de especialistas locais disse que é breve demais para assinalar que estes casos estão ligados à catástrofe nuclear, visto que o câncer papilar da tireoide se desenvolve com "grande lentidão".
O iodo radioativo tende a se acumular nas glândulas tireoides causando câncer e afeta especialmente crianças pequenas.
O número de crianças afetadas por câncer de tireoide entre os 10 e 14 anos em Fukushima é consideravelmente maior que o da média do país, embora estes dados não sejam facilmente comparáveis porque não foi feito nenhum estudo tão exaustivo em outras áreas do Japão.
Após o desastre de Chernobyl foram diagnosticados mais de 6.000 casos de crianças com câncer da tireoide, atribuído principalmente ao consumo de leite contaminado, de acordo com o Comitê Científico das Nações Unidas.
Fukushima ampliará o número de pessoas que participarão do próximo estudo, que será realizado em abril do ano que vem a fim de examinar a saúde das pessoas nascidas depois do tsunami do dia 11 de março de 2011. (exame)

Dona da usina de Fukushima cortará empregos

Dona da usina de Fukushima planeja cortar mil empregos
Tokyo Electric Power vai adotar novo plano de negócios que inclui a adoção de aposentadorias voluntárias.

Vista aérea da Usina de Fukushima: acidente aconteceu em março de 2011
A empresa Tokyo Electric Power (TEPCO), operadora da acidentada usina nuclear de Fukushima, planeja cortar mil postos de trabalho ao longo do próximo ano por meio de aposentadorias voluntárias, informou neste sábado o jornal 'Nikkei'.
Segundo o jornal, a medida faz parte do novo plano de negócio que a TEPCO e o governo japonês fecharão no final de ano e está orientada a reduzir despesas frente a um aumento das ajudas públicas que a operadora receberá para os trabalhos de descontaminação.
A central, que foi castigada por um tsunami em março de 2011, é objeto de um longo e custoso processo de limpeza e descontaminação e agora o governo se propõe a empregar mais dinheiro público para ajudar a operadora neste trabalho.
Neste sentido, os responsáveis pelos maiores empréstimos a TEPCO, a maior elétrica do Japão e a terceira do mundo, solicitaram um novo plano de negócio mais adequado à situação financeira da operadora, segundo o 'Nikkei'.
De acordo com no novo esquema de negócio, as operações de desmantelamento serão realizadas de uma unidade independente dentro da empresa energética a partir de 2014 e calcula-se que entre 1.000 e 1.500 trabalhadores se submeterão às baixas voluntárias.
O atual plano da elétrica era reduzir sua força de trabalho em 3.600 trabalhadores por meio das baixas e uma política de redução de contratações ao longo do ano fiscal 2013.
Após o acidente nuclear de Fukushima, o pior da história junto com o do Chernobyl em 1987, a operadora foi praticamente nacionalizada e recebe ajudas do governo japonês principalmente para o pagamento de indenizações. (exame)

Fukushima tem vazamento de água radioativa

Fukushima tem novo vazamento de água radioativa
Problemas provocados pela água radioativa e as perdas recorrentes dos depósitos preocupam a comunidade internacional.
Inspetores em Fukushima: novo vazamento foi detectado.
Um novo vazamento em um depósito de água radioativa foi detectado nesta sexta-feira na central nuclear de Fukushima,  gravemente danificada pelo tsunami de março de 2011, anunciou a Tepco, empresa que opera o local.
O vazamento foi detectado às 8h50 de 14/11/13 (21h50 de Brasília), anunciou a empresa.
"Caía uma gota a cada quatro segundos", informou a Tepco.
Uma medida efetuada a 50 cm do ponto de queda da água revelou uma radioatividade de 30 milisieverts por hora, segundo um comunicado.
O nível é considerado elevado, mas constituído sobretudo de raios beta, dos quais os trabalhadores podem proteger-se facilmente, explicou a empresa.
A perda acontece a uma altura de 2,5 metros, na parte inferior de um imenso depósito cilíndrico de placas de aço.
Em agosto, quase 300 toneladas de água radioativa vazaram de um tanque similar, em um incidente considerado "grave" pela Autoridade de Regulamentação Nuclear.
Os depósitos, alguns deles com 11 metros de altura por 12 de diâmetro, foram instalados de forma precipitada para conter as centenas de milhares de toneladas de água contaminada da central nuclear danificada no tsunami de março de 2011.
A Tepco pretende substituir os depósitos por outros modelos mais seguro e com maior capacidade em 2016.
Os problemas provocados pela água radioativa e as perdas recorrentes dos depósitos preocupam a comunidade internacional, já que parte do líquido contaminado chega ao Oceano Pacífico. (exame)

Central de Fukushima causa morte todo dia

Acidente nuclear na central de Fukushima causa uma morte por dia, segundo pesquisador japonês
Uma pessoa morre por dia em decorrência do acidente nuclear na central de Fukushima, no Japão, especialmente devido aos efeitos psicológicos e físicos, informou em 28/10/13 o ex-presidente do Comitê de Investigação do Acidente na Usina de Fukushima Yotaro Hatamura. Segundo ele, 180 pessoas morreram nos últimos seis meses devido ao acidente de março de 2011.
Para o ex-presidente do comitê japonês, também pesquisador e professor universitário, a crise nuclear no país tem causado estresse, ansiedade e perturbações psicológicas, que, em muitos casos, são piores do que um dano físico. Outro impacto que, de acordo com ele, afeta muito a população, é a retirada das famílias de suas casas, o que gera mudanças repentinas. Estima-se que mais de 150 mil pessoas tenham sido removidas.
“Não se sabe quando parará de morrer gente, tampouco todos os efeitos que o acidente terá na saúde das pessoas” disse Hatamura. Ele acredita que as autoridades japonesas têm se concentrado mais em trabalhar dentro da central do que para resolver as consequências que o acidente teve fora da área diretamente atingida.
O relatório do Comitê de Investigação foi presidido por Hatamura e determinou que a central nuclear não tinha planos de emergência e não estava preparada para reagir a um acidente da magnitude do que ocorreu. De acordo com o ex-presidente do comitê, a má gestão do acidente é uma das causas da contaminação continuada. Recentemente, a passagem de um tufão pela região, no Nordeste do país, causou vazamentos nos tanques de contenção de água contaminada. Houve suspeita de que o solo teria sido contaminado.
Em março de 2011, um terremoto seguido de tsunami atingiu o Japão, causando explosões e vazamentos na região da usina. Áreas inteiras precisaram ser esvaziadas, produtos da região foram proibidos para comercialização e o governo manteve o alerta. Na época do tsunami e do terremoto, o sistema de resfriamento dos reatores foi paralisado, fazendo com que três deles derretessem. Atualmente, o maior desafio da empresa Tokyo Electric Power (Tepco) é armazenar a grande quantidade de água usada para resfriar os reatores, que com certa frequência vaza e deságua no Oceano Pacífico. (EcoDebate)

