segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Energia não renovável

Energia não renovável ou fontes não renováveis são as fontes de energia que dependem de processos em escala de tempo geológica ou de formação do sistema solar para se tornarem disponíveis, por exemplo, o carvão mineral, o petróleo, o gás natural e a energia nuclear. Geralmente esse tipo de energia primária precisa ser transformado em energia secundária, como eletricidade ou gasolina para então ser utilizada.
Combustíveis fósseis
- Petróleo
A gasolina utilizada em automóveis se origina do petróleo.
O petróleo é um combustível fóssil, produzido há milhões de anos atrás pela pressão de material orgânico, e é hoje encontrado em algumas zonas do subsolo da terra. É a principal fonte de energia atual. O petróleo e gás natural são encontrados tanto em terra quanto no mar, principalmente nas bacias sedimentares (onde se encontram meios mais porosos - reservatórios), mas também em rochas do embasamento cristalino.
É de fácil transporte, mas seu potencial destruidor do meio-ambiente é muito grande, pois libera grande quantidade de CO2 para atmosfera sendo um dos grandes "vilões" do chamado aquecimento global, por causa da sua grande utilização nos meios de transportes como carros e motos.
- Gás natural
O gás natural é um combustível fóssil que polui menos o meio ambiente.
Gás natural é a designação genérica de um combustível cujo principal componente é o metano (CH4), o hidrocarboneto de cadeia mais simples, são proveniente de jazidas naturais localizadas em reservas que geralmente também são fontes de petróleo, mas não necessariamente. Sua composição varia, além do metano, pode ser composta de etano, propano, butano e hidrocarbonetos mais pesados.
Carvão mineral
O carvão mineral começou a ser usado como fonte de energia na Revolução Industrial.
O carvão mineral originou-se da carbonização de restos de bosques em épocas geológicas quentes e úmidas. No Brasil, embora a participação desta fonte represente apenas 5,7% do consumo energético final, é o setor siderúrgico (indústrias de ferro-gusa e aço) o principal responsável pelo seu consumo.
Combustíveis nucleares
Uma mina de urânio na Namibia
O uso de energia nuclear requer um combustível radioativo, o minério de urânio está presente no solo em concentrações relativamente baixas sendo extraído por mineração em 19 países. Este urânio extraído é usado para abastecer os reatores nucleares de geração de energia através de Urânio-235 fissível que gera calor, e em última instância utilizado em turbinas para gerar eletricidade.
O símbolo em amarelo na figura representa radioatividade.
Vantagens
- São fontes de energia usadas há muito tempo, portanto são bem conhecidas dos seres humanos. Isto é uma vantagem, pois já existe toda tecnologia e infraestrutura voltadas para estes tipos de energia.
- Em comparação às fontes renováveis, no geral, costumam ter um preço mais baixo. Por isso estas fontes são muito usadas por países mais pobres ou em processo de desenvolvimento.
- O petróleo, além de gerar combustíveis (gasolina de automóveis, combustíveis de aviação e diesel), também gera uma grande quantidade de derivados (parafina, gás natural, nafta petroquímica, produtos asfálticos, querosene, solventes, entre outros).
- Elevado rendimento energético
- Criam muitos postos de trabalho
- Fáceis de transportar
- Variedade de utilização
Desvantagens
- A principal desvantagem é o fato de não serem renováveis. Um dia as reservas destas fontes vão acabar e, caso o ser humano não invista o necessário em fontes renováveis (eólica, hidrelétrica, solar entre outras), poderemos sofrer falta de energia no futuro.
- A queima de combustíveis fósseis gera poluição do ar, prejudicando a saúde das pessoas, principalmente nos grandes centros urbanos.
- Alguns gases poluentes, resultantes da queima destes combustíveis, são um dos principais fatores da geração do efeito estufa e do aquecimento global. Portanto, são extremamente prejudiciais ao meio ambiente.
- A queima destes combustíveis fósseis também é um dos principais geradores da chuva ácida.
- Como são muito inflamáveis, os combustíveis de fontes não renováveis devem ser estocados com muito cuidado, pois o risco de explosão de reservatórios é elevado.
- A extração e transporte do petróleo, principalmente em águas oceânicas, devem ser feitos com extremo cuidado. Já ocorreram vários acidentes ambientais provocados pelo derramamento de petróleo nas águas oceânicas, gerando problemas ambientais de grandes proporções nos ecossistemas marinhos.
- Grande parte da produção de petróleo é controlada pelos países da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Estes países acabam por definir preços e quantidade de produção. Este fato gera uma dependência mundial destes países que podem, a qualquer momento, mudar suas políticas de venda e produção de petróleo.
- Já no caso do urânio (combustível nuclear) existe a desvantagem da complexidade de manipulação nas usinas nucleares. Em caso de acidentes nucleares, o risco para a população e meio ambiente é elevadíssimo. O custo para a geração de energia proveniente desta fonte também e muito alto. (wikipedia)

Terremotos induzidos por ‘fracking’

O fenômeno natural dos terremotos tem suas forças motrizes completamente dissecadas a partir da plena aceitação e consensualidade da teoria da tectônica de placas, também chamada de espalhamento de fundo oceânico, ou “sea floor spreading”.
Terremotos, acompanhado de manifestações vulcânicas, pontuais ou fissurais, tendem a ser ocorrências conjuntas nas chamadas zonas de criação e zonas de consumo e subducção. Zonas de criação são as mesmas que geram placas oceânicas de composição basáltica a diferenciados riodacíticos, movimentando a separação de continentes e gerando novas placas continentais, no caso, oceânicas.
Zonas de subducção ou de consumo, ocorrem quando placas oceânicas submergem de volta para o interior da terra, para compensar as placas criadas e manter o aspecto esférico da terra. Quando duas crostas continentais colidem, tende que nenhuma delas submerja para o interior da terra, e ambas gerem movimentos ascencionais.
Isto é o que ocorre na colisão da placa indiana com a Eurásia, onde se geram montanhas e dentre elas os Himalaias, e a colisão da placa européia contra a placa asiática que gera as montanhas dos Urais. Uma colisão de placas continentais entre si na Europa gera os Alpes. Já na América do Sul a placa oceânica de Nazca submerge para o interior da terra, por baixo da placa Sul-Americana, gerando a cadeia de montanhas dos Andes.
Placas oceânicas descem em relação às continentais porque são constituídas de rochas mais pesadas. Quando crostas continentais colidem entre si, ambas tendem a ter rochas similares e não ocorre diferença de densidade, por isso nenhuma placa oceânica tende a subduccionar para o interior da terra.
Jazidas de petróleo ou de gás tendem a ocorrer utilizando como hospedeiras rochas sedimentares psamíticas do tipo arenitos e termos conglomeráticos, que se sustentam pela justaposição de grânulos do seu arcabouço e hospedam os fluidos líquidos ou gasosos nos seus interstícios.
Logo quando se extrai gás ou óleo em profundidade dos interstícios destas rochas hospedeiras, não fica espaço nenhum vazio em profundidade. As rochas originalmente são sustentadas pelas justaposições de seus grãos de arcabouço. Mas o mecanismo de extração do fluido, seja gás ou óleo, é a injeção de outro fluido, rico em água para expulsão e coleta deste óleo ou gás em poços tubulares especialmente planejados com esta finalidade.
No entanto, esta injeção de fluido nas rochas sedimentares do tipo psamíticas, tem gerado uma movimentação similar a um movimento de terremoto, desta vez induzido por ação antrópica, os chamados “frackings” ou fissuramentos hidráulicos que são gerados em rochas.
Ultimamente o Serviço Geológico dos Estados Unidos, conhecido como “United States Geological Survey” (USGS) tem divulgado mapas destacando o local e a frequência dos terremotos, os quais estudiosos acreditam que são causados por atividades humanas ou antrópicas, associadas com extração de óleo e gás, conhecidas como “drilling” que são perfurações e o fraturamento hidráulico, conhecido como “fracking”. Que nada mais é do que injetar fluido de alta densidade para expulsar e recolher o óleo ou o gás.
O USGS disse que o aumento da atividade sísmica no centro e leste dos Estados Unidos desde 2009 “está ligado às operações industriais que se desfazem de águas residuais injetando-as em poços profundos”
Este estudo é a primeira análise específica, incluindo o que a USGS chama de “terremotos induzidos” em seus mapas, que detalham a probabilidade de ocorrer um terremoto em períodos de tempo. Estas informações, são usados para a construção de códigos, taxas de garantia e planos preparatórios para emergências, entre outras funções.
“Esses terremotos estão acontecendo em uma taxa maior do que nunca antes vista,” disse Mark Petersen, Chefe da USGS. A nova publicação inclui os estados do Alabama, Arkansas, Colorado, Kansas, Novo México, Ohio, Oklahoma e Texas. O estado americano de Oklahoma é destaque pela maior frequência de terremotos induzidos pela ação antrópica. Todas as áreas assinaladas nos registros, “estão localizadas perto de poços injetados com fluidos profundos ou outras atividades industriais capazes de induzir terremotos”, de acordo com o estudo.
Oklahoma registra cerca de 585 terremotos de magnitude 3 ou mais somente em 2014, e está na lista para ter mais 800 esse ano, de acordo com o Serviço Geológico de Oklahoma. Antes de 2009, o estado teve de 1 a 3 terremotos no ano enquanto agora existe uma média de 2,5 tremores por dia.
Cientistas do Serviço Geológico de Oklahoma divulgaram uma declaração dizendo que é bem provável que “a maioria dos terremotos recentes, particularmente aqueles de Oklahoma central e centro-norte, são impulsionados pela recarga artificial de aquíferos.” Que é o mecanismo utilizado para extração de óleo e gás, dos campos de produção.
A prática do “fracking” acaba por liberar gás e petróleo que se encontram armazenados em rochas sedimentares psamíticas, injetando uma combinação de água, químicos e areia na rocha. O subproduto tóxico do fracking depois de injetado no solo, são os poços descartáveis preenchidos pelas substâncias que acabam gerando fraturamento hidráulico que acabam segundo os estudiosos do USGS, causando esses tremores ditos induzidos, porque não são causados pela geodinâmica do “sea floor spreading”.
Investigação publicada no jornal “Nature Communications” concluiu que uma série de 27 sismos ocorridos numa pequena cidade do Texas, eram prováveis consequências das operações de drilling na formação existente de gás natural.
Não são apenas transgênicos, agrotóxicos diversos e outros problemas mais triviais como saneamento básico e outros que inspiram os pensadores a especular que a civilização humana trilha um perigoso caminho em direção a uma sociedade de risco. Todas as atividades antrópicas geram perigos candentes. É necessária uma retomada iluminista, que coloque a preocupação com o ser humano acima e adiante de todas as peripécias do mundo. (ecodebate)

