Com bioenergia Brasil pode
reduzir 39% da meta de emissões.
Se chegar até o máximo esperado (71,3 MtCO2eq), sozinho, o setor vai contribuir para mitigar 39% da meta total que o Brasil se comprometeu a reduzir (a chamada NDC ou Contribuição Nacionalmente Determinada), de 183 MtCO2eq até 2030. Isso significa, na prática, substituir até 30 bilhões de litros de diesel.
A intenção da consultoria com o relatório, segundo o executivo, é justamente chamar a atenção de consumidores, empresários e governos para uma área que pode, com incentivos corretos, ampliar seu impacto. Na pizza de setores que mais emitem no Brasil, o de transporte - incluindo rodoviário, aéreo e marítimo -, não é o principal, mas não deixa de ser um relevante: é responsável por 15% das emissões nacionais. Por outro lado, as soluções para ele são mais conhecidas e já utilizadas e, portanto, mais escaláveis.
Para Rodolfo Taveira, diretor
da mesma área na consultoria, o país precisa valorizar as soluções de baixa emissão
que já têm e não apenas ‘comprar’ a solução de outros países, como o carro
elétrico. “Temos condições diferentes e opções só nossas que podem ser mais
interessantes, como os carros híbridos a etanol e eletricidade”, diz.
Ele cita estudo da Empresa de
Pesquisa Energética (EPE) que elenca alguns obstáculos para eletrificação da
frota de veículos brasileira, tais como a escassa infraestrutura de
abastecimento em um país em que uma parte da população ainda não tem nem acesso
à energia elétrica em suas casas. Além disso, a EPE cita o alto preço dos
próprios automóveis e suas baterias, que demandam materiais estratégicos. Na
conclusão, aponta os biocombustíveis como uma alternativa nacional,
especialmente para veículos leves, uma vez que a tecnologia e infraestrutura de
abastecimento já são mais disseminadas.
“Estamos em um momento frutífero para falar sobre as opções de combustíveis. Há uma expectativa maior para criar regulamentações que incentivem a agenda ambiental”, comenta Ivo Godoi, sócio da prática de Energia e Recursos Naturais da Oliver Wyman. Ele acredita que isso pode criar um contexto que também leve o governo a incentivar fontes de energia alternativas e combustíveis renováveis.
Sustentabilidade do cultivo de cana-de-açúcar para produção de bioenergia.
O Brasil é hoje o segundo
maior produtor global de biocombustíveis, com 23% de participação, graças a sua
desenvolvida indústria de etanol extraído da cana-de-açúcar. Nos cálculos da
Oliver, se o consumo de etanol for incentivado e a proporção de carros flex com
etanol subir dos atuais 33% para 66% até 2030, o Brasil ampliará em 29% o
consumo do biocombustível até 2030 e reduzirá sua pegada de carbono em 11,6
MtCO2eq.
Em um cenário ainda mais
otimista, em que 100% dos motores flex consumam etanol até 2030, e as vendas de
veículos flex cheguem a 80%, o país pode diminuir em 24,9 MtCO2eq
suas emissões. Neste contexto, a produção de etanol responderia por 62% de do
abastecimento de veículos leves no país.
Para Rodolfo Taveira, a
política de mistura obrigatória de biodiesel ao óleo de origem fóssil contribui
não apenas para reduzir as emissões de GEE, mas também para diminuir a
dependência da importação do recurso, impactando na balança comercial do país.
Hoje, cerca de 25% do diesel consumido no Brasil é importado. “Os benefícios
não são só ambientais”, diz. “O biodiesel tem papel relevante em mover essa
agenda adiante através da regulação”.
No documento, os autores do relatório calculam que, se o Brasil atingir níveis de mistura semelhantes aos da Indonésia, por exemplo, onde espera-se chegar até 35% de biodiesel até o final de 2023, isso levaria a uma redução das importações para apenas 5% e implicaria em uma diminuição de 29 MtCO2 eq.
Desde abril, o teor de biodiesel subiu de 10% para 12% na mistura com o diesel fóssil e a proposta aprovada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) propõe elevar a 15%, de forma progressiva, até 2026. (biodieselbr)
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