A erosão da EROEI: Energia Retomada sobre
Energia Investida
O “pico do petróleo”
e a consequente crise econômica global é motivo de muita discussão. O declínio
da produção dos combustíveis fósseis foi previsto pelo geofísico americano M.
King Hubbert que, em 1956, publicou um artigo mostrando que o pico (máximo da produção)
do petróleo, no mundo, deveria ser atingido em torno de 50 anos. Depois deste
pico, a produção cairia rapidamente, podendo criar um grande desequilíbrio
entre a demanda e a oferta. Isto provocaria um grande aumento do preço dos
hidrocarbonetos, afetando a economia internacional.
Porém, existem visões
mais “otimistas” do ponto de vista da continuidade do atual modelo de
desenvolvimento. A Agência Internacional de Energia (IEA) acredita que a
capacidade de aumento da produção dos combustíveis fósseis vai continuar nas
próximas décadas. Alguns autores, por outro lado, dizem que o “pico”, se
houver, não seria da produção, mas sim da demanda por petróleo, sendo que o
avanço das energias renováveis poderá ser uma solução para a crescente
necessidade energética mundial.
Todavia, a grande
questão a ser debatida é o custo da produção de energia e o retorno que se
obtém dos investimentos realizados. Para tanto, é preciso considerar ao
conceito EROEI, que é a sigla em inglês para “Energy return on Energy invested”
(Energia Retornada sobre Energia Investida). Ou Eroi (Energy return on
invested). O EROEI pode ser apresentado pela fórmula “K para 1”, sendo K a
quantidade de energia retornada por 1 unidade investida. Quanto mais alto for o
EROEI mais eficiente é o combustível. Se K é próximo de 1, a fonte energética
não é viável, pois utilizará tanto ou quanto na produção do que no seu retorno.
Indubitavelmente, é
necessário energia para extrair energia. Quando teve início a produção de
petróleo, o seu EROEI situava-se em torno de 100 para 1. Em meados do século XX
o EROEI ainda estava na casa de 50 para 1. Nos dias atuais, se utiliza um
barril de petróleo para produzir o equivalente a nove barris. Para o gás de
xisto e as areias betuminosas (tar sands) o EROEI situa-se perto de quatro para
um. Estudos mostram que para haver desenvolvimento econômico o EROEI deve ficar
entre cinco e nove vezes.
Se a relação entre a
energia investida e a energia obtida ficar baixa seriam necessários mais
recursos para manter uma produção adequada de petróleo e gás, sobrando cada vez
menos dinheiro e recursos para outras atividades econômicas e sociais. A erosão
da EROEI reduz a lucratividade das empresas, reduzindo os salários e aumentando
o custo de produção de bens e serviços, reduzindo a produtividade geral da
economia. Cada pessoa a mais é um retorno a menos em termos econômicos.
O século XXI está
assistindo à diminuição do EROEI do petróleo, pois houve, ao longo do tempo, um
aumento na demanda, fazendo com que o petróleo fácil de ser extraído fosse
acabando. A produção de petróleo em águas profundas (como no exemplo do
pré-sal), por ser menos acessível, exige mais energia no processo de produção,
diminuindo o EROEI.
Portanto, pode-se
dizer que o fim da energia fóssil abundante e barata chegou ao fim. Por isto, é
praticamente impossível manter os altos índices de crescimento do PIB do
período de ouro da economia internacional, que foi de 1950 a 1973 (antes da
crise do petróleo). A produção energética chegou a uma espiral de complexidade.
A demanda por mais energia leva à necessidade de mais complexidade para obter
esta energia adicional. Com a complexidade crescente, há um risco maior de
acidentes devido à natureza complexa do sistema e um aumento geral de custos. O
grande desafio das energias renováveis é, exatamente, reduzir os custos de
produção para que a energia retornada seja várias vezes maior do que a energia
investida, viabilizando a transição para uma economia de baixo carbono e
sustentável ambientalmente.
Em síntese: se a EROEI
dos combustíveis fósseis apresenta uma tendência persistente de declínio, o
mesmo acontece com a produtividade geral da economia. Neste quadro, é
impossível manter altas taxas de crescimento econômico, assim como a mobilidade
social ascendente fica comprometida. Energia mais cara significa preço dos
alimentos mais elevados. Implica, também, na possibilidade de maiores protestos
populares, especialmente nos países que se encontram na fase da pirâmide
populacional conhecida como a “bolha de jovens”. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário