Com mais incentivos e
abertura de mercado, é possível ampliar e diversificar a matriz de energia
brasileira e reduzir seus impactos ambientais, econômicos e sociais.
Atualmente, o Brasil enfrenta
uma das piores crises hídricas da sua história. A vazão média dos principais
rios utilizados para gerar energia é a pior em 91 anos e pela primeira vez o
governo federal emitiu um alerta de “risco hídrico” no país. Este contexto abre
caminhos para medidas preventivas, a fim de se evitar um racionamento de
energia, como o ocorrido em 2001.
Com o alerta, algumas ações
já entraram em curso, como a ativação de usinas termelétricas e a redução da
vazão dos reservatórios das hidrelétricas. Ambas são prejudiciais à população,
que pagará mais caro para suprir sua demanda energética. Além disso, importa
considerar que as termelétricas, por funcionarem à combustão de gases e óleos,
geram maior impacto sobre o meio ambiente. Já a redução da vazão dos
reservatórios acaba por afetar algumas práticas essenciais para determinadas
camadas populacionais, como o transporte fluvial e a pesca.
Como amplamente noticiado, o principal fator causador desta crise é o desmatamento desenfreado na floresta amazônica, que causa várias mudanças no fluxo de chuvas em todo o país, desencadeando a situação vista hoje. Alguns especialistas apontam que estas crises podem ficar cada vez mais frequentes, visto que a redução do volume de chuvas se intensifica a cada ano.
A crise hídrica é preocupante para o Brasil, porque, além do abastecimento da população, as hidrelétricas são responsáveis por mais de 60% da produção energética do país, com consequências diretas para os setores Industriais e do Agronegócio. Daí a necessidade de abertura das termelétricas e diminuição da vazão. Mas será mesmo este o único caminho?
Estudos apontam que o Brasil
tem grande potencial de se tornar o primeiro país do mundo a atingir a marca de
100% de matriz energética renovável. Atualmente, 83,19% da matriz energética
brasileira já é renovável, restando apenas 16,81% distribuídos por outras
fontes. Dentre as fontes energéticas renováveis, estão as hidrelétricas,
eólicas, solares ou fotovoltaicas e biomassa.
Apesar da notícia
aparentemente positiva, é preciso se atentar para o fato de que uma matriz
renovável não é necessariamente sustentável. Um bom exemplo desta diferenciação
é o caso das hidrelétricas, que, apesar de consistirem em uma fonte renovável,
causam um grande impacto ambiental e social em seu entorno. Além disso, com o
advento da atual crise hídrica, as hidrelétricas têm relevado suas limitações
em suprir plenamente a demanda energética brasileira.
É neste contexto que o
mercado nacional pode se mostrar mais favorável a empresas que comercializam
energias alternativas, principalmente a fotovoltaica e a proveniente da
biomassa. Nos últimos anos, este setor já vem demonstrando intenso crescimento.
De acordo com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), em maio
de deste ano, a geração de energia solar cresceu 15,7% em relação ao mesmo
período de 2020.
Recentemente, a Revista Forbes publicou uma matéria na qual a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) revela que as usinas de cana-de-açúcar têm capacidade de produzir o equivalente a uma hidrelétrica de médio porte. E tudo isso com a metade do custo demandado pelas termelétricas, que têm sido acionadas emergencialmente durante a crise. Além disso, constatou-se que essas usinas renováveis poderiam dobrar a produção em 2022, desde que houvesse um planejamento prévio que lhes permitisse aproveitar os insumos da próxima safra.
A partir desta previsão, é interessante questionar o sistema energético brasileiro e avaliar até que ponto o país está produzindo sua energia de forma limpa e sustentável – inclusive sob o aspecto econômico. Com mais incentivos e abertura de mercado, é possível ampliar e diversificar a matriz de energia brasileira e reduzir seus impactos ambientais, econômicos e sociais. (ecodebate)
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