segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Gás de xisto ameaça renováveis

Rochas de xisto (foto). Mineral pode deixar fontes renováveis em segundo plano.
O uso de rochas betuminosas para extrair nafta, óleo combustível, gás liquefeito, óleo diesel e gasolina, não é novidade. Novo é o contexto conseguido pelos EUA e Canadá de preço baixo, com o uso da tecnologia de fraturamento hidráulico que utiliza uma mistura de água, areia e produtos químicos para perfurar as camadas de xisto e extrair gás natural dos poros rochosos. De acordo com a Administração de Informação de Energia dos EUA (EIA, na sigla em inglês), a participação do xisto na produção total de gás natural americano passou de menos de 5% há 10 anos para 34% em 2012.
Segundo Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, “o mundo passa por uma grande revolução energética. Há três anos, se pensava que tinha chegado a vez dos renováveis, mas parece que não, que o gás natural vai ser a força motriz da terceira revolução industrial“. José Roberto Mendonça de Barros, economista da MB Associados, aponta que o gás de xisto deprime o preço do velho carbono, que se torna mais competitivo do que é hoje. “Petroquímicas brasileiras já mudaram para os EUA, pois não têm como competir aqui, são 17 dólares em Camaçari e 3 dólares nos EUA” estima.
Existe espaço para a economia limpa, acredita José Roberto, mas ameaças novas não estão sendo consideradas. “Como atravessa essa ponte? Com política econômica? A competitividade da energia renovável tem de ser recuperada, mal começou a ser usada para os produtos novos e já escapou da mão” avalia. “Renováveis continuarão a ter seu papel”, também acredita Miguel Rossetto – presidente da Petrobras Biocombustível. Antes a energia nuclear era a aposta para substituir fósseis, relembra.
O gás de xisto só vai aumentar a necessidade de se conquistar competitividade de custo para as energias limpas, avalia Miguel. “O cenário é de preservar fontes alternativas em multiplicidade de ofertas, de acordo com as especificidades de cada país, o Brasil tem de enxergar a biomassa como estratégia estrutural de fonte de energia para este país, pois temos como produzir biomassa 365 dias por ano, só aqui há latitude favorável, mais 5 graus acima de equador e menos 35” orienta.
Nathan Hultman, da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, pondera que o gás natural vai ter impacto, mas não vai inviabilizar o mercado para os combustíveis limpos. Ele cita os exemplos de as novas usinas de energia americanas já se submetem a limites de emissão, porque o CO2 é considerado um poluente, de haver um teto aplicável ao transporte veicular e de o State Renewable Portfolio Standards obrigar uma porcentagem mínima de fontes renováveis na energia elétrica em 30 dos 50 estados americanos. “Com o tempo, à medida que as tratativas sobre o clima avançarem esses patamares serão ainda mais arrojados”, acredita.
Mario Sergio Fernandes de Vasconcelos, Diretor da Febraban, pontua que “o gás natural é melhor que o carvão”, assim, o preço baixo de exploração do de xisto pode contribuir para que as plantas movidas a carvão sejam fechadas mais rapidamente, por esse lado, seria um ganho ambiental. “Mas há outras externalidades a serem consideradas como o metano liberado durante a extração e o potencial comprometimento da qualidade dos recursos hídricos”, contrabalança.
Extração do gás xisto (imagem) gera críticas quanto aos danos ambientais e geológicos que causa.
Atualmente apenas EUA e Canadá exploram comercialmente o gás de xisto, mas Rússia, China e o próprio Brasil têm grandes reservas, ressalta o vice-diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP), Colombo Celso Gaeta Tassinar. “O potencial brasileiro seria superior a 6,4 trilhões de metros cúbicos, ou seja, entre as 10 maiores reservas do mundo”, estima. Para ele, quando esses recursos forem explorados, as indústrias que utilizam gás natural em sua produção serão beneficiadas com a queda do custo do combustível e terão aumento de competitividade.
Nesse contexto, Elizabeth Farina, CEO da União da Indústria de Cana de Acúcar, identifica que a política pública, voltada aos combustíveis renováveis, precisará ser aprimorada. Bioeletricidade, por exemplo, depende muito das condições econômicas prevista nos editais, com perspectivas de longo prazo, reconhecendo atributos que contribuam positivamente para essa matriz, como o fato da biomassa estar próxima dos centros de carga o que diminui o custo de transmissão e as perdas, além disso, de haver complementariedade com o período de secas, explica. Outro ponto importante, para Elizabeth, é parar de dar subsídios ao transporte individual e aos combustíveis fósseis, “a proposta de taxar o combustível fóssil para financiar o transporte coletivo vai gerar convergência de interesses e precificação das externalidades positivas” acredita.
Ainda é cedo para avaliar os riscos que o gás de xisto representa para os renováveis, conclui Luis Roberto Pogetti, presidente do Conselho de Administração da Copersucar, maior produtora de açúcar e etanol do mundo. Na sua perspectiva, a concorrência predatória será mais com o carvão e a gasolina. “Sem dúvida há um novo panorama, mas ainda haverá muitas discussões ambientais e sobre a manutenção dos preços baixos no longo prazo” aposta. Ademais, para ele, o fato de não ser energia limpa pode tirá-lo de uma necessária agenda de futuro que reconheça a importância estratégica de manter combustível limpo na matriz energética mundial. (ambientelegal)

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