Sede da COP 19, Polônia ainda aposta no carvão, responsável
por 90% da produção energética do país
Fonte fóssil
causadora do aquecimento global é responsável por 90% da produção energética no
país. Política energética polonesa é entrave para que União Europeia alcance
metas mais ousadas de corte de emissões.
São mínimas as
chances de que países de peso assumam compromissos obrigatórios para reduzir
suas emissões durante a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 19),
que começou em 11/11/13 em Varsóvia. Uma das culpadas é a União Europeia: até
agora, o grupo não entrou em acordo sobre uma ambiciosa meta de redução, o que
serviria de bom exemplo a outros países.
Uma das metas
acertadas entre os europeus para 2020 já foi, na verdade, atingida – diminuir
em 20% a emissão de gases de efeito estufa, em comparação com 1990. Ativista,
no entanto, querem uma meta mais ousada e significativa. Alguns membros da UE,
especialmente França e Reino Unido, já anunciaram que pretendem cortar 40% das
emissões até 2030.
Mas justamente o país
que sedia a COP 19 neste ano pode ser a pedra no sapato dos europeus na busca
por resultados mais expressivos. “A Polônia tem bloqueado (novas metas) dentro
da UE nos últimos anos”, avalia Christoph Bals, diretor da ONG Germanwatch. “Os
poloneses vêm impedindo que que as metas sejam aumentadas, como seria necessário.”
País do carvão
O carvão cobre cerca
de 90% da demanda energética na Polônia. Essa fonte fóssil é a que libera
dióxido de carbono em maior quantidade durante sua combustão. Ainda assim, o
primeiro-ministro Polonês, Donald Tusk, defende o uso do carvão no país. “O
futuro energético da Polônia está no linhito e na hulha”, afirmou Tusk em
setembro passado. “Nós respeitamos a necessidade de reduzir as emissões, no
entanto, vamos continuar usando carvão”, disse.
COP-19 dia 11/11/13 em Varsóvia
“Obviamente trata-se
de proteger as vagas de trabalho na indústria carvoeira”, ressaltou Maciev
Muskat, diretor do Greenpeace na Polônia, em entrevista à Deutsche Welle. “E
ainda, segundo o governo, a energia gerada pelo uso do carvão é mais barata que
a de fontes renováveis.”
Chances para
renováveis
Para Muskat, no
entanto, os argumentos são uma desculpa. “Para o consumidor não interessa o
preço, mas sim os custos. Se o governo realmente quisesse reduzir custos,
apostaria com mais entusiasmo em eficiência energética”, explica o ativista.
Mas não é isso que acontece no país, acrescenta o representante do Greenpeace.
A Comissão Europeia
já entrou com um processo no Tribunal de Justiça Europeu contra a Polônia pelo
fato de o país ainda não ter implementado um plano de diretrizes para expansão
das fontes de energias renováveis. A UE estabeleceu que as fontes limpas gerem
até 20% da energia até 2020.
A Polônia não se move
nesta direção: de acordo com um relatório elaborado por pesquisadores do
Greenpeace juntamente com outras organizações, em 2010 as energias renováveis
não chegavam a atender 8% das necessidades energéticas dos poloneses. O índice
poderia chegar a 27% até 2030 se o país abrisse mão do carvão, argumenta o
relatório. E, de acordo com Muskat, essa medida estaria atendendo a um desejo a
própria população.
Promoção
internacional
Muskat considera
bastante improvável que o governo polonês mude sua posição com relação ao uso
de carvão, ou ainda que permita o anúncio, pela UE, de uma meta muito ousada
para redução de gases do efeito estufa. Paralelamente, o ministro polonês do
Meio Ambiente e presidente da COP 19, Marcin Korolec, prometeu conduzir as
negociações a um desfecho bem-sucedido.
Cerca de 90% da
demanda energética da Polônia são cobertos pelo uso do carvão
“A conferência é um
espaço para promoção (do governo)”, ressalta o ativista do Greenpeace,
destacando que, enquanto Varsóvia não desistir de sua resistência às metas do
bloco europeu, não poderá avançar em nível internacional.
Muskat espera que a
população polonesa aumente a pressão sobre o governo e exija mudanças na
política climática e energética. Ele ainda vê neste momento uma oportunidade
para que pelo menos parte da oposição adote o tema e passe a promover
discussões a respeito.
No entanto, isso não
alteraria em nada a Conferência do Clima. Por isso que a atuação de países como
Alemanha vai pesar mais, avalia Christoph Bals. Essas nações deveriam propor um
“pacote” de medidas que permita com que a Polônia mude sua postura sem
prejudicar sua reputação, nem arriscar seus interesses na área de segurança.
“Por um lado, é
preciso deixar claro aos poloneses que a economia interna e a própria população
podem lucrar quando com um plano de eficiência energética e com investimentos
em energias renováveis”, afirma Bals. “Além disso, é necessário que se mostre
um caminho à Polônia no qual ela, por meio de uma determinada política
energética, não dependa da Rússia. Neste ponto, a UE precisa demonstrar que o
suprimento energético da Polônia estará garantido – independentemente da
pressão feita pelos russos”. (ecodebate)
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