Maiores bancos do mundo
investem nove vezes mais em combustíveis fósseis que em energias renováveis
Termelétrica
a carvão
Há
um mês da Conferência Mundial do Clima, o Minando Nosso Futuro, estudo de
coalizão internacional da qual Idec faz parte, mostra que setor financeiro
aposta pouco em fontes alternativas de energia.
Nos
últimos cinco anos (2009-2014), os 25 maiores bancos privados do mundo
destinaram pelo menos US 931 bilhões (90,5% do total) a companhias ou negócios
em combustíveis fósseis, de acordo com o novo relatório lançado hoje pelo Fair
Finance Guide e pelo BankTrack, coalizão internacional da qual o Idec faz parte
com o projeto Guia dos Bancos Responsáveis. O estudo, intitulado Minando Nosso Futuro e publicado
simultaneamente nos sete países da coalizão (Bélgica, Brasil, França, Holanda,
Indonésia, Japão e Suécia), mostra que no mesmo período o financiamento voltado
a energias renováveis totalizou US$ 98 milhões, ou 9,5% do total.
O
relatório Minando Nosso Futuro está sendo publicado a menos de um mês
antes da Conferência do Clima da ONU, em Paris, a COP 21.
Foram
investigadas 75 instituições financeiras e as operações dessas com cerca 178
empresas, e foram pesquisados mais de 540 projetos de energia renovável. Para
tanto, foram utilizadas bases de dados financeiros – Thomson e Bloomberg –,
incluindo plataformas específicas como a Bloomberg New Energy Finance. Embora
os dados de investimentos sejam informações públicas, seu baixo nível de
transparência deixa entrever que os valores reais devem ser ainda maiores que
os apontados no estudo.
O
primeiro estudo internacional a comparar financiamentos de bancos a
combustíveis fósseis e energia renovável identifica a prioridade que vem sendo
dada a fontes de energia “sujas” em detrimento de fontes limpas desde 2009, ano
da Conferência do Clima em Copenhague. Até o final de 2014, a cada US$ 1
destinado a energia renovável pelos bancos, foram fornecidos mais de US$ 9 a
combustíveis fósseis.
Os números contrastam com as afirmações destes bancos quanto às suas intenções de combater as mudanças climáticas.
Os números contrastam com as afirmações destes bancos quanto às suas intenções de combater as mudanças climáticas.
O
relatório também aponta que três bancos americanos – Citi, JPMorgan Chase e
Bank of America são os maiores financiadores de combustíveis fósseis. Entre
2009 e 2014, Citi e JPMorgan forneceram US$ 76 bilhões cada a empresas ativas
em combustíveis fósseis e apenas US$ 6,5 bilhões e US$ 4,4 bilhões, respectivamente,
à energia renovável. O Bank of America forneceu mais de US$ 62,7 bilhões a
companhias de combustíveis fósseis e apenas US$ 5,4 bilhões à energia
renovável.
Nenhum
dos demais bancos entre os dez maiores financiadores de combustíveis fósseis –
conhecidas instituições francesas, alemães, inglesas e japonesas – destinaram
mais de US$ 7,5 bilhões no período 2009-2014. Tais números, ofuscados diante do
total destinado a combustíveis fósseis, contrastam com as frequentes afirmações
destes bancos quanto às suas intenções de combater as mudanças climáticas.
Dentre
as 25 maiores instituições em volume de investimentos, apenas duas operam no
Brasil: HSBC e Santander. O primeiro ocupa a 10ª posição no ranking e, nos
últimos cinco anos, diminuiu em 6% seus investimentos em energia fóssil, ainda
que esses representem 89% do total investido; já o banco de origem espanhola
está na 22ª posição, tendo aumentado em 3% seus investimentos em energia
fóssil, apesar desses já representarem 64% do total da instituição.
Para
Carlos Thadeu C. de Oliveira, gerente técnico do Idec, “os bancos têm um papel
crucial na economia e a responsabilidade de promover uma economia menos
intensiva em carbono. O estudo mostra em números que as intenções ou
declarações dos bancos não se traduzem em compromissos claros.”
O
relatório Minando Nosso Futuro aponta, ainda, que
diversas instituições financeiras não tem definidas políticas de mitigação
climática nem compromissos vigentes.
Yann
Louvel, coordenador de clima e energia do BankTrack, afirmou: “Precisamos de
uma ação ambiciosa dos bancos agora. As ações do Crédit Agricole e do Natixis,
na França, assim como do Bank of America e do Citi foram positivos movimentos
nos últimos meses no sentido de reduzir seu apoio à indústria de carvão. Ainda
assim, nenhum dos principais bancos em nível mundial aderiu ao Paris
Pledge (Compromisso de Paris) e se comprometeu antes da COP21 em Paris a
zerar seus financiamentos em carvão. É esse tipo de compromisso prático que nós
precisávamos ver, para que haja um fim no privilégio a combustíveis fósseis e
na asfixia dos financiamentos a energias renováveis.”
Para
Alexandre Naulot, porta-voz do Fair Finance Guide International, “os governos
precisam agir. Precisamos que eles adaptem as legislações para mobilizar o
setor financeiro na direção de uma economia de baixo carbono e que encoragem
bancos e outras instituições financeiras a eliminar o financiamento a
combustíveis fósseis, começando pelo carvão”.
A
Fair Finance Guide International é uma iniciativa composta por coalizões de
diversas organizações que trabalham com finanças responsáveis na Bélgica,
Brasil, Dinamarca, França, Indonésia, Japão, Holanda e Suécia. A FFGI é apoiada
financeiramente pela Sida, a Agência Sueca pelo Desenvolvimento Internacional.
O
BankTrack é uma organização global que monitora, realiza campanhas e apoia ONGs
com nos investimentos e operações de bancos comerciais internacionais.
A
pesquisa para este relatório foi conduzida pela Profundo, consultoria focada em
analisar cadeias de commodities, instituições financeiras e questões de
responsabilidade social corporativa. (ecodebate)
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