O Programa Brasileiro de
Etiquetagem Veicular (PBEV), coordenado pelo Inmetro, lançou a nova Tabela 2023
com novas informações sobre eficiência energética, consumo, autonomia e emissão
de gases de todos os carros de passeio, picapes e utilitários a venda no
Brasil. A 15ª edição do programa abrange 747 modelos e versões, sendo 68
modelos Elétricos (VE) e 48 Plug-in (VEHP). Uma das novidades é a autonomia no
modo elétrico, informação adicional que passa a ser exibida em quilômetros de
alcance, no intuito de facilitar o entendimento do consumidor.
A iniciativa segue as mesmas
diretrizes definidas, desde 2015, pelo Inovar Auto e que se mantiveram
presentes no Programa Rota 2030, ambos os programas do Governo Federal, visando
avaliar o consumo energético de carros tanto a combustão quanto elétricos. Os
ensaios são baseados na metodologia norte-americana da SAE (Society of
Automotive Engineers).
Desde a publicação da Portaria Inmetro Nº 377/2011, os modelos a combustão já trazem os valores na etiqueta e nas divulgações devidamente ajustados para refletir o uso cotidiano em quilometragem por litro (km/l), apresentados como autonomia real, através da aplicação de fatores de correção de aproximadamente 0,28 em relação aos valores obtidas nos ensaios em laboratório.
Renault E Kwid ficou classificado em primeiro lugar no quesito de eficiência energética.
Segundo o Inmetro, a
declaração dos dados de eficiência energética dos elétricos segue a mesma
metodologia definida pela EPA (Environmental Protection Agency) nos Estados
Unidos, que utiliza a mesma norma SAE, e que já foi referendada junto às
montadoras e importadores de veículos no Brasil desde 2020.
O Instituto também lembra que
a metodologia prevê um fator de correção de 0,3 nos ensaios de autonomia dos
veículos elétricos, o que já é aplicado há certo tempo tanto para carros a
combustão quanto para os elétricos, e objetiva aproximar os valores obtidos em
laboratório das condições reais de uso nas ruas, trazendo uma informação mais
fidedigna do consumo real dos veículos para o consumidor.
“Não há mudança no método de ensaio, mas sim uma novidade na apresentação da informação para o consumidor, que passa a ver, na tabela, a autonomia do veículo em distância percorrida, e não a conversão em km/l, como era feito anteriormente”, comentou Hércules Souza, chefe da Divisão de Verificação e Estudos Técnicos (Divet) do Inmetro. Segundo ele, esse formato de apresentação dos dados acompanha a evolução do mercado dos VEs e vem sendo discutido com toda a indústria há alguns anos, tendo passado inclusive por processo de consulta pública em 2020.
Critério sobre autonomia sofre críticas
No entanto a nova etiquetagem
tem sido alvo de críticas por parte do setor. O presidente da Associação
Brasileira dos Proprietários de Veículos Elétricos Inovadores (Abravei),
Rogério Markiewicz, disse à Agência CanalEnergia ser importante a entidade
lançar a nova tabela utilizando ciclos usuais do exterior, o que antes
acontecia apenas por comparação ao carro a combustão, mas afirma que o critério
adotado penalizou demais os VEs em relação a autonomia.
“Antes tinha dois ciclos de
comparação, um otimista e outro pessimista, sendo bom ter os dois para
comparar, mas o Inmetro pegou a metodologia mais conservadora, penalizando de
15% a 30% os carros elétricos”, comenta Rogério Markiewicz, da Abravei.
O mesmo tom vem da Associação
Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), que considera precipitado o Inmetro
exigir uma mudança tão significativa na norma relacionada a autonomia sem um
debate transparente com as associações e sem inclusive publicar e atualizar a
portaria.