domingo, 24 de novembro de 2013

Destruição de um povo único e da floresta

Guiana: Projeto hidrelérico levaria à destruição de um povo único e vastas extenções de floresta
Relatório expõe como uma barragem ameaçará o ‘Mundo Perdido’
Os Akawaio e Arekuna pescam no rio Mazaruni e seus afluentes. A barragem inundaria as terras das tribos e destruiria para sempre uma área famosa pela sua paisagem e biodiversidade.
Planos de construir uma gigante hidrelétrica nas terras de duas tribos na Guiana levariam à destruição de um povo único e vastas extensões de floresta tropical, como revelado por um novo relatório.
O relatório ‘Escavado, secado ou inundado?, escrito pela antropóloga Dr Audrey Butt Colson e publicado pela Survival International, revela que o governo guianense pretende avançar com uma ou mais barragens no rio Alto Mazaruni o que inundaria a terra do povo indígena Akawaio e de uma comunidade Arekuna.
O governo da Guiana tem encoberto o projeto em segredo. Ele foi arquivado inicialmente nos anos 70 após financiadores, incluindo o Banco Mundial, terem se retirado depois de uma campanha dos Akawaio e da Survival International.
O governo não obteve o consentimento livre, prévio e informado dos povos indígenas, conforme exigido pelo direito internacional, e as tribos expressaram a sua oposição vocal ao projeto. A barragem tornaria os Akawaio e os Arekuna em refugiados e destruiria uma área conhecida pela sua magnífica paisagem, biodiversidade e interesse científico, e famosa graças ao livro de Arthur Conan Doyle, ‘O Mundo Perdido’.
As comunidades do Alto Mazarumi, declararam, ‘No passado, os nossos avôs não aceitaram o hidro-projeto. Os netos compartilhamos a mesma opinião, e dizemos NÃO ao ‘Projeto Kurupung’ [antes conhecido como barragem do Alto Mazaruni]’.
Vista do local da barragem hidrelétrica no rio Mazaruni. Todas as áreas seriam inundadas, exceto as mais altas. © Audrey Butt Colson
Jean La Rose da Associação dos Povos Ameríndios no Guiana disse, ‘Entendemos que o país precisa se desenvolver em um mundo que está mudando, mas isso não deve vir ao custo de nossas vidas, como um povo. A terra é a fonte de vida que nos sustenta e terá de sustentar nossas futuras gerações. Nossa cultura, história e identidade distinta como os primeiros povos desta nação, que são dependentes de nosso meio ambiente para a sobrevivência, devem ser respeitadas. Os princípios de consentimento livre, prévio e informado devem ser implementados em todos os níveis por parte do Estado em todos os projetos e programas que terão impactos econômicos e culturais sobre nós como povos indígenas.’
Os Akawaio afirmaram, ‘Essa terra nos mantém juntos às montanhas – chegamos a compreender que não somos somente algumas pessoas ou aldeias separadas, mas um povo que pertence a uma pátria.’
É provável que empresas brasileiras do ramo da construção envolvidas na controversa represa de Belo Monte, construirão a barragem, que forneceria energia para as indústrias de mineração da Guiana e do Brasil.
Os Akawaio têm instado o governo da Guiana por vários anos a reconhecer os seus direitos de terras coletivas, uma vez que um crescente número de garimpeiros guianenses e brasileiros tem invadido o seu território. Em 1998, eles levaram um caso à Alta Corte da Guiana, porém 15 anos se passaram, e a corte não chegou a nenhuma conclusão, após atrasos.
O Diretor da Survival International, Stephen Corry, disse hoje, ‘A Guiana está usando a sua ‘Estratégia de Desenvolvimento de Baixo-Carbono’ como um trunfo, todavia, isso não justifica a sua desapropriação cruel das florestas desses povos indígenas. Essa terra pertence aos Akawaio e os seus vizinhos os Arekuna. Esse projeto não é ‘progresso’: é roubo, puro e simples. A história demonstra que quando a terra de povos tribais é roubada, eles são deixados totalmente desamparados, isso é, se eles sobreviverem. Não se enganem sobre isso – esse projeto destruirá a tribo Akawaio.’
Notas:
- Os Akawaio e os Arekuna totalizam ao redor de 10,000 indivíduos [estimativa conservadora] e vivem na floresta das Montanhas Pakaraima na Guiana, perto do Monte Roraima, desde tempos imemoriais. Eles têm roças florestais, onde crescem frutas e vegetais, e pescam no rio Mazaruni e seus afluentes. Coletivamente, eles se chamam de A’murugok ou ’Povo das Cabeceiras’.
- As Montanhas Pakaraima e as pastagens adjacentes na Guiana, Brasil e Venezuela, são as partes mais altas do Escudo das Guianas e contêm recursos de rios que desaguam nos rios Amazonas, Essequibo e Orinoco, os três grandes rios do norte da América do Sul. A região se destaca mundialmente pela sensibilidade do seu clima e pela sua biodiversidade. O governo da Guiana está designando essa área a uma série de projetos hidrelétricos e de mineração. (ecodebate)


