“Essa é uma questão que eu
gostaria de entender. (...) O retorno cíclico dessa discussão é algo que
realmente causa estranheza”, disse o pesquisador em entrevista à
BiodieselBR.com. Em sua opinião, ele a questão deveria ter sido pacificada
ainda em 2019 quando o Ministério de Minas e Energia (MME) publicou o relatório
final dos testes de motores conduzidos para validar o uso do B15. “Foi
exaustivo. As empresas fizeram os testes que elas quiseram (...) não houve
nenhuma interferência”, afirma acrescentando que não houve o apontamento de
nenhum problema.
Para ele a questão se torna
ainda mais difícil de entender quanto outros países que usam basicamente as
mesmas matérias-primas e tecnologias produtivas que o Brasil – caso dos Estados
Unidos – têm experiências com misturas maiores do que a nossa sem enfrentar
maiores problemas. “Nos Estados Unidos usam óleo soja como nós (...) e eles
usam B20 em alguns mercados e eu não conheço relatos de que haja problemas [de
qualidade] por lá. (...) E temos as mesmas montadoras e fabricantes de motores.
É difícil entender a mudança de postura”, pondera.
Não tem muito tempo, a cadeia foi abalada por uma dessas turbulências periódicas às quais Paulo Suarez se refere. Semanas antes da reunião do CNPE que decidiu pela volta do B12, fabricantes de biodiesel e representantes de outros setores estiveram empenhados numa troca de farpas pública.
Especificação rígida
Mesmo as revisões nas
especificações feitas pela ANP – seja a implementada em agosto 2019 – não
satisfizeram os críticos do biodiesel. “Temos uma das legislações mais
rigorosas do mundo em relação à qualidade [do biodiesel]. São 24 parâmetros. Em
nenhum outro lugar do mundo tem tantos parâmetros observados”, afirma.
Para o professor da UnB, as melhorias que a ANP foi implementando nos últimos anos já deveriam ter resolvido os problemas mais relevantes. Especialmente em relação ao limite de oxidação do biodiesel que passou de 8h para 13h. “Esse parâmetro se tornou mais rigoroso (...) eu acredito que isso já tenha sido resolvido”, comenta informando que além de blendas de matérias-primas com gorduras saturadas – o que eleva a estabilidade oxidativa do biodiesel – e, também, se tornou obrigatório o uso de aditivos no produto final.
Boas práticas
Uma parte dos problemas
também não está necessariamente ligada ao biodiesel em si, mas a elos que estão
a jusante na cadeia – como a distribuição e a revenda – que podem combater o
problema por meio da adoção de boas práticas de manutenção. “Sempre que ocorreu
algum problema, a gente conseguiu achar soluções”, ressalta.
Assim como ressalta que, mesmo que tenham sido identificados problemas nos testes coordenados pelo governo federal entre 2016 e 2019, nada de conclusivo pôde ser atribuído ao biodiesel. “No [grupo de trabalho] não apareceu nenhuma evidência de que o biodiesel estaria piorando a situação (...) ninguém demonstrou os problemas realmente fossem oriundos exclusivamente do biodiesel”, resume.
Para ficar
O setor de biodiesel não vai
simplesmente desaparecer, alerta Paulo. Não apenas porque ele se tornou uma parte
importante da economia brasileira com contribuições importantes para o complexo
soja e a agricultura familiar e é fundamental na estratégia de descarbonização
do Brasil. “Acabar com o biodiesel não é algo que eu veja no horizonte”,
completa.
Mesmo o diesel verde não
seria um substituto para o biodiesel. Primeiro porque ainda temos muito diesel
fóssil para substituir, mas também o biodiesel tem um impacto positivo sobre o
perfil de emissões. “Tem vários estudos que comprovam que a adição de biodiesel
melhora a combustão reduzindo as emissões de hidrocarbonetos e de outros
poluentes do diesel puro, seja ele fóssil ou verde. Dessa forma, ele tem um
papel a cumprir mesmo que seja como aditivo”, encerra. (biodieselbr)
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