Com reservatório em nível
crítico, Camargos, que opera no sul de Minas Gerais, será paralisada na próxima
semana.
A seca que tem castigado o sul de
Minas Gerais e toda a bacia hidrográfica do Rio Grande, responsável por 25% do
abastecimento das Regiões Sudeste e Centro-Oeste, fez sua primeira vítima da
geração de energia. Na próxima semana, a estatal mineira Cemig vai paralisar a
operação da hidrelétrica Camargos.
A usina, que tem potência de 45
megawatts, está localizada na cabeceira do Rio Grande, que tem mais 12
barragens instaladas em seu curso. A decisão de desligar as turbinas de
Camargos deve-se ao nível crítico do reservatório da hidrelétrica, que está com
menos de 0,5% de sua capacidade máxima.
Até ontem, a usina ainda mantinha
uma de suas duas turbinas ligadas, mas com capacidade para gerar apenas 3 MW. O
desligamento da hidrelétrica, situada em Itutinga, foi confirmado ao Estado
pela Cemig.
"Há previsão que essa unidade
geradora seja desligada na próxima semana, quando a usina atingirá seu mínimo
operativo. A partir desse momento, a vazão para jusante (rio abaixo) passará a
ser liberada pela válvula de fundo, visando manter a perenização do rio",
informou a estatal. "Esse procedimento deve permanecer até que as chuvas
proporcionem condição afluente para elevação do nível de água do
reservatório."
Abastecimento
O racionamento de água já é
realizado há alguns dias em municípios do sul de Minas, afirma Cláudio Heitor
Oliveira, presidente do Comitê Hidrográfico do Alto Rio Grande. "Cerca de
100 mil pessoas estão sendo diariamente afetadas pela falta de água, em cidades
como Itutinga e Lavras", diz Oliveira.
No centro de Itutinga, município de
5 mil habitantes, a água tem chegado até as torneiras das casas apenas entre 6h
e 14h. Nos bairros, só está disponível das 14h às 18h. "Se essa situação
não mudar, a prefeitura avalia a possibilidade de decretar situação de emergência
na semana que vem", diz Oliveira, que também é secretário de Agricultura
de Itutinga.
Questionada sobre o racionamento na
região, a Copasa, empresa de saneamento de Minas Gerais, informou que, com as
chuvas do último fim de semana, o abastecimento das cidades de Itutinga e
Lavras se normalizou. O "sistema de rodízio", segundo a empresa,
teria acabado na terça-feira, dia 28. "Atualmente, nenhuma cidade operada
pela Copasa pertencente à bacia do Rio Grande, no sul de Minas, passa por racionamento",
informou.
A estiagem histórica gera um efeito
cascata sobre o Rio Grande, rio que nasce em Bocaina de Minas (MG), e avança
sentido Leste-Oeste, fazendo a divisa de Minas e São Paulo, até desaguar no Rio
Paraná. Neste caminho, há mais 12 barragens que também sofrem com a escassez de
água. O reservatório de Furnas, por exemplo, que está entre os maiores do País,
está atualmente com apenas 13% de sua capacidade de armazenamento.
Ilha Solteira
Em São Paulo, no Rio Paraná, é a
usina de Ilha Solteira que sofre com a falta de água. A hidrelétrica de 3.444
MW, operada pela Cesp, está há semanas com o seu volume operacional útil abaixo
de zero. Há exatamente um ano, seu reservatório estava com 59% de sua
capacidade.
Hoje, o nível está 3,18 metros
abaixo do chamado útil operacional de 323 metros estabelecido pelo ONS. "A
operação abaixo do nível 323 metros, volume útil zero, exige o acompanhamento
contínuo para verificação de possíveis impactos na estrutura da barragem, nos
equipamentos da usina e na utilização múltipla do reservatório", informou
a Cesp.
A usina tem gerado, em média, 1.200
MW médios por dia. "Como referência, em setembro, a usina Ilha Solteira
gerou 40% abaixo da média histórica dos últimos 10 anos", declarou a
companhia, acrescentando que o volume gerado atende, exclusivamente, a
determinações técnicas feitas diariamente pelo ONS. Atualmente, das 20 unidades
geradoras de Ilha Solteira, 17 estão disponíveis para operação e três em
manutenções programadas. (OESP)
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