‘Energia nuclear nunca será segura’, diz deputada verde
alemã
Parlamentar que
lidera moção no Bundestag contra acordo com Brasil afirma que deveria ser papel
da Alemanha promover o fim do uso da energia atômica também no exterior.
“Chernobyl atingiu quase toda a Europa”, lembra.
No final de setembro,
o Partido Verde entrou com uma moção no Bundestag (câmara baixa do Parlamento
alemão) pedindo o fim da cooperação bilateral no setor nuclear entre Brasil e
Alemanha. A decisão será debatida e votada nesta quinta-feira (06/11).
No documento
apresentado, o partido alega que a cooperação entre os dois países não
contribui para melhorar a segurança nas duas usinas nucleares brasileiras, de
Angra 1 e 2.
Em entrevista à DW
Brasil, a deputada Sylvia Kotting-Uhl, uma das autoras do projeto do Partido
Verde, diz que há uma contradição por parte do governo alemão em apoiar a
energia nuclear no exterior, mas bani-la em seu próprio território.
“A energia nuclear
nunca foi e nunca será uma opção segura de geração de energia”, afirma a
deputada, que é porta-voz de política nuclear da bancada verde no Bundestag.
Deutsche
Welle: O governo
alemão deve apoiar a construção ou o desligamento de usinas nucleares em outros
países?
Sylvia
Kotting-Uhl: O governo
alemão não deve de qualquer maneira incentivar ou apoiar a construção de usinas
nucleares. Neste ano, a Alemanha deu, finalmente, um grande passo com a decisão
de não oferecer mais a garantia de crédito de exportação para empresas alemãs
que constroem usinas atômicas no exterior. Os parlamentares do Partido Verde
precisaram lutar anos para isso, mas com sucesso no fim.
Em outras áreas, no
entanto, o governo alemão continua, como antes, fomentando a energia nuclear no
exterior, por exemplo, ao não agir contra a decisão da Comissão Europeia de
conceder auxílios estatais para a construção da usina nuclear britânica Hinkley
Point C ou ao renovar acordos nucleares bilaterais, como o com o Brasil. Assim,
o governo alemão está sendo inconsequente.
Já a Alemanha pode,
por meio das instituições correspondentes, acompanhar o desmantelamento de
usinas nucleares. Aqui podemos contribuir para reduzir os riscos.
O acordo nuclear
com o Brasil não é contraditório, se a própria Alemanha optou por não utilizar
mais a energia nuclear?
Definitivamente. Na
Alemanha, o fim das usinas atômicas foi decidido com a justificativa de que os
cidadãos não podem por muito mais tempo serem expostos ao risco da energia
nuclear. Ao mesmo tempo, o governo alemão deve ter o interesse de que os
cidadãos de outros países também não sejam mais expostos a esse risco o mais
rápido possível.
Prorrogações em
silêncio de acordos nucleares antiquados não combinam com a seriedade do fim de
usinas nucleares na Alemanha.
Atualmente a
energia nuclear é uma boa e segura opção para a geração de energia?
A energia nuclear
nunca foi e nunca será uma opção segura de geração de energia. Quem ainda após
Chernobyl e Fukushima acredita que pode controlar essa tecnologia é ingênuo.
A Alemanha deve
recomendar que outros países utilizem energia nuclear?
Claro que não. A
Alemanha também não deve se mostrar desinteressada no sentido de que “cada país
decide sozinho sobre sua geração de energia”. O risco da energia nuclear não
conhece fronteiras. A catástrofe nuclear de Chernobyl atingiu quase toda a
Europa.
A tarefa da Alemanha
é mostrar alternativas. E essas, devido à proteção climática, não são
combustíveis fósseis, mas sim fontes renováveis e tecnologias para eficiência
energética.
Você vê algum
risco de que o Brasil possa ter objetivo militar com isso?
Quando o Brasil
alcançar seu objetivo de dominar o ciclo do combustível nuclear, ele terá
capacidade de fabricar a bomba atômica. Além disso, a recusa brasileira em
assinar o protocolo adicional do Tratado de Não Proliferação Nuclear da Agência
Internacional de Energia Atômica (AIEA) causa inquietação. Por isso também o
governo alemão deve cancelar o acordo nuclear com o Brasil. (ecodebate)
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