O Ministério de Minas e
Energia encaminhou o projeto de lei sobre a reforma do setor elétrico à
Presidência da República.
O texto traz mudanças muito
aguardadas, como o acesso de empresas de menor porte ao mercado livre de
energia – onde podem negociar diretamente com as geradoras – e a adoção de uma
política mais rigorosa na concessão de subsídios.
A abertura do mercado livre a
partir de janeiro de 2026, na prática, deverá reduzir os custos da energia para
empresas menores, ao eliminar intermediários na compra. Hoje, apenas grandes
consumidores podem comprar diretamente das geradoras, sem a intermediação das
distribuidoras.
É o caso das montadoras de
veículos por exemplo. Com as mudanças propostas, um supermercado, que hoje não
pode fazer essa compra direta, passaria a poder. Para os clientes residenciais,
porém, nada muda. O texto sugere a realização de estudos para elaborar uma
proposta para o segmento até 2022.
O secretário-executivo do
Ministério de Minas e Energia, Paulo Pedrosa, disse que o projeto marca o fim
de uma visão intervencionista sobre o mercado por parte do governo.
Ele argumenta que o setor
elétrico conviveu por muitos anos com políticas equivocadas, como a escolha de
“campeões nacionais” e investimentos de estatais a taxas “patrióticas”.
“É
muito simbólico que estejamos liderando um movimento oposto. As políticas devem
ser transparentes, e o consumidor deve ter voz e poder de escolha”, afirmou
Pedrosa. “O desafio do setor elétrico é o desafio do País: abandonar a prática
do bem localizado e do mal distribuído”.
A proposta também muda a
política de subsídios, que, atualmente, custa R$ 18 bilhões por ano e é paga
integralmente pelos consumidores, por meio das tarifas de energia. De acordo
com o Ministério, a conta de luz custeia diversas políticas que beneficiam
geradores de fontes renováveis, irrigantes, produtores rurais, população de
baixa renda e empresas de saneamento, o que distorce o custo da energia.
Pelo projeto de lei – que
está na Casa Civil e será ainda enviado à apreciação do Congresso Nacional –
serão exigidas contrapartidas dos beneficiários, além de critérios de acesso
que considerem aspectos ambientais e condições sociais e econômicas.
O texto sugere ainda uma
alteração na lei que regula a compra de imóveis por estrangeiros, permitindo
que empresas internacionais possam adquiri-los, desde que estejam relacionadas
à execução de atividades de geração, transmissão e distribuição de energia.
Para o Ministério de Minas e
Energia, a atual restrição funciona como uma barreira à entrada de capital
externo para investimentos no setor, limitando a concorrência.
O mercado aprovou as
mudanças, mas considerou que algumas são tímidas e poderiam ser adotadas num
prazo mais curto. “O projeto lembra a proposta para a reforma da Previdência,
que começou ousada e depois cedeu muito. Esse já começa modesto, embora esteja
na direção correta”, disse o presidente-executivo da Associação Brasileira dos
Grandes Consumidores (Abrace), Edvaldo Santana.
“A redução dos limites de
demanda para a migração de consumidores ao mercado livre de energia elétrica
poderia se dar de maneira mais célere. A expectativa é que esse assunto possa
ser revisto na tramitação do texto no Congresso”, afirmou o diretor
administrativo da comercializadora Electra Energy, um Leonardo Salvi.
Para MIkio Kawai Junior,
diretor-executivo da consultoria e comercializadora Safira Energia, a proposta
moderniza o setor e aproxima o País da realidade do século 21. “No futuro, o
consumidor residencial poderá comprar energia de quem bem entender, talvez a
partir de aplicativos de celular”.
A Casa Civil ainda pode fazer
os ajustes finais. Depois de passar por esse crivo, o projeto de lei poderá ser
assinado pelo presidente Michel Temer e enviado ao Congresso.
Outra possibilidade é que a
proposta seja encampada por algum deputado via projetos engavetados, que já
tramitam na Casa e que possam receber um novo substitutivo.
A proposta final prevê ainda
que será cobrado um bônus de outorga de toda usina antiga que tiver o contrato
de concessão renovado, sem passar por nova licitação.
Os recursos arrecadados pela
União serão divididos na proporção de dois terços para o Tesouro Nacional e um
terço para os consumidores, por meio de descontos nas tarifas.
(ambienteenergia)
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