A chegada de um navio-tanque carregado com oito mil toneladas de
biodiesel, no porto de Roterdã, na Holanda, no final de junho, tem um valor
simbólico. Afinal, foi a primeira vez que uma empresa brasileira do setor, no
caso a gaúcha BSBios, conseguiu colocar esse produto no exigente mercado
europeu. Do lado econômico, representa a abertura do Velho Continente para as
56 usinas em operação no País. É que, além da BSBios, que tem como sócia a
Petrobras e fechou 2012 com faturamento de R$ 1,4 bilhão, quem já se prepara
para seguir esse caminho é a paulista JBS Biodiesel, cujas receitas somaram R$ 500
milhões no mesmo período.
“Estamos prontos”, afirma Alexandre Pereira da Silva, diretor de
biodiesel da divisão do frigorífico JBS, líder global de proteína animal.
“Temos capacidade produtiva, matéria-prima e as certificações necessárias para
atuar nesse mercado.” A JBS Biodiesel e a BSBios estão saindo na frente porque
ambas já conseguiram certificar seu biodiesel junto aos órgãos europeus. “Alguns
fatores macroeconômicos também colaboraram para que conseguíssemos fazer a
exportação neste momento”, diz Erasmo Carlos Battistella, presidente da BSBios
e da Associação dos Produtos de Biodiesel do Brasil (Aprobio). De acordo com o
empresário, um dos elementos que ajudaram foi a decisão da União Europeia (UE)
de sobretaxar o combustível oriundo da Argentina e da Indonésia.
Os fabricantes desses países foram acusados de dumping, ao vender seu
produto por um preço inferior ao custo de fabricação. A saída de cena desses
dois competidores, responsáveis por 90% das importações europeias, um volume de
três bilhões de litros por ano dos 13 bilhões consumidos pelo bloco, foi
providencial. Ainda mais em um cenário no qual o real perde força diante do
dólar e do euro. O biodiesel é um insumo considerado estratégico para a
política ambiental da UE. Para reduzir suas taxas de emissões dos gases que
causam o efeito estufa, como o dióxido de carbono (CO2), países como a Alemanha
chegam a adicionar até 30% do combustível ao óleo mineral, oriundo do petróleo.
A expectativa, dentro desse novo cenário, é que as indústrias brasileiras
entrem com força na Europa. Para marcar posição, a direção da BSBios atuou de
forma agressiva na negociação de preços.
“Não posso afirmar que tivemos uma rentabilidade maravilhosa nessa
primeira transação”, diz Battistella. “Vendemos por um valor próximo ao que
praticamos aqui, mas o importante é abrir mercado.” De acordo com analistas do
setor, a BSBios conseguiu colocar seu combustível por um preço um pouco abaixo
de R$ 1,938 por litro, em média, fixado no leilão realizado, em junho, pela
Agência Nacional de Petróleo (ANP). Estratégia bastante diferente da adotada
pela JBS, que, inclusive, deixou de atuar em um pregão da ANP, no ano passado,
por não se sentir atraída pelo valor-base fixado pela agência. Na Europa, a JBS
poderá se beneficiar da força de sua marca no Exterior e de sua escala de
produção: suas duas plantas, em Lins (SP) e Colíder (MT), têm capacidade para
processar 238 milhões de litros por ano.
“Nossa matéria-prima atende aos padrões de sustentabilidade exigidos”,
afirma Silva. No Brasil, esse combustível também é visto como um elemento
importante na matriz energética. Atualmente, a frota de veículos movidos a
diesel roda com uma fração de 5% de biodiesel. A expectativa é de que passe
para 7% até o final do ano. Parece pouco. Contudo, os dois pontos percentuais
equivalem a um incremento de 40% na demanda atual. Entre as vantagens do
produto de origem vegetal e animal versus o concorrente derivado do petróleo
estão a redução no custo de importação da Petrobras, a melhora da qualidade do
ar e uma menor pressão sobre o sistema de saúde. Estudo da Fundação Getulio
Vargas (FGV), de São Paulo, mostra que o biocombustível emite 57% menos gases
poluentes que o diesel. Com a adição do combustível renovável nos percentuais
atuais, são evitadas 12.945 internações por ano, sendo 1.838 resultantes de
doenças respiratórias. (biodieselbr)
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