Montadoras americanas levam expertise de seus carros
elétricos para fora da garagem e garantem uso da energia do sol durante a
noite.
Apesar de cada vez mais proprietários de casas gerarem sua
própria eletricidade com painéis solares, eles ainda precisam da eletricidade
de alguma distribuidora depois que o sol se põe. Agora, fabricantes automotivas
dizem que podem ter uma solução, armazenando essa energia não poluente em
baterias de carro para uso posterior.
A Honda vai introduzir na próxima terça-feira uma casa
experimental em comunidade ambientalmente consciente para mostrar tecnologias
que permitem que a habitação produza mais eletricidade do que consome. Este é
um exemplo de como companhias de energia solar e fabricantes automotivas estão
convergindo para um objetivo comum: criar a casa autossuficiente, tendo uma
bateria de carro como centro nevrálgico.
Agora que a construção civil e os transportes respondem por
44% das emissões de gases do efeito estufa nos Estados Unidos, companhias
automobilísticas veem cada vez mais os carros movidos a células de hidrogênio
ou totalmente elétricos como veículos que atenderão aos ditames ambientais e
levarão ao desenvolvimento de novos produtos e serviços de energia fora da
garagem. Ford, Tesla Motors e Toyota estão perseguindo estratégias similares.
"É um novo mundo em termos de veículos que operam não
como artefatos isolados, mas como parte de um sistema energético maior, e creio
que a maior oportunidade para as montadoras é imaginar como seus veículos se
tornarão parte desse sistema", disse Daniel Sperling, diretor do Instituto
de Estudos do Transporte na Universidade da Califórnia em Davis, que forneceu o
terreno do edifício e a tecnologia de aquecimento e iluminação para a Honda
Smart Home.
O coração da casa de 180 m2 da Honda é um quarto
adjacente à garagem imaculada que contém um conjunto de baterias de íon de lítio
capaz de gerar 10 quilowatts-hora acomodado numa caixa preta. A bateria é uma
versão menor de uma que aciona o Honda Fit inteiramente elétrico estacionado na
garagem.
Perto da bateria fica uma caixa branca maior chamada de
Sistema de Gestão de Eletricidade da Casa. Ela é o cérebro da residência,
decidindo quando explorar a eletricidade renovável gerada por um conjunto de
painéis solares de 9,5 quilowatts-hora instalado no telhado para carregar a
bateria de carro ou armazenar a energia solar.
Excedente
O painel solar tem cerca de duas vezes o tamanho de um
tipicamente encontrado numa casa comparável de subúrbio. A quantidade de
eletricidade gerada pelos painéis e armazenada no conjunto de baterias faz com
que a casa até opere sem a rede elétrica.
A casa envia a eletricidade excedente para a rede. E se as
distribuidoras ficarem sobrecarregadas, por exemplo, no verão quando as
temperaturas sobem e cada um liga seu aparelho de ar condicionado, a provedora
local de eletricidade pode enviar um sinal à casa que então vai enviar
eletricidade solar para a rede e ajudar a evitar blecautes.
Uma casa de tamanho similar consumiria 13,3 megawatt-horas
de eletricidade por ano enquanto uma casa inteligente geraria um superávit
estimado de 2,6 megawatts-hora por ano.
"Podemos levar nossa emissão de carbono abaixo de
zero", disse Michael Koenig, o chefe do projeto da Honda Smart Home, na
sala de visitas da casa arejada e bem iluminada enquanto uma reprise de
McHale's Navypassava numa grande televisão de tela plana embutida na parede.
Com um iPad, ele controla todas as funções da casa, da iluminação ao sistemas
de energia, e que mostrava a geração de 4,2 quilowatts de eletricidade da casa
numa manhã parcialmente ensolarada enquanto consumia 0,84 quilowatt.
"O sistema calculará a carga de eletricidade da
residência para o dia com base no histórico da casa além da produção de energia
solar esperada e só comprará eletricidade ao preço mais baixo", disse
Koenig. O Honda Fit EV na garagem foi modificado para aceitar eletricidade diretamente
também do painel solar.
Economia
Para reduzir ao mínimo o consumo de eletricidade, a Honda e
a universidade instalaram várias tecnologias para poupar energia. Um sistema
geotérmico aproveita o calor do solo embaixo da casa para aquecimento e resfriamento
enquanto uma iluminação automatizada com aproveitamento eficiente de energia
ajusta o tom dos LEDs para imitar a luz do dia. Ao anoitecer, por exemplo, as
luzes deixam de emitir tons azuis, que conforme se descobriu interferem no
sono.
A empresa também usou cinzas vulcânicas nas fundações das
casas para evitar de produzir concreto, que é um processo que produz muito
carbono. Mas Steve Center, vice-presidente do Escritório de Desenvolvimento de
Negócios Ambientais da Honda, disse que a companhia não espera vender essas
inovações de construção "verdes" e quiser se concentrar no potencial de
vender tecnologia de gestão de energia doméstica e sistemas de baterias para
casas, construtoras e companhias de eletricidade.
"Vemos muitas coisas convergindo", disse Center.
"Haverá novos modelos de negócios como compartilhamento de energia
doméstica e armazenamento de energia, usando as baterias particulares de
carros."
Em 2013, a Honda e a SolarCity criaram um fundo de US$ 65
milhões para financiar a instalação de painéis solares para clientes da Honda.
A Ford fez acordo com a SunPower para dar a compradores de seus carros
elétricos um desconto nos painéis solares da companhia. Um protótipo do carro
elétrico-híbrido plug-in C-Max da Ford usa painéis solares de 1,5 m2
no seu teto para carregar a bateria do carro. Ele dispensa a eletricidade da
rede.
"Há uma razão comercial no mercado de casas se os
preços das baterias continuarem caindo", disse Mike Tinskey, diretor de
infraestrutura e eletrificação de veículo global da Ford. "Você poderia
carregar a bateria do carro à noite usando elétrons potencialmente mais limpos
e a custo mais baixo que poderia usar durante o dia quando as tarifas são mais
altas."
Obstáculos
Isso ameaçaria as receitas das companhias de eletricidade,
que têm criado obstáculos a esses sistemas. Na Califórnia, a SolarCity ofereceu
a clientes conjuntos de baterias de íons de lítio de 10 kWh fabricados pela
Tesla Motors para armazenar eletricidade gerada por painéis solares. Mas as
três grandes distribuidoras de energia do Estado têm sido lentas em conectar
tais sistemas à rede, alegando que os donos de casas poderiam usar as baterias
para armazenar eletricidade quando as tarifas estão baixas e vendê-la quando
sobem.
Os reguladores até agora se alinharam com as companhias de
energia solar. A California Public Utilities Commission ordenou em outubro que
as distribuidoras obtenham 1.325 megawatts de armazenamento de energia até 2020
para ajudar a equilibrar a rede à medida que mais fontes de eletricidade
renovável, mas intermitente, entram em operação.
A comissão também emitiu uma decisão preliminar, em outubro,
que orientou as distribuidoras a conectarem sistemas de armazenamento de
energia domésticos na rede sem nenhum custo adicional. Com as instalações de
energia solar aumentando nos EUA e subsídios estaduais pagando 60% do custo de
sistemas de energia caseiros instalados na Califórnia, as fabricantes
automotivas esperam que mais donos de casa vejam seu carro elétrico como fonte
de eletricidade de reserva.
A casa média nos EUA consome cerca de 30 quilowatts-hora por
dia, segundo a United States Energy Information Agency. "Há um potencial
imenso para veículos a célula de combustível servirem como fonte de
eletricidade", disse Center. (OESP)
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