terça-feira, 12 de novembro de 2013

Biocombustíveis de algas a 10 anos do mercado

Biocombustíveis de algas ainda estão a 10 anos do mercado

A produção nacional de biocombustível de microalgas não chegará tão cedo ao mercado brasileiro. O abastecimento das bombas com o produto renovável deverá levar até uma década, estimam agora os players do setor. O gargalo continua sendo o mesmo de meados dos anos 2000, quando as pesquisas tomaram fôlego no país: produzir o biocombustível em larga escala a preço competitivo. Enquanto isso não ocorre, empresas que apostavam nesse mercado voltaram os esforços a alternativas de uso para a microalga, com foco na indústria química e de cosméticos.
Desde 2011 no país, a californiana Solazyme ajustou sua estratégia de negócios no Brasil para o desenvolvimento de óleos de maior valor agregado para as indústrias químicas, petroquímicas, de cosméticos e do agronegócio. "A gente foi descobrindo as coisas com o carro andando", afirma Walfredo Linhares, gerente da companhia no Brasil, referindo-se à decisão da matriz californiana de diversificar o portfólio. "Os fundadores perceberam o potencial da tecnologia que haviam criado para produção não só de combustíveis, mas para uma infinidade de outros óleos usados em quase todos os produtos que usamos no dia a dia. A produção de combustível é, na verdade, o uso menos nobre para a microalga", afirma o executivo.
Há um ano, a companhia formalizou uma joint venture com a Bunge para a implantação da primeira unidade de produção de óleos renováveis em grande escala no país. Com financiamento de R$ 246 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a planta está sendo construída adjacente à usina Moema, da Bunge, no interior de São Paulo, e tem capacidade para produção de 100 mil toneladas de óleos a partir de microalgas por ano. A expectativa é que entre em operação até já no início de 2014.
Segundo Linhares, que acumulou mais de 20 anos de experiência em empresas como Shell, Copersucar e Brenco, a decisão de priorizar óleos químicos aqui não se deveu a restrições tecnológicas – nos EUA, a Solazymes vende combustível de microalgas a um projeto da marinha subsidiado pelo governo americano. "Foi uma decisão de negócio".
Embora afirme que o problema não é produzir em escala a custos competitivos, a empresa não mostra interesse em entrar no curto prazo na produção do biocombustível, que concorreria na bomba com o diesel. "Falta uma política do governo para a produção. Veja o que está acontecendo com o etanol", diz Linhares. "Até que tenha um ambiente de negócio favorável, [o biocombustível de microalgas] não tem atrativo econômico".
Por outro lado, a necessidade de óleos vegetais refinados no país chamou a atenção da empresa. O Brasil é um importador de óleo de palma (dendê), utilizado em produtos que vão de cremes de beleza a alimentos. Atualmente, o país produz metade do que consome. Segundo a Solazymes, quando a usina operar em plena capacidade (a estimativa é daqui a dois anos) será possível reduzir em até 60% as compras de óleo de palma do país.
Já as empresas menos capitalizadas estão sendo obrigadas a diversificar para "sobreviver", diz Sérgio Goldemberg, gerente da Algae Biotecnologia, de São Paulo. "O difícil não é criar algas, é torná-las um negócio". E não é só no Brasil, ele afirma. Muitas empresas dos EUA, que lideravam a corrida tecnológica com microalgas, mudaram o rumo no meio do caminho ou simplesmente fecharam.
Pertencente ao grupo Ecogeo, a Algae surgiu em 2009 com um aporte de R$ 3 milhões para pesquisas que resultariam no que seria a sensação verde automotiva. "A meta é chegar a R$ 2 por litro, mas ainda não estamos prontos para o grande show das microalgas", diz Sergio, filho do ex-secretário de Meio Ambiente, José Goldemberg.
Para ele, escolhas erradas e a indefinição da rota tecnológica impedem o avanço rápido das pesquisas. Isso porque há muitas questões em aberto. Qual o melhor sistema de produção, em tanques abertos, mais vulneráveis à contaminação por micro-organismos, ou fechados, mais caros? Qual a melhor água para a reprodução – doce, salgada, salobra? Qual a variedade ideal de microalga
Uma das técnicas mais praticadas de nutrição das microalgas é a injeção de sacarose nos tanques, mas esse sistema pode se provar caro já que a chamada taxa de conversão é baixa – ou seja, é preciso um volume grande de açúcar para alimentar as microalgas. "Vamos ter um atraso de cinco a dez anos na produção do biocombustível de microalgas até ter essas respostas. E não conseguimos nos manter sem outras opções por tanto tempo assim. O lado bom é que estamos conhecendo novas aplicações que nos darão sobrevida". Uma delas é o uso da biomassa de microalgas para nutrição animal, em substituição à farinha de peixe.
Para a Petrobras, não se trata de um atraso nas bombas. A estatal diz ter trabalhado com um prazo mais longo que o setor privado. "Nossa expectativa sempre foi muito pé no chão", diz Norberto Noschang, gerente de tecnologia para biocombustíveis. Ele explica que havia muita coisa a ser analisada (como a identificação das cepas ideias em meio a mais de três mil espécies de algas) e desafios "que o pessoal também não esperava".
"Não dava pra sair antes disso", diz ele, citando problemas que a própria estatal enfrentou durante o processo de tentativa e erro de produção. "Tivemos um episódio de contaminação do tanque que parecia o Pac-Man", diz ele. "Tivemos de aprender a controlar".
A estatal brasileira iniciou em 2006 os estudos em laboratório com microalgas. Hoje tem seis tanques, com quatro mil litros cada, no Rio Grande do Norte, lugar que acredita ser mais propício à produção. É a chamada fase-piloto, que vem depois do laboratório e antes da demonstração, que deverá ser iniciada no fim deste ano.
Noschang diz que projeta a chegada do biocombustível ao mercado brasileiro até 2018. (biodieselbr)

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