Energia solar e eólica ganha
espaço nos desembolsos do BNDES em 2017
Entretanto, especialistas
demonstram preocupação com futuro dos empréstimos sustentáveis do banco público,
que podem ser afetados pela efetivação da TLP, taxa semelhante às de mercado.
Sustentabilidade
As fontes de energia solar e
eólica ganharam espaço nos desembolsos do Banco Nacional do Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) neste ano, enquanto os aportes em áreas tradicionais
recuaram no confronto com 2016. Entre janeiro e setembro de 2017, R$ 5,851
bilhões dos “empréstimos verdes” foram destinados à rubrica de energias
renováveis e eficiência energética, um incremento de 66% na comparação com
iguais meses do ano passado. Com isso, o setor disparou na liderança entre os principais
destinos dos recursos sustentáveis do banco, representando 60,8% dos aportes.
Já o transporte público de
passageiros, área que recebeu R$ 2,451 bilhões entre janeiro e setembro de
2016, o equivalente a 24,8% do total, teve apoio bem menor em 2017. Durante os
nove meses deste ano, apenas 9,8% dos recursos foram destinados ao ramo, que
visa diminuir o uso de automóveis nas cidades do País. As hidrelétricas com
mais de 30 Megawatts de potência instalada também receberam um incentivo menor
do órgão público em 2017. Durante este ano, R$ 181 milhões foram emprestados
para essa área, contra R$ 997 milhões em igual período do ano passado.
Para especialista consultado
pelo DCI, a mudança dos desembolsos é positiva. “As hidrelétricas, apesar de
serem fontes renováveis, trazem um risco maior para impactos sociais e
ambientais, o que não ocorre com a energia solar”, afirma Guilherme Teixeira,
analista da Sitawi, organização do âmbito de finanças sociais. A quantia total
dos desembolsos “verdes” permaneceu praticamente estável entre 2016 e 2017. Em
nove meses do ano passado, R$ 9,88 bilhões foram destinados ao setor, um pouco
mais que os R$ 9,62 bilhões usados neste ano. Por outro lado, o empréstimo para
a preservação florestal cresceu 3,4%, para R$ 359 milhões.
Impacto da TLP
A adoção da Taxa de Longo
Prazo (TLP) pelo BNDES, que substituirá gradualmente a Taxa de Juros de Longo
Prazo (TJLP), vai aproximar a tarifa utilizada pelo banco às empregadas pelo
mercado. Na visão de Mauro Rochlin, professor de MBAs da Fundação Getulio
Vargas (FGV), essa mudança pode prejudicar a preservação do meio ambiente no
País. “Essa área de sustentabilidade traz externalidades positivas que muitas
vezes não podem ser precificadas. Vai ser muito mais caro cuidar do meio
ambiente no futuro se não fizermos isso agora”, diz.
Em evento realizado no mês
passado, a diretora de energia, transporte socioambiental e saneamento do
BNDES, Marilene Ramos, apresentou preocupação semelhante. Segundo ela, o
incentivo do banco aos projetos sustentáveis tende a desaparecer com a entrada
em vigor da TLP, dificultando a diferenciação entre projetos “verdes” e
projetos “marrons”. Já Teixeira, da Sitawi, defende que seja criada uma
alternativa para financiar os projetos sustentáveis durante a fase de transição
para a TLP, que vai durar cinco anos.
Segundo ele, uma mudança
interna no BNDES, como a redução do spread, poderia abrir espaço para esses
empréstimos. Outra possibilidade, segue o entrevistado, é o uso de subsídio
público, que precisaria ser aprovado pelo Congresso. Professora da faculdade de
economia da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), Josilene Ferrer sugere
outras opções. “Temos agências públicas estaduais, como a Investe SP, que
também poderiam ampliar o fomento de projetos sustentáveis”, disse.
Outras áreas
Na
comparação com nove meses de 2016, também recuaram os desembolsos do BNDES para
melhorias agrícolas (-16,1%, para R$ 905 milhões) e destinado à gestão de água
e esgoto (-26,2%, para R$ 395 milhões). (abraceel)
Nenhum comentário:
Postar um comentário