Desde 2014, quando se estabeleceu no Brasil, a companhia chinesa BYD colocou em prática seu know-how na fabricação de equipamentos elétricos, como caminhões, chassis para ônibus, painéis fotovoltaicos e módulos de bateria.
“Foi um eficiente laboratório que impulsionou o projeto de trazer automóveis de passeio elétricos”, afirma Henrique Antunes, diretor de vendas da BYD Brasil, que fez a estreia do SUV Tan EV, com capacidade para sete pessoas, no início do ano.
BYD pretende atuar com
agressividade no mercado brasileiro. Até o fim do ano, a marca quer abrir 45
pontos de venda, que oferecerão ao consumidor outros modelos, como o sedã Han,
também 100% elétrico, e os híbridos Song Plus e Qin Plus, além da nova geração
do furgão eT3. E, em 2023, mais novidades vêm por aí, conforme Antunes revelou
nesta entrevista ao Mobilidade.
A BYD vende ônibus e outros
produtos elétricos no Brasil desde 2014. Como foi a decisão de importar
automóveis movidos a bateria da China?
Henrique Antunes: Fomos os
primeiros a vender caminhões e ônibus elétricos no País, e nossas decisões são
muito estudadas. O planejamento de trazer carros elétricos tem duas fases. A
primeira é oferecê-los nas principais capitais do Sul e do Sudeste e em
capitais como Goiânia, Salvador, Recife, Fortaleza e Manaus. A segunda etapa é
abrir 45 pontos de venda até o final do ano, a fim de ganhar capilaridade no Brasil
e criar uma boa rede de recarga. Cada uma das revendas terá, ao menos, um ponto
de recarga de alta potência (DC), capaz de reabastecer 50% da bateria em 40
minutos.
Além dos pontos nas lojas, a
BYD pretende investir na infraestrutura de recarga nas estradas, por exemplo?
Antunes: Essa necessidade caminhará junto com a demanda por automóveis elétricos. Não vamos sair por aí instalando pontos de recarga. Não temos nenhuma malha rodoviária dotada com essa infraestrutura porque a frota de carros elétricos é pequena. A propósito, um carro com autonomia de 1.000 quilômetros não é necessário no Brasil. O alcance de 400 a 600 quilômetros já é bastante razoável.
A BYY lançou o SUV Tan EV e o sedã Han. Quais outros modelos eletrificados estão previstos para o mercado brasileiro?
Antunes: Estamos avançando
rapidamente. Em 2017, a equipe de design da China começou um trabalho do zero,
visando um modelo de negócios para a América Latina. A companhia tinha a
tecnologia do motor elétrico, mas era preciso também um carro bonito e
atraente. No ano seguinte, surgiu um primeiro automóvel, mas a segunda onda
aconteceu em 2021, com o Tan, destinado, enfim, ao consumidor final. A BYD já
vende o SUV de sete lugares Tan EV e importará o Han. Mas há outros veículos
engatilhados e em fase de homologação.
Quais são os próximos
lançamentos?
Antunes: Apostamos também na tecnologia híbrida, que é ponte para mobilidade totalmente elétrica. Nesse caso, a bateria é um décimo do tamanho da de um carro elétrico. O motor híbrido é uma espécie de alavancador. Depois, quem tem a experiência de dirigir um elétrico não quer outra coisa. Nossa linha é composta de dez híbridos e, para o Brasil, virão o SUV Song Plus, o sedã médio Qin Plus e um monovolume de trabalho, além da versão nova do eT3, de aplicação corporativa. Por mais que o motor elétrico evolua, o híbrido sempre terá espaço no mercado.
O sedã médio Qin Plus também está previsto para ser importado ao Brasil.
Como a BYD encara a política
sobre a eletromobilidade no Brasil?
Antunes: Pensando em longo
prazo, o País será um polo dominante de vendas de híbridos e elétricos na
América Latina. Futuramente, o Brasil tem todo o potencial para fabricar
baterias também. Vale ressaltar que não queremos pagar menos impostos, mas sim
o equivalente ao de um veículo com motor a combustão. Hoje, um hatch 100%
elétrico custa de duas a três vezes mais do que um similar com motor térmico.
Um desafio global é deixar os preços dos compactos elétricos mais acessíveis. A
queda no valor do quilowatt (kW) da bateria levará a um preço melhor. Enquanto
isso não acontece, os dois pilares dos elétricos são os veículos de luxo e
trabalho. Os de trabalho pagam a conta porque rodam muito no dia a dia.
A BYD vem investindo em
tecnologias para os veículos elétricos?
Antunes: Tecnologias estão
alinhadas com as dos automóveis de luxo com motor convencional. Sensor que
deixa a iluminação mais potente pode ser instalado tanto em um como no outro.
Os limitadores do modelo movido a bateria são outros: os custos da bateria e a
infraestrutura de recarga. De toda forma, a BYD desenvolveu a tecnologia da
bateria Blade, projetada para aumentar a leveza e a segurança. Construída em
lâminas, ela organiza células em uma matriz e as insere em um pacote, criando uma
densidade energética mais eficiente. A bateria precisa ser altamente segura,
porque, afinal de contas, motorista e passageiros se acomodam acima dela.
De algum modo, a guerra entre
Rússia e Ucrânia interfere nas operações de uma marca chinesa como a BYD?
Antunes: Ela não impactou na cadeia produtiva, mas a volatilidade do câmbio prejudica, porque os fretes são cotados em dólar. Felizmente, estamos no vale do silício chinês, e a produção de módulos de bateria acontece dentro de casa.
Existem planos para a BYD fabricar automóveis elétricos no Brasil?
Antunes: Isso exige uma discussão detalhada sobre custos e benefícios. Por enquanto, não existe essa previsão, pois o que impulsiona a instalação de uma fábrica, no Brasil, é o volume de vendas, a produção em escala. Isso ainda está longe de acontecer no País.
A ofensiva da BYD no mercado brasileiro é uma prova de que o preconceito contra carros chineses acabou?
Antunes: Os produtos melhoraram exponencialmente e aqui é preciso fazer justiça: desde que a Caoa assumiu as operações da Chery no Brasil, a imagem sobre o carro chinês está em alta. É a de um produto de qualidade.
Com os carros que virão, qual é a estimativa de vendas da BYD no Brasil?
Antunes: Falar de volume de vendas, agora, é precoce, mas queremos conquistar de 3% a 5% dos segmentos nos quais atuaremos. Em 2023, faremos mais dois ou três lançamentos, quando poderemos avaliar a competitividade dos nossos carros no Brasil.
(OESP)
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