sábado, 28 de novembro de 2015

Leilão de energia reservada contrata 1,47 GW em renováveis

Leilão de energia de reserva contrata 1,47 GW em usinas eólicas e solares
Com limitações na capacidade de conexão, RN leva empresas a retirar os projetos e permanecer em stand by, à espera do próximo leilão.
 O leilão de energia de reserva promovido pelo governo federal em 13/11/15 contratou 1.477,5 megawatts em usinas eólicas e solares.  Do total, foram 548,20 MW pela fonte eólica e 929,34 MW pela fonte solar fotovoltaica.
A fonte eólica concentrou a maior parte da negociação com 548,2 MW de potência contratados a um preço médio de R$ 203,46 por MWh e deságio de 4,48% em relação ao teto de R$ 213. Os projetos eólicos estão localizados em três estados com destaque para Bahia, com 18 empreendimentos.
Para o Diretor Presidente do CERNE, Jean-Paul Prates, apesar de denotar estagnação, o resultado não demonstra falta de interesse das empresas no RN. "O que acontece é que a sobra de pouco mais de 800MW de conexão que o Estado tem foi reservada pelo MME para o mercado livre, o que deixou o RN diante de um cenário de capacidade de conexão zerada. Diante disso, o posicionamento estratégico das empresas com prospecção no RN foi retirar os projetos para aguardar o próximo leilão (A-5)", explicou Prates, que está a caminho da França para participar do EWEA 2015, a convite da APEX. O EWEA acontece em Paris, de 17 a 20 de novembro e é considerado um dos maiores e mais importantes eventos do setor na Europa.
O Diretor setorial de Energia Eólica do CERNE, Luiz Galdino, esclareceu que o bom resultado da Bahia no leilão A-3 se deu devido ao Estado estar em situação inversa à do RN. "A Bahia entrou com capacidade de conexão nova, recém ativada. É natural que as empresas priorizem os projetos de lá, que serão entregues em espaço de tempo mais curto para começar a produzir", ressalta.
O preço da energia eólica que começou a R$ 213,00/MW, fechou a R$ 203,46/MW, chegou a um deságio de 4,48% em relação ao valor inicial.
O preço da energia solar fotovoltaica que começou a R$ 381,00/MW, fechou a R$ 297,75/MW, chegou a um deságio de 21,85% em relação ao valor inicial.
Na fonte Eólica o destaque vai para o estado da Bahia com 18 empreendimentos contratados (493 MW), seguidos por Maranhão com 1 empreendimento (30 MW) e RN também com 1 empreendimento (25,2 MW). O resultado realça o crescimento do Estado da Bahia e a estagnação do RN quando observado os resultados dos últimos leilões (Contratação).
Na fonte solar fotovoltaica, o destaque vai para o estado de Minas Gerais com 9 empreendimentos contratados (270 MW), seguido pelo estado da Bahia com 6 empreendimentos (169,34 MW), e o RN com 5 empreendimentos (140 MW).
Durante o leilão, foram negociados Contratos de Energia de Reserva - CER na modalidade por quantidade, com prazo de suprimento de 20 anos.
O leilão A-5/2016 acontecerá em 05/02/2016 e deverá registrar número recorde de projetos inscritos. (cerne)

Comunidades isoladas terão energia renovável

Comunidades isoladas terão energia renovável com recursos do governo
MME publicou as condições do programa em 16/11/15; projetos serão apresentados e desenvolvidos pelas distribuidoras.
As concessionárias de energia contam com mais uma alternativa para levar eletricidade aos brasileiros que vivem em regiões remotas do país. Em continuidade ao processo de universalização do acesso à energia elétrica, o Ministério de Minas e Energia publicou em 16/11/15, um conjunto de regras que permitirá as distribuidoras desenvolverem projetos de geração distribuída para o atendimento de comunidades isoladas, financiados em 90% com recursos do Programa Luz Para Todos.
A publicação regulamenta o Decreto 8.493, de 15 de julho de 2015, que cria competências para a contratação dos sistemas de geração necessários para atender as comunidades isoladas, que por motivos de ordem técnica, econômica e ambiental não podem ser conectadas aos atuais sistemas da concessionária. Nessas comunidades, os projetos de eletrificação precisam de soluções de geração localizadas. A instalação de painéis solares é vista como uma solução.
O Manual para Atendimento às Regiões Remotas dos Sistemas Isolados define os procedimentos técnicos e financeiros que devem ser observados. O texto prevê a criação tanto de sistemas individuais de geração como a criação de microssistemas. Estão previstas as seguintes tecnologias de geração: micro ou minicentrais hidrelétricas; térmicas (biocombustíveis ou gás natural), fotovoltaica; eólica; e sistemas híbridos resultantes da combinação de duas ou mais das seguintes fontes primárias: solar, eólica, biomassa, hídrica e/ou diesel.
O MME reconheceu que em diversas situações o atendimento à comunidade isolada está condicionado à execução de projetos especiais, uma vez que essas áreas têm baixa densidade populacional e se encontram distantes das redes de distribuição da concessionária. "Desta forma, torna-se imperativo o atendimento por meio de geração de energia elétrica descentralizada, utilizando fontes renováveis compatíveis com a realidade local, bem como a construção de pequenos trechos de redes de distribuição em tensões primária e/ou secundária", justifica.
As concessionárias serão responsáveis pelo desenvolvimento e execução dos projetos. O MME, a Aneel e a Eletrobras ficarão responsáveis por acompanhar a execução das obras e liberar os recursos. Noventa por cento dos projetos serão financiados pelo programa Luz Para Todos, que têm como fonte de recursos a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), encargo cobrado na conta de todos os consumidores brasileiros. O restante (10%) terá que ser aportado pela empresa como contrapartida.
"Os recursos para investimentos necessários à implantação dos Programas de Obras serão de até 90% sob a forma de subvenção econômica (CDE) e a diferença para atingir 100% será como contrapartida dos Agentes Executores. A subvenção econômica destina-se em sua totalidade à cobertura dos Custos Diretos", diz o Manual. As distribuidoras terão 24 meses para aplicar os recursos recebidos. A Aneel estabelecerá os custos com material, mão-de-obra e transporte para operação e manutenção dos sistemas de geração descentralizado (com ou sem redes associadas). (canalenergia)