A expansão hidrelétrica e o modelo de desenvolvimento

Conforme os dados anunciados pelo governo no final do ano passado, a meta é construir 34 hidrelétricas na próxima década.
Atingido pelos projetos de hidrelétricas no Rio Tapajós
Conforme o “Plano Decenal de Expansão de Energia 2021”, o Governo prevê a construção de 34 hidrelétricas nos próximos 10 anos, sendo que 15 serão nos rios da Amazônia (86,5% da potência). Seguindo a atual política de tratamento, milhares de famílias serão expulsas sem receber seus direitos.
Desde a falta de abastecimento de energia elétrica em 2001, conhecida como “apagão”, houve um esforço crescente de convencer a população da necessidade de construção de hidrelétricas para suprir o consumo.
Entre 2004 e 2012, o potencial hidrelétrico instalado subiu de 90 GW para 120 GW, um crescimento de 30% na geração de energia. Conforme os dados anunciados pelo governo no final do ano passado, a meta é construir 34 hidrelétricas na próxima década.
Atualmente, 15 usinas hidrelétricas (UHEs) se encontram em construção no país, somando cerca de 22.00 MW de potência. Outras 19 UHEs, que somam 19.700 MW, estão na lista para serem leiloadas.
Também serão construídas dezenas de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), usinas hidrelétricas de pequeno porte, que poderão acrescentar mais 2.500 MW de potência até o ano de 2021. Além disso, outras 29 UHEs, com potencial de 8.900 MW, estão em “estudo de viabilidade” e também poderão entrar nos planos de leilões.
Entretanto, diversos especialistas, organizações e movimentos sociais ligados à energia contestam essa política de geração voltada para atender os interesses dos grandes consumidores eletrointensivos, exportadores de produtos de matéria prima.
Em 2009, segundo o professor da USP, Célio Bermann, cerca de 30% da energia elétrica produzida no país foi consumida por seis ramos de grandes consumidores industriais – cimento, ferro-gusa e aço (siderurgia), ferro ligas, não ferrosos (alumínio), química, papel e celulose.
São produtos que se utilizam de muita energia, geram um grande impacto social e ambiental, não agregam valor e são destinados à exportação.
O questionamento fundamental sobre as usinas tem sido “para que? e para quem?”. Já que, na atual forma de organização da política energética percebe-se que por trás estão grandes empresas mundiais de máquinas e equipamentos, construtoras, empresas de energia e grandes consumidores industriais eletrointensivos, que lucram com a construção das usinas, com a venda da energia e com a exportação de eletrointensivos.
População atingida poderá chegar a 250 mil
O governo estima que apenas 62 mil pessoas serão diretamente afetadas pela totalidade dos projetos, mas estes dados são contestáveis. Somente em duas hidrelétricas que fazem parte destes planos, nas usinas de Belo Monte e no projeto de Marabá, são mais de 60 mil pessoas atingidas.
O próprio governo, até hoje, não possui nenhum cadastro ou levantamento preciso do número da população atingida por todas estas usinas. Nas já construídas, a realidade mostra que o número real de atingidos chega a ser quatro vezes maior da estimativa do governo.
Essas práticas tem sido constantes e serve para a negação dos direitos dos atingidos pelas empresas. A ausência de informações mais precisas por parte do governo sobre as populações que serão vítimas das usinas é a primeira demonstração das violações de direitos que ali serão cometidos posteriormente.
Área alagada
A área alagada pelos novos projetos está estimada em 6.456 Km², ou seja, 645 mil hectares. A área é 10% maior que todo território do Distrito Federal. No entanto, este cálculo pode estar subdimensionado.
Com a crise econômica mundial, na busca por maiores lucros, as corporações transnacionais estão se movimentando para retomar a construção de usinas com grande lagos, as chamadas “usinas de acumulação”. Se o governo ceder ao lobby dos empresários, os problemas sociais e ambientais se multiplicarão. (ecodebate)

Energia hidrica: Nem tão limpa, nem tão barata

Reportagem cinematográfica produzida nas hidrelétricas do Uruguai questiona custos reais da energia hidrelétrica.
“A população brasileira precisa estar informada de que a energia limpa e barata de hidrelétricas não existe”, alerta o professor da USP Célio Bermann. Percorremos os caminhos do rio Uruguai, divisa dos Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, para apurar a questão. O resultado desse trabalho é a reportagem cinematográfica “Barragem”, que você assiste no link abaixo.
A maior bacia hidrográfica da Região Sul do Brasil está cravejada de usinas hidrelétricas. O que era um complexo sistema de rios em corredeiras, hoje é uma sequência, quase que contínua, de lagos largos e profundos. E justamente nos últimos trechos em território nacional que ainda preservam características originais do ambiente, o governo federal quer autorizar a instalação de novos empreendimentos. Para isso não mede consequências, e passa por cima de direitos sociais, econômicos e ambientais.
Sempre com a posição de que se trata de um recurso natural sustentável, o planejamento das concessões de geração de energia são decididos pelo conceito daquela que consegue vender a tarifa pelo menor preço.”E se chega no menor preço pelo custo do investimento, a energia que cada fonte produz e o custo do dinheiro que tu pegas para realizar o projeto”, prega Ronaldo Custódio, diretor de Engenharia e Operação da Eletrosul, ao defender as hidrelétricas como a que melhor responde a essas exigências.
Acontece que um rio não é uma calha, um dreno, mas um organismo conectado por um sistema de fluxos à montante e à jusante. Para o coordenador do estudo de impacto integrado da Bacia do Rio Uruguai (FRAG/Rio), Rafael Cruz, a primeira pergunta ao se pensar em barrar um rio é qual a capacidade de suporte para usinas hidrelétricas. “Quando se faz a contabilidade tradicional de uma usina hidrelétrica, e não se verifica a fragilidade do rio devido aos impactos ambientais, pode parecer limpa”, critica.
Observando os locais das usinas, conversando com as populações atingidas, questionando as empresas, consultando especialistas e apurando os dados disponíveis, nossa equipe procurou investigar como são tratadas essas “externalidades” que fogem do foco da política energética quando se fazem as tomadas de decisões. (EcoDebate)

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O carro do futuro I: alternativas e desafios

