Chance de racionamento de energia em 2015 pode ser maior
Vista da marca d'água no lago da represa hidrelétrica
de Furnas, em Mina Gerais.
Um
racionamento de energia no Brasil em 2015 é mais provável que em 2014, afirmam
consultores especializados no setor elétrico, considerando as mais recentes
previsões de chuva que indicam que o nível dos reservatórios de hidrelétricas
da região Sudeste tende a iniciar o ano que vem em situação pior à enfrentada
no início de 2001, ano do racionamento.
O
período úmido, em que o nível das represas das hidrelétricas tende a crescer,
ainda está começando de forma que um anúncio de racionamento não deve ocorrer
no curto prazo.
Mas
se as chuvas não vierem pelo menos dentro da média histórica para o período,
conforme o melhor cenário apontado pelas previsões atuais, um racionamento em
2015 será necessário, segundo consultores.
"O
risco é muito maior que no ano passado. Neste ano, as térmicas conseguiram
gerenciar o problema. Em 2015 se passarmos por isso de novo (nível de represas
caindo no mesmo ritmo que no último período úmido), as térmicas não dão mais
conta", disse o diretor da consultoria Excelência Energética, Erik Rego.
Ele
acredita que uma confirmação para possível racionamento tende a esperar as
chuvas de dezembro. Desde o início de outubro, mês em que a pluviosidade tende
a ficar mais intensa no país, apenas o Sul recebeu chuvas acima da média.
No
Sudeste, onde fica o principal parque gerador de hidroeletricidade do país, as
previsões de chuvas têm sido frustradas e ficando mais pessimistas a cada
semana.
As
atenções agora se voltam para novembro, quando as chuvas têm que ser mais
frequentes e regulares para recuperar represas.
Um
racionamento de energia seria um dos principais desafios que a presidente
reeleita Dilma Rousseff enfrentaria em 2015, uma situação que também limita a
retomada da atividade industrial e o crescimento da economia.
Na
pior das hipóteses, se o comportamento de chuvas no atual período úmido ficar
muito abaixo da média, similar ao do ano passado, a tendência é que o ritmo de
redução do nível das represas continue fortemente.
Esse
cenário de chuvas muito abaixo da média ainda não é esperado, mas se ocorrer, o
país não terá condições de passar pelo próximo período de estiagem, que começa
em abril, sem reduzir o consumo de energia, dizem analistas.
No
período úmido 2013/2014, o nível dessas represas no Sudeste passou de 45,05% em
outubro de 2013 para 38,77% em abril deste ano, ou seja, não houve recuperação.
Na
melhor das hipóteses, caso as chuvas venham pelo menos na média e o nível das
represas se recupere a quase 40% até abril, conforme ocorreu em abril deste
ano, o país poderia escapar de racionamento, dizem os especialistas.
Porém, o cenário ainda tenderá a ser de preços altos de energia no mercado de
curto prazo em 2015 e 2016.
Atualmente,
o nível das represas no Sudeste/Centro-Oeste está em 19,8%. Esse nível é pior
que o verificado ao final de outubro de 2001, ano do racionamento, e também
pior que o registrado em outubro de 2000, ano pré-racionamento.
Como
as chuvas mais fortes costumam ocorrer a partir de novembro e dezembro, ainda
há chances das represas elevarem o nível.
Mas
para terminar o ano melhor que no final de 2000, as represas do Sudeste teriam
que subir quase 9%, o que não representaria necessariamente um alívio.
Em
2000, o nível dos reservatórios do Sudeste fechou o ano 28,52%. O período úmido
2000/2001 teve recuperação das represas até março, quando o nível chegou a
34,53%.
O
racionamento foi decretado em junho, quando o nível dessas represas caiu abaixo
dos 30%.
Dilúvio
Para
o presidente da consultoria Thymos Energia, João Carlos Mello, a situação para
2015 é crítica, mas um anúncio de racionamento só tenderia a ocorrer em abril
ou maio do ano que vem, após o período úmido.