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

A crise do setor elétrico brasileiro

Introdução: “as pessoas dependem de um número limitado de princípios heurísticos que reduzem a complexidade das tarefas de avaliar probabilidades e predizer valores para as operações de julgamento mais simples. Em geral, estas heurísticas são bastante úteis, mas às vezes conduzem a erros graves e sistemáticos.”
1 – Reducionismo, imprecisão e algum grau de miopia marcam explicações para o atual momento tanto do setor energético norte-americano quanto do setor elétrico brasileiro. O “descobrimento” de “energia barata” tem sido apontado, em referência ao gás de xisto, como explicação para o bom momento do setor energético norte-americano. A condição hidrológica desfavorável, por vezes combinada com forte calor, é apontada como razão determinante da crítica situação do setor elétrico brasileiro. A investigação das causas do momento norte-americano sob as perspectivas histórica, econômica, regulatória e jurídica, além de revelar o equívoco da tese da “energia barata”, serve como estudo de caso a partir do qual é possível compreender as razões para o momento do setor elétrico brasileiro e identificar alternativas para reversão do quadro.
II. O caso norte-americano: “... abra mercados, adote esquemas para inovação, invista em pesquisa e desenvolvimento e no sistema educacional”.
2 – No início da década de 60, vigorou nos Estados Unidos o tabelamento do preço do gás nas operações interestaduais. Preços artificialmente baixos aqueceram a demanda para nível superior à capacidade de oferta, provocando longas esperas dos pedidos de novos atendimentos, situação inaceitável em país marcado por rigorosos invernos. No início da década de 70, em razão da guerra do Yom Kippur, experimentou- se a primeira crise do petróleo, resultante em expressivo aumento no preço do barril do petróleo e no consequente agravamento do déficit da balança comercial norte-americana.
3 – Reformas foram implementadas com o propósito de reverter o cenário. Em resposta ao desequilíbrio no setor de gás, promoveu-se sua desregulação, cuja essência consistiu na aceitação da irrevogável lei da oferta e da procura como vetor dos preços desse bem essencial. Em resposta à crise do petróleo e seus nefastos efeitos, iniciou-se movimento de “eletrificação” do consumo de energia, o qual consistiu em reduzir o consumo interno, mas não a produção, de combustíveis fósseis, aumentar o consumo baseado em fontes renováveis e conferir incentivos à racionalização no consumo, à pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias, à inovação e ao empreendedorismo.
4 – O incentivo à racionalização no consumo foi promovido mediante tarifas indutoras de eficiência (“Efficiency Inducing Rates – EIRs”), caracterizadas por veicularem sinais de preço de acordo com o período do dia, estação do ano e comportamento do consumidor. No início do século corrente, as novas tecnologias, com destaque para os medidores inteligentes, permitiram a aplicação de preços em tempo real (“real time pricing”).
5 – O incentivo à pesquisa e desenvolvimento, à inovação e ao empreendedorismo foi viabilizado tanto pelo regime jurídico de patentes, estruturado, aplicado e revisitado sempre com o objetivo de proporcionar os incentivos adequados para desencorajar atividades improdutivas e estimular o desenvolvimento de produtos efetivamente úteis à sociedade, quanto pela chamada lei da captura, a qual, ao conferir aos cidadãos, e não ao Estado, direitos sobre os recursos naturais encontrados em suas terras, faz com que a exploração desses recursos e a percepção dos benefícios não dependam de improvável gestão eficiente de alguma PetroSam.
6 – A indução à eficiência energética desatou em produtividade, na medida em que, hoje, produz-se muito mais a partir de uma unidade de energia. Pesquisa e desenvolvimento e inovação conduziram às técnicas de fraturamento para extração de gás. Não há “energia barata”. A energia é a mesma que sempre esteve nos subsolos rochosos. Seu preço não é intrinsicamente barato ou caro, mas observa a lei da oferta e procura em escala global. A nova tecnologia de extração, sim, ostenta boa relação custo/benefício.
7 – A conjunção desses fatores fez com que os Estados Unidos tomassem a posição da Rússia como maior exportador de gás natural do planeta. Além de ter sido determinante para a redução do déficit da balança comercial e para a recuperação da economia norte-americana após a crise de 2008, o aumento na exportação de gás natural autoriza projeções de que os Estados Unidos, ainda na década corrente, assumirão a posição de maior exportador de energia do mundo e reverterão, enfim, o persistente déficit de sua balança comercial.
III. O caso brasileiro: “Pesquisas sugerem que os esforços para fazer os custos do uso da energia mais salientes podem alterar decisões e reduzir significativamente esses custos.”
8 – Em 2012/2013, implementou-se, no setor elétrico brasileiro, medida semelhante à adotada no setor de gás norte-americano no início da década de 60. Em momento em que o custo de geração refletido nas tarifas era inferior ao custo efetivo de geração de energia elétrica, fez-se a opção de reduzir essas tarifas em 20%. Assim, a diferença entre o custo efetivo de geração e o custo refletido nas tarifas aumentou ainda mais. O resultado? Sucessivos recordes históricos no consumo residencial e comercial de energia elétrica, recordes esses que, em aparente paradoxo, estão dissociados de crescimento econômico, o que sugere haver consumo ocioso, desnecessário, ou, em bom e claro português, desperdício, o extremo oposto da eficiência energética.
9 – Já houve quem acreditasse que a demanda por energia elétrica seria inelástica, ou seja, não responderia a alteração nos preços. No entanto, a experiência do racionamento já havia revelado o contrário. A essência do “racionamento” vivenciado em 2001/2002 consistiu em aumentar o preço da energia elétrica para quem não observasse as metas de redução de consumo e em bonificar quem reduzisse o consumo para patamar inferior à meta. Mediante aplicação da noção básica de microeconomia de que a demanda reage à alteração de preços de uma dada mercadoria, conseguiu-se, com o programa de racionamento, a mobilização da sociedade, cuja reação acabou por evitar a necessidade de blecaute e por superar a situação adversa de abastecimento.
10 – O contrário foi verificado com a recente redução das tarifas em 20%. Sem sinal adequado de preço e, por consequência, inadvertido, o consumidor consumiu como se o custo de geração estivesse módico e, por consequência, provocou o despacho de usinas termelétricas cada vez mais caras, as quais, usualmente movidas a óleo combustível, impuseram e ainda impõem significativos custos econômicos e ambientais, em movimento oposto ao bom exemplo da “eletrificação” colimada no caso norte- americano.
11 – Com sinal de preço menos distorcido, o cidadão-consumidor poderia ter evitado consumo ocioso, poderia ter reduzido o consumo ao longo de 2013 e início de 2014 e, assim, contribuído para o armazenamento de água nos reservatórios das usinas hidrelétricas, o que mitigaria o despacho de tantas usinas termelétricas e aliviaria os correspondentes custos, os quais, embora financiados em grande medida pelo cidadão- contribuinte, serão depois repassados ao cidadão-consumidor.
12 – As experiências do racionamento em 2001/2002 e da redução das tarifas promovida pela Medida Provisória n. 579/2012 constituem comprovações empíricas da necessidade de o Brasil despertar para a importância de a operação ser feita também pelo lado da demanda, e não apenas por intermédio da ampliação incessante e muitas vezes desnecessária da capacidade de geração do sistema.
13 – Sinais adequados de preço, de preferência em tempo real, serviriam para: (i) conter o preço da energia elétrica no curto prazo, pois o consumidor, informado sobre o custo efetivo da geração de energia elétrica, reduziria seu consumo ou alteraria os horários de consumo, dispensando o despacho das usinas mais caras; (ii) conter o preço da energia elétrica no longo prazo, pois, ao reduzir o consumo ou alterar os horários de consumo, o consumidor dispensa a necessidade de haver excedente de capacidade destinado ao atendimento do consumo na ponta; e (iii) proteger o meio-ambiente, porquanto haveria redução ou eliminação do despacho de usinas termelétricas, mais poluentes do que as usinas hidrelétricas, as quais, no Brasil, operam na base do sistema.
14 – Sinais adequados de preço também permitiriam a identificação do exato valor agregado pelas fontes renováveis. Conforme enfatiza o Professor Severin Borenstein, da Universidade da Califórnia, Berkeley, “energia de fontes intermitentes deve ser avaliada considerando o momento em que a energia é produzida.” Para ilustrar seu raciocínio, o Professor Severin Borenstein exemplifica: “Energia solar é produzida apenas durante o dia e tende a alcançar o pico de produção no meio do dia. Em muitas áreas, isso é praticamente coincidente com o período de ponta do consumo, o qual normalmente se verifica nas tardes de verão. Nesse sentido, o valor econômico médio da energia solar é maior do que seria caso a mesma quantidade de energia fosse produzida na média em todas as horas do dia. Energia eólica frequentemente apresenta padrão oposto nos Estados Unidos, produzindo, na maioria das regiões, mais energia elétrica à noite e em momentos de baixa demanda e baixos preços”.
15 – A falta de granularidade faz com que o preço da energia elétrica não reflita a efetiva contribuição e importância de cada fonte para o sistema. No exemplo mencionado pelo Professor Severin Borenstein, caso houvesse granularidade horária de preço, a fonte solar teria vantagem competitiva natural, decorrente não de subsídio, mas da sua aptidão para produzir energia elétrica no horário de ponta do consumo. No caso das usinas eólicas, a vocação para produção de energia elétrica no período noturno, se conjugada com preços horários, conformaria cenário propício à introdução do carro elétrico no País, reduzindo a emissão de poluentes e liberando à exportação a energia de combustíveis fósseis, os quais, à diferença das fontes renováveis, podem ser acondicionados em barris e embarcados em trens e navios.
16 – Maior granularidade nos preços permitiria a identificação do efetivo valor proporcionado por cada fonte, permitiria a identificação da exata relação custo/benefício associada a cada fonte, informação essencial para orientar a expansão eficiente do sistema e para fixar critérios adequados de seleção das propostas de empreendimentos mais vantajosas para o sistema e os consumidores.
IV. Conclusão: “Fatos, na vida, na política e na economia, têm consequência. Às vezes, elas demoram a chegar, mas chegam”.
17 – A comparação com o caso norte-americano faz saltar aos olhos a necessidade de o setor energético ser encarado como estratégico para a competividade nacional, em vez de utilizado com vistas à persecução de objetivos de curto prazo, como controle da inflação, aumento episódico do poder de consumo da população e/ou eleição.
18 – É tempo de o Brasil despertar para as novas tecnologias de equipamentos e também de regulação, sob pena de não perceber a maior mudança verificada na indústria elétrica desde o seu nascimento com a invenção, patenteada, da lâmpada incandescente. Ainda que se queira evitar o termo “racionalização”, o estímulo ao consumo desmedido de energia elétrica deve ceder lugar à consciência de que a noção de produtividade se aplica também ao consumo de energia. O consumidor bem informado via preço contribui com a operação do sistema e protege a si próprio, pois pode reduzir seu consumo ao essencial e, assim, mitigar ou evitar o aumento do custo de geração, que, cedo ou tarde, a ele será repassado, na condição de consumidor ou de contribuinte.
19 – O fracasso do modelo paternalista em que o Estado, em pretensão de onipotência, distorce a informação de preço e induz o consumo independentemente do custo associado está revelado na forma de litígios em profusão e tarifas em violenta ascensão após a forçada contração.
20 – “Na era do ‘tempo real’”, a reversão do quadro atual pressupõe, portanto, a utilização das novas tecnologias para, via preço, conferir informação precisa e adequada aos consumidores sobre o custo de produção de energia elétrica. Assim, assegura-se ao consumidor plena liberdade de escolha sobre quando e quanto consumir e, por consequência, obtém-se a contribuição da demanda em favor da operação do sistema.
21 – O intervencionismo paternalista, sobretudo quando caracterizado também pelo desprezo por lições básicas de economia, produz retrocesso e crise. A realidade sempre se impõe. Quanto mais se tenta postergá-la ou maquiá-la, mais caro é o preço que ela cobra. (jota)