Hoje há uma grande discussão de como será o carro do futuro em diversos aspectos (desenho, funcionalidades, tecnologias, usos…) e certamente esta indústria impactará fortemente no futuro do mercado energético. Atualmente cerca de 20% da demanda mundial de energia advém do setor de transporte, como mais de 90% desta demanda ainda é concentrada em derivados de petróleo, significa que cerca de 60% do consumo de petróleo mundial depende do setor de transporte. Rapidamente, podemos imaginar o que ocorreria com o mercado de petróleo mundial caso alguma tecnologia substituta realmente consiga deslocar os combustíveis derivados do petróleo.
A distância que estamos deste futuro é uma questão que vale certamente muito mais que um milhão de dólares. Contudo, o que se pode observar é um forte movimento de desenvolvimento de diversas tecnologias alternativas. Algumas destas tecnologias podem se complementar, mas certamente haverá (e já está presente) uma disputa entre as tecnologias por participação no mercado. Por outro lado, os carros baseados em gasolina e diesel buscam inovações para o aumento de eficiência dificultando assim a sua superação. Será que não haverá um carro do futuro, mas sim conjunto de possibilidades? Será que a matriz de combustíveis será diversificada e heterogênea como a matriz elétrica?
Logo, desculpem-nos os grandes amantes das tecnologias automotivas, mas ao contrário do que o título pode levar a crer, não analisaremos a possibilidade de ter os nossos carros dirigidos pelos softwares do Google ou se em breve entraremos voando em um dos carros dos Jetsons. Este é o primeiro de uma série de textos que objetiva discutir o desenvolvimento de combustíveis lternativos. Mais precisamente, a interação entre a indústria da energia (mercado, regulação e política), a indústria do transporte (considerando aspectos da mobilidade urbana) e a promoção de novos combustíveis.
Este artigo introdutório a série objetiva chamar a atenção para a necessidade de trata o tema de maneira sistemática. Diversos temas relacionados aos combustíveis alternativos (etanol, biodiesel, veículos elétricos, gás natural veicular, células de hidrogeno) foram já tratados em artigos acadêmicos, por órgãos governamentais e mesmo neste blog, embora que isoladamente. A perspectiva que adotaremos aqui, no entanto, objetiva a busca de uma estrutura e de elementos chaves no tratamento das diversas alternativas para o carro do futuro. Tentaremos seguir o conselho de aquela lenda indiana dos cegos palpando parte de um elefante: o cego que palpava a trompa falava que era flexível como uma mangueira, mais o que palpava uma perna achava que era como um poste. Todas aquelas experiências eram verdade, embora que aparentemente contraditórias. Da mesma maneira, tentaremos nesta série combinar diversas experiências para tentar imaginar todo o elefante.
Definição preliminar de combustíveis alternativos
Há uma ampla gama de produtos que são frequentemente tratados como combustíveis alternativos: desde tecnologias hibridas (que aumentam a eficiência dos combustíveis derivados do petróleo) a tecnologias baseadas em células de hidrogênio (ainda sob desenvolvimento do ponto de vista comercial). Abaixo segue uma breve apresentação dos combustíveis alternativos em discussão.
Tabela 1: Sumário dos combustíveis alternativos considerados
Veículos elétricos - Veículos elétricos são aqueles que possuem baterias elétricas e são capazes de recarregar estas baterias através de acesso a rede elétrica (plug-in). A transferência na energia da rede de distribuição para as baterias dos carros necessita, no entanto, de infraestruturas e coordenação específica para garantir o bom funcionamento do sistema. Note que os veículos podem ser flexíveis, i.e., permitir o uso da bateria elétrica e do combustível tradicional ou serem completamente elétricos.
Células de hidrogênio - As células de hidrogênio são usadas para a produção elétrica, já dentro do veículo. As células convertem a energia química do hidrogênio em eletricidade. Para tanto seria necessário infra-estrutura de produção, distribuição e armazenagem de hidrogênio. Um dos principais problemas do hidrogênio é sua armazenagem no veículo, que não é segura se mantida pressão e temperatura ambiente.
Biodiesel - O biodiesel é um combustível renovável que pode ser fabricado a partir de óleos vegetais, gorduras animais e através da reciclagem de gorduras utilizadas. O biodiesel quando usado diretamente (sem misturar com outros combustíveis) é chamado de B100. No entanto, atualmente o mais frequente é o uso do biodiesel misturado aos derivados do petróleo como o tradicional diesel.
Etanol - Etanol é o combustível obtido da fermentação de açucares. Novas tecnologias têm permitido a produção de etanol através da celulose. Assim como o biodiesel, o etanol pode ser usado como único combustível ou misturado em derivados do petróleo (como a gasolina).
Gás Natural Veicular (GNV) - O GNV é uma mistura de hidrocarbonetos leves que, à temperatura e pressão atmosférica, permanece em estado gasoso. Ele é constituído predominantemente por metano.
Note que os diferentes combustíveis estão em distintos níveis de desenvolvimento tecnológicos e de introdução comercial. Todos eles, no entanto, são alvos investimentos privados e de políticas seja para introdução massiva, seja como parte de projetos pilotos. Todas as tecnologias possuem, assim, certa maturidade, mesmo que ainda estejam sujeitas a pesquisa e desenvolvimento.
Motivações à busca do combustível alternativo - Pode-se de destacar três grandes motivações para a corrida dos países por uma tecnologia alternativa: questões ambientais (como a emissão de gases de efeito estufa), a característica esgotável do petróleo e a concentração em algumas áreas geográficas das reservas de petróleo (o que dependência de muitos países da importação deste recurso).
Preço do petróleo, mais precisamente a perspectiva do preço, do petróleo é muitas vezes apontada como variável chave para o desenvolvimento de alternativas a este combustível. O preço do combustível tradicional, certamente é a variável que está observando os investidores e muitos policy makers, contudo, pode-se compreender está análise como consequência das reservas de petróleo (e expectativa de produção) por um lado, o que está intimamente ligado com o caráter esgotável do produto. Por outro lado, as análises de preços, também consideram a estrutura de mercado, o que está relacionado com a concentração geográfica do mesmo.
De acordo com a Agência Internacional da Energia, o setor de transporte é o segundo maior emissor de CO2 (21%), seguido pelo setor elétrico (41%). Dentro do setor de transporte, o rodoviário é o maior emissor de CO2. Neste sentido, qualquer política seriamente comprometida a reduzir a emissão de gases de efeito estufa passará pela adoção de combustíveis alternativos. Ademais, as questões ambientais vão além das políticas relacionadas ao efeito estufa, grande parte dos problemas relacionados à qualidade do ar em metrópoles se deve também às emissões dos automóveis.
Enquanto, o efeito estufa é um problema mundial, cujas externalidades não se restringem geograficamente, a qualidade do ar possuem efeitos na saúde da população local. As políticas de melhora da qualidade do ar, por serem mais localizadas que as políticas em relação à emissão de CO2 tendem a serem mais efetivas, pelos menos países mais desenvolvidos.
Somando a estas motivações, vale notar que, visto que a corrida por inovações em marcha a própria disputa pela fronteira tecnológica também se tornou um motor importante para as inovações no setor.
Inexistência de uma trajetória tecnológica definida - A inexistência de uma trajetória tecnológica definida pode ser observada pela heterogeneidade de tecnologias adotadas nos países e das políticas de incentivos. As varáveis que levam e que deveriam levar a adoção ou preferência de uma tecnologia em detrimento de outras é objeto de estudo dos autores. Assim como quais as consequências destas escolhas.
Em uma primeira breve observação pode-se perceber que as tecnologias têm diferentes penetrações nos países, e que com isto a composição da matriz de combustíveis dos países começa a se diversificar. Esta diversificação tecnológica permite a competição entre as diferentes opções, o que por um lado incentiva as inovações e disputa pela posição de tecnologia predominante, contudo, por outro lado, este efeito leva uma ausência de standard tecnológico e diminui a escala de produção, como consequência prejudica o desenvolvimento de algumas tecnologias que necessitam de escala.
Breve comparação entre os principais usuário de cada tecnologia - O uso do gás natural veicular (GNV) é especialmente concentrado na Ásia e na América Latina, o gráfico 1 mostra porcentagem de carros de GNV que cada país possui em relação ao total de carros de GNV no mundo. Foram selecionados todos os países que possuíam pelo menos 1% do total de carros GNV no mercado mundial. Na Europa, a Itália é país que vem apostando mais no GNV, chegou a ultrapassar de 20% das vendas de carros novos em 2009 (Campetrini e Mock, 2011).
Os Estados Unidos, com a diminuição do preço do gás natural pode aumentar em breve sua participação no mercado de GNV.
Ao contrário dos Estados Unidos, o mercado de GNV no Brasil (que ainda é um dos mais importantes no mundo) vem sendo impactado negativamente pelos preços desde 2008. O Brasil, que apresentou um expressivo crescimento do uso o GNV entre 1997 e 2007, observou uma retração na demanda do combustível desde então. Diversos fatores devem ser considerados, mas certamente o aumento do preço do combustível é um dos fatores centrais. Note que a análise do impacto dos preços do gás natural na demanda deve levar em consideração o preço dos combustíveis substitutos, que no Brasil deve incluir principalmente a gasolina e o etanol.
Gráfico 1: % quantidade de carros GNV por país em relação ao total mundial (2011)
No que se refere a rede de abastecimento de GNV, critério importante para pensarmos a inserção do combustível, observa-se no gráfico 2 uma alteração da importância dos países. Contudo, sabemos que o número de postos é afetado pelo tamanho país. Países como Estados Unidos, por exemplo, ganham uma grande importância se não consideramos o seu tamanho.
Gráfico 2: quantidade de estação de abastecimento de GNV por país em relação ao total mundial (2011) 
A fim de tentar amenizar os efeitos do tamanho do país, o gráfico 3 mostra, quantos Km2 por posto de GNV para os 10 países com maior número de postos de GNV no mundo. Percebemos que aparece então o efeito tamanho, países como Brasil, Estados Unidos, Índia e China apresentam muito menor densidade de postos de GNV. Isto provavelmente se deve pela penetração heterogênea do combustível em diferentes áreas do país, como observamos no Brasil. Considerando o efeito área do país, a Itália, o Paquistão e Alemanha ganham importância.
Gráfica: Área (Km2) do país por quantidade de posto de GNV (2011)
 
