Reservatórios mais baixos do que em 2014 reduzem a
capacidade de atender picos de demanda se país tiver novamente altas
temperaturas no ano que vem.
O cenário para 2015 preocupa o setor. O início do ano que
vem representará um desafio ao país porque os reservatórios estarão mais
baixos do que neste ano e se forem observadas as altas temperaturas
vistas no verão de 2014 a tendência é de dificuldades no atendimento da demanda
de ponta. Apesar de o governo ter indicado que o risco de qualquer déficit
estar dentro do planejamento do CNPE, de 5% para o Sudeste/ Centro-Oeste, o
sistema pode não ser suficiente caso seja verificado novos recordes de demanda
instantânea.
No ano passado, entre o final de janeiro e a primeira semana de
fevereiro, a demanda imediata ficou em cerca de 85 mil MW. E especialistas do
setor alertam que mesmo com a economia andando de lado, há um crescimento
vegetativo do consumo, originado justamente pela classe residencial e comercial
e que podem levar a uma expectativa de aumento da demanda em 6%, na comparação
com o ano passado.
De acordo com o consultor Ricardo Savoia, da Thymos Energia, a
preocupação é com o atendimento da ponta. A avaliação do CMSE dessa semana de
que são necessárias ações conjunturais fica prejudicada porque em sua análise
não há muito o que fazer no momento além de estimular a redução do consumo. A
forma de se fazer isso é que precisa ser discutida, seja por meio de cortes de
carga na madrugada como se levantou a hipótese, ou conceder desconto na
tarifa como fez São Paulo pelo uso mais racional da água. “Um eventual
racionamento de energia fica mesmo para depois do período úmido. Precisamos ver
como terminarão os reservatórios ao final do período úmido”, lembrou ele.
Essa é a mesma posição da PSR. Para o especialista Bernardo Bezerra, o
governo já chegou à última fronteira de medida a se tomar para manter o nível
dos reservatórios que é a redução das vazões. Segundo ele, agora devemos
esperar para ver como será o período úmido para indicar o que poderá ocorrer no
ano que vem. Ele diz que no momento seria necessária a redução do
consumo que poderia ser alcançada por meio de campanhas de estímulo ao uso
consciente.
Segundo Bezerra, a preocupação com o horário de ponta é real, pois está
diretamente ligada ao nível dos reservatórios. Ele explicou que quanto menor o
nível dos reservatórios menor é a capacidade de geração e atendimento no
horário de ponta. “Começaremos 2015 com um nível menor que 2014 e com isso a
capacidade de atendimento da ponta cai”, afirmou ele.
Para Eric Rego, da Excelência Energética, uma das formas de redução de
consumo até já começou a ser tomada que é o reajuste tarifário da energia.
Aumentos na casa de dois dígitos elevam a preocupação da indústria com a conta,
mas o problema, apontou ele, é com o segmento residencial, menos sensível a
aumentos de tarifa. Para essa classe de consumo a solução no momento seria a de
se estabelecer campanhas de racionalização. “Se isso não for suficiente, aí sim
passaríamos para a obrigatoriedade de se reduzir o consumo, mas isso, depois do
período úmido”, indicou o especialista para quem a decisão de um racionamento
poderia ser tomada apenas em março.
Apesar de o risco de qualquer déficit apontado pelo CMSE estar em 5%
para a região Sudeste e Centro-Oeste, Rego afirma que as projeções da
Excelência são bem mais elevadas. Segundo o último cálculo da empresa, com
dados de setembro, esse patamar de risco estava em 25%. Ele explicou que a
consultoria considera os atrasos de obras, “um fator que o governo não
considera em sua análise”, acrescentou.
Para o presidente da comercializadora CMU, Walter Froes, o sistema já
indica que existe a necessidade de corte de carga, mas esse corte ainda poderia
ser feito por meio de campanhas de racionalização do uso da energia. “Ainda há
espaço para se reduzir a demanda por estímulo às pessoas. Os aparelhos que
ficam ligados na tomada em stand by, por exemplo, levariam a uma redução do
consumo residencial na ordem de 15% com o simples ato de serem retirados da
tomada quando não são utilizados”, apontou.
De acordo com o presidente da Enecel, Raimundo Batista, o atual cenário
do setor já indica que o momento de uma campanha de racionalização passou. Em
sua avaliação, seria necessário que o governo tomasse medidas impositivas para
que o consumo fosse reduzido em todo o país. “A chance é muito grande de o
problema ser maior do que o governo indica, a situação está terrível”, avaliou
ele.
Segundo ele, o ONS vem fazendo o que pode dentro da ordem que deve ter
recebido, inclusive, não admite, com a redução de frequência do sistema para
economizar 5% do consumo. Segundo o especialista, é o que dá para se fazer
tecnicamente. (canalenergia)
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