Gigantes mundiais chegarão ao
Brasil atraído por leilões de energia renovável.
O
Brasil deve atrair gigantes globais do mercado de energia em leilões para
contratação de novos projetos de geração renovável previstos para este ano, em
meio a projeções de que uma forte competição restringirá a participação de
empresas locais e fundos de investimentos.
O
país já agendou uma licitação para abril, que viabilizará usinas para iniciar a
operação a partir de 2022, e ao menos mais um certame deve ser realizado no
ano, para empreendimentos com entrega em 2024, este também aberto à termelétricas,
disse o presidente da estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Luiz
Barroso.
Para
o leilão de abril, o chamado “A-4”, há um recorde de 48,7 gigawatts em projetos
cadastrados por investidores, maior volume já registrado em certames voltados a
fontes renováveis — o montante equivale a mais de três usinas do porte de Itaipu,
maior geradora do mundo.
PUBLICIDADE
“O
grande número de projetos cadastrados indica um mercado ainda muito atrativo
para os investidores. Apesar de alguns percalços, o Brasil possui a confiança
de desenvolvedores e investidores nacionais e internacionais”, disse Barroso,
em respostas por e-mail.
Uma
prova do apetite do mercado foi dada em dezembro passado, quando após dois anos
sem licitações o governo brasileiro conseguiu contratar novas usinas solares e
eólicas pelos menores preços já registrados no país, com deságios de cerca de
60 por cento ante os preços-teto definidos para a produção futura dos
empreendimentos.
A
diretora da consultoria Thymos Energia, Thais Prandini, avalia que esse novo
cenário de preços deve continuar, o que favorece grandes elétricas europeias em
detrimento de fundos e investidores locais.
“Tem
um perfil de investidor que continua super animado, animadíssimo, querendo
participar. E tem quem está começando a achar que os deságios estão muito
grandes e não vale mais a pena, as margens diminuem”, disse.
Para
o sócio da consultoria Thoreos, Rodrigo de Barros, os retornos ficaram mais
baixos e próximos dos oferecidos para projetos de energia renovável em leilões
recentes ao redor do mundo, mas com a diferença de que no Brasil os contratos
são em reais, e não em dólar como em alguns outros países, o que representa um
risco cambial para o empreendedor.
“Está
bem mais difícil para os players locais… A gente não espera retornos muito
bons. Ao preço que está, só quem tem acesso a capital lá fora, com juros muito
baixos. Só essas gigantes”, afirmou ele, que citou como exemplos o grupo
italiano Enel e a francesa Engie.
O
especialista em energia da Deloitte, Luis Carlos Tsutomu, afirmou que essas
grandes elétricas possuem projetos por todo o mundo e presença forte na América
Latina, o que reduz o risco cambial.
“No
somatório de todo portfólio, se você está em vários países, consegue
diversificar e diluir esse risco. Mesmo grandes players globais se assustaram
com o que aconteceu no final do ano passado. Aumentou muito o nível de
competição”, disse.
RISCOS E RETORNO
O
consultor da Deloitte ressaltou ainda que o governo precisa ficar atento à
evolução dos empreendimentos contratados, uma vez que tarifas muito baixas
acabam também por aumentar chances de alguns projetos não saírem do papel.
“É
só ver o que aconteceu com projetos solares do leilão de 2014… Na hora em que
venderam, fazia sentido. Depois, teve uma variação do câmbio e foi por água
abaixo”, afirmou.
No
caso citado pelo especialista, diversos empreendedores paralisaram projetos de
energia após uma forte desvalorização do real em 2015 e 2016, em meio à
instabilidade gerada por um processo que culminou no impeachment da então
presidente Dilma Rousseff.
Na
época, o governo acabou por promover um inédito leilão reverso, em que
investidores pagaram um prêmio em
troca de desistir sem multas de 25 projetos que não saíram do papel, incluindo
usinas solares e eólicas.
Ainda
assim, os consultores são unânimes em apontar que há apetite suficiente dos
investidores para manter os preços baixos dos leilões do ano passado, embora já
exista algum ceticismo no mercado devido aos baixos retornos.
UBS
cortou o preço-alvo para as ações da geradora AES Tietê, que viabilizou um
projeto solar no leilão A-4 de 2017.
“Não
acreditamos que os projetos solares anunciados recentemente serão geradores de
valor”, afirmaram os analistas do banco em relatório.
Além
da AES Tietê, da norte-americana AES, os leilões de 2017 tiveram como
principais vencedores elétricas estrangeiras como a italiana Enel, a portuguesa
EDP, a francesa Voltalia e a dinamarquesa European Energy, todas já com projetos
anteriores no Brasil. (revistaamazonia)
Nenhum comentário:
Postar um comentário