Mistura de biodiesel de 7% pode ser anunciada ainda este ano
Sob pressão permanente dos produtores de óleos vegetais, o governo
federal deverá ampliar o percentual de mistura de biodiesel no diesel fóssil
vendido no país dos atuais 5% para 6% ou 7% ainda neste ano. No cenário de
maior incremento, a produção poderá aumentar 40%. O governo decidiu retomar as
negociações há uma semana, quando a Casa Civil pediu ao Ministério de Minas e
Energia para atualizar os dados que norteiam essa política, em discussão há
dois anos.
O debate em torno do marco regulatório do biodiesel estava paralisado
desde o ano passado, quando o governo decidiu "dar um tempo" por
receio de que o aumento da mistura tivesse impacto na inflação – a soja, usada
para produção de rações, é fonte primária de cerca de 75% do biodiesel
produzido no Brasil.
Apesar de os preços da saca de soja estarem no mesmo patamar de 2012, no
ano passado houve uma forte seca no Sul do país que reduziu a produção do grão.
O governo estava receoso que o aumento da mistura de biodiesel, aliado à seca,
influenciasse a inflação, que já estava em viés de alta na época.
Segundo uma fonte da comissão interministerial que discute o assunto, o
atual contexto macroeconômico, com a inflação sendo controlada e os gastos da
Petrobras com a importação de diesel, abre caminho para a mudança.
"Estamos atualizando o impacto e a disponibilidade de matéria-prima, mas
sabemos que hoje o momento é mais favorável do que no ano passado", disse.
Segundo o diretor-executivo da Associação dos Produtores de Biodiesel do
Brasil (Aprobio), Julio Minelli, o segmento aguarda o anúncio desde 2011.
"Com a antecipação da meta do B5 [percentual de mistura de 5%] de 2013
para 2010, esperávamos que o governo antecipasse os aumentos e os investimentos
continuaram. Hoje, a capacidade instalada é mais do que o dobro do consumo, o
suficiente para atender a um B10", afirmou.
A demanda inicial do segmento era pela elevação imediata da mistura de
5% para 7%, com incrementos graduais para 10% até 2016 e para 20% até 2020.
Agora, o segmento pede o B20 até 2025.
Presidente da Frente Parlamentar do Biodiesel, o deputado Jerônimo
Goergen (PP-RS) diz que é importante que o marco regulatório saia ainda este
ano para que o segmento possa programar seus investimentos. "Isso nos dá
um cenário de alívio. Os produtores estão sem previsão de qual será a política
do governo a partir de 2014", diz ele, que tem reunião hoje na Casa Civil
para discutir o assunto.
O aumento da mistura ajudaria a conter os prejuízos da Petrobras com a
importação de diesel. Sem autorização do governo para elevar preços ao
consumidor, a estatal compra o combustível no mercado externo a valores mais
altos do que vende no país. O último reajuste foi em junho do ano passado.
Conforme informações do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior (Mdic) compilados pela Aprobio, a Petrobras importou 7,81
bilhões de litros de diesel de janeiro a setembro de 2013, 31,5% mais que no
mesmo período do ano passado. O valor médio do litro do diesel importado este
ano, segundo Minelli, ficou em torno de US$ 0,80 (cerca de R$ 1,90), enquanto o
valor cobrado das distribuidoras está em R$ 1,468 para o S10.
Segundo o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), a defasagem de
preços causou um prejuízo a Petrobras de R$ 2,6 bilhões de janeiro a setembro.
O segmento defende que a ampliação da mistura é possível devido à
capacidade ociosa da indústria, estimada em mais de 3 bilhões de litros -
volume semelhante ao que deve ser produzido neste ano. A produção de biodiesel
atingiu 1,65 bilhão de litros de janeiro a julho, um aumento de 13% sobre igual
intervalo de 2012, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos
Vegetais (Abiove).
Ao todo, 64 usinas de biodiesel são autorizadas pela Agência Nacional do
Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) a produzir o combustível no país.
Mais seis processos de ampliação e construção foram autorizados este ano. (biodieselbr)
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