IPCC cobra mais rapidez na adoção de combustíveis limpos.
Painel de cientistas e delegados governamentais adverte que um 'nível
sem precedentes de cooperação internacional' será necessário para conter
efeitos das mudanças climáticas
Cientistas e
representantes políticos do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas
(IPCC) das Nações Unidas exortaram líderes mundiais a acelerarem a adoção de
combustíveis limpos, sob pena de ser impossível limitar os efeitos nocivos do
aquecimento global. A mensagem foi transmitida no relatório divulgado ontem, em
Berlim, que adverte: nunca se emitiu tanto dióxido de carbono (CO2)
e outros gases de efeito estufa na atmosfera como no Século 21.
O documento foi
aprovado após seis dias de intensos debates sobre as formas de mitigar, ou
seja, de reduzir o impacto das mudanças climáticas. Segundo o texto, produzido
a partir da síntese elaborada por 235 autores de 58 países, o nível de emissões
de gases de efeito estufa na atmosfera continuou a crescer entre 1970 e 2010, a
despeito de todos os alertas feitos pela comunidade científica. E o problema se
acelera: entre 1970 e 2000, o crescimento médio das emissões foi de 1,3% por
ano, enquanto entre 2000 e 2010 saltou para 2,2% por ano.
O IPCC afirma que
"cerca da metade das emissões antropogênicas (feitas pela ação humana) de
CO2 entre 1750 e 2010 aconteceram nos últimos 40 anos".
"Precisamos de um nível de cooperação internacional sem precedentes",
advertiu Rajendra Pachauri, coordenador do IPCC. "Um trem de alta
velocidade de mitigação teria de deixar a estação muito em breve e todo o mundo
teria de estar a bordo", ilustrou o indiano.
Vilões
Os vilões do
aquecimento global, ainda segundo o texto, são os sistemas de produção de
energia, com 47% das emissões, a indústria, com 30%, o transporte, com 11%, e a
construção civil, com 3%. "O crescimento econômico e populacional
continuam a ser os mais importantes favores de aumento das emissões de CO2
a partir da queima de combustíveis fósseis", diz o relatório. Com isso,
sem que ações para reduzir as emissões sejam tomadas, a temperatura da Terra em
2100 será entre 3,7ºC e 4,8ºC maior do que em relação aos níveis pré-Revolução
Industrial.
Para evitar esse
cenário catastrófico, o IPCC traçou projeções para conter as emissões de CO2
de forma a limitar o aumento médio da temperatura a 2ºC até 2100. "Os
cenários", dizem os experts, "incluem cortes substanciais de emissões
gases de efeito estufa até o meio do século e mudanças de larga escala em
sistemas de energia e uso da terra". Para tanto, o IPCC defende a substituição
em massa de combustíveis fósseis – como o carvão ou os derivados de petróleo –
por energia nuclear, bioenergias, reflorestamento e redução do desmatamento.
Brasil
Nesse ponto o
relatório – embora não cite países – é crucial para os interesses brasileiros:
"Bioenergias podem desempenhar um papel crítico para a mitigação",
diz o texto. O documento não traz uma menção explícita aos biocombustíveis, mas
cita a cana-de-açúcar como um das alternativas concretas: "Evidências
sugerem que opções com emissões de baixo ciclo de vida (como a cana-de-açúcar,
árvores com crescimento rápido e uso sustentável dos resíduos de biomassa,
algumas já disponíveis) podem reduzir emissões".
Embora não mencione
o etanol, o relatório do IPCC deixa implícito que a tecnologia brasileira faz
parte das alternativas elogiadas. "Para o IPCC, esse continua sendo um
assunto sensível, porque cada país está interessado em ver suas próprias
tecnologias mencionadas no relatório. Mas teremos um anexo muito extenso sobre
bioenergias, e você verá que os diferentes combustíveis alternativos estão
mencionados lá", disse ao Estado Ottmar Edenhofer, um dos coordenadores
responsáveis pelo relatório do IPCC, que ressaltou o papel de fontes
energéticas alternativas aos combustíveis fósseis. "Sem negar seus efeitos
adversos, bioenergias desempenham um papel muito importante, porque é muito
complicado 'descarbonizar' a economia, em especial os transportes."
O relatório
enfatiza ainda a necessidade de uso de técnicas polêmicas, como a captura e o
sequestro de CO2 (CCS), e a produção de bioenergia associado ao CCS
(BECCS), como forma de reduzir a concentração de gases nocivos.
Antes mesmo de ser
divulgado, o relatório do IPCC já recebia críticas por não ser preciso sobre o
impacto das medidas de mitigação na economia mundial. Questionado sobre o tema,
Edenhofer, não evocou números. "É muito complicado explicar custos
econômicos da mitigação", afirmou o autor. "Não estamos dizendo que
será um almoço grátis, mas políticas de clima poderiam ser um almoço barato".
(OESP)
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