Falta de chuva torna a
energia solar um bom investimento no Brasil.
A perspectiva de aumento do
custo da energia elétrica com a escassez de chuvas para abastecer o reservatório
das usinas hidrelétricas está levando os consumidores a gerar sua própria
energia, com a instalação de microusinas no sistema de geração distribuída, que
permite ao cliente jogar a energia gerada no sistema elétrico e abater essa
carga do seu consumo.
Apenas em um ano, o número de
conexões desse tipo mais do que dobrou no país, passando de 5.040 unidades em
setembro do ano passado para 16.892 atualmente, um salto de 235%. Em capacidade
de geração de energia, o avanço foi de 47,9 megawatts (MW) em setembro de 2016
para 187MW agora, um aumento de 290%.
Em Minas, líder nacional na
geração distribuída, o número de microusinas saltou de 1.226 em setembro do ano
passado para 3.700 agora. Juntas, essas usinas de geração distribuída tem
capacidade para gerar 38,5MW. Do total de usinas no sistema de geração
distribuída instaladas no estado, 3,6 mil estão não área de concessão da
Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig).
“Nós mais que dobramos o
número de unidades em 12 meses. E no país a projeção da Aneel (Agência Nacional
de Energia Elétrica) para este ano, de 102MW de capacidade instalada, já foi
superada”, afirma o engenheiro de Tecnologia e Normatização da Efficientia S.A,
Márcio Eli Moreira de Souza. Segundo ele, 99% das unidades são usinas solares
fotovoltaicas (há ainda pequenas centrais hidrelétricas, usinas de biogás e
eólicas).
Atrativos
Para o técnico da subsidiária
da Cemig, quatro fatores estimulam os investimentos na geração solar
fotovoltaica: o custo crescente da tarifa de energia, “o que leva mais gente a
investir na geração própria de energia, a radiação solar no Brasil e mais
especificamente em Minas, o diferimento do ICMS para sistemas de geração solar,
e a Lei 20.840, de 2013, que reduz os custos de implantação da linha de
transmissão para conexão da usina à rede da concessionária.
A geração distribuída prevê
que as unidades consumidoras compensem a energia gerada nas microusinas. Mas,
como os consumidores nem sempre têm espaço e capital para investir, empresas
viram uma possibilidade de negócios.
Segundo Márcio Eli, nos
últimos dois anos foram protocolados na Cemig consultas para instalação de
projetos de geração distribuída que representam 240MW de energia solar.
Considerando o custo hoje de R$ 4 milhões por cada MW instalado de geração
fotovoltaica, esses projetos, se concretizados, vão representar investimentos
de R$ 1 bilhão.
A própria Efficientia tem
planos para investir cerca de R$ 240 milhões na instalação de 12 usinas
fotovoltaicas, com 5MW de capacidade cada uma. A primeira delas deve ser em
Janaúba, no Norte do estado.
A
ideia é que elas sejam usadas por redes comerciais, como supermercados e
farmácias, e indústrias, para compensar o consumo de unidades consumidoras em
Minas, com o pagamento representando redução de custo em relação à tarifa do
sistema elétrico nacional.
Escassez de chuvas que deixa
reservatórios de hidrelétricas do Brasil em situação crítica incentiva
investimentos em usinas solares de pequeno porte com geração distribuída.O cliente é avaliado com base no consumo dos últimos 12 meses, o que indica o percentual de energia que ele terá na sua assinatura. Tanto no plano com compensação simples quanto no que oferece desconto, o cliente pode monitorar on-line a geração em João Pinheiro e o consumo de energia na unidade alocada para compensação.
Investimento aquecido
Nova plataforma
Além de garantir a geração
própria para grupos e empresas, a instalação dessas usinas fotovoltaicas estão
permitindo a adoção de novas formas de comercialização de energia.
A Ebes colocou em operação no
mês passado a Fazenda Solar, uma usina de painéis fotovoltaicos no sistema de
geração distribuída não para um grupo, mas para vários clientes. A empresa
“comercializa” o direito a ter uma geração própria de energia como as
operadoras de telefonia móvel, por meio de planos de assinatura.
