O lítio não deixará de ser, tão
cedo, a peça-chave para o desenvolvimento de baterias veiculares. Isso não
impede, porém, que as empresas envolvidas no segmento da eletromobilidade sigam
as pesquisas para viabilizar novas alternativas aos automóveis movidos a
bateria.
Uma decisão importante nessa
direção foi tomada pela Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO) e pela Companhia
Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), que atuam em parceria para
desenvolver uma bateria de nióbio, elemento químico encontrado em abundância em
Estados como Goiás e Minas Gerais.
“Sempre promovemos rodadas de
discussão sobre bateria e outras tecnologias, e um dos temas é o fast charge,
ou seja, caminhos para encurtar o tempo de recarga”, afirma Argel Franceschini,
gerente de e-mobility da VWCO. Nesse sentido, o nióbio apresenta-se como possível
solução, cuja principal vantagem será de realimentar 80% da bateria de um
ônibus ou caminhão em apenas dez minutos, e não mais em cerca de duas horas.
O nióbio, comenta Franceschini,
não substituiria o lítio, que, afinal de contas, tem a função de fazer a
energia “navegar” na bateria. Mas frotistas e transportadores ganharão muito
tempo na hora de fazer a recarga ultrarrápida, o que beneficiará os negócios.
Um ônibus articulado que pesa 40 toneladas, por exemplo, exige muito da bateria para rodar, em média, 250 quilômetros por dia. Estima-se que a autonomia proporcionada pela bateria inédita vai durar cerca de 350 quilômetros.
Uma parceria entre a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM) e Volkswagen Caminhões e Ônibus para desenvolver bateria de nióbio mostrou que o metal.
Mais segurança
Equipado com bateria de nióbio,
o veículo poderá passar por estágios de recarga ultrarrápidos de poucos minutos
no meio e no fim da jornada de trabalho, sem a necessidade de ficar a noite
inteira conectado à tomada. Ou seja, a fórmula é perfeita para caminhões e
ônibus que não podem ficar muito tempo parados ou que rodam em turnos de 24
horas.
“O peso da futura bateria de
nióbio será um pouco inferior ao componente atual e a densidade energética
diminui em torno de 15%”, admite o gerente da VWCO. “Mas o tempo de recarga
compensa essa pequena perda.” Ele ressalta que a vida útil da nova bateria
continuará igual à do modelo atual, mas o número de ciclos (carregamento e
descarregamento) será três vezes maior.
O executivo salienta que a
bateria de nióbio também é mais segura, pois o elemento químico se revela mais
resistente a altas temperaturas, tem menos expansão volumétrica e menor risco
de degradação das células.
Para ajudar no desenvolvimento da bateria, a CBMM – líder mundial na produção e no fornecimento de produtos de nióbio – está trabalhando, há três anos, em conjunto com a gigante japonesa Toshiba, que, provavelmente, será a fornecedora de baterias para a VWCO. Nesse período, a CBMM já investiu U$ 15 milhões.
Brasil apresenta bateria de nióbio que permite recarga rápida de carros elétricos.
Apesar de o projeto estar
adiantado, ainda não existe data marcada para o produto chegar ao mercado.
Franceschini revela que a VWCO prepara um ônibus-conceito, com o intuito de
realizar os testes para a validação da tecnologia pioneira já neste ano. A
aplicação faz sentido: esse tipo de veículo tem rotas predefinidas e requer
carregamentos mais rápidos.
Bateria menor e mais leve
Além disso, o centro de
desenvolvimento de e-mobility da fabricante, em Resende (RJ), empregará a
arquitetura modular de veículos elétricos para expandir a plataforma, iniciada
no caminhão e-Delivery, e que avançará para outros modelos.
É provável que, futuramente, a
bateria de nióbio não se restrinja aos veículos pesados, tampouco aos caminhões
e ônibus da Volkswagen, podendo ser instalada nos automóveis de passeio e
furgões de entrega, que, geralmente, cumprem rotas mais curtas.
Nesse caso, a bateria não teria
o mesmo tamanho do componente utilizado em um ônibus. Ela poderá ser bem menor
e mais leve, impactando no preço final do automóvel. A implantação da rede de
recarga ultrarrápida é cara, mas não precisará sofrer adaptações para receber a
bateria de nióbio. É a mesma usada atualmente.
Para Argel Franceschini, a nova bateria e outras alternativas em estudo não significam que o motor diesel de caminhões e ônibus esteja no fim da linha. “Os mercados têm suas particularidades, e a perda gradual de espaço do diesel é uma tendência natural”, acredita. “No entanto, ele continuará por muito tempo nos motores de veículos que percorrem longas distâncias”.
Linha de montagem da VWCO: nova bateria equipará veículos pesados da marca. Divulgação Volkswagen Caminhões e Ônibus
Brasil é dono das maiores
reservas.
Se não bastassem os investimentos em pesquisas, que exigem tempo e dinheiro, há outras preocupações das fabricantes de bateria: que a matéria-prima, como o lítio, se esgote na natureza e que os custos de outros insumos subam demais. Com o nióbio, as empresas brasileiras terão uma vantagem competitiva. O elemento químico, representado pelo símbolo Nb, é fartamente encontrado no Brasil, dono de quase 95% das reservas de nióbio no mundo. Descoberto pelo químico inglês Charles Hatchett, o mineral é empregado na produção de itens como marca-passo e ímãs supercondutores de aparelhos de ressonância magnética, devido à eficiência de suas ligas metálicas – que, agora, também estão a serviço da indústria automotiva.
VW é pioneira na produção em série de caminhões elétricos no Brasil. (OESP)
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