Relatório ambiental da Apple
mostra menos gasto com energia e menos emissão de CO2.
Painéis solares no telhado da
sede da Apple na Califórnia.
A Apple anunciou em 09/04/18 que finalmente atingiu um
objetivo que vem buscando há anos. A empresa afirma que 100% da energia
consumida em todas as suas operações no mundo inteiro agora vem de fontes
renováveis. Mas será mesmo?
A novidade foi alardeada por
parte da imprensa internacional, mas a realidade não é tão simples. O que a
Apple quer dizer com "100%" é que a empresa, hoje, adquire energia
suficiente de fontes renováveis para cobrir tudo o que gasta com fontes não renováveis.
Tome como exemplo a loja
oficial da Apple em São Paulo. A energia que ela consome vem da distribuidora
local, que é a AES Eletropaulo. A Apple não pode usar painéis solares ali
porque a loja fica dentro de um shopping. Ela até pode comprar energia de uma usina
limpa, mas essa energia só chega até a loja da empresa se passar primeiro pela
Eletropaulo.
Quando chega à Eletropaulo, a
energia que vem da usina eólica ou solar acaba se misturando à energia que vem
de fontes não renováveis, como combustíveis fósseis. Dessa forma, a Apple não
tem como ter certeza de que 100% da energia que abastece a sua loja em São
Paulo é "limpa".
O que a Apple pode fazer, e
tem feito há anos, neste caso, é adquirir Certificados de Energia Renovável
(RECs, na sigla em inglês). Estes certificados são uma espécie de
"garantia de limpeza" fornecidos por usinas de energia renovável.
Usinas que vendem, por
exemplo, 1.000 megawatts-hora por ano a um cliente como a Apple não têm como
garantir que esses 1.000 megawatts-hora serão consumidos pela Apple porque não
dá para rastrear a energia. É como tentar rastrear 500 ml de água que você
despejou no oceano.
Os RECs são certificados de
que esses 1.000 MWh, porém, foram realmente gerados. Se a loja da Apple gastar
1.000 MWh por ano com energia "mista" que vem da Eletropaulo, mas
também comprar 1.000 RECs (isto é, um certificado para cada megawatt-hora), a
empresa pode atestar que 100% da energia que ela gastou foi compensada na
produção de energia renovável.
Ao
anunciar que 100% da sua energia vêm de fontes renováveis, o que a Apple quer
dizer, na verdade, é que a empresa, hoje, já produz mais energia de fontes
renováveis, através da compra de RECs ou de geração própria, do que o volume
total de energia que ela consome no mundo todo.
Além de comprar RECs, a Apple
também investe em usinas particulares de energia solar e eólica, e garante que
todos os seus novos escritórios e lojas ao redor do mundo usam, de verdade,
100% de energia de fontes renováveis. Como, por exemplo, o Apple Park, seu
campus em forma de nave espacial inaugurado no ano passado, que possui painéis
solares no telhado (foto acima).
O plano da empresa é, um dia,
fazer com que cada escritório, loja, data center e fábrica terceirizada em
todos os 43 países em que ela atua sejam abastecidos por energia 100% limpa.
Mas enquanto existirem distribuidoras como a Eletropaulo em todo canto do
mundo, este continua sendo um objetivo longe de ser alcançado.
O comunicado da Apple tem
alguns outros dados menos enganosos. A empresa diz, por exemplo, que desde
2011, já reduziu em 54% suas emissões de gases do efeito estufa, o que impediu
a entrada de 2,1 milhões de toneladas de CO2 equivalente na
atmosfera da Terra.
"Nós
estamos comprometidos a deixar o mundo melhor do que quando o
encontramos", diz Tim Cook, CEO da Apple, no comunicado oficial da
empresa. "Nós vamos continuar trabalhando no limite para estabelecer novas
e criativas fontes de energia renovável, porque o futuro depende disso."
(olhardigital)
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