A
política e estratégia brasileira para operação de hidrelétricas na base e o
fechamento da carga sendo feito por térmicas (a maioria abastecidas por gás
natural liquefeito importado dos EUA), sob o argumento da segurança energética,
estão equivocadas, disse o ex-diretor geral do Operador Nacional do Sistema
Elétrico (ONS), Luiz Eduardo Barata, durante um webinar do Instituto Climainfo em
05/04/22. Para Barata é viável mudar o
sistema a partir da inserção maciça das renováveis e na sua atuação como
resposta à rede.
“Eu
operei o sistema por quatro anos e todos os estudos recentes mostram que
podemos avançar intensamente nas renováveis aproveitando as vocações do país
sem abdicar do gás natural, mas utilizá-lo em locais adequados e exclusivamente
quando for necessário”, comentou o especialista, citando estudos feitos pela
Engie e PSR de que o SIN pode ir ao limite de 45% do atendimento feito por
eólica ou solar, que hoje representam 13% e 2% da matriz.
Para
ele as térmicas deverão formar a base junto a eólicas e solares, com as UHEs
ficando “por cima da curva de carga”, a partir do enchimento e preservação dos
níveis dos reservatórios e concebendo outros serviços para além da geração de
energia, o que irá requerer coragem e uma discussão ampla no Brasil.
“Existem condições técnicas para isso ser feito, o que irá baratear o custo da energia no país além de contribuir com o meio ambiente, sem falar num nível maior de garantias com as UHEs atuando mais como segurança do sistema e menos fornecedora de energia”, indica, lembrando que a questão do uso do gás está ainda mais presente no debate atual pelo aumento das commodities energéticas com a crise conjuntural da guerra de Putin na Ucrânia.
Para L.E Barata UHEs devem primeiro dar segurança ao setor para depois gerarem energia.
Para
os próximos anos, ao contrário do que poderia ser feito a partir de
investimento em fontes mais limpas, o Brasil deve ter um aumento no custo da
energia pela insistência em fontes caras como o gás natural e políticas vide os
8 GW impostos na privatização da Eletrobras, para UTEs onde não tem o insumo
nem gasodutos, obrigando a construção de infraestrutura que levará tempo num
momento que o sistema nem deverá precisar tanto dessas usinas.
“São
ações políticas e não técnicas e que tem de serem revistas. Tivemos chuvas
abundantes e a recuperação dos reservatórios, mas mesmo assim seremos obrigados
a utilizar essas térmicas contratadas a valores cinco a seis vezes superiores
ao nosso custo padrão unitário para esse tipo de empreendimento”, aponta.
Gestão
da demanda e eficiência
Outra
dificuldade enorme que Barata enxerga é na falta de uma intensificação de
soluções pelo lado da demanda na equação setorial, com a maioria das ideias e
projetos vindo atualmente pelo lado da produção. “Se associa a gestão da demanda
a riscos de racionamento, o que preocupa os governos”, explica.
Pensando em próximos períodos secos e úmidos mais severos, o ex-dirigente do ONS entende que um caminho é atacar essa questão pela gestão da demanda, o que foi feito em parte na última crise de 2021, com a implementação de um programa feito para grandes consumidores, o que já vinha sendo concebido desde a primeira reforma de 1998.
"Na Ásia e Europa todos usam esse programa para intermitência das renováveis, não quando tem uma crise, mas em regime normal. Aqui a resistência é tão grande que em novembro o Operador suspendeu o programa, como se ele fosse exclusivamente para o auge crise", ressalta Barata, rogando a implantação de um projeto permanente nesse quesito para depois avançar mais na eficiência energética. As oportunidades estão nos poucos investimentos, no aprimoramento e modernização de equipamentos, que estão com 20 anos de atraso em termos de eficiência. (canalenergia)
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