terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Setor hoteleiro precisa buscar eficiência energética

“Apague a luz, não sou sócio da companhia de eletricidade.” A frase, que em muitas casas passa de geração em geração, continua sendo verdade. Mas fazer isto é pouco ante o mundo de opções para economizar no final do mês. Em um hotel, há um sem-número de possibilidades, e isto vale tanto para pequenas pousadas quanto para grandes redes. As iniciativas podem abranger desde ações simples, como a escolha certa das lâmpadas, até projetos mais complexos, em edificações novas ou prédios que passam por reformas ou processos de retrofit.
Tecnologias e soluções foram abordadas no Fórum de Cogeração e Alternativas Energéticas para o Setor Hoteleiro (Focae), realizado em 05/12/13 no Rio de Janeiro pela Associação Fluminense de Cogeração (Cogen-Rio) e o Portal Ambiente Energia. A questão das linhas de financiamento para tais iniciativas também foi debatida no Fórum, estruturado em quatro painéis, com 16 palestras.
Estima-se que o segmento hoteleiro possa obter uma economia energética de 30% a 80% com o emprego de sistemas para gerenciar o consumo de energia e de água. Segundo Gilberto de Mello, pesquisador da Unicamp, a experiência mostra que o segredo da eficiência energética está na automação, gerenciamento com inteligência e monitoramento.
O governo federal tem uma série de políticas públicas, entre elas o Programa Nacional de Eficiência Energética, instituído em 2011. Parte de suas diretrizes está retratada no documento Requisitos Técnicos da Qualidade para o Nível de Eficiência Energética de Edifícios Comerciais, de Serviços e Públicos (RTQ-C), que estabelece uma série de critérios para a parte externa dos prédios (envoltória), iluminação e condicionamento de ar. Fernando Perrone, da Eletrobras, explica que o RTQ-C inclui os meios de hospedagem, quer dizer, pousadas e hotéis de todos os tamanhos.
A iniciativa governamental de maior visibilidade é certamente o sistema de etiquetagem do Procel. Todo mundo conhece as etiquetas, que avaliam com letras de A a G os equipamentos de maior ou menor eficiência energética e os selos, que premiam os mais bem classificados. O que pouca gente sabe é que existe um sistema similar voltado para prédios, o Procel Edifica, lançado em 2003. Embora ainda desconhecido do grande público, ele vem sendo levado em conta por grandes empresas na hora de alugar um prédio, e, de acordo com Fernando Milanez, do Instituto Nacional de Eficiência Energética (INEE), é um símbolo de confiança principalmente em casos de retrofit.
Faltam conhecimento e cultura empresarial
O que falta para impulsionar a eficiência energética? Osório de Brito, da Associação Fluminense de Cogeração de Energia (Cogen-Rio), diz que ninguém é contra o conceito, mas poucos têm o mesmo entusiasmo na hora de fazer o que precisa ser feito. Ricardo Bezamat, consultor de energia da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA), considera que o desafio é disseminar conhecimento, pois a imensa maioria dos hotéis, não importa o tamanho ou onde se localizem, é ineficiente em termos de consumo de energia.
Milanez aponta que além de uma iluminação otimizada o caminho para a eficiência energética implica adotar fontes alternativas. Isto significa gerar energia em qualquer horário, mesmo fora dos momentos de pico (ou de ponta), quando ela é mais cara. Isto pode ser feito, por exemplo, com o emprego de pequenas centrais elétricas ou por cogeração, isto é, o uso combinado de duas fontes de energia, tais como eletricidade e gás natural. Outra opção é a redução do consumo, com o emprego de painéis solares e partículas redutoras de transmissão de calor externo.
A compra de energia no mercado livre, ou seja, sem ser diretamente das concessionárias, é mais uma possibilidade em termos de eficiência energética. Alexandre Lopes, da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), explica que a negociação direta com produtores que vendem sua energia excedente pode otimizar os custos de quem adquire, e enquadram-se nessa categoria empresas com consumo médio mensal entre 500 kW e 3000 kW, caso de um grande número de hotéis.
Para realizar um trabalho de eficiência energética – ou, pelo menos, começar –, as pousadas e hotéis de menor porte contam com o apoio do Sebrae. Marcio Américo, do Sebrae-RJ, explica que entre as iniciativas estão manuais específicos para o segmento, ferramentas virtuais, treinamento e consultoria, com especialistas que fazem o diagnóstico das instalações e recomendam ações.
Tendências
Uma forte tendência dos últimos anos no Brasil é a contratação de escos (sigla em inglês para companhias de serviços de energia). São empresas especializadas em promover eficiência energética nas instalações dos clientes, que fazem desde o diagnóstico inicial, o projeto, recomendação e instalação de aparelhos e sistemas, até a operação. É prática das escos a remuneração via contratos de performance, ou seja, o cliente paga um percentual sobre o desempenho do novo ambiente, e também a oferta de financiamento. Atuam nesse segmento a Ligth Esco e a Gás Natural Serviços.
Também tem crescido no mercado mundial, embora ainda de forma tímida no Brasil, a certificação das edificações no que se refere a práticas sustentáveis. Uma das certificações mais conhecidas é a Leed (sigla de Leadership, Energy and Environmental Design). Até o início de dezembro, segundo informa Maria Fujihara, do Green Building Council Brasil, ONG especializada nessa área, sete hotéis no país estavam em processo de certificação e um deles já havia obtido o selo.
Para apoiar os hotéis que querem se modernizar e obter mais eficiência energética, a Pró Hotéis tem duas vertentes de atuação, conforme explica Rodrigo Aguiar. Uma das vertentes é de consultoria técnica e a outra é de aconselhamento financeiro, visando ajudar na seleção e obtenção da modalidade de financiamento mais adequada. Em ambos os casos, a Pró-Hotéis conta com parcerias e convênios.
O Fórum abriu espaço igualmente para palestras de cunho mais técnico, apresentadas por fornecedores. Edson Tito Guimarães, da Datum, discorreu sobre diferentes tipos projetos de condicionamento de ar, inclusive com o uso de cogeração. Antonio Moreira, da Somatec, falou sobre os benefícios dos retentores eletromagnéticos para otimizar o uso da energia e reduzir os gastos. Péricles Pinheiro, da CHP Brasil, apresentou equipamentos de cogeração a gás, que podem ser utilizados de forma modular para um aproveitamento melhor dependendo dos níveis de ocupação do hotel. Rubens Agullo, da Effitech, defendeu o uso de energia fotovoltaica (conversão de energia eletromagnética de luz em energia elétrica) na área hoteleira e Carlos Faria, da Equinócio Solar, mostrou as várias aplicações da energia solar.
A 2ª edição do Fórum de Cogeração e Alternativas Energéticas para o Setor Hoteleiro (Focae) teve o patrocínio de Gás Natural Serviços e Light Esco e o apoio do INEE, Secretaria de Turismo do Rio de Janeiro, Rio Capital da Energia, ABIH RJ, FBHA, Fórum de Desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro e Sind Rio. (ambienteenergia)

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