O setor elétrico brasileiro e suas incertezas

No setor elétrico brasileiro a distinção entre crises no passado e no presente é apenas uma ilusão teimosamente persistente.
A geração de energia elétrica no Brasil foi estruturada com base em usinas hidroelétricas, aproveitando a situação privilegiada do país com grandes rios de planalto, abastecidos por abundantes chuvas tropicais. Hoje, a matriz de capacidade instalada de energia elétrica é bem mais diversificada, mas tem, ainda, a fonte hidráulica participando com mais de 65% (Figura 1).
Para escoar toda essa produção de energia elétrica das centrais geradoras aos centros de consumo, uma grande malha de transmissão foi sendo construída bem como inúmeras subestações. O sistema elétrico brasileiro hoje tem 126.652 km de linhas de transmissão instaladas (Figura 2).
Praticamente o Brasil todo é interligado, permitindo que as regiões troquem eletricidade entre si. Os resultados na estruturação da matriz elétrica atual foram bem positivos e mostram que o setor foi uma escola para a formação de um conjunto de profissionais especializados como: engenheiros, físicos, matemáticos, economistas, biólogos, técnicos e projetistas que atuaram tanto no setor estatal como no setor privado com competência reconhecida no Brasil e no exterior. A gestão institucional e o planejamento de médio e longo prazo trouxeram uma racionalização da operação e expansão da oferta de energia elétrica. Afinal, o Brasil com dimensões continentais é singular na geração hidroelétrica com sua malha de interligação do sistema elétrico em seu vasto território.
Mas para chegar até aqui o setor elétrico passou por várias crises. E parece que essa angústia de viver em crises não terminou.
Ao revisar os momentos de crise que o setor elétrico vivenciou no passado e o ambiente político-econômico do País, verifica-se que há semelhanças com a atualidade. E muitas ações foram equivocadas ou não trouxeram resultados positivos a longo prazo. Vale, ainda, refletir que muitas dessas ações ou ideias podem ainda estar sendo repetidas ou até sugeridas hoje em dia. Ou seja, o ensinamento de que olhar o passado pode evitar a repetição dos mesmos erros nem sempre é verdade.
Há um fato comum nas crises: a grande teimosia de profissionais, gestores do setor, em não assumirem que o modelo setorial está em crise. Teimosamente ou cautelosamente custam a admitir que o timing para mudanças estruturais esteja passando e quanto mais são postergadas as decisões, mais a sociedade é afetada. Certamente a decisão para mudar ou voltar atrás em medidas equivocadas cabe à hierarquia superior que está na esfera da política de governo. Há um reconhecimento entre atores privados e estatais do papel do Estado, atuando na coordenação e nas estratégias para atrair capital privado sempre na busca da segurança energética do País. Mas o mais grave é quando os técnicos se calam protegendo-se na premissa de que a decisão por mudanças está em um patamar superior e não querem receber recusas ou até advertências em suas propostas.
A estruturação do setor elétrico partiu de um arcabouço regulatório formalizado no Código de Águas em 1934, dando à União a competência de legislar, outorgar concessões de serviços públicos, antes regidos por contratos assinados com estados e municípios. Uma nova política do setor elétrico estipulou que a tarifa fosse fixada na forma de “serviço pelo custo”. O objetivo, segundo a legislação, era garantir ao agente prestador do serviço a cobertura dos custos de operação, cotas de depreciação e reversão à remuneração do capital investido.
As condições de restrições econômicas, que o Brasil sofreu em face da crise internacional decorrente da II guerra mundial, levaram o país a ter dificuldades em importar peças e equipamentos e outras restrições. No caso do setor elétrico, a estratégia foi o Estado passar a ser também um produtor de energia. Um exemplo foi a criação da companhia CHESF – Companhia Hidroelétrica do Vale do São Francisco – em 1945. Nesse ambiente foi estabelecido um modelo centralizado de planejamento. A história do setor lista uma série de planos, comissões mistas até a formação de uma holding e subsidiárias para planejar e administrar a construção de usinas geradoras e de linhas de transmissão, bem como a sua operação. Surge a Eletrobrás.
O modelo foi sendo aperfeiçoado com bons resultados até a década de 70, quando há um comprometimento de sustentabilidade do setor elétrico por conta, sobretudo, de políticas econômicas. O setor elétrico foi usado como captador de recursos externos, bem como para controle da inflação com forte contenção de suas tarifas. O uso do setor para atender a diretrizes econômicas do governo afetou a remuneração garantida das empresas e um significativo passivo setorial foi se formando. O país passou a viver um período de recessão com uma desvalorização cambial com grandes reflexos no setor elétrico. Verifica-se que medidas pontuais de governo foram sendo criadas na busca de soluções. O resultado foi um grande desequilíbrio econômico-financeiro do setor elétrico brasileiro. Nesse ambiente os investimentos foram insuficientes para atender ao consumo de uma sociedade ávida de eletricidade.
Face à falência do modelo, já na década de 90, são estabelecidas regras buscando resolver a situação. A Lei 8631/93, por exemplo, denominada no jargão do setor como “Lei de Encontro de Contas” ou “Lei Eliseu Resende” veio acalmar o inferno em que vivia o setor, trazendo alterações significativas. Um dos pilares dessa Lei foi expurgar o passivo setorial na busca de atrair o capital privado. Essa Lei, complementada por decretos e atos regulatórios, trouxe resultados positivos para o setor. Um deles, que era a preocupação do governo, foi a valorização do braço estratégico do setor, a Eletrobrás. De fato, em menos de 2 anos, o valor de mercado da Eletrobrás subiu praticamente 10 vezes e a ação da holding chegou a ser uma das mais negociadas na Bolsa. No entanto, cabe registrar que o montante total da dívida de cerca de US$ 28 bilhões, nesse “encontro de contas”, foi para o Tesouro Nacional.
Veio o programa de estabilização econômica em 1994, o Plano Real, e com ele o Programa Nacional de Desestatização com a separação das atividades de geração, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica. Uma série de Leis e portarias foi estabelecida para a criação de um modelo privado/estatal no setor. Há avaliações de especialistas que, nesse conjunto de mudanças, muitas ações foram açodadas sem um planejamento estratégico para o País. E um dos fatos mais emblemáticos que levaram muitos a desconfiarem do êxito das mudanças foram os apagões constantes nos estados do RJ e ES logo após a privatização das distribuidoras de eletricidade desses estados. Na ânsia de privatizar rapidamente algumas Concessionárias de eletricidade aplicou-se um modelo de privatização, mesmo sem uma entidade reguladora.
Com a implantação do modelo, um novo inferno de crise no setor parecia estar longe. Ledo engano. O diabo voltou com toda a força, trazendo a crise de geração de energia após medidas equivocadas de governo. O resultado foi o racionamento de 2001.
