BNDES deixará de financiar
térmicas a carvão
Na sequência de campanhas da
350.org e de outras ONGs que pedem o fim do apoio a combustíveis fósseis, BNDES
confirma mudança em política de crédito para usinas térmicas a carvão
Pressionado pela sociedade
civil brasileira e pela crescente relevância das políticas de ESG (ambientais,
sociais e de governança) no cenário global, o Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) confirmou em 27/07/21, que não dará mais crédito
para usinas térmicas a carvão.
Em entrevista à jornalista
Vanessa Adachi, do site Capital Reset, o diretor do BNDES Bruno Aranha afirmou:
“Não financiaremos mais térmicas a carvão, independentemente da tecnologia
empregada ou de qualquer outra coisa”.
O BNDES anunciou a decisão
após uma série de mobilizações lideradas por organizações ambientais, que pedem
o fim do apoio do banco público aos setores de petróleo, gás e carvão, como
medida de alinhamento aos objetivos climáticos do Acordo de Paris e às boas
práticas corporativas de respeito ao meio ambiente e às comunidades mais
vulneráveis.
“A mudança na política de
crédito do BNDES é uma vitória importante do movimento socioambiental e uma
evidência de que as campanhas pelo fim do financiamento e do investimento em
combustíveis fósseis estão ganhando força no Brasil, a exemplo do que já
acontece em vários outros países”, afirma Ilan Zugman, diretor da 350.org na
América Latina.
Em agosto de 2020, a 350.org e outras 49 organizações publicaram uma carta aberta dirigida ao BNDES, em que cobravam do banco, entre outros pontos, o alinhamento de suas políticas com os valores de uma reconstrução econômica justa no pós-pandemia.
Já em novembro de 2020, a 350.org e a Associação dos Homens e Mulheres da Baía da Guanabara (Ahomar) realizaram um protesto na frente da sede do BNDES, na região central do Rio de Janeiro, com a demanda específica de que o banco pare de financiar a expansão dos setores de petróleo, gás e carvão. Manifestantes seguravam um cheque gigante, que fazia referência aos mais de R$ 90 bilhões que o BNDES destinou a combustíveis fósseis, entre 2009 e 2019.
“Pelo volume de recursos que
administra e por ser um banco público, o BNDES tem uma enorme responsabilidade
socioambiental, e a sociedade civil tem todo o direito de cobrar que esse dinheiro,
que é do cidadão brasileiro, possibilite uma transição energética justa, e não
a destruição do meio ambiente”, diz Ilan Zugman.
Em paralelo, organizações
como o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) desenvolvem um
importante trabalho de avaliar e pressionar instituições financeiras por
melhores práticas socioambientais. Uma das iniciativas nesse sentido é o Guia
dos Bancos Responsáveis, um levantamento que traça uma análise das políticas e
diretrizes dos nove maiores bancos do Brasil, incluindo o BNDES, em 18 temas,
como direitos humanos, geração de energia e mudanças climáticas.
Para o diretor da 350.org na América Latina, apesar do avanço anunciado hoje, o BNDES precisa ser mais ágil e mais abrangente em suas medidas pelo clima, se quiser cumprir efetivamente a seu papel de banco de desenvolvimento econômico e social.
“O banco perdeu a oportunidade de excluir também petróleo e carvão de suas carteiras, o que seria um indicativo poderoso de liderança. A pressão global pelo fim dos combustíveis fósseis só vai aumentar, e os riscos financeiros e institucionais de financiar setores econômicos do passado ficará cada vez maior”, resume Zugman. (ecodebate)
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