“Apague a luz, não sou sócio da companhia
de eletricidade.” A frase, que em muitas casas passa de geração em
geração, continua sendo verdade. Mas fazer isto é pouco ante o mundo de
opções para economizar no final do mês. Em um hotel, há um sem-número de
possibilidades, e isto vale tanto para pequenas pousadas quanto para
grandes redes. As iniciativas podem abranger desde ações simples, como
a escolha certa das lâmpadas, até projetos mais complexos,
em edificações novas ou prédios que passam por reformas ou processos
de retrofit.
Tecnologias e soluções foram abordadas no Fórum de
Cogeração e Alternativas Energéticas para o Setor Hoteleiro
(Focae), realizado em 05/12/13 no Rio de Janeiro pela
Associação Fluminense de Cogeração (Cogen-Rio) e o Portal Ambiente
Energia. A questão das linhas de financiamento para tais iniciativas
também foi debatida no Fórum, estruturado em quatro painéis, com 16
palestras.
Estima-se que o segmento hoteleiro possa obter uma
economia energética de 30% a 80% com o emprego de sistemas
para gerenciar o consumo de energia e de água. Segundo Gilberto
de Mello, pesquisador da Unicamp, a experiência mostra que o segredo
da eficiência energética está na automação, gerenciamento com inteligência
e monitoramento.
O governo federal tem uma série de políticas públicas,
entre elas o Programa Nacional de Eficiência Energética,
instituído em 2011. Parte de suas diretrizes está retratada no
documento Requisitos Técnicos da Qualidade para o Nível de
Eficiência Energética de Edifícios Comerciais, de Serviços e
Públicos (RTQ-C), que estabelece uma série de critérios para a
parte externa dos prédios (envoltória), iluminação e condicionamento
de ar. Fernando Perrone, da Eletrobras, explica que o RTQ-C inclui os
meios de hospedagem, quer dizer, pousadas e hotéis de todos os tamanhos.
A iniciativa governamental de maior visibilidade é
certamente o sistema de etiquetagem do Procel. Todo mundo conhece as
etiquetas, que avaliam com letras de A a G os equipamentos de maior ou
menor eficiência energética e os selos, que premiam os mais bem
classificados. O que pouca gente sabe é que existe um sistema similar
voltado para prédios, o Procel Edifica, lançado em 2003. Embora ainda
desconhecido do grande público, ele vem sendo levado em conta por grandes
empresas na hora de alugar um prédio, e, de acordo com
Fernando Milanez, do Instituto Nacional de Eficiência
Energética (INEE), é um símbolo de confiança principalmente em casos
de retrofit.
Faltam conhecimento e cultura empresarial
O que falta para impulsionar a eficiência energética?
Osório de Brito, da Associação Fluminense de Cogeração de
Energia (Cogen-Rio), diz que ninguém é contra o conceito, mas
poucos têm o mesmo entusiasmo na hora de fazer o que precisa
ser feito. Ricardo Bezamat, consultor de energia da Federação Brasileira
de Hospedagem e Alimentação (FBHA), considera que o desafio é disseminar
conhecimento, pois a imensa maioria dos hotéis, não importa o tamanho ou
onde se localizem, é ineficiente em termos de consumo de energia.
Milanez aponta que além de uma iluminação otimizada o
caminho para a eficiência energética implica adotar
fontes alternativas. Isto significa gerar energia em
qualquer horário, mesmo fora dos momentos de pico (ou de
ponta), quando ela é mais cara. Isto pode ser feito, por exemplo,
com o emprego de pequenas centrais elétricas ou por cogeração, isto
é, o uso combinado de duas fontes de energia, tais como eletricidade e gás
natural. Outra opção é a redução do consumo, com o emprego de painéis
solares e partículas redutoras de transmissão de calor externo.
A compra de energia no mercado livre, ou seja, sem
ser diretamente das concessionárias, é mais uma possibilidade
em termos de eficiência energética. Alexandre Lopes, da Associação
Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), explica que a
negociação direta com produtores que vendem sua energia excedente pode
otimizar os custos de quem adquire, e enquadram-se nessa categoria
empresas com consumo médio mensal entre 500 kW e 3000 kW, caso de
um grande número de hotéis.
Para realizar um trabalho de eficiência energética – ou,
pelo menos, começar –, as pousadas e hotéis de menor porte contam com
o apoio do Sebrae. Marcio Américo, do Sebrae-RJ, explica que entre as
iniciativas estão manuais específicos para o segmento, ferramentas virtuais,
treinamento e consultoria, com especialistas que fazem o diagnóstico das
instalações e recomendam ações.
Tendências
Uma forte tendência dos últimos anos no Brasil é
a contratação de escos (sigla em inglês para companhias de serviços
de energia). São empresas especializadas em promover eficiência energética
nas instalações dos clientes, que fazem desde o diagnóstico inicial, o
projeto, recomendação e instalação de aparelhos e sistemas, até a
operação. É prática das escos a remuneração via contratos de performance,
ou seja, o cliente paga um percentual sobre o desempenho do
novo ambiente, e também a oferta de financiamento. Atuam
nesse segmento a Ligth Esco e a Gás Natural Serviços.
Também tem crescido no mercado mundial, embora ainda de
forma tímida no Brasil, a certificação das edificações no que
se refere a práticas sustentáveis. Uma das certificações
mais conhecidas é a Leed (sigla de Leadership, Energy
and Environmental Design). Até o início de dezembro, segundo informa
Maria Fujihara, do Green Building Council Brasil, ONG especializada nessa
área, sete hotéis no país estavam em processo de certificação e um deles
já havia obtido o selo.
Para apoiar os hotéis que querem se modernizar e obter
mais eficiência energética, a Pró Hotéis tem duas vertentes
de atuação, conforme explica Rodrigo Aguiar. Uma das vertentes é de
consultoria técnica e a outra é de aconselhamento financeiro, visando
ajudar na seleção e obtenção da modalidade de financiamento mais adequada.
Em ambos os casos, a Pró-Hotéis conta com parcerias e convênios.
O Fórum abriu espaço igualmente para palestras de cunho
mais técnico, apresentadas por fornecedores. Edson Tito Guimarães, da
Datum, discorreu sobre diferentes tipos projetos de condicionamento de ar,
inclusive com o uso de cogeração. Antonio Moreira, da Somatec, falou sobre
os benefícios dos retentores eletromagnéticos para otimizar o uso da
energia e reduzir os gastos. Péricles Pinheiro, da CHP
Brasil, apresentou equipamentos de cogeração a gás, que podem ser utilizados
de forma modular para um aproveitamento melhor dependendo dos níveis de
ocupação do hotel. Rubens Agullo, da Effitech, defendeu o uso de energia
fotovoltaica (conversão de energia eletromagnética de luz em energia
elétrica) na área hoteleira e Carlos Faria, da Equinócio Solar, mostrou
as várias aplicações da energia solar.
A 2ª edição do Fórum de Cogeração e Alternativas
Energéticas para o Setor Hoteleiro (Focae) teve o patrocínio de Gás
Natural Serviços e Light Esco e o apoio do INEE, Secretaria de Turismo do
Rio de Janeiro, Rio Capital da Energia, ABIH RJ, FBHA, Fórum de Desenvolvimento
do Estado do Rio de Janeiro e Sind Rio. (ambienteenergia)
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