terça-feira, 4 de novembro de 2014

Seca obriga Cemig a desligar hidrelétrica

Com reservatório em nível crítico, Camargos, que opera no sul de Minas Gerais, será paralisada na próxima semana.
A seca que tem castigado o sul de Minas Gerais e toda a bacia hidrográfica do Rio Grande, responsável por 25% do abastecimento das Regiões Sudeste e Centro-Oeste, fez sua primeira vítima da geração de energia. Na próxima semana, a estatal mineira Cemig vai paralisar a operação da hidrelétrica Camargos.
A usina, que tem potência de 45 megawatts, está localizada na cabeceira do Rio Grande, que tem mais 12 barragens instaladas em seu curso. A decisão de desligar as turbinas de Camargos deve-se ao nível crítico do reservatório da hidrelétrica, que está com menos de 0,5% de sua capacidade máxima.
Até ontem, a usina ainda mantinha uma de suas duas turbinas ligadas, mas com capacidade para gerar apenas 3 MW. O desligamento da hidrelétrica, situada em Itutinga, foi confirmado ao Estado pela Cemig.
"Há previsão que essa unidade geradora seja desligada na próxima semana, quando a usina atingirá seu mínimo operativo. A partir desse momento, a vazão para jusante (rio abaixo) passará a ser liberada pela válvula de fundo, visando manter a perenização do rio", informou a estatal. "Esse procedimento deve permanecer até que as chuvas proporcionem condição afluente para elevação do nível de água do reservatório."
Abastecimento
O racionamento de água já é realizado há alguns dias em municípios do sul de Minas, afirma Cláudio Heitor Oliveira, presidente do Comitê Hidrográfico do Alto Rio Grande. "Cerca de 100 mil pessoas estão sendo diariamente afetadas pela falta de água, em cidades como Itutinga e Lavras", diz Oliveira.
No centro de Itutinga, município de 5 mil habitantes, a água tem chegado até as torneiras das casas apenas entre 6h e 14h. Nos bairros, só está disponível das 14h às 18h. "Se essa situação não mudar, a prefeitura avalia a possibilidade de decretar situação de emergência na semana que vem", diz Oliveira, que também é secretário de Agricultura de Itutinga.
Questionada sobre o racionamento na região, a Copasa, empresa de saneamento de Minas Gerais, informou que, com as chuvas do último fim de semana, o abastecimento das cidades de Itutinga e Lavras se normalizou. O "sistema de rodízio", segundo a empresa, teria acabado na terça-feira, dia 28. "Atualmente, nenhuma cidade operada pela Copasa pertencente à bacia do Rio Grande, no sul de Minas, passa por racionamento", informou.
A estiagem histórica gera um efeito cascata sobre o Rio Grande, rio que nasce em Bocaina de Minas (MG), e avança sentido Leste-Oeste, fazendo a divisa de Minas e São Paulo, até desaguar no Rio Paraná. Neste caminho, há mais 12 barragens que também sofrem com a escassez de água. O reservatório de Furnas, por exemplo, que está entre os maiores do País, está atualmente com apenas 13% de sua capacidade de armazenamento.
Ilha Solteira
Em São Paulo, no Rio Paraná, é a usina de Ilha Solteira que sofre com a falta de água. A hidrelétrica de 3.444 MW, operada pela Cesp, está há semanas com o seu volume operacional útil abaixo de zero. Há exatamente um ano, seu reservatório estava com 59% de sua capacidade.
Hoje, o nível está 3,18 metros abaixo do chamado útil operacional de 323 metros estabelecido pelo ONS. "A operação abaixo do nível 323 metros, volume útil zero, exige o acompanhamento contínuo para verificação de possíveis impactos na estrutura da barragem, nos equipamentos da usina e na utilização múltipla do reservatório", informou a Cesp.
A usina tem gerado, em média, 1.200 MW médios por dia. "Como referência, em setembro, a usina Ilha Solteira gerou 40% abaixo da média histórica dos últimos 10 anos", declarou a companhia, acrescentando que o volume gerado atende, exclusivamente, a determinações técnicas feitas diariamente pelo ONS. Atualmente, das 20 unidades geradoras de Ilha Solteira, 17 estão disponíveis para operação e três em manutenções programadas. (OESP)

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