Com 1MW instalado em uma área
equivalente a dois campos de futebol em João Pinheiro, no Noroeste de Minas, a
empresa já conta com 63 clientes em dois planos de assinatura, distribuídos
entre o Sul de Minas, o Triângulo e a Região Metropolitana de BH.
Segundo o diretor de Novos Negócios
da Ebes, Rodolfo Molinari, são dois planos, o Solar Basic e o Solar Plus, com o
primeiro funcionando na compensação simples (energia gerada menos energia
consumida) e o segundo oferecendo desconto de 10% na conta de energia do
cliente, com exigência de fidelidade de 24 meses.
“É uma locação de uma
quantidade de energia que vai gerar créditos para descontar na conta de luz.
Por exemplo, um empreendimento que consome 1 mil quilowatt/hora (kWh) e gera
900kWh vai pagar pelo 100kWh que faltou” explica.
“No nosso escritório temos
sete empregados e gastamos R$ 300 por mês com energia. A partir de agora vai
ter desconto de R$ 30, o que significa que a cada 12 meses vamos deixar de
pagar um”, afirma Helder Sousa, diretor Comercial da TR Soluções, empresa com sede
em Itajubá, no Sul de Minas, que é cliente da Fazenda Solar. “Como estamos num
prédio que não tem como colocar as placas fotovoltaicas no telhado, nós
aderimos à oportunidade da Ebes.”
Favorável
A Ebes, que investiu R$ 5,5
milhões na instalação da Fazenda Solar em João Pinheiro, está agora ampliando a
unidade para 5MW. “Nós estamos trazendo equipamentos da Europa e da Ásia”
afirma Rodolfo Molinari. Segundo ele, até o fim do ano que vem a fazenda deve
contar com três usinas de 5MW cada uma, com investimentos de R$ 70 milhões.
“Nossa expectativa é ter de 400 a 500 clientes por usina de 5MW.”
A previsão da Associação
Brasileira de Energia Solar Fotovoltaíca (ABSolar) é que os investimentos este
ano na instalação de usinas solares cheguem a R$ 4,5 bilhões. Os recursos
incluem destes projetos de geração distribuída até a implantação da maior
usinas solar fotovoltaica da América Latina em Pirapora, Minas Gerais.
A usina de Pirapora, com
investimento total previsto da ordem de R$ 2 bilhões e que terá capacidade para
gerar 400 MW de energia até o fim do ano que vem, começou a gerar energia na
última semana com capacidade de gerar 284 MW.
O projeto de Pirapora é
executado pela francesa EDF EN e faz parte das usinas que integram o Sistema
Elétrico Nacional e comercializam energia no ambiente regulado. Hoje, segundo a
Aneel, há 50 usinas solares em operação com a geração de 144MW.
Na outra ponta, onde estão os
mais de 16 mil unidades consumidoras que geram a própria energia, o salto nos
investimentos ocorreu a partir de 2012, com a Resolução 482 da Agência Nacional
de Energia Elétrica (Aneel), que permitiu aos consumidores instalarem painéis
fotovoltaicos nos telhados, conectar essa miniusina ao sistema elétrico e
compensar essa energia na sua conta de luz. Essa regulação, no entanto,
limitava a instalação ao próprio local de consumo.
De acordo com ele, a partir
de então os sistemas pulverizados de pequeno porte até 5MW foram liberados para
instalação em locais remotos ao local de consumo, desde que dentro da área da
mesma concessionária e atendida pela mesma distribuída em cuja rede a miniusina
será conectada.
Além disso, a unidade
geradora tem de estar no mesmo nome da unidade consumidora. “O consumidor de
energia se torna protagonista e escolhe a forma como ele quer comprar essa
energia”, acrescenta Rodolfo Molinari, da Ebes, lembrando que o foco são
empreendimentos comerciais.
Entre
os projetos de grande porte de geração distribuída em Minas, além da Ebes e
Efficientia há investimentos da Axis Renováveis, que instalou painéis em 11
lojas da Raia Drogasil, em BH e Uberlândia, no ano passado, e o projeto da Alsol,
que vai fornecer unidades para a construtora MRV Engenharia, que está
investindo R$ 800 milhões para instalar energia solar fotovoltaica nos seus
empreendimentos residenciais. A expectativa é de que, em cinco anos, a empresa
entregue 220 mil unidades com sistemas de energia solar. (ambienteenergia)
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