No que se refere aos carros elétricos à distribuição mundial ganha contornos muito distintos. A maior porcentagem de carro elétrico esta localizado nos Estados Unidos, assim como o maior número de carregadores não residenciais. O segundo maior estoque de carros elétricos está localizada no Japão, contudo, observa-se que a importância dos carregadores é inferior ao da China. Na Europa, a França é o país com maior estoque de carros, mas o número de carregadores não residenciais é inferior ao da Alemanha.
Se por um lado, o estoque de carros elétricos indica a importância do país no desenvolvimento desta tecnologia, por outro o número de postos de recarga não residencial é um indicador do desenvolvimento da infra-estrutura que permite a inserção da mesma. Note que, para termos um indicador mais preciso da infra-estrutura, assim como no caso dos postos de abastecimento de gás natural, o número de postos de recarga deveria ser ponderado pela área e densidade populacional. Estudos mais detalhados neste sentido devem ser realizados.
Gráfico 4: Participação dos países no estoque de carro elétrico mundial e  número de postos de recarga: dados para os 10 países com maior participação na Iniciativa de veículos elétricos (2012)
A participação Brasileira no mercado e carro elétrico, apesar de crescente, ainda é muito incipiente, segundo dados da ANFAVEA (2013)[10] o licenciamento de automóveis e comercias leves elétricos em 2012 foi de 117, e em 2013 (até setembro, incluso), 344.
No que se refere ao biodiesel, o Estados Unidos é o principal produtor, o principal produtor Europeu é a Alemanha seguida pela França. O biodiesel também está fortemente presente em outros países europeus e considerando-os juntos a produção ultrapassaria a produção norte-americana. Na América do Sul tanto o Brasil quanto a Argentina possuem participações importantes na produção, a Colômbia apesar de ter uma produção menor ocupa a décima posição no cenário mundial. O que também confere a América do Sul uma maior participação na produção de biodiesel que a América do Norte.
Gráfico 5: Participação na produção do biodiesel mundial dos 10 maiores produtores (2011)
No que se refere ao etanol, diferentemente do biodiesel, os Estados Unidos é de longe o maior produtor mundial. O Brasil está posicionado logo atrás dos Estados Unidos com uma produção inferior a 50% da produção do primeiro. A China em terceira posição possui uma produção muito menos significante.
Gráfico 6: Participação na produção do Etanol mundial dos 10 maiores produtores (2011)
Vale notar que discrepância da produção norte-americana com o resto do mundo e em especial em relação à produção brasileira é um fenômeno recente. O Brasil é um produtor histórico de etanol e no gráfico 7, pode-se observar o crescimento da diferença da importância da produção norte- americana entre 2007 e 2013. Isto se deve por um lado ao forte crescimento da produção absoluta dos Estados Unidos e as pequenas alterações na produção brasileira. Sendo assim pode-se afirmar que o crescimento da produção do Etanol mundial foi consequência da indústria americana com uma pequena ajuda do Canadá, que obteve um crescimento relativo importante em 2011.
Gráfico 7: Participação na produção do Etanol mundial Brasil e Estados Unidos (2007-2011)
A tecnologia do hidrogênio ainda está em um estágio de projetos pilotos. As estações de abastecimento de hidrogênio possuem ainda um caráter de teste, contudo observar o número de estações por países e a sua evolução com o tempo nos permite ter algumas intuições de quais são os países liderando este processo e de como isto vem crescendo na última década, mesmo que com variações ao longo dos anos.
Gráfico 8: Número de estações de abastecimento de hidrogênio (2012)
Note que os dados no gráfico são de número de estações abertas, os Estados Unidos, por exemplo, chegou a ter 63 estações abertas em 2009, dado representado no gráfico, contudo fechou alguma de suas estações e em 2012 este número estava em 58. O que de toda forma lhe confere o posto de país com maior número de estações de abastecimento de hidrogênio. O incentivo a esta indústria tem variado muito ao longo no tempo nos Estados Unidos e no mundo. Por exemplo, se observarmos o número máximo de veículos a hidrogênio nos Estados Unidos varia, chegou a 86 em 2007, caindo para 62 em 2010.
A variação das motivações a indústria de hidrogênio também pode ser observada se considerarmos por ano a quantidade de estações de abastecimentos instaladas.
Gráfico 9: Número de estações de abastecimento de hidrogênio instaladas no mundo
Percebemos que no período entre 2007-2009 houve um pico de interesse nesta fonte de energia que se retraiu. Devido à importância dos Estados Unidos no total de estações instaladas no mundo estas variações se devem em parte significativa as mudanças do mercado americano em relação a esta tecnologia.
Além dos Estados Unidos, o Japão e a Alemanha têm apresentado grande interesse na tecnologia do hidrogênio. Estes são países também com grande interesse no carro elétrico. A França, por outro lado, apesar de possuir importante participação no mercado elétrico, não apresenta importância equivalente em hidrogênio. Entres as motivações para este “desinteresse” podemos apontar para base de produção elétrica francesa baseada no nuclear.
Tentando imaginar o elefante
Os gráficos apresentados acima são números muito simples, mas nos permite uma primeira aproximação ao tema, apontando para a grande diversidade das experiências de inserção de combustíveis alternativos. Percebemos a liderança dos Estados Unidos em todas as tecnologias com exceção do GNV. No que se refere ao biodiesel, apesar dos Estados Unidos serem o maior produtor, este crescimento foi muito inferior ao do etanol. Haveria aí uma competição causada por diversos incentivos (ou ausência deles)?
Na Europa percebemos que os países que apontam como principal agente em cada tecnologia é distinto, contudo o papel da Alemanha em todos eles é relevante. A Itália mostra uma maior inserção dos carros a gás, seguida por países como Alemanha e Espanha. A Alemanha certamente é um líder no que se refere ao biodiesel, seguida pela França. No cenário elétrico pode-se observar a ordem inversa: a França lidera o número de carros seguido pela Alemanha.
O Brasil possui um posicionamento no que ser refere à inserção de combustíveis alternativos, tendo destaque no mercado de etanol, biodiesel e GNV. Iniciativas relacionadas ao carro elétrico, porém, ainda são incipientes, assim como as iniciativas relativas a uso de células de combustíveis.
Olhando estas comparações entre os países muitas perguntas surgem. Gostaríamos de compartilhar com vocês algumas delas. Qual a consequência dos diferentes ritmos de desenvolvimento das redes de GNV? Note que se comparado com outros países, China, Brasil e USA possuem muitos carros, contudo, uma rede limitada. O Japão é segundo país em número de carros elétricos, contudo, sabemos que a sua geração elétrica esta baseada em grande parte em gás (principalmente depois de Fukushima): por que não usar diretamente o carro a gás? E onde deveriam se posicionar os países como a Dinamarca que possuem grande capacidade de geração elétrica intermitente, que poderia obter grandes benefícios com a capacidade de gestão que a bateria do carro elétrico poderia ofertar? Ou como pensar a interação do parque de geração elétrica e as escolhas dos combustíveis alternativos? Certamente para responder estas questões, e muitas outras que surgem ao observar estas comparações, é necessário pensar não só na interação das tecnologias e recursos associados às mesmas, mas também, e principalmente, nas instituições envolvidas, sejam elas privadas, públicas ou hibridas. (ambienteenergia)


