Os desertos recebem em seis
horas mais energia do que a humanidade consome em um ano.
“O
futuro será renovável, ou não haverá futuro”
A
Terra é um planeta sem luz própria e depende totalmente dos raios do sol. Toda
a vida na Terra depende da luz solar. A energia do sol é a fonte da maior parte
da riqueza disponível na Terra e de toda a base alimentar. Mas, infelizmente, a
humanidade desprezou a energia solar nos primeiros 200 anos da Revolução
Industrial e preferiu queimar os combustíveis fósseis para impulsionar a
economia, o que aumenta o efeito estufa, a acidificação dos oceanos e o
aquecimento global.
Um
cálculo elementar, feito em 1986, pelo físico alemão Gerhard Knies, mostra que
os desertos recebem em seis horas mais energia do que a humanidade consome em
um ano. Pequenas áreas de deserto utilizadas permanentemente poderiam fornecer
a energia renovável suficiente para movimentar a economia.
O
sonho de captar a energia solar que está disponível nos desertos pode se tornar
realidade com a redução do custo da energia renovável e com a construção de
linhas de transmissão com base nos conectores de corrente contínua de
ultra-alta tensão (UHVDC) que são mais adequados para a transmissão em grandes
extensões de produção energética. Estas ligações de alta capacidade não só
tornam a rede elétrica mais verde, mas também as torna mais estáveis,
equilibrando a oferta e a demanda.
Por
exemplo, uma pequena área do deserto do Saara, menor do que a área de Alagoas,
seria o suficiente para abastecer toda a Europa e o Oriente Médio e o Norte da
África (MENA). O consócio Desertec Industrial Initiative (DII), criado em 2009,
foi criado exatamente para implementar usinas solares e eólicas no norte da
África e no Oriente Médio, visando fornecer 15% da energia consumida na Europa
por volta de 2050 e reduzindo as emissões de gases de efeito estufa.
Embora
existam dúvidas sobre a viabilidade do projeto, a fase inicial já começou no
Marrocos, em 2013, com a construção de uma usina solar de 500 megawatts perto
da cidade marroquina de Ouarzazate (a proximidade com a Espanha facilita a
entrada da energia na rede europeia). Outras iniciativas estão sendo
implementadas no Marrocos, na Argélia e na Tunísia. Numa etapa posterior, devem
ser incluídos a Líbia, o Egito, e os países da Península Arábica, da costa
asiática do Mediterrâneo e do Iraque. Cabos de transmissão extras instalados no
Mediterrâneo e na Turquia poderiam dar sustentação financeira à iniciativa ao
redor de 2035.
A
primeira parte do projeto Desertec é orçada em € 400 bilhões e conta com o
apoio de empresas do porte da Siemens. Apesar do alto custo, o projeto de
captar energia renovável no deserto pode ficar mais barato do que a exploração
de combustíveis fósseis, além de ajudar os países europeus e da MENA a cumprir
com as metas de descarbonização da economia, estabelecidas pelo Acordo de
Paris, de 2015.
A
crise econômica europeia e a instabilidade política do norte da África e do
Oriente Médio são fatores limitadores. Evidentemente, investimentos de longo
prazo como proposto pelo consórcio Desertec requerem o envolvimento do Estado e
estabilidade das instituições políticas. Mas os ganhos para ambos os lados do
Mediterrâneo poderão ser tão grandes que convençam os países a investir em
energia renovável e no aproveitamento do potencial solar.
Mas
enquanto o potencial solar do deserto do Saara avança a passos lentos – mesmo
diante de um futuro brilhante – a China já tem vários projetos para incrementar
as usinas solares no deserto de Gobi e na Mongólia interior. Com a iniciativa
Um Cinturão, Uma Rota (OBOR – One Belt, One Road), a China pretende levar a
energia solar para a Eurásia e a África, interligando as usinas com uma rede de
transmissão inteligente (com os conectores de corrente contínua de ultra-alta
tensão – UHVDC).
De
acordo com a Administração Nacional de Energia da China, o país instalou um
total de 52,8 GW de nova capacidade solar em 2017 (o equivalente a 4 usinas de
Itaipu). Ou seja, somente no ano passado a China instalou mais capacidade de
produção de energia solar que o Brasil em toda a sua história. No total a China
já tem 130 GW de energia solar instalada, líder absoluta do mundo. A China
adicionou um total de 133 GW de nova capacidade de geração de energia em 2017,
incluindo 12,8 GW de energia elétrica e 45,78 GW de energia térmica. Isso
significa que, pela primeira vez na história do país, a China instalou energia
mais limpa do que a energia térmica.
Artigo
de Angus McCrone, da Bloomberg New Energy Finance (BNEF, 16/01/2018), apresenta
10 previsões para a energia renovável em 2018 e mostra que a energia solar se
tornou a fonte energética mais barata, a que mais cresceu em 2017 e a que vai
apresentar os maiores avanços em 2018. A contínua queda nos custos, o
barateamento das baterias de íons de lítio e os veículos elétricos vão
impulsionar a instalação de nova capacidade que pode chegar a 107 GW em 2018
(equivalente a 8 usinas de Itaipu), coisa impensável há dois anos.
O
que não falta no mundo é luz solar e áreas secas e ermas. Diversos outros
países estão investindo em usinas solares no deserto, como o Chile que avança
na produção solar no deserto de Atacama. O Nordeste e o semiárido brasileiro
poderiam fornecer mas energia ao Brasil do que as jazidas do pré-sal, com a
vantagem de ser uma fonte energética mais limpa, com potencial mais democrático
e menos sujeita à corrupção.
Ou
seja, as áreas desérticas do mundo, especialmente aquelas com alta incidência
de insolação, podem fornecer um futuro de energia renovável e mais limpa que o
mundo necessita. A despeito das dificuldades da intermitência e dos problemas
da produção e do descarte, a energia solar é um dos caminhos indicados pelo
Acordo Climático de Paris para a economia de baixo carbono. (ecodebate)
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