sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Seca deixa concessionárias de hidrelétricas em alerta

Seca histórica deixa concessionárias de energia elétrica em alerta
Nível estava em 18% da capacidade, o menor da história.
A ordem é economizar.
Voltou a chover no Sudeste, mas ainda deve demorar a aumentar o nível dos reservatórios de água das hidrelétricas, que hoje está em 18% da capacidade, o menor da história. A situação, provocada pela maior seca dos últimos cem anos, põe em alerta as concessionárias de energia e neste verão a ordem é economizar.
O Brasil está entre os dez maiores produtores de energia elétrica do mundo e mais da metade da produção vem da bacia do Paraná. Ela abrange os estados do Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal. Os rios que formam a bacia são: Iguaçu, Paranapanema, Tietê, Rio Grande, Rio Paranaíba e Rio Paraná.
Ao todo, são 57 pequenas e grandes hidrelétricas. São elas que abastecem as regiões sudeste e centro-oeste do Brasil. Itaipu, a maior usina do mundo em operação, é uma delas – 20% da energia consumida no Brasil vêm das turbinas que também produzem 75% da energia utilizada pelos paraguaios.
Durante dois anos seguidos, Itaipu bateu recorde na produção de energia. No ano passado, saíram da usina 98 milhões de megawatts, mas este ano a produção caiu. Até o fim de dezembro, a estimativa de Itaipu é produzir quase 9% a menos do que 2013.
A falta de chuva reduziu a capacidade em todo o sistema. Em Ilha Solteira, uma das maiores de São Paulo, por exemplo, o volume do reservatório útil chegou a menos de 5%. “A hidrelétrica não pode mais baixar o reservatório. Se baixar, ela baixa a produção. Só não estamos piores porque temos várias termoelétricas sendo acionadas e a gente entende que a população já deveria economizar energia”, explica o engenheiro Carlos Augusto Kirchner.
Além de gerar energia, o Rio Tietê é um importante meio de transporte de grãos que vêm dos estados produtores do Centro-Oeste do Brasil. No Porto de Pederneiras, na região de Bauru, a carga é retirada das barcaças e colocada em trens que seguem para o Porto de Santos, mas por causa da estiagem, a navegação está paralisada desde maio.
Uma indústria em Araras investiu na construção de 20 barcaças e projetava transportar três milhões de toneladas de cargas neste ano. Com a paralisação do transporte, a construção de barcaças foi interrompida e 700 funcionários da empresa foram demitidos.
“A hidrovia já passou por outras crises, mas foram contornadas. Essa crise não teve jeito”, diz o engenheiro mecânico José Gheller. Agora, para elevar o nível dos reservatórios, começou a redução da vazão em três hidrelétricas do Rio Paraná. Isso deve garantir o retorno do transporte pela hidrovia nos próximos meses.
A hidrovia também está parada em São Simão, na divisa de Goiás com Minas Gerais. Mil funcionários já foram demitidos. Goiás enfrenta a maior seca da história. Em Itumbiara, o reservatório da usina baixou para 14% e mais de seis mil peixes criados em cativeiro morreram.
No meio do Rio Claro, que fica na divisa dos municípios de Jataí e Perolândia, a cada dia o rio vai ficando mais estreito. A água ia de uma margem a outra. Agora, as rochas estão no lugar da água. O Rio Claro é um dos maiores fornecedores de água do Paranaíba, um dos principais afluentes da bacia do Paraná.
Goiás é considerada área de recarga dos rios. É no estado que nasce o Aquífero Guarani, um grande reservatório de água no subsolo, e a falta de chuva prejudica os mananciais. “O nível de água vai baixar por mais que os aquíferos consigam manter a água pro rio. Vai baixar porque o lençol freático cada vez mais vai diminuindo seu volume”, explica o especialista em recursos hídricos João Cabral.
O abastecimento de água está irregular em muitos municípios. Em Catalão, por exemplo, os moradores recebem água dia sim, dia não. Para garantir o abastecimento, um juiz proibiu os produtores rurais de usar a água do rio para molhar as lavouras. As bombas que puxam a água foram lacradas, prejudicando 50 famílias de pequenos agricultores.
Ao longo da bacia do Paraná vivem quase 70 milhões de pessoas, um terço da população brasileira. A falta de chuva deixou evidente um problema crônico: o desrespeito pela natureza. A falta de matas ciliares nas margens dos rios, o despejo de agrotóxicos e a poluição provocada pelo homem e pelas indústrias compromete a qualidade da água dos principais afluentes da bacia. (g1)

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