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Brasil deve mudar matriz energética

Brasil deve mudar matriz energética, alertam especialistas
O Brasil precisa substituir as fontes fósseis que predominam em sua matriz energética, afirmaram à Agência Efe especialistas do setor, trazendo à tona um debate polêmico por seu impacto direto nas mudanças ambientais e climáticas.
O coordenador do Programa de Mudança Climática e Energia da organização ecológica WWF-Brasil, Carlos Rittl, considerou que frente a um cenário de aquecimento global, 'cada vez mais próximo', é um 'dever' dos governos investir 'muito mais em fontes renováveis' de energia.
Rittl lembrou que 70% da matriz energética brasileira têm base fóssil, com um custo aproximado de R$ 700 bilhões até 2020. 'É necessário um olhar estratégico para soluções de tecnologia limpa, e nisso o Brasil está ficando para trás', disse.
O assunto está na agenda dos governos dos países emergentes e, recentemente, foi discutido nas reuniões do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) que concluiu seu quinto relatório em setembro passado em Estocolmo.
Os 195 países que participaram dos debates insistiram na necessidade de 'ações imediatas', praticamente a mesma conclusão de mais de 20 anos atrás, na cúpula mundial Eco 92, realizada no Rio de Janeiro.
O relatório de setembro volta a citar como um dos impactos mais graves para a mudança climática a utilização de combustíveis fósseis e propõe como solução o uso de fontes renováveis e naturais, como o Sol, o vento, os mares, as chuvas e os combustíveis vegetais.
O Brasil, como representante 'verde' da América Latina, mantém um potencial no investimento de energia renovável que não foi explorado 'prioritariamente', explicou o especialista.
Como exemplo, Rittl citou a Arábia Saudita, que apesar de estar 'assentada sobre petróleo' vai investir 'como nunca antes' em energia eólica, setor que tem alguns projetos na Região Nordeste, por seu clima seco e a direção dos ventos.
Segundo o ecologista, a discussão do setor elétrico deve levar em conta as reivindicações sociais das povoações afetadas pelo impacto dos projetos que 'associem políticas de desenvolvimento para o setor industrial e energético'.
'Precisamos de energia mais limpa, com menor impacto, de forma mais sustentável', resumiu.
No entanto, apesar dos avanços do país, quinto maior investidor em energias renováveis do mundo com cerca de US$ 7 bilhões até 2010, segundo a ONU, Rittl pediu mais 'atenção' do governo para dar prioridade a esse tipo de projeto, frente às fósseis, nas licitações públicas.
O engenheiro elétrico Adolfo Vázquez, da Universidade de São Paulo (USP), lamentou que o Brasil tenha perdido o 'impulso' que tinha com os avanços no setor dos biocombustíveis.
'Antes do pré-sal, o discurso em matéria energética era dominado pelo etanol e pelo biodiesel e avançou muito, sem dúvida, mas está claro que os biocombustíveis já não são uma bandeira do governo', observou.
Os dois especialistas concordaram que a biomassa da cana-de-açúcar é um recurso 'desperdiçado' no país, pois o Brasil é o maior produtor mundial e as grandes quantidades do bagaço que sobram muitas vezes são consideradas 'lixo'.
Para Rittl, a biomassa da madeira seria outro recurso para um aproveitamento melhor e destacou que as pessoas, em nível individual, começaram a assimilar melhor a energia solar e a utilizá-la em suas casas.
'Se cobríssemos nosso lado de Itaipu com painéis solares, teríamos condições para cobrir a demanda do setor elétrico do país, mas todas as fontes energéticas limpas são desperdiçadas no Brasil', lamentou Rittl. (abril)


