O grande consumo de
energia pelo homem está causando um impacto ambiental, em
especial no clima, sem precedentes em nosso planeta, pelo menos em termos da
velocidade dessa mudança traumática.
A comparação entre o consumo
de energia durante o Holoceno e o Antropoceno (denominação
proposta para a época em que vivemos, há aproximadamente 70 anos), bem como
seus efeitos no meio ambiente do planeta são os elementos essenciais de um
estudo assinado por 18 especialistas, de 8 países, cujos resultados foram
apresentados em artigo científico publicado no primeiro número da revista Communications Earth and Environment, do grupo editorial Nature Research (Springer Nature).
Os autores do estudo fazem
parte do Grupo de Trabalho
Antropoceno, da União Internacional de Ciências Geológicas (Anthropocene Working
Group #AWG). Entre os
signatários deste artigo científico está o pesquisador Alejandro Cearreta,
professor de micropaleontologia da Universidade
do País Basco (UPV/EHU).
O
estudo do consumo de recursos energéticos se apresenta nesta pesquisa como um
elemento essencial para a aceitação da denominação Antropoceno como uma nova época
geológica, posterior ao Holoceno.
De fato, indicam os autores
deste estudo, no futuro – a muito longo prazo – os estudos que forem realizados
sobre as camadas geológicas da superfície do nosso planeta irão mostrar uma
alteração importante nas correspondentes ao tempo em que vivemos atualmente.
Nesta camada correspondente ao Antropoceno, indicam os autores, será
observado que nossa sociedade é caracterizada pelo consumo e pela geração de
resíduos como plásticos e cinzas e partículas geradas pela combustão de hidrocarbonetos.
Uma
mudança radical
Os especialistas observam,
com os dados quantificados neste estudo, uma “mudança radical”, a partir dos
anos 1950, com “o crescimento exponencial do consumo de energia, o
desenvolvimento da produtividade econômica e o vertiginoso aumento da
população”, que deixam conjuntamente “muitas pegadas geológicas”,
segundo aponta a Efe, a partir do resumo informativo deste estudo divulgado
pela Universidade Livre de
Berlim (FU, Freie Universität Berlin),
a qual pertence um dos autores, o professor Reinhold Leinfelder.
Em números, os responsáveis
por esta pesquisa científica estimam que o consumo de energia da humanidade,
nos últimos 70 anos, aumentou aproximadamente 22 zetajoules, em comparação com
apenas aproximadamente 14,6 zetajoules, no período entre o final da
última Era do Gelo (11.700 anos atrás) e 1950.
O crescimento considerável no consumo de recursos, nas últimas décadas, tem sido impulsionado principalmente pelo uso de combustíveis fósseis, destacam os autores em várias seções de seu estudo.
Consumo de energia na Terra desde 1950 foi superior aos 12 mil anos anteriores.
A humanidade gastou mais
energia desde 1950 do que nos últimos 12.000 anos, avança um estudo científico
da Universidade Livre de Berlim, que também diz que o ser humano deixa
"pegadas geológicas".
Atividade humana e mudanças
climáticas
Os especialistas que
participam desta pesquisa destacam que o consumo de recursos energéticos como carvão e petróleo é a principal causa das atuais mudanças
climáticas.
As mudanças observadas têm um
ponto de decolagem que se situa nos anos 1950, mas os resultados das análises
também mostram que o ser humano exerce uma influência cada vez maior sobre o
planeta. “Temos que ter esperança de que a humanidade aprenda a se considerar
uma parte do sistema terrestre, que deve seguir operativo e vital como um todo.
Nós, os seres humanos, como um coletivo, entramos nesse imbróglio. Devemos
cooperar para sair dele novamente”, adverte o professor Reinhold Leinfelder.
Para Colin Summerhayes, geólogo
da Universidade de Cambridge e coautor do novo estudo, os resultados que
agora se apresentam “tornam extremamente difícil para quem quer levantar
dúvidas minar os dados científicos que apontam para o aquecimento
global e outros problemas derivados da imensa influência da atividade
humana”, segundo declarações difundidas pela FU.
Este pesquisador do Scott Polar Research,
da Universidade de Cambridge (Reino Unido), explica que, neste caso, “a
ciência é unívoca”, porque “não é mais possível explicar de maneira inteligente
que o ser humano não é responsável pelo aquecimento global observado
nas últimas décadas”.
Os “modelos do sistema
terrestre apontam que retardamos a próxima era glacial em pelo menos 50.000
anos e que estamos no melhor caminho para pôr fim ao ciclo glacial-interglacial
do Quaternário tardio”, recorda Will
Steffen, da Universidade Nacional da Austrália.
Caminho
da sexta extinção
“Mesmo se amanhã todos os
seres humanos fossem para outro planeta, nossa influência antrópica das últimas
gerações permanecerá por milênios na crosta terrestre, nos fósseis e no clima
do planeta”, destacou John McNeill, da Universidade de
Georgetown/USA.
O cientista John Day, da Universidade do Estado da Luisiana (Estados Unidos), lembra que com as mudanças climáticas e
a destruição do meio ambiente, a humanidade caminha para a sexta grande extinção em massa, na qual “partes significativas da Terra se tornam
inóspitas para o Homo sapiens por causa de incêndios florestais, furacões e chuvas intensas”.
“Quando avaliamos nossos
dados, senti-me como uma repórter de guerra”, acrescentou, referindo-se ao
trabalho de documentar a pegada ecológica da humanidade em nível
planetário. (ecodebate)
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