“Essa nova orientação claramente veio com objetivo de penalizar o carro elétrico ao tirar 30% da autonomia em relação aos próprios testes que o Inmetro faz, além do que o carro a combustão não tem essa questão imposta”, disse à reportagem o presidente da ABVE e diretor na BYD Brasil, Adalberto Maluf.
ABVE aponta que XC40 da Volvo perdeu 45% de sua autonomia na nova etiquetagem em relação ao padrão europeu.
O segundo ponto referido pelo
dirigente é que o Instituto não trouxe a regulação inteira, tendo copiado
apenas uma parte da norma norte americana, na qual aponta a realização de cinco
testes e se utilize a média entre eles como resultado. Atualmente o país conta
com dois testes, um urbano e rodoviário.
“Se a ideia é apurar mais
veracidade na operação real do contexto brasileiro deveria ser feito mais um ou
três testes como os Estados Unidos, que ainda tem questões de temperatura e
ar-condicionado que não se aplicam da mesma forma no Brasil”, pontua o
executivo.
Maluf observa ainda que os
VEs representaram no ano passado 0,4% da venda de veículos totais no Brasil e
que a normativa americana foi sendo atualizada depois de muitos anos e volumes
de vendas próximos a 10%. “Não faz sentido num mercado que nem começou criar
uma barreira grande até para o próprio consumidor entender a tecnologia”,
conclui, citando casos como o do Volvo XC40 que perdeu 45% da autonomia em
relação a União Europeia e que essa distorção da realidade pode inibir ou
afastar o novo consumidor.
Em nota, a Volvo afirmou que
o novo protocolo SAE J1634 corresponde a um teste mais longo, com métodos mais
rigorosos de quilometragem, ciclos, velocidade média e um número maior de
arrancadas e paradas em comparação ao protocolo realizado pelo padrão WLTP e
que é possível que a autonomia real verificada em seus veículos seja superior à
mencionada na etiqueta, que utiliza o deflator de 30% em relação a segurança.
“Os dois testes possuem protocolos e condições completamente diferentes, o que muda os números finais de autonomia elétrica. Nossos veículos na vida real podem variar por diversos fatores, como característica de condução, trajeto, uso de ar-condicionado e temperatura ambiente”, finaliza o texto enviado à reportagem.
Se o objetivo é apurar mais veracidade na operação real do contexto brasileiro deveria ser feito mais um ou três testes como os Estados Unidos. Adalberto Maluf, da ABVE.
Modelos na tabela
Em relação aos veículos na
nova tabela, há a antecipação de alguns lançamentos, como a estreia da nova
picape Chevrolet Montana, a Hyundai Tucson, o Peugeot E-2008, os novos modelos
EQA, EQB e EQC da Mercedes-Benz, o sedan JAC e-J7, os SUV elétricos Dongfeng
Seres e o BYD Yuan, além dos novos veículos comerciais da BYD e do grupo
Stellantis. O índice também tem a volta da marca McLaren, com seu
superesportivo Artura Plug-in.
“Em comparação à tabela anterior há melhoria de 5% na média de consumo energético nos carros da categoria SUV grande, que caiu de 1,95 MJ/km para 1,85 MJ/km, e de aproximadamente 2% nos SUV compactos, queda de 1,84 MJ/km para 1,80 MJ/km. A melhoria se deve principalmente ao ingresso dos novos modelos elétricos e híbridos no Programa”, comentou Hércules Souza, chefe da Divisão de Verificação e Estudos Técnicos (Divet).
Na etiquetagem desse ano, três modelos tem o melhor consumo energético, todos elétricos da categoria subcompacto: Renault E-KWID, Fiat 500E e o Caoa Cherry Icar EQ1. Dentre os veículos elétricos médios e grandes, os destaques ficaram por conta dos modelos Chevrolet Bolt, Peugeot E-2008 GT e os modelos da BYD D1/D2 180EV. Já nas categorias SUV, destacam-se os estreantes BYD Yuan Plus 310 EV e Donfeng Seres, ambos elétricos. (canalenergia)
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