A saída foi chamar uma nova turma para apagar o fogo. Surge assim, em 2004, um novo modelo para o Setor Elétrico Brasileiro (SEB), sustentado pelas Leis nº 10.847 e 10.848 de 15 de março de 2004, e pelo Decreto nº 5.163 de 30 de julho de 2004. O profissional afeto ao setor conhece muito bem o que foi ajustado e introduzido quando da implantação dessa legislação. Não cabe aqui detalhar. Para muitos parecia que o novo modelo chegaria para resolver os riscos da falta de abastecimento de energia elétrica que causou tantos danos à sociedade. Uma esperança de preços módicos, que permitiriam à indústria e ao comércio trabalharem com baixos custos de eletricidade e proporcionariam à população contas de luz acessíveis aos seus bolsos, se extinguiu.
Como ocorreu em várias situações anteriores, quando o modelo começa a dar sinais de esgotamento, os gestores governamentais insistem em fecharem seus ouvidos a especialistas ou mesmo a seus técnicos que alertam para o risco de abastecimento. Demoram a tomar suas decisões. Assim, hoje, o setor elétrico vive driblando, com ações pontuais, uma crise de abastecimento. Uma verdadeira colcha de retalhos vem sendo criada sem um eixo central que estruture uma eficiente reforma do setor.
Há situações de dificuldades em todos os segmentos da cadeia, desde os geradores e distribuidores até os consumidores. O governo acusa S. Pedro, pois não chegam as esperadas chuvas para encherem os reservatórios, causando os riscos hidrológicos. Há especialistas afirmando que o grande culpado é o modelo do setor, incompatível com a realidade.
De concreto são os sucessivos aumentos dos preços da energia para os consumidores industriais, comerciais e residenciais. E não há perspectivas de reversão desse processo. As térmicas continuam em 2015 em pleno despacho trazendo custos elevados. Cabe lembrar que, anteriormente, os recursos do tesouro e empréstimos bancários foram acionados para cobrirem custos das Distribuidoras provenientes de compras de energia no mercado de curto prazo que chegaram a preços estratosféricos. Essa conta total deve ultrapassar R$ 37 bilhões e será paga em suaves prestações por quase 5 anos pelos consumidores. Agora, em um quadro de realismo tarifário, os consumidores arcarão com esses custos repassados pelas Distribuidoras nas revisões tarifárias.
De um lado os aumentos buscam recuperar as condições de investimentos das Distribuidoras. Por outro lado os consumidores vão ter seus custos de eletricidade aumentados. Mas será que essas medidas trarão fôlego suficiente para essas Concessionárias? A crise e o aumento de tarifas diminuem a demanda, o que reflete no faturamento dessas empresas. Há ainda os riscos hidrológicos das usinas cotizadas. Uma preocupação para o setor de distribuição.
Mas se não houvesse essa equação financeira, o setor quebraria? Certamente. Mas não foi um forte sinal de crise? E por que isso não é admitido? Teimosia para mudanças, incapacidade de governança no setor?
Do lado da geração há um inferno também. As geradoras nesse contexto foram obrigadas a cumprirem seus contratos comprando energia no mercado spot. A consequência foi a formação de um passivo financeiro que vai desaguar nas contas dos consumidores: o chamado GSF – Generating Scaling Factor que é a diferença entre a energia contratada pelas hidrelétricas e a que foi gerada (a menor). Os órgãos de governo voltados ao setor elétrico demoraram a admitir que fosse necessário encarar esse imbróglio. E só recentemente editou uma nova Medida Provisória, MP 688, criando procedimentos para reduzir o risco dos geradores. Cabe explicitar que a MP 688 não satisfaz a todos os atores envolvidos nessa situação, o que leva a questionamentos jurídicos.
Para complicar a situação, vem a revolta das geradoras estatais federais. Com grandes prejuízos, enfraquecida financeiramente, a Eletrobras culpa a gestão do sistema. Certamente alguém já pensou em responder à holding com a expressão da língua portuguesa: “Agora Inês é morta”, o que significa “não adianta mais nada”.
A crise do setor elétrico é profunda, pois está no âmago do modelo. Em consequência faltam: recursos financeiros, governança, maior integração do planejamento com a operação, confiança para manter a segurança energética, sobretudo quanto aos impasses ambientais e sociais na construção de usinas hidroelétricas na região norte e na conclusão da usina nuclear de Angra III.
As soluções para equacionar problemas à medida que vão surgindo podem se esgotar, chegando-se a um impasse. Hoje a CCEE contabiliza mais de 10 liminares contra o déficit hídrico e o mercado teme inadimplência. A situação é preocupante. Empresas com sobras de energia optam por vendê-las com valor mais baixo, pois não querem aguardar para liquidar os contratos na CCEE, face a um possível ambiente de inadimplência. Esse é um sinal mais do que vermelho para quem está sentado nas cadeiras de decisão do setor.
Uma das consequências dessa situação, que é muito ruim, é a falta de credibilidade dos investidores para o setor, dos agentes e até mesmo dos técnicos que para preservarem seus empregos se calam.
Importante, assim, é montar uma agenda para o amanhã do setor elétrico. Uma hipótese seria constituir um grande Comitê, Grupo de trabalho, Comissão ou similar para discutir uma nova modelagem para o setor elétrico. Um Grupo certamente capitaneado pelo Ministério das Minas e Energia com a presença de associações de indústrias, do comércio, de associações de geradores, distribuidores e produtores independentes, da Eletrobrás, como um agente de mercado estatal, e da Academia. O Grupo precisa ter respaldo e as soluções podem vir desses agentes que atuam no Brasil. Não se pode cair na tentação de buscar uma consultoria internacional, como outrora, com propostas trazidas de experiências de um ambiente diferente do País. Enfim, um novo acordo tem que ser alcançado.
Mas, ao contrário, se continuarmos aguardando as chuvas chegarem, a crise econômica e a crise política arrefecerem etc. para estruturar uma reforma no setor poderão surgir ideias como uma nova ilusão teimosamente persistente.
Nesse contexto o Grupo de Economia da Energia vem promovendo debates chamados “Caminhos para a Retomada” abertos à participação da sociedade. São convidados especialistas para contribuírem com uma discussão de uma agenda positiva para a crise da indústria de energia por que passa o País. Em 02/10/15 na Casa da Ciência da UFRJ no Rio de Janeiro foi realizado um debate específico sobre a crise do Setor Elétrico Brasileiro. O GEE estará disponibilizando em seu Canal no YouTube, os vídeos das apresentações do evento.
Ao final do debate pediu-se a cada um dos debatedores presentes que apontasse em uma palavra o principal eixo de direcionamento para uma saída para a crise do Setor. As respostas foram: governança, sustentabilidade e eficiência econômica. (ambienteenergia)

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Aumento de fontes poluentes na matriz energética brasileira

