Seca
histórica deixa concessionárias de energia elétrica em alerta
Nível
estava em 18% da capacidade, o menor da história.
A
ordem é economizar.
Voltou a chover
no Sudeste, mas ainda deve demorar a aumentar o nível dos reservatórios de água
das hidrelétricas, que hoje está em 18% da capacidade, o menor da história. A
situação, provocada pela maior seca dos últimos cem anos, põe em alerta as
concessionárias de energia e neste verão a ordem é economizar.
O Brasil está
entre os dez maiores produtores de energia elétrica do mundo e mais da metade
da produção vem da bacia do Paraná. Ela abrange os estados do Paraná, Santa
Catarina, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás e Distrito
Federal. Os rios que formam a bacia são: Iguaçu, Paranapanema, Tietê, Rio
Grande, Rio Paranaíba e Rio Paraná.
Ao todo, são 57
pequenas e grandes hidrelétricas. São elas que abastecem as regiões sudeste e
centro-oeste do Brasil. Itaipu, a maior usina do mundo em operação, é uma delas
– 20% da energia consumida no Brasil vêm das turbinas que também produzem 75%
da energia utilizada pelos paraguaios.
Durante dois
anos seguidos, Itaipu bateu recorde na produção de energia. No ano passado,
saíram da usina 98 milhões de megawatts, mas este ano a produção caiu. Até o
fim de dezembro, a estimativa de Itaipu é produzir quase 9% a menos do que
2013.
A falta de chuva
reduziu a capacidade em todo o sistema. Em Ilha Solteira, uma das maiores de
São Paulo, por exemplo, o volume do reservatório útil chegou a menos de 5%. “A
hidrelétrica não pode mais baixar o reservatório. Se baixar, ela baixa a
produção. Só não estamos piores porque temos várias termoelétricas sendo
acionadas e a gente entende que a população já deveria economizar energia”,
explica o engenheiro Carlos Augusto Kirchner.
Além de gerar
energia, o Rio Tietê é um importante meio de transporte de grãos que vêm dos
estados produtores do Centro-Oeste do Brasil. No Porto de Pederneiras, na
região de Bauru, a carga é retirada das barcaças e colocada em trens que seguem
para o Porto de Santos, mas por causa da estiagem, a navegação está paralisada
desde maio.
Uma indústria em
Araras investiu na construção de 20 barcaças e projetava transportar três
milhões de toneladas de cargas neste ano. Com a paralisação do transporte, a
construção de barcaças foi interrompida e 700 funcionários da empresa foram
demitidos.
“A hidrovia já
passou por outras crises, mas foram contornadas. Essa crise não teve jeito”,
diz o engenheiro mecânico José Gheller. Agora, para elevar o nível dos
reservatórios, começou a redução da vazão em três hidrelétricas do Rio Paraná.
Isso deve garantir o retorno do transporte pela hidrovia nos próximos meses.
A hidrovia
também está parada em São Simão, na divisa de Goiás com Minas Gerais. Mil
funcionários já foram demitidos. Goiás enfrenta a maior seca da história. Em
Itumbiara, o reservatório da usina baixou para 14% e mais de seis mil peixes
criados em cativeiro morreram.
No meio do Rio
Claro, que fica na divisa dos municípios de Jataí e Perolândia, a cada dia o
rio vai ficando mais estreito. A água ia de uma margem a outra. Agora, as
rochas estão no lugar da água. O Rio Claro é um dos maiores fornecedores de
água do Paranaíba, um dos principais afluentes da bacia do Paraná.
Goiás é
considerada área de recarga dos rios. É no estado que nasce o Aquífero Guarani,
um grande reservatório de água no subsolo, e a falta de chuva prejudica os
mananciais. “O nível de água vai baixar por mais que os aquíferos consigam
manter a água pro rio. Vai baixar porque o lençol freático cada vez mais vai
diminuindo seu volume”, explica o especialista em recursos hídricos João
Cabral.
O abastecimento
de água está irregular em muitos municípios. Em Catalão, por exemplo, os
moradores recebem água dia sim, dia não. Para garantir o abastecimento, um juiz
proibiu os produtores rurais de usar a água do rio para molhar as lavouras. As
bombas que puxam a água foram lacradas, prejudicando 50 famílias de pequenos
agricultores.
Ao longo da
bacia do Paraná vivem quase 70 milhões de pessoas, um terço da população
brasileira. A falta de chuva deixou evidente um problema crônico: o desrespeito
pela natureza. A falta de matas ciliares nas margens dos rios, o despejo de
agrotóxicos e a poluição provocada pelo homem e pelas indústrias compromete a
qualidade da água dos principais afluentes da bacia. (g1)
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