A matriz energética nacional

Para acompanhar a discussão sobre a evolução da matriz energética brasileira é imprescindível conhecer uma publicação editada pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e Ministério de Minas e Energia (MME): O Balanço Energéticos Nacional (BEN).
O relatório consolidado do Balanço Energético Nacional apresenta, anualmente, a contabilidade relativa à oferta e o consumo de energia no Brasil, contemplando as atividades de extração de recursos energéticos primários, sua transformação em formas secundárias, a importação e exportação, a distribuição e o uso final da energia.
O documento final do BEN é disponibilizado no segundo semestre do ano posterior ao ano base. Dessa forma, os dados consolidados para o ano passado (2012) ficaram disponíveis no segundo semestre de 2013. Contudo, como forma de disponibilizar estatísticas energéticas ainda no primeiro semestre, a EPE elabora o documento intitulado “Resultados Preliminares do BEN”, cuja edição de 2013 – ano base 2012 – ficou disponível no seu site, até a publicação no segundo semestre dos atuais dados consolidados.
Além de trazer os resultados do ano anterior, o BEN traz uma série de balanços consolidados que cobre o período que vai de 1970 até o último ano disponível, que, no momento, é 2012. Portanto, são mais de quarenta anos de dados sobre a maneira como a energia vem sendo produzida, transformada e utilizada no Brasil.
Nesse sentido, o BEN constitui uma base de dados muito interessante para quem acompanha as discussões sobre energia. Para que se possa aproveitá-la plenamente, é necessário conhecer alguns conceitos-chave na sua construção, que facilitam a compreensão do alcance desse instrumento.
Utilização, transformação e produção de energia – Em primeiro lugar, cabe lembrar que a energia não é usada diretamente. É preciso que haja sempre algum dispositivo que converta a energia contida nas diversas fontes na forma de energia que se necessita. Assim, é necessário o aquecedor para converter a energia contida no gás no calor necessário para aquecer água para se tomar o banho quente. Aqui surgem dois conceitos importantes: energia final e energia útil. A primeira é a energia que colocamos à disposição do usuário e a segunda é a energia que esse usuário efetivamente aproveita; ou seja, a primeira é a energia contida no gás que ele consumiu, a segunda é a energia que ele realmente aproveitou na forma de calor.
A partir desses dois conceitos define-se um outro conceito chave: o rendimento na utilização. Esse rendimento pode variar com o uso, com a fonte e com a tecnologia presentes nessa utilização de energia.
Em termos dessa utilização, a energia contabilizada pelo BEN é a energia final; ou seja, a energia que é colocada à disposição do consumidor. Como esse consumidor vai usá-la, para que uso e com que eficiência, é um tipo de informação que não está disponível no balanço; já que o quadro contábil descreve o fluxo de energia até a “porta” do consumidor. Por isso, o BEN é um tipo de balanço chamado balanço de energia final. Para descrever o que acontece depois, é necessário um outro tipo de balanço: o balanço de energia útil. Porém, cabe salientar que pode-se encontrar essas informações não nos quadros contábeis, mas em uma seção à parte, na própria publicação, que cuida exatamente dessas informações.
No BEN, o consumo final energético é aberto para os seguintes setores: setor energético, residencial, comercial, público, agropecuário, transporte (rodoviário, ferroviário, hidroviário e aeroviário) e industrial (cimento, ferro-gusae aço, Ferroligas, mineração e pelotização, não-ferrosos e outros da metalurgia, química, alimentos e bebidas, têxtil,papel e celulose, cerâmica e outros).
Em segundo lugar, é importante lembrar que para que asfontes de energia sejam utilizadas nos equipamentos hoje disponíveis é preciso adequá-las ao uso nestes equipamentos. Assim, não dá para pegar o petróleo e jogá-lo diretamente no motor. É necessário transformar esse petróleo em gasolina para que ele possa ser utilizado nos carros. Essa transformação define dois outros conceitos: energia primária e energia secundária. A primeira é a energia como ela é extraída da natureza e a segunda é aquela que sofreu algum tipo de transformação nos chamados centros de transformação: refinarias, centrais elétricas, destilarias de álcool, etc., para adequá-la ao uso.
A partir desses conceitos é possível definir mais um conceito: o rendimento na transformação. rendimento esse que varia em função do tipo de transformação, das fontes transformadas e da tecnologia empregada. Diferentemente do rendimento de utilização, o rendimento de transformação é explicitado pelo BEN.
No BEN, as fontes primárias são as seguintes: Petróleo, Gás Natural, Carvão Vapor, Carvão Metalúrgico, Urânio (U3o8), Energia Hidráulica, Lenha e Produtos da Cana (Melaço,Caldo-de-Cana e Bagaço) e outras fontes primárias (Resíduos Vegetais e Industriais para Geração de Vapor, Calor, energia solar, eólica e Outros).
Já as fontes secundárias são as seguintes: Óleo Diesel, Óleo Combustível, Gasolina (Automotiva e de Aviação), GLP, Nafta, Querosene (Iluminante e de Aviação), Gás (de Cidade e de Coqueria), Coque de Carvão Mineral, Urânio Contido no UO2 dos Elementos Combustíveis, Eletricidade, Carvão Vegetal, Álcool Etílico, (Anidro e Hidratado) e Outras Secundárias de Petróleo (Gás de Refinaria, Coque e Outros). Além disso, são consideradas como fontes secundárias os Derivados de Petróleo que, mesmo tendo significativo conteúdo energético, são utilizados para outros fins (Graxas, Lubrificantes, Parafinas, Asfaltos, Solventes e Outros) e o Alcatrão obtido na transformação do Carvão Metalúrgico em Coque.
No que diz respeito aos centros de transformação, o BEN considera os seguintes: Refinarias de Petróleo, Plantas de Gás Natural, Usinas de Gaseificação, Coquerias, Ciclo do Combustível Nuclear, Centrais Elétricas de Serviço Público e Autoprodutoras, Carvoarias e Destilarias. Além desses centros são consideradas outras transformações que incluem os efluentes (produtos energéticos) produzidos pela indústria química, quando do processamento da Nafta e outros produtos Não-Energéticos de Petróleo.
Em terceiro lugar, cabe lembrar que para que as energias primárias possam ser utilizadas diretamente ou transformadas, é preciso extrair o petróleo, o gás, o carvão e o urânio do subsolo, armazenar a água em grandes reservatórios, plantar e abater as árvores e a cana, enfim dar as condições mínimas para que a energia contida nos recursos energéticos – renováveis e não renováveis – seja direcionada para a transformação ou, em alguns casos, para a utilização final. Essas atividades constituem a produção de energia primária e são explicitadas pelo BEN.
Em função disso, quando se fala em produção de energia no Balanço Energético, está se falando nessa produção de energia primária. A “produção” de energia secundária (por exemplo, produção de gasolina na refinaria) não é considerada como sendo produção de energia, mas como uma saída do processo de transformação; portanto, encontra-se em outro ponto do fluxo de energia – transformação – que não é a produção de energia. Nesta última são contabilizadas apenas a produção de energia primária.