Relatório aponta aumento de fontes poluentes na matriz energética brasileira
O Brasil deve aumentar a participação de fontes poluentes na matriz energética nos próximos anos, segundo análise feita pelo World Resources Institue (WRI). A organização internacional de pesquisa sobre sustentabilidade divulgou hoje no último dia 21/09 o relatório Oportunidades e Desafios para Aumentar Sinergias entre as Políticas Climáticas e Energéticas no Brasil.
Segundo o documento, mais de 70% dos investimentos previstos para o setor de energia no país entre 2013 e 2022 devem ser feitos em fontes com altas emissões de gases de efeito estufa. “Em contraste com muitas das maiores economias emergentes, a matriz energética do Brasil está se tornando mais intensiva em carbono, não menos, por causa do aumento da dependência de combustíveis fósseis”, diz o texto. Ao todo, está estimada a alocação de US$ 500 bilhões no período.
A análise foi feita a partir das informações divulgadas pelo Ministério de Minas e Energia e pela Empresa de Pesquisa Energética. Assinam o relatório o professor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo, Oswaldo Lucon, a coordenadora de projetos de clima no WRI Brasil, Viviane Romeiro, e a diretora do Open Climate Network, Taryn Fransen.
Ao longo dos anos, o Brasil conseguiu reduzir o desmatamento, diminuindo o impacto da mudança do uso da terra nas emissões de carbono. De 2005 a 2011, a poluição gerada dessa maneira caiu 74%, de acordo com os dados do Ministério da Ciência e Tecnologia citados no relatório. Por outro lado, as emissões do setor de energia cresceram 24% no mesmo período, após terem registrado aumento de 44% na década anterior (de 1995 a 2005).
Para reverter a tendência, os pesquisadores ressaltam a importância de aumentar a eficiência e buscar alternativas menos poluentes para o setor de transportes. “À exceção de algumas cidades, o Brasil tem oferecido poucos incentivos até agora para fazer mudanças em direção a modos de transporte mais eficientes, incluindo o transporte sobre trilhos e o BRT (Bus Rapid Transit). Uma série de reformas nos níveis federal, estadual e municipal, poderia ajudar a acelerar essa mudança”, destaca o texto.
Integrar e otimizar o transporte público pode, de acordo com o estudo, além de trazer benefícios na mitigação das mudanças climáticas, melhorar a qualidade de vida nas cidades. “Os benefícios de investir em transporte de massa de passageiros nos maiores centros urbanos incluem a redução da poluição do ar e melhora do trânsito”, destaca o documento. Entre as medidas nesse sentido é apontado o incentivo a transporte por trilhos, para reduzir o uso de carros em longas distâncias. Os pesquisadores também defendem que o governo federal, por meio do Ministério das Cidades, fomente a criação de planos locais de mobilidade, que prevejam ações para restringir o uso dos carros.
O investimento em geração de energia por meio de fontes limpas, como solar e eólica, é outro ponto abordado pelo relatório. De acordo com o documento, há grande espaço para expansão nessa área, inclusive na questão do desenvolvimento tecnológico. “Existem oportunidades significativas inexploradas pelo Brasil nesse campo: a alta incidência de raios solares, os custos declinantes e uma forte interação entre o setor de energia fotovoltaica [solar] e as indústrias de componentes eletrônicos, em relação ao valor agregado da cadeia”.
O Brasil está tentando costurar um acordo global para a 21ª Conferência do Clima (COP 21), que será realizada em dezembro próximo, em Paris. Segundo a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, o principal objetivo é garantir um compromisso entre os países para diminuir a emissão de gases de efeito estufa, reduzindo o aquecimento global e limitando o aumento da temperatura em 2ºC até 2100. (ambienteenergia)

Temos matriz elétrica cara, poluente e com impactos desastrosos

Brasil reúne condições para sair de uma matriz elétrica cara, poluente e com impactos desastrosos
Termelétrica a carvão.
Em seminário na Câmara dos Deputados, organizações da sociedade e parlamentares apontam alternativas para o país adotar de forma acelerada fontes renováveis e sustentáveis de energia.
Não falta dinheiro para investimentos, conhecimento técnico, nem condições materiais para que o Brasil comece sair de uma matriz energética baseada em grandes usinas hidrelétricas, causadoras de grandes impactos sociais e ambientais, e em fontes térmicas que queimam combustíveis fósseis caros e poluentes. Não falta sequer a premência ética de alterar o padrão de produção de energia, que, a pretexto de atender a necessidade de milhões de pessoas urbanizadas, esbulha o direito de poucos milhares de outras que vivem na área de influência de rios barrados para construção de usinas hidrelétricas, especialmente na Amazônia. O que falta é vontade política dos agentes governamentais e do setor privado para colocar alternativas de menor impacto – como energia solar e eólica descentralizadas, imediatamente, em andamento.
Essas são algumas das principais questões debatidas durante o seminário “O Setor Elétrico Brasileiro e a Sustentabilidade no Século 21: Oportunidades e Desafios”, realizado na Câmara dos Deputados em 21/10/15 por iniciativa da Frente por uma Nova Política Energética para o Brasil e do Grupo de Trabalho sobre Infraestrutura, coordenado pela Articulação Regional Amazônica (ARA), integrado por diversas organizações da sociedade. Também colaboraram na organização do evento, que reuniu cerca de 120 pessoas, a Frente Parlamentar Ambientalista, a SOS Mata Atlântica e a Comissão de Legislação Participativa da Câmara.
Em duas mesas de debate, revezaram-se na análise da matriz elétrica brasileira e suas alternativas sustentáveis pesquisadores, representantes de organizações da sociedade civil e de empresas do setor, senadores e deputados federais, para debater alternativas de expansão do sistema elétrico brasileiro, hoje predominantemente hidroelétrico e baseado no consumo de combustíveis fósseis, para opções ecologicamente mais sustentáveis, socialmente mais justas e economicamente mais inteligentes, como a energia solar fotovoltaica e a eólica.
“Antes de se discutir a matriz energética, precisamos debater a matriz ética”, alertou o antropólogo e sócio fundador do Instituto Socioambiental (ISA), Márcio Santilli. “Por que, para garantir o meu direito de ter o provimento de energia na minha casa na cidade, é necessário inundar a casa de quem vive perto dos rios da Amazônia? Construir usinas superestimadas em potencial e superfaturadas no orçamento? Esse é um modelo corrupto e falido que está trazendo consequências muito negativas ao país”, questionou Santilli.
“A política energética no Brasil é desconectada de uma política de desenvolvimento, de uma política industrial e de desenvolvimento socioambiental. Os PDE estão desconectados dos leilões de energia e, consequentemente, do que realmente é contratado e, posteriormente, instalado”, criticou a advogada Kamyla Borges Cunha, do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), chamando a atenção para o fato de que estão planejadas para serem construídas na região amazônica dezenas de grandes hidrelétricas, com previsão de grandes impactos. “Quando na realidade a prioridade de investimento deve ser nas fontes renováveis, que induzem ao desenvolvimento tecnológico, empregos de qualidade, renda, inovação e apresentam pouquíssimas emissões no ciclo de vida”, analisa a advogada.
Com ela concorda André Nahur, coordenador de mudanças climáticas e energia na organização WWF-Brasil. “O Brasil gastou nos últimos anos, em custos diretos, R$ 34 bilhões com usinas térmicas emergenciais, mas despreza o enorme potencial solar e eólico que possui. Segundo estudos de planejamento energético, instalando painéis solares em apenas 0,03% do território brasileiro, em áreas de insolação média, atenderíamos à toda nossa atual demanda”, afirma, chamando atenção para a necessidade de fazer aquilo que ele chama de “transição acelerada para a energia solar”.
“Se incentivarmos o uso da energia solar com o que usamos com as térmicas emergenciais, em apenas cinco anos teremos a mesma geração em termos de uso da energia solar. Se considerarmos que os sistemas de energia solar têm durabilidade de 25 anos, em longo prazo a energia solar será muito mais barata que as outras fontes”, completa, lembrando que um passo importante nesse sentido é o Brasil adotar, a exemplo do que já fizeram outros países, marcos legais diferenciados para o setor de fontes renováveis.
“Precisamos fazer imediatamente essa transição no Brasil, porque nos Estados Unidos, por exemplo, ela já ocorre e de forma intensa”, alertou Kamyla, do IEMA. “Lá, cerca de 170 mil pessoas trabalham na cadeia de produção da energia solar. Esse é um número maior do que o de trabalhadores da indústria de carvão naquele país”, diz, lembrando que, no Brasil, outro grande problema para o desenvolvimento do setor solar são os instrumentos financeiros de suporte. “Os do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por exemplo, são ocasionais. Necessitamos de uma visão de longo prazo e não de um PDE que muda a cada ano”.
“As fontes sustentáveis geram mais empregos, de melhor qualidade, melhor remunerados e que ainda estimulam a inovação tecnológica”, adicionou Rodrigo Sauaia, da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar), que reúne perto de 100 empresas e profissionais do setor. “Cada MW gerado produz 30 empregos desse tipo”, estima, fazendo ainda a comparação com a opção solar que a Alemanha e o Brasil fazem. “Lá, o país de maior capacidade instalada, eles geram perto de 40GW. Aqui, o mesmo sistema geraria o dobro, devido à intensa insolação do território brasileiro”, afirma. O Brasil tem apenas de 42 MW de capacidade fotovoltaica, segundo dados da ANEEL de outubro de 2015. Isso representa uma pífia participação na matriz elétrica brasileira, apenas 0,014%.
Sauaia chamou atenção para a queda expressiva dos custos da energia solar, nos leilões de compra de energia organizados anualmente pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). “Em 2013, cada MW contratado nos leilões saiu a US 110. Em 2014 caiu para US88 e no leilão e agosto passado ficou em US85. No leilão de novembro próximo esses valores deverão cair ainda mais”.
O uso de fontes de energia sustentáveis foi também defendido com veemência pelo deputado federal Pedro Uczai (PT-SC), que ao mesmo tempo defendeu o fortalecimento da indústria brasileira. “Há no mundo, por exemplo, poucas empresas produtoras de equipamento para geração eólica. Não podemos simplesmente permitir que elas venham para o Brasil e monopolizem o mercado”, alerta. Disse ainda que em seu estado esteve envolvido na resistência à construção de grandes barragens e atua em aliança com o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).
Outro parlamentar, o senador Hélio José (PSD-DF), também defendeu maiores investimentos em energia solar e lembrou que a existência de várias frentes na Câmara dos Deputados e no Senado Federal que de alguma forma lidam com o tema das energias renováveis precisam convergir para terem mais força política para propor ao Executivo políticas energéticas mais sustentáveis e, igualmente, enfrentarem o lobby contrário de grandes agentes econômicos das áreas de hidrelétricas, de combustíveis fósseis e até nuclear.
No sentido dessa convergência, Sérgio Guimarães, coordenador do Grupo de Trabalho sobre Infraestrutura, um dos organizadores do evento, propôs e ficou acordado um conjunto de reuniões com diversos parlamentares e a participação deles em um seminário técnico sobre energia solar que será realizado em novembro em conjunto com o MME. Também foi lembrada a importância de convidar os secretários estaduais de Fazenda, a participarem dessa articulação, devido ao peso que as questões fiscais têm quando se trata de viabilidade das fontes renováveis.
Essa reunião com técnicos do governo e pesquisadores de organizações da sociedade, incluindo alguns parlamentares, foi um dos principais encaminhamentos do seminário. De acordo com Joilson Costa, da coordenação da Frente por uma Nova Política Energética para o Brasil, “o evento também apontou que é necessário unificar os esforços das várias frentes parlamentares que discutem as energias renováveis, a eficiência energética e a geração distribuída, para potencializar a celeridade de tramitação das propostas de lei nessas áreas”, observou Costa.
Entre as propostas elencadas por Costa, a partir das intervenções realizadas nas duas mesas da manhã desta quarta, incluem-se ainda revisitar os vários projetos de lei em tramitação na Câmara e no Senado, estudar a possibilidades de acrescentar incentivos ainda não contemplados e buscar criar um marco regulatório mais amplo para o setor. Também foi sugerida a proposição de uma lei que institua a instalação compulsória de painéis fotovoltaicos em novas unidades de programas habitacionais do governo federal, bem como a destinação de parte das emendas parlamentares para a realização de projetos nas áreas de energias renováveis, eficiência energética e geração distribuída no país. (ecodebate)

