O título poético reflete as principais mensagens do 5º relatório do
IPCC que podem ser atribuídas ao balanço dos dois principais
protagonistas do clima: o Sol e o Oceano.
Tudo começa no Sol com a reação de fusão nuclear que converte hidrogênio
em hélio (atividade solar). Este processo produz energia, que é irradiada para
todo o sistema solar na forma de radiação eletromagnética.
Desde 1978, satélites medem diretamente a radiação solar total, antes
disto (desde 1610), os dados eram obtidos a partir de radioisótopos formados na
atmosfera e “arquivados” no gelo polar. Parte desta radiação fica retida na
atmosfera da Terra e parte se vai, criando um balanço de energia.
No entanto, simplificadamente falando, o que temos presenciado desde
1970 é uma entrada de calor na Terra superior à saída. Ou seja, o balanço
energético do planeta está em desequilíbrio. A métrica usada neste balanço é a
forçante radiativa (W/m2). Quando o sistema terrestre responde a uma
perturbação externa com uma forçante radiativa positiva, ocorre um aquecimento; se
a resposta for uma forçante radiativa negativa, o que
se tem é um resfriamento.
No quinto relatório, esta métrica foi refinada e adotou-se um novo
conceito de forçante radiativa efetiva que permite uma análise das
respostas mais rápidas do sistema terrestre. Resumindo, se tem um melhor
entendimento das reações do planeta. Porém, não temos o mesmo nível de
conhecimento a respeito de todas as forçantes radiativas dos
diferentes agentes. No caso do dióxido de carbono,
sua forçante radiativa é bem conhecida e positiva, mas no
caso dos particulados (“black carbon”, por exemplo) também
com forçante radiativa positiva, o nível de confiança cai
bastante. Naturalmente, aquilo de que não se tem maiores informações
gera muita discussão e desconfiança por parte dos países que podem se
sentir prejudicados. Ou seja, o “black carbon” é um dos mais novos
culpados pelo aquecimento global.
Neste balanço desequilibrado, o oceano tem papel de destaque. Na parte
superior do oceano (até 700m de
profundidade), estão 2/3 do calor adicional que a
Terra absorveu nestes últimos 50 anos. Isto se dá não só por conta de sua
grande massa, quando comparado à atmosfera, mas também pela sua circulação, que
conecta a superfície com as águas mais profundas. O oceano contém 50
vezes mais carbono do que a atmosfera e, atualmente, atua para reduzir o ritmo
das mudanças climáticas por meio da absorção das emissões humanas. Mas
isto tem se dado a custa de seu aquecimento e expansão, levando ao aumento do
nível dos mares, além de provocar sua acidificação, com
efeitos ainda não muito conhecidos. A expansão térmica dos oceanos é
responsável por 40% do aumento do nível do mar observado desde 1970.
O 5º relatório do IPCC trouxe muita informação nova a respeito deste
participante de grande importância no tema da mudança climática. Como
mencionado, a maior parte deste calor absorvido pelos oceanos se dá nos
primeiros 700 metros, porém ainda ocorre aquecimento nas camadas mais profundas
e abissais, o que faz do oceano um absorvedor de cerca de 90% do calor.
Por conta da baixa capacidade de reter calor da
atmosfera, em alguns períodos não se observa aumento da temperatura na
Terra, pois o calor adicional absorvido pelo planeta está sendo
transferido da camada superficial dos oceanos para a mais profunda.
No entanto, deve se ter cautela para que o reconhecimento da capacidade
do oceano de absorver o calor não passe uma mensagem
perigosa como de que esforços para reduzir as emissões não são tão urgentes
pois o oceano é capaz de “ segurar a onda” .
Enquanto o Sol e o Oceano são os maiores responsáveis pelo balanço de
energia da Terra, as nuvens e os aerossóis são o que temos
de muito incerto no clima, dificultando as estimativas e
interpretações quanto ao equilíbrio deste balanço. Tanto que, pela primeira
vez, um relatório do IPCC dedica um capítulo inteiro a estes dois importantes
atores no processo. Aerossóis aumentam a refletividade atmosférica, atuando
como elementos “resfriadores”, ou seja, forçante radiativa
negativa. Nuvens não só podem aumentar o albedo terrestre, portanto resfriar o
planeta, mas também podem fazer o oposto (nuvens baixas), aumentando o
aquecimento por aprisionar a saída de calor da Terra.
Apesar de todas estas questões ainda incertas, é possível afirmar
com segurança que o padrão climático vivenciado nas últimas décadas não é
explicado pelas causas naturais, ou seja, a ação humana é responsável
pelas alterações climáticas. As três últimas décadas foram as mais quentes
desde a metade do século XIX. Eventuais períodos com menor taxa de
aquecimento não podem ser usados para previsões de longo prazo, pois não
refletem tendências. Usando os qualificadores habituais do IPCC,
pode-se concluir com um bom nível de certeza – entre 90
e 100 % -, que mais da metade do aumento da temperatura
média observada entre 1951 e 2010 foi contribuição antropogênica. (abril)
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