Na produção tem-se, de um lado, os recursos naturais, de outro, a energia primária. Nesse nível da cadeia energética é possível identificar mais um rendimento: o rendimento na produção. Rendimento esse que varia com o tipo de extração, com a fonte e com as tecnologias empregadas. Esse rendimento não é explicitado pelo BEN. Para uma descrição mais detalhada dos recursos, das reservas e dos potencias energéticos é preciso um balanço chamado de balanço de recursos e reservas. O BEN começa a descrição dos fluxos energéticos na produção, portanto não incorpora no quadro contábil os recursos e os potenciais energéticos do país. Contudo, assim como as informações sobre o uso da energia, esses dados se encontram em uma seção à parte, na própria publicação, que disponibiliza exatamente essas informações.
A descrição dos fluxos
A matriz consolidada do BEN apresenta as diferentes operações sofridas pelo fluxo de energia nas suas linhas; já as colunas representam as fontes e os agregados.
O sentido do fluxo no balanço vai da produção para o consumo final. Assim, todas as operações que agregam energia a esse fluxo, colocando mais energia à disposição do consumidor final, têm sinal positivo, e todas aquelas operações que retiram energia desse fluxo, retirando energia disponível para o consumidor final, têm sinal negativo. Assim, para o BEN a importação tem sinal positivo enquanto a exportação tem sinal negativo; se a energia vai para o estoque, saindo do fluxo que vai ao consumidor final, ela vai com sinal negativo, se ela sai do estoque, desaguando no fluxo que vai ao consumidor final, ela sai com sinal positivo; se o petróleo entra em um centro de transformação (refinaria), entra com o sinal negativo, ao passo que o derivado que sai da refinaria carrega o sinal positivo.
Em função dessa lógica, todo o consumo deve ter o sinal negativo; contudo, por uma simples questão de apresentação gráfica, todo o consumo no BEN aparece com o sinal positivo. Porém, o sinal negativo está implícito. Em termos de operações, o BEN pode ser dividido em três balanços: oferta, transformação e consumo.
O balanço de oferta sintetiza as operações que levam à quantidade de energia colocada à disposição da sociedade para ser consumida e/ou transformada. Nesse balanço temos como operações: a produção (+), a importação (+), a variação de estoque (+/-), exportação(-), não-aproveitada (-), reinjeção (-). A linha que sintetiza o conjunto dessas operações é a Oferta Interna Bruta de energia. Aqui você encontra a quantidade de energia que está disponível para o país consumir diretamente (como é o caso da lenha) ou transformar (como é o caso do petróleo). Essa linha é que define a participação das diferentes fontes de energia na matriz energética. Na verdade, ela é uma das linhas mais importantes do balanço, junto com o total de transformação e o consumo total.
Um pequeno comentário sobre o balanço de oferta. Por definição, não existe produção de energia secundária. Por isso, a linha de produção de energia secundária no balanço apresenta todos os valores iguais a zero. Toda a produção de energia secundária aparece no balanço de transformação como saídas (com sinal positivo) dos centros de transformação. Enfim, lembrando mais uma vez, produção no balanço energético é só a produção de energia primária.
Em termos das colunas, o balanço de oferta é feito para todas as fontes, primárias e secundárias, e apresenta três grandes agregados: o total de energia primária; o total de energia secundária e a energia total. Dessa forma, pode-se dizer que nós temos um balanço de oferta de energia primária, um balanço de oferta de energia secundária e um balanço de oferta de energia total.
O balanço de transformação descreve as operações nos centros de transformações. Nesse balanço nós temos quanto de energia é processada em cada centro (sinal negativo) e quanto de energia é produzida em cada um deles (sinal positivo). Além disso, esse balanço traz uma informação chave: a perda na transformação. Esta informação aparece na última coluna no balanço (Total), com um sinal negativo.
Cabe lembrar que nos centros de transformação podem entrar tanto energia primária (petróleo na refinaria) quanto energia secundária (óleo combustível em uma central termoelétrica). No caso específico das hidrelétricas, o BEN considera que a perda na conversão da energia hidráulica para a energia elétrica é zero. Assim, a quantidade de energia hidráulica processada em uma central desse tipo (sinal negativo) é sempre igual a energia elétrica produzida por ela (sinal positivo).
A linha síntese desse balanço é o Total de transformação e em termos de coluna, como no caso do balanço anterior, temos um total de energia primária transformada, um total de energia secundária transformada e um total de energia transformada. Esse último total representa justamente as perdas; ao passo que, em linhas gerais, o primeiro representa a quantidade líquida de energia que entrou nos centros de transformação e o segundo a que saiu. Logo, a diferença é o que se perdeu na transformação e aparece na última coluna.
O balanço de consumo sintetiza as operações de consumo de energia que é desagregado em consumo final não energético e consumo final energético. Assim, a nafta, que é um energético, quando é consumida como insumo petroquímico, aparece como consumo final não-energético.
O consumo final energético é desagregado por setores (linhas) e fontes (colunas) e também apresenta um balanço de consumo de energia primária, um balanço de consumo de energia secundária e um balanço de consumo de energia, que, na verdade, agrega os outros dois.
Cabe chamar a atenção que entre o balanço de transformação e o balanço de consumo há uma linha: Perdas na distribuição e armazenagem. Note que as perdas de transformação aparecem em uma coluna (a última do balanço de transformação) e as perdas da distribuição em uma linha. Independentemente de onde elas aparecem, o que importa é que elas aparecem sempre com sinal negativo e correspondem àquela parcela da energia que fica no meio do caminho e não chega ao consumidor final.
A equivalência entre as fontes – O critério utilizado para agregar as diferentes fontes em uma única unidade é a equivalência em energia térmica. Isto significa que a quantidade de energia medida em todas as fontes e em todos os pontos da cadeia energética é o potencial dessa energia de gerar calor.
Para o caso dos combustíveis, o BEN utiliza o Poder Calorífero Inferior (PCI), expresso em kcal/kg, de cada um deles para determinar o seu conteúdo calórico.
No caso da energia elétrica usa-se uma relação definida a partir do efeito Joule que diz que 1 kWh gera 860 kcal de calor. Portanto, 860 kcal é a energia térmica contida em 1kWh.
A unidade de medida do BEN é a tonelada equivalente de petróleo (tep). Esse petróleo tem um conteúdo calórico de 10.000 kcal/kg. Logo 1 tep tem 10.000.000 de kcal.
Enfim, de posse desses conceitos básicos, é possível aproveitar essa fonte de informações sobre energia muito rica que é o Balanço Energético Nacional. A leitura do BEN, é bastante simples e as informações metodológicas mais detalhadas podem ser encontradas na própria publicação.
Além de ser uma boa fonte de informação, o BEN se caracteriza como uma das poucas oportunidades de se ter uma visão integrada de todas as fontes e setores energéticos. Se o que se quer é uma visão global que transcenda as especifidades de cada um dos setores de energia (gás, petróleo, eletricidade, biocombustíveis, etc.), o BEN é um bom começo. (ambienteenergia)