domingo, 22 de novembro de 2015

Eficiência energética, energias renováveis e o PIB brasileiro

Eficiência energética e uso de energias renováveis aumentou o PIB do país
A busca pelo aumento da eficiência energética e o desenvolvimento de meios alternativos de geração de energia com baixa produção de poluentes alavancam o crescimento do PIB sem aumentar as emissões de carbono, disse o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Na avaliação do ministro, é importante que esse debate envolva o setor privado e o governo.
Levy e a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, reuniram-se com representantes do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), uma associação de mais de 70 grupos empresariais que busca promover o desenvolvimento sustentável. A discussão integra a fase de preparação para a participação do Brasil na 21ª Conferência do Clima, que ocorrerá em dezembro, em Paris.
“Ter um fórum como o CEBDS é fundamental. O governo e o setor privado estão conversando sobre caminhos que vão dar protagonismo ao Brasil, gerar emprego e tornar inúmeras coisas mais acessíveis, dentro da estratégia de inclusão do país”, disse Levy na entrevista coletiva após o encontro.
O ministro destacou que o próprio desenvolvimento de tecnologias para a ampliação do uso de energias renováveis representa um fator multiplicativo benéfico sobre a economia. “Assim, nós fazemos com que a busca pela sustentabilidade e pela mitigação de mudanças climáticas seja um fator de desenvolvimento”, afirmou.
No campo da energia eólica, exemplificou o ministro, o Brasil opera perto da fronteira tecnológica, mas há sempre muito a avançar.
Levy elogiou o trabalho de Izabella à frente do Ministério do Meio Ambiente. “A diminuição do desmatamento e das queimadas permitiu uma queda de 40% das emissões totais de carbono nos últimos dez anos. Nenhum outro país fez assim”, disse Levy. “Hoje nossa emissão de carbono por unidade de PIB é o que a Alemanha tem como alvo para 2030.”
Izabella, por sua vez, lembrou que a meta que o Brasil levará para Paris é reduzir em 43% a emissão de gases de efeito estufa até 2030, tendo 2005 como ano-base, e destacou a importância do esforço que o país ainda terá de fazer para atingi-la. “Temos que preparar nossos investidores para ter um país competitivo em termos de crescimento econômico levando em consideração a transição para uma economia de baixo carbono”, disse ela.
Izabella ressaltou a importância da parceria com o Ministério da Fazenda na condução desse diálogo entre governo e setor privado para o desenho de novos planos, novas políticas e novos investimentos. “A reunião foi bastante exitosa, nesse sentido de buscar um formato de diálogo com o setor produtivo”, afirmou.
No encontro, os empresários discutiram com os ministros propostas para ampliar o consumo inteligente de energia, desenvolver a produção de energias renováveis e também reduzir as emissões do transporte de cargas.
Levy foi questionado sobre esse último ponto durante a coletiva. Questionado sobre o impacto das restrições de financiamento a projetos que buscam melhorar a eficiência energética e reduzir a emissão dos transportes, o ministro aproveitou para reforçar a importância da busca de um Orçamento equilibrado que permita a volta do crescimento.
“A questão da capacidade do governo se financiar vem de uma adequação que começa com o Orçamento de 2016, a otimização e priorização de certos gastos e economias em muitas áreas”, argumentou Levy. “Essa é a importância de acelerarmos e chegarmos a um Orçamento robusto que dê a tranquilidade necessária para o Brasil voltar a crescer. E precisamos voltar a crescer já”, disse ele. (ambienteenergia)

Melhores para linhas de financiamento de eficiência energética

BNDES, Abesco e CEBDS promovem melhores para linhas de financiamento de eficiência energética
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (ABESCO) e o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) decidiram unir forças para buscar as melhores práticas e soluções para linhas de financiamento para a área de eficiência energética. Entre as ações discutidas está a parceria com a Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN) com o intuito de trazer agentes financeiros para alavancar financiamento via modalidade indireta.
De acordo com o presidente da Abesco, Rodrigo Aguiar, houve um avanço enorme para o setor de eficiência energética com as alterações no BNDES Eficiência Energética (antigo Proesco), ainda mais porque uma das reivindicações do mercado era ter linhas de financiamento que atendessem as características do setor, o que foi resolvido.
“Hoje o programa conta com três linhas, além da BNDES Eficiência Energética, há a BNDES Soluções Tecnológicas que passa a atender as características também das operações indiretas e isso criará um maior volume de projetos junto aos agentes repassadores e a MPME Inovadora (micro, pequenas e médias empresas) que foi oficializada pelo BNDES e é a que está com as melhores taxas, de 6,5% de taxa fixa mais a taxa variável (formada pela Selic ou TJLP mais a remuneração do BNDES mais a remuneração da instituição credenciada). Por isso é fundamental que elas sejam amplamente divulgadas e aproveitas”, destaca Aguiar.
Ainda segundo o presidente da Abesco, a linha BNDES Soluções Tecnológicas já está em fase de cadastramento de fornecedores e prestadores de serviço. Os interessados devem procurar no site do BNDES as informações para realizar o cadastro. (ambienteenergia)