"Temos
mais térmicas, mas a carga (de energia) é maior... A única variável que
esperamos é chover no verão que está entrando, e tem que chover um dilúvio,
tipo Arca de Noé, para respirarmos aliviados", disse.
A
consultora da Engenho Consultoria, Leontina Pinto, acredita que a situação para
atendimento dos consumidores durante os horários de pico de energia já neste
verão poderá enfrentar problemas.
Isso
porque vários reservatórios de hidrelétricas do país já estão abaixo dos 20%,
quando a produtividade da geração fica afetada. Além disso, durante o verão, o
consumo de energia tende a aumentar, o que já está acontecendo em outubro
diante de altas temperaturas.
"O
confortável é estar acima de uns 40%, mas dificilmente a gente vai chegar nisso
(...). Acho que não chega no ano que vem, porque as chuvas não estão vindo... A
menos que caia um dilúvio, não será sensato não racionar", disse ela.
Para o consultor Adriano Pires, um dos principais colaboradores do plano de
governo de Aécio Neves na área de energia, são as chuvas do verão que vão definir
se o país vai ou não ter de passar por outro racionamento de energia.
"Para evitar o racionamento, as represas do Sudeste e do Centro-Oeste tem
de estar a cerca de 30 por cento em abril", disse.
Pires
disse também que, caso as temperaturas subam muito no verão, os picos de
consumo causados pelo uso de aparelhos de ar condicionado podem até causar
pequenos apagões, por conta de sobrecargas.
"Não
teremos térmicas adicionais para entrar no horário de pico, já que elas já
estão funcionando", disse.
Os
recordes de demanda máxima instantânea de energia diária costumam ocorrer no
verão, quando as temperaturas aumentam fortemente.
Em
fevereiro deste ano, ocorreram recordes consecutivos de demanda máxima
instantânea de energia no país, quando o calor ficou acima da média
impulsionando o consumo.
Em 04/02/14,
um blecaute afetou entre 5 milhões e 6 milhões de pessoas em diversas regiões
do país, depois de curtos-circuitos em linhas de transmissão no Tocantins.
Na
ocasião, o governo afirmou que o desligamento orquestrado das linhas de
transmissão evitou um apagão ainda maior.
Não
pode atrasar
O
gerente de regulação da Safira Energia, Fábio Cuberos, alerta para a
necessidade de que novos projetos de geração e transmissão de energia previstos
para 2015 entrem sem atraso para dar segurança ao abastecimento de energia do
país, com equilíbrio no balanço oferta/demanda.
Cuberos
avalia, no entanto, que há atrasos que podem limitar a expansão da sobra de
energia prevista no ano que vem, com base em levantamento próprio utilizando
informações divulgadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) sobre
o andamento das obras.
A
hidrelétrica Belo Monte, por exemplo, teria que iniciar a operação de algumas
turbinas a partir de fevereiro/15.
Mas
o projeto está atrasado, segundo relatório de fiscalização da Aneel de outubro,
e a previsão é de que a operação comercial da primeira turbina inicie apenas em
fevereiro de 2016.
O
Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), órgão do governo federal que
fala sobre o tema, tem reafirmado a cada mês que o risco de haver qualquer
falta de energia no país em 2015 está abaixo dos 5% considerado aceitável para
o sistema elétrico.
Questionado
sobre chances de racionamento no país, o Ministério de Minas e Energia,
reafirmou que "apesar das adversidades climáticas, existe equilíbrio
estrutural no sistema capaz de assegurar o suprimento das necessidades do
país".
Segundo
o ministério, há uma sobra estrutural de 6.600 MW médios para atender à carga
prevista para 2014, de cerca de 65.800 MW médios de energia.
No
ano, entraram em operação cerca de 5.266 MW ou 87,8% do total de 6 mil MW de
nova capacidade instalada de geração prevista.
O
Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) também reafirmou, por meio de
assessoria de imprensa, que um racionamento de energia não está sendo
considerado. (exame)
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