Relatório do WRI-Brasil e USP
mostra que é possível produzir mais energia emitindo menos
Recomendações têm como objetivo subsidiar o governo na definição de metas para a negociação do acordo do clima, em dezembro.
Recomendações têm como objetivo subsidiar o governo na definição de metas para a negociação do acordo do clima, em dezembro.
Investir
na redução das emissões do setor de transportes através de mais integração com
ferrovias e hidrovias, em melhorias no transporte público, acabar com subsídios
para combustíveis fósseis, investir mais em biocombustíveis; incentivar a
eficiência e a consequente economia do uso de energia na indústria e priorizar
fontes modernas de energias renováveis (eólica e solar). Estas são as
principais recomendações contidas no relatório “Oportunidades
e Desafios para Aumentar Sinergias entre as Políticas Climáticas e Energéticas
no Brasil”, divulgado pelo World Resources
Institute (WRI-Brasil),
em parceria com o Instituto de Energia e Ambiente da USP (IEE/USP).
Se o
Brasil não começar a reduzir as emissões no setor de energia, elas serão em
breve a principal fonte de produção de gases que contribuem para o aquecimento
global no país– os chamados gases de efeito estufa (GEE).
Na
última década, o país ampliou sua dependência em combustíveis fósseis e reduziu
a fatia de energias renováveis na geração total de energia no país: “Apesar de
estarem crescendo em termos absolutos, a porcentagem de energias renováveis na
matriz energética brasileira caiu 6% nos últimos seis anos,” observa Viviane
Romeiro, uma das autoras do relatório e Coordenadora de Projetos de Clima no
WRI-Brasil. Isto quer dizer que as emissões de energias não-renováveis estão
crescendo mais do que as de energias renováveis.
O
relatório foi lançado às vésperas da divulgação da proposta oficial que o
governo leva para a COP 21 – a Conferência do Clima que vai discutir um novo
acordo climático pós-2020. E propõe uma mudança radical nos investimentos
previstos em energia, além de defender que a proposta brasileira para a COP
contenha o compromisso de uma forte redução de emissões energéticas durante as
próximas décadas.
Segundo
a Diretora-Executiva do WRI-Brasil, Rachel Biderman, se a presidente Dilma
Rousseff não apresentar uma proposta consistente para levar à mesa de
negociações em Paris, em dezembro, vai enfraquecer a posição do Brasil:
“Enfraquece porque resolver o problema das mudanças climáticas, que é hoje o
maior do planeta, depende em grande parte de como produzimos energia. O Brasil
pode sim produzir energia com baixas emissões e é isto o que mostra o
relatório”.
A
presidente Dilma Rousseff deve divulgar a proposta brasileira (chamada de INDC
no jargão das negociações climáticas) durante seu discurso anual na abertura da
Assembleia das Nações Unidas, em Nova Iorque, semana que vem. Entre os países
que emitem mais de 1% do total de GEE no mundo, os que ainda não apresentaram
proposta são Brasil, Índia e Indonésia.
As
recomendações do estudo são resultado do mapeamento e análise de planos e
estimativas oficiais e estudos de institutos de pesquisa e instituições
respeitadas como o Banco Mundial, Agência Internacional de Energia e o
Greenpeace. “Analisamos os cenários existentes e os estudos convergem: não há
como reduzir a emissão, sem descarbonizar a matriz,” explica Oswaldo Lucon,
professor do IEE/USP e um dos autores da pesquisa. As reduções propostas, mesmo
em diferentes cenários, levam as estimativas de diminuição das emissões de energia
em torno de 40% até 2030.
As
políticas públicas de energia e de clima não são harmonizadas no Brasil. O
plano de energia tem precedência sobre o plano climático e é revisto todos os
anos, enquanto que a Política Nacional sobre Mudança do Clima “está congelada
desde 2009,” afirma Lucon.
“A
gente carece de instrumentos de política energética que incluam a questão das
energias renováveis de maneira mais estratégica,” critica o
Secretário-Executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl. “Os Planos Decenais
de Energia (PDEs) não trazem o estabelecimento de metas que possam ser
incentivadas por instrumentos tributários. As mudanças se dão por motivos
conjunturais”. Ele dá o exemplo da revisão de projeção de geração de energia
solar, do PDE 2023 para o PDE 2024, em que a estimativa para a
produção de energia solar passa de 3 a 4 Gigawatts (GW) para 7GW em dez anos.
“Isto foi decisão estratégica de país para produzir energia mais limpa, porque
somos um país muito ensolarado? Não. Foi em função de um contexto em que os
reservatórios das hidrelétricas estão muito baixos, o custo de acionamento das
termoelétricas foi grande para o país e teve impacto econômico. Não temos um
plano para o país,” lamenta.
Quadro:
Recomendações do relatório
1. Melhorar a eficiência de combustíveis e investir
na transição para transportes com baixa emissão de carbono. O setor de transportes é a principal fonte das
emissões de gases do efeito estufa relacionadas à energia. O uso de
biocombustíveis que não causem mudanças negativas no uso da terra, juntamente
com o transporte de massa e meios de transporte não motorizados podem
rapidamente conter as emissões do setor. Até o momento, com exceção de poucas
cidades, o Brasil ofereceu incentivos limitados no sentido de uma mudança para
modos de transporte mais eficientes, como ferrovias e BRT. Tal mudança traria
benefícios locais significativos e melhoraria a qualidade de vida.
2. Oferta de incentivos para aumentar a eficiência
na indústria, incluindo a implementação
do planejado Mercado Brasileiro para Redução de Emissões (MBRE) que
incentivaria a eficiência ao criar um preço para o carbono. Além de condicionar
o licenciamento ambiental ao cumprimento de altos padrões de eficiência
energética e acelerar planos para transição para combustíveis de baixo carbono
e a implementação do Sistema de Mensuração, Relato e Verificação (MRV) para
emissões de carbono da indústria.
3. Priorizar fontes renováveis modernas,
particularmente energia solar e eólica, ao mesmo tempo em que lida com os
desafios apresentados pelos grandes projetos de hidrelétricas. O Brasil pode promover o desenvolvimento de energia
solar e eólica e sua interconexão com a rede, ao se comprometer com o aumento
de sua participação na matriz energética em 30% até 2030. É preciso
incluir esse compromisso no plano nacional do clima a ser apresentado pelo país
para a negociação do novo acordo do clima, na COP 21, em Paris.
4. Conciliar as políticas energética e climática,
assim como processo de planejamento entre as políticas nacionais e
internacionais. As políticas energética e
climática e os processos de planejamento precisam ser integrados de forma mais
completa e coerente. No setor de energia, isso implica em reconhecer que, se
adotado um processo de planejamento de um orçamento de carbono, tendo como base
o Plano Nacional de Energia (PNE) e o Plano Decenal para Expansão de Energia
(PDE), o Brasil não pode continuar a focar em combustíveis fósseis. No contexto
da política climática, isso inclui estabelecer metas ambiciosas e factíveis de
redução de emissão de gases do efeito estufa, que considerem todo o potencial
de abatimento benéfico e custo efetivo no setor energético. (ecodebate)
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