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Petróleo, o grande vilão na mudança climática

 
Especialistas afirmam que temos pouco tempo para mudar hábitos e tentarmos reverter o quadro da mudança climática. Em 2013, a Academia Nacional de Ciências publicou um estudo que explica o porquê muitas cidades ficarão isoladas em algum grau de submersão devido ao aumento no nível do mar. Em contrapartida, também temos estimativa de que até 2020 todos os cantos do planeta já terão sofrido com essas transformações.
Em 08/11/15 o El País publicou uma matéria sobre a Cúpula do Clima de Paris, informando que estaríamos próximos da última chance para revertermos a mudança climática. Para o professor de química da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Rogério Aparecido Machado, não é necessariamente a última oportunidade, mas afirma que o tempo está se esgotando e a população está muito atrasada no processo de reversão ou estagnação desta transformação que está em curso.
A Terra está mais quente por vários fatores. Pode-se começar pela falta de sensibilidade na derrubada de florestas que comandam o ciclo hidrológico, no qual as chuvas seguem um padrão e a evaporação é fundamental. Outro ponto, é o fato de que com o desmatamento o caminho dos ventos é outro, não acumulando água que se tornaria chuva. Por fim, o ar poluído com gás carbônico e metano dificultam a saída do calor da Terra fazendo com que ela fique aquecida. Para o professor Machado, não adianta querer diminuir estes gases sem enfrentar a realidade.
“O mundo em que vivemos é a sociedade do petróleo e, este, não está perto do fim, temos ainda no mínimo um século de consumo desse combustível. Esse fator torna as mudanças de padrão de consumo mais complicadas para países como EUA (Estados Unidos da América), China, Japão ou Rússia. Outro agravante é que esse óleo não é usado apenas como combustível, mas também é a matéria-prima direta ou indireta de alimentos e bens de consumo. Ele está presente nas embalagens, no transporte ou onde menos esperamos. Esta é a nossa maior dependência; precisamos refletir e começar a mudar muito mais, além de apenas parar de usar gasolina ou diesel”, afirma.
Segundo Machado, não é a última chance do planeta, mas precisam pensar, muito, cientificamente para não apenas dar um remédio para natureza, pois ela precisa que seu verdadeiro problema seja resolvido, e este pode-se considerar que é a sociedade baseada no consumo de barril de petróleo por inteiro. (ecodebate)

Maiores bancos investem mais em combustíveis fósseis que em energias renováveis

Maiores bancos do mundo investem nove vezes mais em combustíveis fósseis que em energias renováveis
Termelétrica a carvão
Há um mês da Conferência Mundial do Clima, o Minando Nosso Futuro, estudo de coalizão internacional da qual Idec faz parte, mostra que setor financeiro aposta pouco em fontes alternativas de energia.
Nos últimos cinco anos (2009-2014), os 25 maiores bancos privados do mundo destinaram pelo menos US 931 bilhões (90,5% do total) a companhias ou negócios em combustíveis fósseis, de acordo com o novo relatório lançado hoje pelo Fair Finance Guide e pelo BankTrack, coalizão internacional da qual o Idec faz parte com o projeto Guia dos Bancos Responsáveis. O estudo, intitulado Minando Nosso Futuro e publicado simultaneamente nos sete países da coalizão (Bélgica, Brasil, França, Holanda, Indonésia, Japão e Suécia), mostra que no mesmo período o financiamento voltado a energias renováveis totalizou US$ 98 milhões, ou 9,5% do total.
O relatório Minando Nosso Futuro está sendo publicado a menos de um mês antes da Conferência do Clima da ONU, em Paris, a COP 21.
Foram investigadas 75 instituições financeiras e as operações dessas com cerca 178 empresas, e foram pesquisados mais de 540 projetos de energia renovável. Para tanto, foram utilizadas bases de dados financeiros – Thomson e Bloomberg –, incluindo plataformas específicas como a Bloomberg New Energy Finance. Embora os dados de investimentos sejam informações públicas, seu baixo nível de transparência deixa entrever que os valores reais devem ser ainda maiores que os apontados no estudo.
O primeiro estudo internacional a comparar financiamentos de bancos a combustíveis fósseis e energia renovável identifica a prioridade que vem sendo dada a fontes de energia “sujas” em detrimento de fontes limpas desde 2009, ano da Conferência do Clima em Copenhague. Até o final de 2014, a cada US$ 1 destinado a energia renovável pelos bancos, foram fornecidos mais de US$ 9 a combustíveis fósseis.
Os números contrastam com as afirmações destes bancos quanto às suas intenções de combater as mudanças climáticas.
O relatório também aponta que três bancos americanos – Citi, JPMorgan Chase e Bank of America são os maiores financiadores de combustíveis fósseis. Entre 2009 e 2014, Citi e JPMorgan forneceram US$ 76 bilhões cada a empresas ativas em combustíveis fósseis e apenas US$ 6,5 bilhões e US$ 4,4 bilhões, respectivamente, à energia renovável. O Bank of America forneceu mais de US$ 62,7 bilhões a companhias de combustíveis fósseis e apenas US$ 5,4 bilhões à energia renovável.
Nenhum dos demais bancos entre os dez maiores financiadores de combustíveis fósseis – conhecidas instituições francesas, alemães, inglesas e japonesas – destinaram mais de US$ 7,5 bilhões no período 2009-2014. Tais números, ofuscados diante do total destinado a combustíveis fósseis, contrastam com as frequentes afirmações destes bancos quanto às suas intenções de combater as mudanças climáticas.
Dentre as 25 maiores instituições em volume de investimentos, apenas duas operam no Brasil: HSBC e Santander. O primeiro ocupa a 10ª posição no ranking e, nos últimos cinco anos, diminuiu em 6% seus investimentos em energia fóssil, ainda que esses representem 89% do total investido; já o banco de origem espanhola está na 22ª posição, tendo aumentado em 3% seus investimentos em energia fóssil, apesar desses já representarem 64% do total da instituição.
Para Carlos Thadeu C. de Oliveira, gerente técnico do Idec, “os bancos têm um papel crucial na economia e a responsabilidade de promover uma economia menos intensiva em carbono. O estudo mostra em números que as intenções ou declarações dos bancos não se traduzem em compromissos claros.”
O relatório Minando Nosso Futuro aponta, ainda, que diversas instituições financeiras não tem definidas políticas de mitigação climática nem compromissos vigentes.
Yann Louvel, coordenador de clima e energia do BankTrack, afirmou: “Precisamos de uma ação ambiciosa dos bancos agora. As ações do Crédit Agricole e do Natixis, na França, assim como do Bank of America e do Citi foram positivos movimentos nos últimos meses no sentido de reduzir seu apoio à indústria de carvão. Ainda assim, nenhum dos principais bancos em nível mundial aderiu ao Paris Pledge (Compromisso de Paris) e se comprometeu antes da COP21 em Paris a zerar seus financiamentos em carvão. É esse tipo de compromisso prático que nós precisávamos ver, para que haja um fim no privilégio a combustíveis fósseis e na asfixia dos financiamentos a energias renováveis.”
Para Alexandre Naulot, porta-voz do Fair Finance Guide International, “os governos precisam agir. Precisamos que eles adaptem as legislações para mobilizar o setor financeiro na direção de uma economia de baixo carbono e que encoragem bancos e outras instituições financeiras a eliminar o financiamento a combustíveis fósseis, começando pelo carvão”.
A Fair Finance Guide International é uma iniciativa composta por coalizões de diversas organizações que trabalham com finanças responsáveis na Bélgica, Brasil, Dinamarca, França, Indonésia, Japão, Holanda e Suécia. A FFGI é apoiada financeiramente pela Sida, a Agência Sueca pelo Desenvolvimento Internacional.
O BankTrack é uma organização global que monitora, realiza campanhas e apoia ONGs com nos investimentos e operações de bancos comerciais internacionais.
A pesquisa para este relatório foi conduzida pela Profundo, consultoria focada em analisar cadeias de commodities, instituições financeiras e questões de responsabilidade social corporativa. (ecodebate)