quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Crise hídrica e a importância das novas fontes na matriz de energia brasileira

Crise hídrica e a importância das novas fontes na matriz de energia brasileira

Com mais incentivos e abertura de mercado, é possível ampliar e diversificar a matriz de energia brasileira e reduzir seus impactos ambientais, econômicos e sociais.

Atualmente, o Brasil enfrenta uma das piores crises hídricas da sua história. A vazão média dos principais rios utilizados para gerar energia é a pior em 91 anos e pela primeira vez o governo federal emitiu um alerta de “risco hídrico” no país. Este contexto abre caminhos para medidas preventivas, a fim de se evitar um racionamento de energia, como o ocorrido em 2001.

Com o alerta, algumas ações já entraram em curso, como a ativação de usinas termelétricas e a redução da vazão dos reservatórios das hidrelétricas. Ambas são prejudiciais à população, que pagará mais caro para suprir sua demanda energética. Além disso, importa considerar que as termelétricas, por funcionarem à combustão de gases e óleos, geram maior impacto sobre o meio ambiente. Já a redução da vazão dos reservatórios acaba por afetar algumas práticas essenciais para determinadas camadas populacionais, como o transporte fluvial e a pesca.

Como amplamente noticiado, o principal fator causador desta crise é o desmatamento desenfreado na floresta amazônica, que causa várias mudanças no fluxo de chuvas em todo o país, desencadeando a situação vista hoje. Alguns especialistas apontam que estas crises podem ficar cada vez mais frequentes, visto que a redução do volume de chuvas se intensifica a cada ano.

A crise hídrica é preocupante para o Brasil, porque, além do abastecimento da população, as hidrelétricas são responsáveis por mais de 60% da produção energética do país, com consequências diretas para os setores Industriais e do Agronegócio. Daí a necessidade de abertura das termelétricas e diminuição da vazão. Mas será mesmo este o único caminho?

Estudos apontam que o Brasil tem grande potencial de se tornar o primeiro país do mundo a atingir a marca de 100% de matriz energética renovável. Atualmente, 83,19% da matriz energética brasileira já é renovável, restando apenas 16,81% distribuídos por outras fontes. Dentre as fontes energéticas renováveis, estão as hidrelétricas, eólicas, solares ou fotovoltaicas e biomassa.

Apesar da notícia aparentemente positiva, é preciso se atentar para o fato de que uma matriz renovável não é necessariamente sustentável. Um bom exemplo desta diferenciação é o caso das hidrelétricas, que, apesar de consistirem em uma fonte renovável, causam um grande impacto ambiental e social em seu entorno. Além disso, com o advento da atual crise hídrica, as hidrelétricas têm relevado suas limitações em suprir plenamente a demanda energética brasileira.

É neste contexto que o mercado nacional pode se mostrar mais favorável a empresas que comercializam energias alternativas, principalmente a fotovoltaica e a proveniente da biomassa. Nos últimos anos, este setor já vem demonstrando intenso crescimento. De acordo com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), em maio de deste ano, a geração de energia solar cresceu 15,7% em relação ao mesmo período de 2020.

Recentemente, a Revista Forbes publicou uma matéria na qual a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) revela que as usinas de cana-de-açúcar têm capacidade de produzir o equivalente a uma hidrelétrica de médio porte. E tudo isso com a metade do custo demandado pelas termelétricas, que têm sido acionadas emergencialmente durante a crise. Além disso, constatou-se que essas usinas renováveis poderiam dobrar a produção em 2022, desde que houvesse um planejamento prévio que lhes permitisse aproveitar os insumos da próxima safra.

A partir desta previsão, é interessante questionar o sistema energético brasileiro e avaliar até que ponto o país está produzindo sua energia de forma limpa e sustentável – inclusive sob o aspecto econômico. Com mais incentivos e abertura de mercado, é possível ampliar e diversificar a matriz de energia brasileira e reduzir seus impactos ambientais, econômicos e sociais. (ecodebate)

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