Gás de Xisto: a festa de despedida dos combustíveis fósseis?
O gás de xisto é a
última esperança para se evitar o pico dos combustíveis fósseis. Existe uma
euforia nos mercados capitalistas dos Estados Unidos com a possibilidade da
independência energética propiciada pelas enormes reservas de “shale gas”. Boa
parte das empresas americanas acreditam que os EUA vão se tornar uma potência
energética, sendo que o país poderia deixar de ser dependente das importações
de petróleo e se transformar em exportador líquido de energia. Assim, a
principal economia do mundo poderia ficar livre dos problemas políticos e
religiosos do Oriente Médio. O gás de xisto tem sido visto como a alternativa
para evitar o declínio do Império Americano.
Todavia, a produção
de gás de xisto não está com esta bola toda, além de ser altamente poluidora e
destruidora do meio ambiente. Artigo de Asjylyn Loder, na Bloomberg (traduzido
pelo jornal Valor Econômico), mostra que os poços de xisto começam a pleno
vapor, mas declinam rapidamente, obrigando os produtores a abrir novos poços a
um ritmo alucinante para manter a produção estável. Nos campos de produção, a
necessidade incessante de perfurar é referida como Rainha Vermelha, nome do
personagem em “Alice no País dos Espelhos” que diz a Alice: “Você precisa
correr o máximo que for capaz, para ficar no mesmo lugar”.
Por exemplo, o poço
Serenity 1-3H, da Chesapeake Energy, perto de Oklahoma City, jorrou petróleo em
2009, produzindo mais de 1,2 mil barris por dia e dando início a uma corrida de
perfuração de poços que se estendeu até o Kansas. Atualmente, o poço fornece
menos de 100 barris por dia, segundo registros do Estado. O rápido declínio do
Serenity lança luz sobre um segredo muito bem ocultado sobre o boom do
petróleo: ele pode não durar.
Em diversos casos, o
balanço energético da exploração do gás de xisto (Energy Return on Energy
Invested – EROEI), indica que que por cada unidade de input de energia o output
era de apenas duas unidades, no máximo 3 unidades. Ainda segundo o mesmo
artigo, os EUA precisam perfurar 6.000 novos poços por ano, a um custo de US$
35 bilhões, para manter a produção atual. Os poços mais novos não são tão
produtivos como os abertos nos primeiros anos do crescimento explosivo, um
sinal de que as companhias de petróleo já esgotaram os melhores sítios,
tornando muito mais difícil continuar quebrando recordes. Há previsões de que a
produção atingirá o pico em 2017 e então cairá para níveis de 2012. O entusiamo
exagerado quanto à independência energética dos EUA e ao uso do termo ‘América
Saudita’ é ensurdecedor, mas pode não passar de um “canto do cisne”.
O geólogo americano,
Art Berman, especialista em combustíveis fósseis, disse: “Eu vejo o xisto mais
como uma festa de despedida do que uma revolução”. “É o último suspiro” (dos
combustíveis fósseis). Steve Andrews diz que o gás e o petróleo de xisto podem
ser o ouro dos tolos no mundo da energia.
A produção de gás de
xisto é altamente danosa para o meio ambiente e tende a aumentar o stress
hídrico. O processo de fraqueamento (fracking), exige a utilização de grande
quantidade de água e, em geral, provoca a degradação dos lençóis freáticos.
Como mostrou Marcelo Garcia, o processo de extração do gás de xisto não é
totalmente conhecido, uma vez que as empresas tratam seus detalhes como segredo
industrial. Por exemplo, junto com a água pressurizada, também é bombeada uma
série de substâncias químicas cuja composição exata não é divulgada – ela
incluiria, por exemplo, ácidos como os usados em lavagem de piscinas,
anticorrosivos, redutores de atrito e agentes químicos que facilitam a saída dos
fluidos. Além disso, outros pontos ainda pouco dimensionados podem causar
grandes danos ambientais, além da enorme quantidade de água necessária para a
exploração do gás.
Segundo o biólogo
Jean Guimarães: “As principais críticas de moradores, cientistas e
ambientalistas a essa atividade é a contaminação da água subterrânea, traduzida
na presença de lama, metais pesados e hidrocarbonetos na água dos poços e
córregos locais e, portanto, nas torneiras. Em algumas casas próximas a áreas
de perfuração nos EUA, a água da torneira contém tanto metano que é inflamável,
como documentado no imperdível filme Gasland, de Josh Fox”.
Também cresce a
preocupação com a “água tóxica”. Artigo de Suzanne Goldenberg trata da
crescente preocupação com a eliminação segura bilhões de litros de águas
residuais que são devolvidos à superfície, juntamente com o petróleo e o gás,
quando as rochas de xisto são fraturadas. A água retornada da exploração do gás
de xisto contém brometos de rádio, conforme mostram os estudos que apontam evidências
de riscos da radiação de perfuração de águas residuais. Além disto, a autora
mostra que “as águas residuais descarregadas em estações de tratamento podem
contaminar a água potável, especialmente quando o brometo no esgoto se mistura
com cloro (muitas vezes usado em estações de tratamento de água potável),
produzindo trihalometanos, substâncias químicas que causam câncer e aumentar o
risco de reprodução ou problemas de saúde”.
Por tudo isto, cresce
o movimento “Global Frackdown” para banir a exploração do gás de xisto e a
prática do fracking. Seria
aconselhável que o Brasil (que está entrando no atoleiro do pré-sal) avaliasse
bem os riscos da produção de gás de xisto, pois não vale a pena gastar as
reservas de água em troca de um combustível poluidor e que tem um ciclo de vida
relativamente curto. É bom lembrar o princípio da precaução e evitar entrar em
uma canoa furada. O melhor para o Brasil e o mundo é sair o mais rápido
possível da era dos combustíveis fósseis e investir em energias renováveis e na
transição para uma economia de baixo carbono. (ecodebate)
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